segunda-feira, 28 de março de 2016

Coração Aberto para a Vida

Coração e mente abertos para a vida. Acredite que prisão alguma vale aquilo que em nome do amor as pessoas prometem-nos. No final, as promessas em nome do amor escravizam as chantagens dos espíritos em jaulas emocionais. Espíritos como o meu nasceram para voar alto. Não quero mais tentar viver aquilo que não me pertence. Pessoa alguma me pertence. O outro não me pertence. E nem eu pertenço a ninguém. As únicas exceções são nossas relíquias sagradas. Não lembro as verdadeira relações de parentescos cujos laços superam o pertencer (mãe, pai, irmãos, filhos, primos etc). Fora eles, nada mais de prisão emocional para abundar a incompreensão. Nada mais de a angústia fazer moradia em nossa alma. Em um relacionamento, ou se vive angustiado, ou se é egoísta. Em um relacionamento ou se é altruísta ou se é egoísta. É verdade? Eu creio que sim. Muito raramente o altruísmo será o juiz de um relacionamento. Diferentemente do egoísmo. Meu conselho é que devemos tentar sempre um bom relacionamento. Namorar. Noivar. Casar. Ter filhos. Viver feliz com a sua família. Eu tive tudo isto e vivi minha felicidade pessoal. Porque colocava a minnha angústia na minha prisão comigo mesmo ao passo que via o outro lado egoísta e chantagista para um coração altruísta. A liberdade foi o início do resgate de meu sentido pessoal na minha vida emocional sem acusações. Saí de um relacionamento achando que logo poderia ter outros mais interessantes e livres. E houve no início. Mas sempre desembocavam na relação de posse e disputa angustiosa e egoísta. Eu não sei ser egoísta. Me angustiava. Por fim, conhecer pessoas para um relacionamento bacana faz parte, mas viver com a mente e o coração receptivo é o horizonte que vislumbro daqui para frente. Um relacionamento é um disputa. Cansa brigar emocionalmente. Cansa ter de querer ser compreendido e compreender. Cansa ter de compreender o egoísmo e silenciar para não virar chantagem. Amo demais os seres humanos e quem me amar e me querer exclusivamente jamais aceitará meu altruísmo aberto ao mundo. As pessoas exigem o que acham ser exclusivamente para elas. Sou exclusivamente de quem eu amo abaixo apenas de Deus. Sou um coração que acolhe. Alma que vive para expandir. Temperamento forte que vê a simplicidade como simplicidade, e o egoísmo como egoísmo, e chantagem como fraqueza. Meu coração vai acolher. Vai cuidar. Portanto, ser livre é imprescidível. Não dá para querer me aprisionar. Já deu um vez. Agora, não mais porque quero desbravar o mundo do conhecimento e as diversas naturezas das pessoas. No seu devido tempo, devido momento.

sábado, 26 de março de 2016

CONSCIÊNCIA E LINGUAGEM

"Dois tópicos na pesquisa cerebral parecem sempre atrair gênios e loucos. Um é a consciência e o outro é a questão de como a linguagem se desenvolveu." (Pag. 211)

Trecho de um livro. Segunda vez que o leio e ao invés de continuar, sou tomado por uma vontade enorme de escrever sobre. O limite entre entender a essência das coisas e as coisas em si está dentro de nós mesmos. A maçã é uma coisa em si, mas não sabemos qual a sua essência. Falar de consciência é genérico; falar de linguagem é comum. Entretanto, envolver pesquisa cerebral sobre consciência e linguagem abre a mente para ultrapassar o genérico e o comum. Atingimos a essência de que nós, humanos, temos consciência e para manisfestá-la temos a linguagem. O que são consciência e linguagem na sua essência?

O corpo humano como existe, a alma e o espírito humanos como existem, todas as sensações humanas como existem, a relação entre vontade pessoal e repressão das vontades como existem, a liberdade da felicidade e a prisão do sofrimento como existem, a resignação e a persistência como existem, a paixão dos sentimentos e a psicopatia como existem, estão em um único mediador comum: nosso cérebro. Como o Sol, a partir dele, do cérebro, nosso corpo todo se ilumina, e na luz fica menos turvo o que somos e queremos, e as frustrações. Vivemos pelo cérebro que nos cativa ao ouvir Soul ou Jazz ou comer pipoca do CineMark.

Ter consciência sempre machuca. E machuca muito. Cada consciência a mais que temos, mais realidade absorvemos. A dor, neste caso, é um bom remédio. A dor exige de nós o esforço de dobrar a atenção. Perigo. Cuidado. A dor é a fraqueza às claras de que nossas vontades não serão sempre atendidas ainda que temos cosciência da realidade. A relação entre consciência e dor surge ao sabermos quão limitados somos. Temos livre vontade para desejar. E geralmente nos limitamos aí, ainda mais quando a realização de nosso desejo esteja na vontade do outro. Ter consciência também machuca quando uma verdade aparece repentinamente. Aquela verdade que não acreditávamos ou a verdade que nunca imaginávamos. Sair de um emprego, terminar um relacionamento, reconhecer-se sem formação suficiente são verdades que machucam demais porque nunca imaginávamos em nós. O dispositivo dor é acionado. A partir de então, a consciência toma parte.

A linguagem, creio, é um fenômeno mais importante do que a consciência, e mais dolorido quando incapaz de nos ajudar. Como disse, através da linguagem, manifestamos nossa consciência. Linguagem falha, consciência limitada. A dor inicial da realidade é a confusão que o novo causa em nossa mente. Ficamos sem fala. Ficamos sem voz. Ficamos sem palavra. Ficamos mudos. Perdemos a linguagem. Todos ao descobrirem algo que julgavam não existir ficam mudos. Dar exemplo apenas machucaria. Vamos a apenas um. 

- Pai, sou baitola.

Por segundos o pai tenta reorganizar a linguagem interna. Imaginamos o silêncio dele para oprimir a baitolagem do filho. E pego este exemplo que é mil vezes mais tranquilo do que:

- Pai, sou corintiano, sendo o pai santista fanático.

