Eles estavam já quase casados. O tempo os uniu há muito tempo. Um instante os uniu, e foi avassador como todos os amores. Os beijos e toques trocados, cúmplices do amor sentido e de um para o outro. Andavam lado a lado agora. Pareciam amigos. Ela ainda fazia de sua mão esforço solitário enconstar na dele, por uma, duas, tres vezes, e nada de abraçarem-se, palmas sentidas, dedos entrelaçados, calores e amores trocados. Eles andavam e as mãos não se uniram. Era dia e a luz testemunhava a quem via os segredos deles quase escondidos. Um dia comum. Os dias têm um mistério revelador aos casais do que eles foram e podem ser. Parecia que naquele momento os toques representavam pouco, ou quase nada na intimidade do tempo. A amizade causa compaixão. Ela parecia ansiar a paixão, aquela paixão entregue, e pode ser que sobrava apenas a compaixão de um carinho não mais existente. Algo no ar dizia que ela representava o que pode ser de essência nas mulheres em paixão, amar e ser amada, sempre. Um movimento também misterioso, como os dias, de querer o beijo na alma, no toque das mãos dadas lado a lado, num dia comum. Mãos que não se tocam mais foi o quadro doloroso de se imaginar o sofrimento dela. Ele desviou de sua mão, e caminharam, lado a lado. Não sei se dela, se dele, se de quem os via o quadro doía mais. Meus, e talvez outros olhos viram e sentiram. Quis ler o coração dela buscando a mão dele, da alma entregue, dizendo "estou aqui, mão ao lado da sua; abrace-a como outrora." Nada de mãos abraçadas. Estavam juntos, lado a lado, caminhando. Foram. Voltaram. O dia vem eterno, e pode ser que desesperado a ela. Melhor a dor da ausência do que a dor da presença ausente. Quem definha de amor prefere a solidão à pura empatia. Ela talvez só queria crer que ainda ama. "Segure minha mão na sua, e caminhemos juntos." Sem amor não se viver o presente. Sem amor, a dor da solidão aloja no coração a dois. Alguém sofre mais. Ela sofreu com meus olhos sonhadores da união que não mais havia, senão fragmentos penosamente insistentes, pulverizasos, que não mais existirão inteiros. O dia caminha e nada se faz mais presente. Ele não estava mais lá como antes. Ela estava lá, e queria como antes. Acabou, mas ele seguia lado a lado, apenas. Acabou, e ela sabia. Um dia, quem sabe, a dor do aperto da separação possa angustiá-los numa liberdade necessária. Não se deram as mãos. Sem mãos, sem vínculo, sem uma mesma alma, ou cada qual entregue a si mesma, que é dolososo. Eles, por certo, não estão sozinhos. Ela está sozinha em si, e vai tentando levar a solidão sentida de seu jeito. É o jeito, quando não tem jeito.
- flavio notaroberto -