domingo, 28 de janeiro de 2018

Minha Depressão

Vi agora algumas fotos de pessoas aparentemente bem, mas que sofriam ou sofrem de depressão a ponto de tentarem o suicídio. Alguns tiveram sucesso. Antes da reflexão que farei, uma observação: nem todo depressivo é suicida, nem todo suicida é depressivo. Isso à parte, digo que posso conversar com propriedade a respeito, porque eu senti em mim mesmo as dores emocionais da depressão entre meus 18 e 21 anos. Evidentemente que, envolvido por aquela disfunção emocional de minha mente, ela não teria fim para mim. Meu destino seria sofrer. Mas ela teve um fim, sem que me matasse - ainda que eu quisesse. Não me lembro quando terminou minha depressão, nem tenho a mínima ideia de quando começou. Posso pontuar os fatores que a desencadearam, e os fatores que a eliminaram de minha alma. Ambos eram fatores fora de mim. Problemas familiares e sociais sérios iniciaram minha depressão e, conforme a vida se normalizava, a depressão foi saindo do meu corpo. Entre uma coisa e outra, quase cinco anos para poder olhar para o mundo novamente e não me esconder do sol, das pessoas, dos familiares e de mim mesmo. Sei que nesse momento há pessoas que podem estar lendo estas palavras com convulsionantes lágrimas nos olhos. Inclusive lágrimas secas de tanto chorar. Na época de minha depressão, quando eu conseguia dormir, pedia para não mais acordar. Não queria mais estar no mundo. Quando despertava, eu sentia breves segundos de paz. Pedia para continuar em paz. Mas a depressão não tinha misericódia. Assim que eu retomava a minha consciência, ela invadia-me o desespero de viver, me fazendo sofrer apenas por existir, e eu me perguntava: quando terá fim? Eu então vegetava com o olhar no teto por horas. Se me levantava para algo, banheiro, café, música, era tudo tão incrivelmente mecânico, e bem provavelmente para esconder minha condição do mundo pequeno a que eu fazia parte. Quem tem depressão sofre o mesmo preconceito de quem tem qualquer doença contagiosa grave. Mesmo porque, a troca de energia é algo real. O depressivo vampiriza as pessoas mais sensíveis. Eu já fui vítima de um amigo depressivo, que me fez chorar na frente dele, sem eu querer. Foi uma experiência marcante. Lembro-me o ano, 1997, e me lembro que o encontrei na rua Sete de Setembro, no centro de São Paulo. Era hora do almoço. Fazia tempo que não nos víamos. Fomos almoçar. Até a fome eu perdi. Foi inclusive horrível. Nunca mais esquecerei desse momento. Se eu fui intoxicado por alguém, eu devo ter intoxicado muitos outros. Na minha época depressiva, eu evitava o mundo. Evitava a mim mesmo. Distraía-me com canções e leituras tristes que alimentavam minha depressão. O mundo não tinha motivos para viver. Duas pequenas exceções foram o seriado Anos Incríveis, da TV Cultura, e o futebol na Band toda segunda-feira à noite. De fato, a segunda era cruel e me agarrava à narração vibrande de Luciano do Valle. Pensamentos suicidas eram constantes. Mesmo assim, eu só queria viver. Queria eliminar aquela dor sem saber, mas não desejava eliminar a minha consciência, que a sentia. Sei que nesse momento agora talvez alguém que me lê esteja dominado pela depressão, que é uma doença como tantas outras, e que precisa de cuidados. Mas a depressão engana inclusive quem a sofre, porque quem sofre tem vergonha de sofrê-la, e sofre silenciosamente. Às vezes a depressão pode acompanhar uma pessoa a vida toda, porque já nasceu com ela e a vida terá que ser adaptada. Há casos, como o meu, que surgem de repente, sem que se perceba, e fica, podendo permanecer a vida toda também. Tive em mim a graça da libertação. Vez ou outra sou acometido por forte melancolia que parece muito com a condição de depressivo. Mas está muito longe uma coisa da outra. Minha melancolia dura algumas horas, até poder reorganizar meus pensamentos e meus caminhos. E também leio, assisto a TV, dou aulas, treino, converso com alguém, escrevo, e a melancolia dissipa-se. É um importante estado de humor a melancolia que não suga minhas energias. Ao contrário. Diferentemente da depressão. Bem, a quem sofre depressão, eu preciso dizer que há algum tipo de esperança. Se a morte é a solução, e de fato, morrendo termina tudo, meu argumento a favor da vida, de lutar, de esperar, de não terminar a existência é que a morte virá para o mendigo e para o rei, para o triste e para o feliz, para quem está vivo e para quem nascerá. Tudo, enfim, é questão de tempo. Tente meditar e respirar. Nosso cérebro é incrivelmente maleável. É possível estimular quimicamente o cérebro com constantes pensamentos positivos. Uma das formas de eu sair da minha depressão entre 1995 e 1996, foi chamando-me feliz e aceitando a vida feliz. Não brinco. Eu havia passado na USP, tinha arrumado trabalho, voltei a morar com a minha mãe e dizia a mim mesmo: você é feliz. Ajudou-me, mas não me eliminou a melancolia. Mesmo porque é por meio da melancolia que eu paro e respiro. A melhor coisa antes de agir é refletir a respeito. A melancolia é nosso isolamento necessário temporário.