Agora, imagina que o pai fique tranquilo e responde:

- Tudo bem, filho. E na verdade eu não sou seu pai. Seu pai é o vizinho. E a sua mãe na verdade é minha filha e não minha esposa. Você na verdade é meu neto. E avô acolhe com mais facilidade.

A linguagem ajuda a traduzir em palavras a confusão desta realidade em nossa mente quando temos consciência dela. O pai poderia traduzir a novidade em palavras e tranquilizar-se. Se ele tiver esta competência, o filho, em relação ao pai, nada sofrerá emocionalmente. Descobrindo que o pai é o avô, o menino que precisará traduzir esta nova realidade.

A linguagem, porém, vai muito mais além. O encanto de estar ao lado de alguém que transmita segurança com as palavras e com o que fala, parte deste princípio. A pessoa tem formas de trazer paz em nossas mentes por meio de palavras. Toda confusão é gerada pela falta de entendimento onde a luz da razão é obscurecida, sobrando sombras e mais sombras de todos os lados. A consciência virando palavras acolhe quem sofre de excesso de realidade. Não existe neste mundo quem resista a um bom bate-papo em que a realidade é apreendida.

Consciência de si e linguagem traduzir. E leitura é essencial neste processo todo.

sexta-feira, 25 de março de 2016

A Idade que nos Permite

A idade que vem nos permite refletir o agora já velho como uma segunda vida que está em nós e que vivemos para o mundo. Acho honesto, por isto, o corpo de 40 anos, a idade e a mente abraçarem-se em harmonia de 40 anos. Hoje tenho 41 anos; há 21 anos, tinha meus 20. Há 10 anos, meus 31. Do futuro nada sei a não ser a visão opaca do meu presente. Parece discurso de quem não tem algo melhor para dizer e mesmo assim o faz. No meu caso, faz parte de meu projeto sincero de vida virar escritor na sociedade onde vivo porque nossa sociedade precisa de artistas que se propõem a serem honestos com as virtudes que a arte tem: catarse e libertação e acolhimento. Não aos vícios! Não comungo e nem me ocupa a mente com os vícios. O verbo conjugado "permita-se" é algo na essência exclusivo ao ser humano. Sei quão tortuoso é viver oprimido, matando sonhos internos, anulando projetos tão preciosos para tão pouca vida. Neste ano, meus 42 batem na minha consciência como anos futuros que me restam. Não são anos distantes meu futuro. Para mim, distantes são aqueles lá atrás. Década de 80, de 90, anos 2000, e agora já na segunda década do século XXI. Permita-se realizar. A vida é um tempo tão sinuoso. Parece a água que escorre vagarosamente do xixi do cachorro no pneu do carro. Permita-se viver. Pode ser nos seus 20, 30, 40 (eu!), 50, 60, 70... e por aí. Faça aquele curso de música, realize aquela viagem, ingresse na universidade, ganhe o dinheiro que pague o valor que as coisas que tem valor de dinheiro tem. Aquilo que não tem valor de dinheiro (sonhos, vontades, sentimentos e emoções etc.) clamam por realizar-se. Permita-se. Por exemplo? Eu tenho um sonho: assistir a todos os jogo do Corinthians ao longo de um ano inteiro dentro dos estádios. Não importa aonde ele for. Fora este, tenho outros. Permito-me. Permita-se. A desmotivação virá porque natural do homem desanimar com a negatividade alheia do pessimista e das dificuldades. Porém, viemos a este mundo sozinhos, voltaremos sozinhos. Permita-se. Quando formos, iremos muito mais agradecidos. Ou ao menos permita-se poder tentar antes de ir. Permita-se.

Diálogo Arquétipos e Sonhos

Este diálogo abaixo foi inusitado. A partir dele que retomei a leitura de "Memórias, Sonhos, Reflexões". Pedi autorização da pessoa e mudei alguns pontos para descaracterizar. Como disse, inusitado e reflexivo.
_________________

Ela: Flávio do céu sonhei, com o senhor esta noite.

Flavio: Onde, como e o quê.

Ela: Nossa. Não me interprete mal. Não sei o que houve.

Flávio: Seu inconsciente falando.

Ela: Meu, eu fiquei com vergonha quando acordei.

Flavio: Relax. Mas está engraçado.

Ela: Flávio, me desculpa, mas eu sonhei que tinha ficado com o senhor. E não sei por que sonhei isso.

Flavio: Quer hipóteses?

Ela: Meu, estou com vergonha. Eu até estou pesquisando na Internet, porque eu não sei. E se eu quero hipóteses? Por favor, me diga.

Flávio: Agora seja sincera porque pode ajudar você no seu nível inconsciente. Quantos anos você tem?

Ela: 23

Flavio: Ser mãe nos últimos anos fez você mudar muitas opiniões sobre a vida antes de ser mãe, correto?

Ela: Sim.

Flavio: E claro que não existe nenhum arrependimenro. Ao contrário. Você ama a maternidade.

Ela: Sim

Flávio: Olha só. Reflita comigo. De algum modo, é por aí a reflexão do sonho. Você me conhece como professor, escritor etc. E vem acompanhando minha separação e até foi solidária comigo.

Ela: Sim.

Flávio: E meu ponto mais fraco nisto tudo da separação é o amor que tenho pelos meus filhos. Acho que no nível inconsciente, este link "amor de filho" eliminou o "professor", o "homem", o "escritor", e restou aquela essência que hoje para você é a sua essência: amor pelos filhos. Então, vamos de essência - como uma coisa pura -, de admiracao e ausente de qualquer malícia... Seu sonho foi um "Arquétipo".

Ela: Sim, concordo. Foi intenso.

Flavio: Espero que lhe traga mais auto-entendimento. É sempre bom mesmo.

Ela: Estou muito sem graça.

Flávio: Acordou apaixonada! Kkkkkkkkkkk. Relaxa. E o que é intensidade para você?

Ela: Senti muita compreensão, segurança, parceria.

Flávio: Se foi bom para você, esta sensação vai persegui-la por um tempo ainda (pequeno tempo), mas será saudável. Agora, eu tenho uma curiosidade. O que foi "ficar" no sonho?

Ela: Beijos, abraços, diálogo, toques suaves, trocas de olhares, carinho, cuidado. Menos sexo.

Flavio: Cacara! Romantizou mesmo!

Ela:: Mas, Flávio, vou falar para você: acordei outra pessoa. Kkkkkkkkkkkk.

Flávio: Eu tenho certeza. Sabe. Quando damos vida ao nosso inconsciente através de Arquétipos (pesquise sobre Arquétipos na Internet), sentimos mais aliviados. Este sonho arquetípico que você teve pertence à realidade da maioria. Mas poucos sabem interpretar corretamente. Quero que você pesquise na internet algo sobre "Arquétipos" e "Arquétipos Junguianos"

Ela: Ok.

Flávio: Pesquisa também sobre "anima" e "animus" de Jung. Aí você escreve e me fala. Mas você tem que escrever com as suas próprias palavras...

Ela: Está bem.

Flávio: Quando der, me fala...

(...)

Ela: Nossa! Então, pesquisei e citando essa situação como exemplo. Primeira impressão é a que fica, na prática. O que se sobressaiu foi o jeito de como você leva as coisas. Acredito que nunca vi você bravo ou triste, justamente por não conhecer seu outro lado. A minha impressão é de segurança e muito respeito. Isso ficou em mim por um tempo. E vendo o caminho por que você está passando agora, acredito que vi uma certa semelhança com algumas experiências vividas por mim, mesmo sendo muito nova. E acredito que tenho isso como um modelo, podendo até ser o modo de se levar essa vida.

Flavio: PERFEITO! Arquétipos. São nossos arquétipos de nosso inconciente. Você é genial. Tem que estudar mais e fazer faculdade. E me fala da sua "ressaca" sentimental do sonho...

Ela: Hahahahahaha. Olha, sinceramente: mudei meu pensamento. Tenho em mim uma outra sensação. Parece pokemon quando evolui. A sensação que o sonho deu.

Flávio: Positivo então. Gostou do "Arquétipo Junguiano"?

Ela: Parece que me mostrou algo que ainda não conquistei para mim.
E que preciso rever isso como mulher. Eu adoro sonhos. Não estou dizendo isso por causa dessa conversa. Sempre quando sonho, tento ver o que significa para mim. Sempre acho que me mostra algo. Sobre os arquétipos, sim! Adorei. Nunca tinha ouvido falar.

Flávio; Parabéns novamente. Potencialize isto. Você é jovem. Comece a ler bastante. Leia MEMORIAS, SONHOS, REFLEXOES, do C. G. Jung. Leia e aí vai ser outra pessoa. Mas adorei ter falado sobre este assunto com você nesta manhã e ao mesmo tempo você ter descoberto outro Flávio.

Ela: Sim! Muito bom!

A Tal da Liberdade

A liberdade começa em querer viver solteiro em um mundo sedento por companhia. A dor do desapego leva a esta reclusão boa para o espírito demasiadamente oprimido. A tal da liberdade. Eventualmente sair com o olhar e toque alheios no cheiro e gosto, como uma aparição tão boa ao coração de um dia, um fim de semana, alguns dias ou horas. Mas aquela concepção de ter alguém ao lado aos poucos foi diminuindo, porém, drasticamente, porque não existe mais onde completar uma alma que sabe do que precisa. E cansa machucar pessoas e sentir-se culpado de algo que no fundo a culpa é da vida. Devemos sentir a culpa nas mentiras e processos sem cumpri-las. No meu íntimo louvo a Deus e dou graças a Ele pelo controle entre o por e o dispor. Não devemos aceitar o sofrimento totalmente resignados. Devemos ter paciência, tomar as decisões conforme o amor do desprendimento (se possível) e Deus atuará quando não mais falamos por nós e nos alunamos. Uma fé minha. Pessoal. Própria. E agora compartilhada.

Singular e Oculto Amor

O amor é uma essência esquisita e vamos falar em poucas linhas de amor. Observo com emoção uma pessoa em meu perfil no Facebook que poucos imaginam (ou ninguém) e tenho vontade que ela me olhe com o mesmo olhar de amor que um dia sentira por mim, em seu coração. Coisa de adolescentes. Éramos adolescentes. Um amor. Foi um amor que eu senti sem saber como poderia retribuir. Não pude porque estava perdido. Quando poderia, não dava mais. Tenho este mal. Sou para alguém total até o momento em que arrefece meus sentimentos. Eu nada mais poderia fazer. Quando ela me amava, eu era um ser perdido em mim. Quando me encontrei, em seguida deixei de ser dono de minhas vontades. Ela seria uma delas. Me distanciei dela. Mas observo-a e a desejo como uma belíssima gratidão. Acho que hoje eu tocaria seus lábios com os meus com uma doçura que até então ela não sentira na boca de ninguém. Minha forma de desconsiderar os amores anteriores em sua vida. Ela deve beijar muito bem. E me pergunto, como não a beijei? Me pergunto e me indigno! Nunca. Evoco a cada momento sua alma em minha direção em forma de sintonia espiritual ou emocinal ou sensitiva. Pela fraqueza em que me encontro neste exato momento de minha vida, será que eu ando clamando abrigo em seu coração? Não. Meu lado fraco são as fraquezas das pessoas que vivem como reféns do que sentem, e quando sofrem por isto, se perdem. Tenho fraqueza pelo sofrimento alheio. Sou forte em relação à vida. Eu não me perco na minha essência. Algo eu busco na inocência dela, que não existe como antes. Tento dizer para mim mesmo como eu traduziria esta vontade de a sentir ao meu lado. Gratidão? Possivelmente. Felicidade? Certamente. Há pessoas que nos conhecem apenas pela metade, ou pequena parte, ou um décimo do que somos. Há pessoas que nos conhecem por inteiro. Ela me conhece por inteiro. Desde meu início. Evoco qualquer canto poético por ela neste anseio de retribuir com saudades quando nada de consciência eu tinha. Desejo-a porque sinto sei lá o quê de algo, sei lá como defino, ainda que seja em minha alma tão verdadeiro. Para a poesia existem sintonias que nem o poeta e a poetiza sabem. Observo seus olhos e sorrisos e sinto-os verdadeiros. Mentalizo um beijo e beijo-a com o respeito e veneração que a sacralidade exige. As palavras tendem a ser um tipo de união. Com elas, busco-a. Na busca sinto-me feliz. E na felicidade, aprendo a amar esta menina tão lá longe em minha memória. Tão lá distante. E tão real em meu desejo de a beijar. Estas histórias de amor, de um singular e oculto amor.

quarta-feira, 16 de março de 2016

"DESTA FORMA APRENDI O QUE ERA NEUROSE"

"DESTA FORMA APRENDI O QUE ERA NEUROSE"

Neurose. Algum psicólogo pode definir com mais clareza. Neurótico, na visão comum, é o sujeito humano que crê em algo, ainda que todas as certezas de sua existência evaporam-se no primeiro olhar externo. A fama popular de xingar e ser xingado neurótico ajuda a diminuir ainda mais seu entendinento para um leigo:

- Para de ser neurótico!
- Mas que neurose!

Estas sentenças já vêm com aquela carga do tom da voz desconcertante. São lidas e sentidas com o tom. E não entro no próprio tom da resposta, nem da reação do xingado, que, na maioria das vezes, segue segundos de silêncio, depois uma ironia sarcástica e por fim uma argumentação indefinida.

O psiquiatra Carl Gustav Jung (1875-1961) diz "foi desta forma que aprendi o que era neurose". E qual forma foi? Lendo seu relato em "Memórias, Sonhos, Reflexões", descubro as chaves mais ou menos do que um psicólogo definiria como neurose.

Jung pegou aversão à escola aos 15 anos. Sofreu uma agressão física e perdeu os sentidos. Aproveitou e alimentou esta agressão para ausentar-se por meses da escola. Seu pai levava-o a médicos que diagnosticavam o menino com desmaios e epilepsia, sem saber a causa. Nunca melhorava, e fazia dos desmaios (síncopes) sua principal arma a favor de sua moléstia que o libertava da obrigação escolar.

Certo dia, curioso, ele se escondeu para testemunhar a conversa entre o pai e um amigo, que perguntou do filho. De família simples, com pouco dinheiro, o pai de Jung disse que o pouco que tinha, investia para cuidar da saúde do filho. Envergonhado e agora consciente de sua realidade social, Jung achou que deveria mudar. E assim o fez.

Retomou aos poucos os estudos. Abriu o livro e em 10 minutos teve um desmaio. Despertou. Retomou os estudos. Meia hora depois, outro desmaio. Despertou. Retomou os estudos. Duas horas depois, outro desmaio. Assim foi até que ele se viu curado totalmente e, desta forma, ele sugere "foi desta forma que aprendi o que era neurose."

O ano desta autoconsciência por volta de 1890. Um jovem que acertou em cheio seu inconsciente. Ele Intuiu que mente e corpo dialogavam em influências recíprocas.

Parece óbvia a relação direta mente x corpo em nossos vidas, mas é algo adquirido após muito viver e sentir e refletir. Aprendemos a dar fé de que a mente - nosso inconsciente - revela muito de nós, por nós e contra nós, em nosso corpo.

Equilíbrio, por este motivo é, para mim, aprender a respirar com nosso inconsciente. Não fechar os olhos e meditar simplesmente. O meu "aprender a respirar" me lembra que não podemos esconder problema alguma, ou seja, não podemos reprimir absolutamente nada quando queremos uma solução definitiva. Aprender a respirar da forma como Jung o fez quando jovem. Teve seus desmaios. Despertou. Admitiu que tinha um problema. Respirou. Continuou até que a sua vontade, do seu ego, fosse aceita pelo seu inconsciente, e pela fantasia que o Jung criara: os desmaios.

Ora, a arte é uma neurose estética. Não há racionalidade que preceda a sensibilidase da fantasia na manifestação artística. Da mesma forma que não há fantasia sem um viés artístico, e nisto incluo as neuroses. A arte não é o belo. A arte é reproduzir inconscientes e por isto muito de caráter catártico.

segunda-feira, 14 de março de 2016

REALIZAR-SE NO QUE TEMOS DE PASSAGEIRO

Lendo um maravilhoso livro, descubro que tenho muito da essência do psiquiatra K. G. Jung. Não muitas pessoas o conhecem aqui no Brasil. Digo que ele fez pesquisas na área psiquiátrica com o Sigmund Freud. Já este último, muitos já ouviram falar.

O nome do livro citei algumas vezes e recito agora, "Memórias, Sonhos, Reflexão". A autobiografia do Jung, escrita quando ele contava 83 anos. Ele nasceu em 1875.

Gosto de textos quando o valor do dinheiro para o autor não possui valor algum. Creio ser o caso do Jung nesta idade, neste livro. Disse semanas atrás para a minha mãe, 74, que a velhice honesta transforma o dinheiro em papel quase sem valor. Suponho que este último esteja na saúde tão cara aos anos. Minha mãe concordou. Talvez Jung concordaria.

Jung, no final de sua vida, resume sua existência como um "inconsciente que se realizou", na introdução deste livro. A primeira vez que a li há vários anos, me chamaram a atenção estas palavras. Me encantei de imediato. Amor ao primeiro contato.

Deixei de lado este livro para um momento em que meu próprio inconsciente precisasse se manifestar, como vem fazendo e refazendo recentemente. Realizar-se no que temos de passageiro. Poucos percebem a profundidade desta viagem chamada vida.

Com um "sem querer querendo", estou lendo e descobrindo que os acasos em nossas vidas dizem o que precisamos. São acasos porque a explicação tornaria racional e metódica. Racionalidade pura é típica da psicopatia. Liberdade do nosso e para o nosso inconsciente é sem dúvida aquilo de que precisamos.

Vou entrar estes dias no capítulo em que ele conhece Freud, pag. 130, e fazem pesquisas juntos. Esta liga não deu certo. Houve explosões porque Jung expandia a sua alma; Freud queria a alma do outro uma neurose e esquizofrenia constantes. Freud parecia aprisionar a alma alheia para ter o controle racional. Era só fames e libido. Nada mais. E relembro, tirando a psicopatia, nossa alma são sentimentos em expansão. Reprimir sentimento ou não reconhecer dores e mágoas etc., geram neuroses, inclusive na aparente normalidade.

Deus tem este capricho misericordioso para quem tem o coração sincero. Ouve nosso tempo e nos faz conhecer coisas nos momentos mais adequados. No mês de maio, meus 42 anos adequam a minha alma sempre velha ao corpo envelhecido no homem, e me configuro ideal para este meu presente até meu fim. Quando jovens ainda temos futuro. Quando meia idade, os passos devem ser descalços no chão de terra. É o que faço.

Eu desejo que as pessoas, muitas vezes em dúvidas melancólicas e discretamente angustiadas, tenham a certeza de que os anos se acumulam com os anos. Existe o entardecer, mas não creio no fim absoluto sem deixar de respirar definitivamete. Meus logo 42 anos batem nas pessoas como tarde para si mesmas. Digo que é bobagem a idade. Deixe sua mente livre. Seja humano quando tiver de xingar ou arrotar.

Estou verdadeiramente encantado com "Memórias, Sonhos, Reflexão". Não há melhor maneira de persistir. Não há melhor maneira, senão liberando nosso eu interior, conhecido como inconsciente. Vivo e me delicio. Não haveria melhor momento para ler este livro. Creio profundamente. Mas tem de crer. Creia também, ou outrossim.

Diálogo com um Coxinha

Diálogo "ideológico" entre um destes manifestantes cujo nome preservo, e por falta de criatividade, identifiquei como Coxinha (não gosto deste termo, porque gosto de coxinha). Ele se manifestou em defesa do Aécio Neves que foi expulso da manifestação que ele próprio convocou. Mantive a escrita (sic).
_______________

COXINHA: Atenção, esse ato foi a sociedade civil organizado que convocou! Em outras palavras, gente de bem! Se querem continuar vivendo a ditadura petista, sugiro que se mudem para Cuba

EU: Sugiro que aprenda concordância nominal. E quando aprender a escrever, leia Max Weber e Stefan Zweig. Fascista para cima de mim não...

COXINHA: Amigo, sou engenheiro de formação e exímio gramático! O corretor do teclado, não faz concordância! ... Quem convocou! Não leio estas porcarias! Sugiro estudar atos e deveres jurídicos. Expressei minha opinião, vc optou pela agressão. Isso tem implicâncias jurídicas. Prove o que escreveu. Mais um passo é sofrerá implicações jurídicas na mesma proporção.

"... Quem convocou ...."

EU: Concordância nominal e não verbal. "Sociedade civil organizada".

COXINHA: Não precisa me ensinar o que é concordância. Antes aprenda o que é democracia....

EU: Sua opinião foi "sugiro que mudem para Cuba". Sugiro que reformule suas palavras.

COXINHA: Nossa sério!!! Óbvio que foi erro de digitação! Tão óbvio qto quem liderou o maior esquema de corrupção da estória da humanidade .... Sou muito cartesiano amigo, não é o que acredito (ideologia). São fatos e dados... O cara vira em quem chama subst epcecimo de sei lá o que : mosquita ... Ainda quer me dar lição de moral ... Vai procurar tua turma

EU: Sobre "as porcarias", foram judeus que formularam a Sociologia Contemporânea, sendo que o primeiro foi o "pai" e o segundo se matou no Brasil com a esposa Lotte em Niteroi com medo do Nazismo. Grande estudioso de minha brasilidade cujo livro Brasil, O País do Futuro analisa todo potencial do Brasil se as pessoas tivessem melhor formação. Respeita-os e se retrate perante estes dois grandes estudiosos.

sábado, 12 de março de 2016

A História dará Razão a quem ficar ao lado da Dilma.

A História dará Razão a quem ficar ao lado da Dilma.

Exatamente.

Não estou, por este motivo, ao lado da Dilma. Estou ao lado da História. Da verdadeira História que será recontada pelos futuros pesquisadores nas universidades. Quando digo Verdadeira História, vejo como uma figura de pensamento, já que a verdade na humanidade é algo absolutamente pessoal, o que vale para as opiniões.

De tempos em tempos, os arquivos da História são desfeitos e as intenções escusas desmascaradas e as geraçõea vindouras mais conscientizadas.

Acreditamos até o início dos anos 1980 que Pedro Álvares Cabral se perdeu e sem querer encontrou a Ilha de Vera Cruz, nosso Brasil. Assim como nos propósitos Republicanos de 1889 fazer Tiradentes ser um mártir também da instauração da República. Sem dizer a libertação dos escravos de 1888, de quem não eram escravos, mas sim mercadorias na mesma proporção ideológica do IPhone no olhar do vendedor e possuidor. Os negros de hoje - maioria - vieram fruto deste estigma.

Escolho a voz da futura História do Brasil que será rediscutida em cinquenta, setenta anos. Olharão para traz e perceberão a intensa manipulação e a falta de visão daqueles de direita, ou daqueles que, cansados de saber que estão certos, mas lutando contra o poder mais forte, cedem à opressão do opressor e se rendem. Gasta-se menos energia mental concordar com quem tem o poder econômico e nunca saiu realmente do poder.

Minha posição será das teses de doutorado de como o Brasil foi resgatando milhões de brasileiros que viviam na extrema miséria e foram tendo o prazer simbólico de até comprar ao longo dos oito anos do Lula e dos da Dilma.

Portanto, meu amigo, que é ou virou conservador, seu argumento para cima de mim cansa demais um mundarel de argumentos a favor. Você escolhe "Dia 13" como símbolo da sua históriia pessoal. Eu escolho a História como marca futura do que falarão sobre nossa contemporaneidade. Fico ao lado dos excluídos, fico ao lado da Dilma, fico ao lado de quem resgatou e tirou milhões da miséria. Tenho mais do que fundamento sobre seu fundamentalismo midiático, já que todos seus argumentos vem de onde você ouve e vê. Quando lê, são duas ou três linhas para caber direitinho em sua reflexão, ou seja, manchetes. Leitor de manchetes dos conservadores. Não dá para ouvir seus argumentos.

sexta-feira, 11 de março de 2016

SONHOS E ARQUÉTIPOS

Ela: Flávio do céu sonhei, com o senhor esta noite.

Flavio: Onde, como e o quê.

Ela: Nossa. Não me interprete mal. Não sei o que houve.

Flávio: Seu inconsciente falando.

Ela: Meu, eu fiquei com vergonha quando acordei.

Flavio: Relax. Mas está engraçado.

Ela: Flávio, me desculpa, mas eu sonhei que tinha ficado com o senhor. E não sei por que sonhei isso.

Flavio: Quer hipóteses?

Ela: Meu, estou com vergonha. Eu até estou pesquisando na internet, porque eu não sei. E se eu quero hipóteses? Por favor, me diga.

Flávio: Agora seja sincera porque pode ajudar você no seu nível inconsciente. Quantos anos você tem?

Ela: 23

Flavio: Ser mãe nos últimos anos fez você mudar muitas opiniões sobre a vida antes de ser mãe, correto?

Ela: Sim.

Flavio: E claro que não existe nenhum arrependimenro. Ao contrário. Você ama a maternidade.

Ela: Sim

Flávio: Olha só. Reflita comigo. De algum modo, é por aí a reflexão do sonho. Você me conhece como professor, escritor etc. E vem acompanhando minha separação e até foi solidária comigo.

Ela: Sim.

Flávio: E meu ponto mais fraco nisto tudo da separação é o amor que tenho pelos meus filhos. Acho que no nível inconsciente, este link "amor de filho" eliminou o "professor", o "homem", o "escritor", e restou aquela essência que hoje para você é a sua essência: amor pelos filhos. Então, vamos de essência - como uma coisa pura -, de admiracao e ausente de qualquer malícia... Seu sonho foi um "Arquétipo".

Ela: Sim, concordo. Foi intenso.

Flavio: Espero que lhe traga mais auto-entendimento. É sempre bom mesmo.

Ela: Estou muito sem graça.

Flávio: Acordou apaixonada! Kkkkkkkkkkk. Relaxa. E o que é intensidade para vc?

Ela: Senti muita compreensão, segurança, parceria.

Flávio: Se foi bom para você, esta sensação vai persegui-la por um tempo ainda (pequeno tempo), mas será saudável. Agora, eu tenho uma curiosidade. O que foi "ficar" no sonho?

Ela: Beijos, abraços, diálogo, toques suaves, trocas de olhares, carinho, cuidado. Menos sexo.

Flavio: Cacara! Romantizou mesmo!

Ela:: Mas, Flávio, vou falar para você: acordei outra pessoa. Kkkkkkkkkkkk.

Flávio: Eu tenho certeza. Sabe. Quando damos vida ao nosso inconsciente através de Arquétipos (pesquise sobre Arquétipos na Internet), sentimos mais aliviados. Este sonho arquetípico que você teve pertence à realidade da maioria. Mas poucos sabem interpretar corretamente. Quero que você pesquise na internet algo sobre "Arquétipos" e "Arquétipos Junguianos"

Ela: Ok.

Flávio: Pesquisa também sobre "anima" e "animus" de Jung. Aí você escreve e me fala. Mas você tem que escrever com as suas próprias palavras...

Ela: Está bem.

Flávio: Quando der, me fala...

(...)

Ela: Nossa! Então, pesquisei e citando essa situação como exemplo. Primeira impressão é a que fica, na prática. O que se sobressaiu foi o jeito de como você leva as coisas. Acredito que nunca vi você bravo ou triste, justamente por não conhecer seu outro lado. A minha impressão é de segurança e muito respeito. Isso ficou em mim por um tempo. E vendo o caminho por que você está passando agora, acredito que vi uma certa semelhança com algumas experiências vividas por mim, mesmo sendo muito nova. E acredito que tenho isso como um modelo, podendo até ser o modo de se levar essa vida.

Flavio: PERFEITO! Arquétipos. São nosso arquétipos de nosso inconciente. Você é genial. Tem que estudar mais e fazer faculdade. E me fala da sua "ressaca" sentimental do sonho...

Ela: Hahahahahaha. Olha, sinceramente: mudei meu pensamento. Tenho em mim uma outra sensação. Parece pokemon quando evolui. A sensação que o sonho deu.

Flávio: Positivo então. Gostou do "Arquétipo Junguiano"?

Ela: Parece que me mostrou algo que ainda não conquistei para mim.
E que preciso rever isso como mulher. Eu adoro sonhos. Não estou dizendo isso por causa dessa conversa. Sempre quando sonho, tento ver o que significa para mim. Sempre acho que me mostra algo. Sobre os arquétipos, sim! Adorei. Nunca tinha ouvido falar.

Flávio; Parabéns novamente. Potencialize isto. Você é jovem. Comece a ler bastante. Leia MEMORIAS, SONHOS, REFLEXOES, do C. G. Jung. Leia e aí vai ser outra pessoa. Mas adorei ter falado sobre este assunto com você nesta manhã e ao mesmo tempo você ter descoberto outro Flávio.

Ela: Sim! Muito bom!

terça-feira, 8 de março de 2016

VIVER SOLTEIRO (porque é preciso)

Viver Solteiro (porque é preciso)

Não existe relacionamento possível quando sua vida emocional passa por um processo difícil de reequilíbrio entre o que você é e aquilo que você vai lutar e se dedicar por um tempo para ser. Não é nem questão de tentar namorar ou ficar com alguém. É questão de ter tentado em demasia e excedido limites com muitas marcas, que machucam.

O tempo mostra que as tentativas fracassadas em nossas vidas tornam nossa sensibilidade mais morna com tanta energia gasta. Restaram as experiências. Afinal, um relacionamento a dois deve ser uma confluência de boas energias e apoio recíproco. Alguém dá; alguém recebe. A troca deve existir. E nem sempre a troca é possível. E dei-me por vencido e derrotado pelo meu presente, buscando meu futuro que já é passado há muito tempo.

Meu coração nunca andou solteiro. Sozinho sim, e muitas vezes porque inseguro de encarar o baile da vida apenas com o olhar, sem par para a valsa. Porém, estar sozinho são especulações sem verdades na prática. A própria solidão, que é o extremo de estar só, convive com nossos sonhos noturnos. E eu nunca tive problema de solidão, porque de alguma forma sempre alguém me buscava na minha inocência e eu sem inocência sempre encontrava alguém que me queria.

Relembro uma amiga. Assim que me separei. Disse a ela que se eu ficasse solteiro por muito tempo, eu faria estragos emocionais inevitáveis em muitos corações. Usei o termo "rastro emocional" como herança do meu ponto fraco. Que bom que pude compartilhar com esta minha amiga este pensamento. De certa forma, ela foi a minha consciência que fez ouvir a mim mesmo o que eu intuía.

Nada mais de relacionamento sério. Nada mais de relacionamento. Quando muito uma troca excepcional com toques distraídos de ósculos fugazes desmanchando tudo no ar entre cheiros e sabores. Gosto da expressão que dá nome a um livro sobre a modernidade 'Tudo o que é sólido desmancha no ar'. Existe hoje uma tal expressão de 'pensamento líquido' sobre a qual não me arrisco falar por não ser fã dela. Eu estou pensando muito mesmo em Hegel, e sua Filosofia da História e em Machado de Assis, seu Esaú e Jacó. Filosofia e Literatura. História e Pensamento.

Vontade de abraçar a todos, quem não tem? Amo beijar, mas sei que o toque do abraço é algo fundamental na partida. Para mim, abraço é despedida; e beijo é chegada. Coisa minha. Aos meus amores passados e presentes, fortes abraços. Não cabe mais beijos apaixonados em lábios filosóficos sem cais, sem porto, sem ancoradouro, sem nada que me faça hoje sair do mar. No mar fico e no mar ficarei. À vida, um beijo. Sem ela nada existe. Sem o beijo, nada fica. Por hora, abraços. Muitos abraços.

sexta-feira, 4 de março de 2016

Esau e Jaco (todorov)

Por que o narrador de Esaú e Jacó quis que conhecessêmos a história, permeada por reflexões filosóficas sobre a História e a Natureza? Ao menos tempo, por que Aires narra seu memorial um história fluida, beirando a reflexão na prosa coloquial?

(História e Discurso. Pag. 211. Análise Estrutural da Narrativa. Tzvetan Todorov. "Mas a obra é ao mesmo tempo discurso: existe um narrador que relata a história; há diante dele um leitor que a percebe. Neste nível, não são os acontecimentos relatados que contam mas  maneira pela qual o narrador nos fez conhecê-los.")

quinta-feira, 3 de março de 2016

Filho de Soldado é Superior ao Tempo

A chuva começou fraca na região da Paulista. Ricardo Hossonaro Neto apressou os passos ao sair da Rua Pamplona para entrar na estação Trianon Masp. Recusou várias vezes compartilhar o guarda-chuva, ainda que Olavo insistisse com veemência, censurando-o, repreendendo-o, mimando-o, abraçando-o ombro a ombro.

- Recuso-me, Olavo. "Filho de soldado é superior ao tempo", dizia meu avô.

A garoa forte. O neto do soldado reivindicava para si que tinha certo brio íntimo familiar a preservar, com o qual não negociava em circunstância alguma.

"- Filho de soldado é superior ao tempo, minha filha."

O orgulho era herança da herança ideológica da recém-falecida mãe cujo pai, também falecido, reformou-se General de Brigada do Exército em 1983. Uma semana antes de morrer.

No Golpe de 31 de Março de 1964 era major. A patente final de general viera ao falecimento do seu avó, Hossonaro, que lembrava com orgulho à filha: "filho de soldado não usa guarda-chuva; filho de soldado é superior ao tempo."

Ricardo Cabral Hossonaro Neto tinha três anos quando o avô recebia as Honras Fúnebres e Comunhão de Pêsames, e narrava ao namorado Olavo, ambos dentro do vagão do metrô, sentido Paraíso que nunca usou guarda-chuva. O céu no cemitério no dia do sepultamento do avô amanheceu opaco. Ao meio dia, o sol fortaleceu. Ao entardecer, próximo do sepultamento, despencou forte chuva de verão, que resvalou garoa persistente durante a marcha fúnebre.

- Filho de soldado, lembrava-me a minha mãe, comigo no colo, ao longo do cortejo, é superior ao tempo; deixe a garoa secar nossas lágrimas.

- De fato, Olavo. Nenhum soldado fez uso de guarda-chuva. Do cortejo à cova, recordou, quando subiam os três andares do prédio onde moravam, sem nunca usar o elevador - até nas compras. Eram ecológicos.

Olavo ouvia com os olhos nos degraus.

- Nem minha mãe o fez, Olavo. Deixou-me ao colo sentir as gotas leves que pareciam vidas que me tocavam a face. Eu gostei da sensação da humidade em mim.

Chegaram no pequeno corredor. A porta do apartamento 301. Era fechada com apenas uma trinca e religiosamente uma única volta na fechadura. Segurança real se conquista com fé, assim como o verdadeiro amor, sussurrava para Olavo.

Entraram no apartamento financiado por ambos. Era espaçoso e aconchegante para amigos e familiares. Ricardo foi direto ao banheiro. Apenas para lavar as mãos. Olavo para a cozinha. Tirou do freezer uma lasanha vegetariana com molho branco, feita pelo próprio Ricardo, que tinha como passatempo a culinária. Congelar era apenas a modernidade, a praticidade, a correria, o tempo enxuto para outros prazeres do coração. Tudo natural.

- O tempero pobre, Ricardo? Deliciosa. A lasanha está deliciosa.

- Mas não me agrada se não for fresca.

- O que agrada você, Ricardo?

- Me agrada sentir saudade de minha mãe neste exato momento. Ter as suas lembranças.

- Faz tão pouco tempo.

O vinho na mesa era branco. Vinho verde para ser exato. A adega na sala não mais do que sete garrafas de diferentes cantos do mundo, embora as rolhas dezenas em um decanter para as boas memórias. Virou mania de Olavo.

Ricardo viajava vez ou outra para a Europa. Era fotógrafo profissional de moda. Vivia muito bem profissionalmente, aliás. Tinha a lista do que Olavo amava quando ele o buscava no aeroporto de Guarulhos. Um beijo antecedia sempre o abraço. O abraço era a saudade; o beijo era o amor. E se beijavam quase invisivelmente.

- Semana que vem vou a Milão para registrar a semana da moda para a revista.

- Nossa! E não me disse antes por quê?

- E quem sabia? Goeffrey me intimou a ir hoje.

- Ele não vai?

- Está com câncer. Amanhã entra em tratamento.

O jantar transcorria bem até então. Inclusive a novidade esquisita de ser o repentino fotógrafo na Semana da Moda em Milão, que seria rapidamente ingerida pelo Olavo. Ele desconfiou porque quem ama cuida. Depois se arrependeu. O silêncio total veio do Ricardo que esvaziou a terceira taça, quase não tocou na lasanha e pediu licença com muita afetação.

A porta do quarto foi fechada com muita sensibilidade. Os passos trêmulos.

Olavo juntou as sobras dos sentimentos espalhados sobre a pequena mesa íntima de jantar, agora silenciosa. As duas taças de cristal. A garrava vazia. Pratos quase rasos. Guardanapo de tecido da MMartan. Talheres pesados. Tudo levado à cozinha. Cuidadosamente limpa e limpos. A mesa impecável. A rolha, desta vez, colocou-a ao lixo. Queria delas boas lembranças.

- Quando soube?

- Hoje pela manhã, disse na cama.

Ricardo não escondeu os olhos vermelhos. A luz da televisão na Warner, o abajur furta-cor, a lua e pontinhos de estrelas deram o tom do brilho interior da lembrança do dia em que a própria mãe falara-lhe daquela palavra em seu ovário. Nem havia ainda Olavo. Olavo era um sonho distante, cheio de jovialidade que depois o revitalizaria, e morariam juntos. Ele conheceu a sogra anos depois já definhando. Tornou-se mais um filho tardio. Trabalham agora na mesma agência. Se conheceram nela. Dela saiu um amor cúmplice. Olavo tem sido seu conforto e sua proteção, que é o mais belos que os jovens trazem aos anos desgastados.

- Eu estou aqui ao seu lado, disse-lhe, abraçando-o pelas costas. Não importa o tanto de dor que a perda traga. Quero ser seu ganho enquanto estivermos juntos. Sempre juntos. Canta comigo “é lindo; é lindo e mágico tudo entre nós; entre mim e você; para sempre”.

Àquelas palavras, cantadas por alguns minutos, o neto do soldado fechou os olhos e pediu com muito carinho para desligar a televisão.

- Não vai escovar os dentes?

- Não vou. Tomei dois calmantes. Preciso dormir. Preciso descansar. E obrigado por você estar ao meu lado.

Minutos depois, Ricardo apaga. Literalmente. A televisão é desligada. O dimmer totalmente escurecido. Olavo ainda acariciou os cabelos parcialmente grisalhos do amor que lhe arrebatava a alma, cantarolando a letra. Catorze anos de diferença. Olavo ainda pensava de Ricardo um jovem homem maduro e que o clareamento de vários fios vinha das dores reprimidas, porque o desconforto social do que queria ser, ele nunca libertara do seu amor e da sua natureza; sempre reprimindo. Diferentemente de Olavo, diferentemente dele. Aceitou seus sentimentos. Beijou o mundo, seja com amor, seja com prontidão, seja com raiva, seja com rancor, seja com ódio, seja com indiferença, seja sem temor. Nunca de cabeça baixa.

- Durma bem, meu anjo, reforçou buacando-o que lhe escutasse, dando um beijo em seus lábios. Amanhã cedo preparo seu café e vamos caminhar no Parque da Aclimação. Estou aqui e sempre estarei aqui.

Ricardo quase sedado. Olavo deixou o quarto sem barulho. Voltou com um pouco de enxague bucal num copo. Molhou o dedo e esfregou nos dentes do amado. Por três vezes. Com uma toalhinha, seco os lados e os lábios que tornou a beijá-los. Depois fechou a porta definitivamente como guardasse um tesouro. Pegou antes um lençol e seu travesseiro de pena de ganso. Deitou no sofá da sala. Ligou a televisão quase sem som. E dormiu bem lentamente desejando naquele momento o bem maior que era a paz interior do seu amor.

Com suas palavras, de seus vinte e um anos, refletiu de modo livre algo parecido com a vida traz seus aborrecimentos contra os quais se devem lutar. Muitos aborrecimentos, aliás. O problema, porém, são as ideias semelhantes a “filho de soldado é superior o tempo”. O ser humano vive e faz parte deste mundo. O que se constrói de ideias e ideologias vem de fora. Está aí o enorme problema. A falta de respeito vem da vontade de querer impor-se de qualquer forma. Um estupro mental. Toda vontade em se querer impor um pensamento é uma doença. Nem sempre tratável. Mas combatível. A paz vem pela luta. Não há paz através da tolerância ao intolerante. Não há paz possível apenas na fuga. Contra a intolerância a maior defesa é a luta. E luta real. Realíssima. Viver não é fugir. Estou com você, sussurou para o amado em pensamentos. Sempre estarei. Filho de soldado pode amar livremente quem quiser...

(Flavio Notaroberto)

Escritor e mestrando em Literatura e Crítica Literária pela PUC. Autor dos livros Contos Suaves (2013) e Não é Conto nem Fábula, Lenda ou Mito (2014). Lançará seu primeiro romance, Miguelito: Memórias, em 2016.