domingo, 27 de maio de 2018

Renasceria

Ela é capaz de despertar-me o amor,
Que tanto tormento e desilusão, provoca
Nos humanos corações partidos.
Ela não sabe, se um dia, por ela, for
Capaz de restaurar a dor do amor sem volta,
E não ser mais um homem desiludido.
Eu disse a ela, sem dizer deveras,
Que verdadeiramente eu me encanto
Pelo sorriso que amar nunca pondera,
Se nego a dor do amor, foi por desencanto,
Mas por encanto entrego minha alma a ela.
Encanto certo: não há alma mais bela.
O belo dela, o amor que se esconde,
Quero, e falta-me coragem humana
Para dizer - e não sei como, nem onde -,
Dizer que posso amar louca e fortemente,
Restaurar em nós a felicidade sana
Tão rara para mim, e para tanta gente.
Espero o sagrado surgir do milagre,
Porque tão pleno por ela eu viveria.
O sabor da solidão me lembra o acre.
Com ela o amor talvez renasceria
Para sempre, que poucos anos me faltam,
E se faltam, eu os quero aqui com a alegria.

(flavio notaroberto)

sexta-feira, 25 de maio de 2018

Construção de Nossas Percepções

Construção de Nossas Percepções

por flavio notaroberto

A verdade humana é uma percepção.

Antes a filosofia sugeria esta hipótese, hoje a neurociência confirma esta hipótese, transformando-a em princípio. Todos reproduzimos uma verdade dentro de cada percepção em nós. Podemos dizer que envelhecer é cristalizar nossas percepções. Falar que nossa percepção é falha não significa muito para este princípio, porque ela é falha mesmo. Nosso limite está justamente em perceber e depois julgar o que achamos.

Uma vantagem de alguns sobre outros é conseguirem antecipar as possíveis percepções manipuladas e criadas, para que tenhamos algumas verdades absolutas mas que são apenas discursos. Muitas percepções são criadas pelos homens. O sol é uma percepção natural, já o discurso humano não. Imagine um falsário, um estelionatário, um mágico que nos iludem fazendo desta ilusão uma verdade até que ela seja desmoronada. Decepções são desmoronamentos de percepções que tínhamos por verdades absolutas.

Quem nunca se decepcionou? Quem nunca foi algo traído? Por menor que seja. O estelionatário e o falsário mexem na construção de nossa percepção sobre eles, escondendo suas reais intenções. Seremos vítimas.

Olhando nosso panorama social e político neste momento, percebemos nosso governo, aqui no Brasil, existindo para criar percepções na mente de sua população. É uma estratégia necessária e manipulatória, que logo virará verdade absoluta. Indivíduo algum consegue ser mais forte do que a percepção criada para o coletivo, que sente passivamente e reproduz fielmente, como verdade e por meio de um simples discurso de afirmação, que o governo (qualquer governo!) construirá.

Lembro-me de que os brasileiros foram envolvidos na percepção da "pior crise econômica mundial" em 2015. Diziam que era pior do que a da crise dos anos 30 nos Estados Unidos (e qualquer leitor de economia sabe que não; inclusive, a crise imobiliária nos Estados Unidos em 2008 foi muito pior do que a efetiva "crise" em 2015 no Brasil, que foi, aliás, mais política do que econômica).

O governo agora está plantando percepções na mente das pessoas, por meio de um discurso afirmativo vinculado pela mídia. Dizem as autoridades do governo que A) já cederam aos grevistas as reivindicações, B) que mais da metade dos grevistas já deixaram a greve, C) que uma minoria radical merece uma resposta radical, D) que os empresários mobilizaram os caminhoneiros, E) que o exército foi convocado para manter a ordem - como exige a Constituição. Somado ao discurso da falta de comida às crianças e de remédio aos idosos. Um discurso será logo tido por verdade, e assim esta percepção será amplificada por meio de discursos maiores e de boca em boca.

Tenho o pequeno privilégio de ter estudado filosofia alemã por quatro anos, que me ajudou na metafísica, e nos últimos cinco anos tenho lido muito sobre o que é nosso cérebro e como ele cria suas representações por meio de suas percepções, na neurologia, que me ensinou como formamos as percepções. Basicamente a filosofia responde "o que" e a neurologia "como". Claro que eu sou um discurso, que falo por mim mesmo. Minha percepção.

Digo que não dá para ir contra o senso comum. Uma massa de pessoas, com discurso único, cria os fascistas. Sempre foi assim e assim sempre será. Temos que tentar educar as pessoas sem discurso de ódio e sem ideologia. Não há melhor caminho para abrir as percepções do que o amor e a liberdade - Paulo Freire disse algo a respeito. O ódio e a ideologia nos limitam, e transformamo-nos em verdade absoluta, o que são das mais cruéis para as percepções ter o ódio e o fascismo como verdades. Perceber livremente é o que nos liberta.

sábado, 19 de maio de 2018

Poema

Seu encanto habita meu sonho

Seu encanto habita meus sonhos.
Não sentia amar novamente.
Livre o sol e a noite me viam.
Livre vinha e ia na paz,
Sem palavras, sem versos, sem rima,
Sem aquela vontade alguma.
De onde veio, por que tão rasteiro?
Que chorei, neste amar, sem querença.
Quando só, palpitava, frenético.
Mas feliz, eu tinha a mim mesmo.
Depois me perdi para sempre,
Sem culpar já que a vida exige
Um encanto de dor-solidão.
A mudança me torna comum.
Do nada ao sempre sofrer,
Quando faz o amar novamente.
Sou mais um de alma despida.
Refém deste amor que não se importa:
Cultiva tais doces ilusões.
Mesmo assim cada fado em verso
Diz pouco, bem pouco do fel
Que é sentir um beijo distante,
Remoendo a imaginação.
É sentir um abraço ausente,
Tocando o corpo inteiro.
É sentir do olhar a ternura,
Que provoca amar na escuridão.
Mesmo assim admito o amor,
Habidando meus sonhos agora,
Que me levam a sonhar acordado.
E do sonho aprendo que sempre
Somos vítimas do eterno legado,
Não importa se sim ou se não,
Não importa se leve e feliz,
Não importa jogado à miséria,
A humana de não existir.
Que do amor vem a leda tristeza,
Ou do amor vem a triste alegria.
Ao que resta no enredo da ópera
São meus versos, aos sons do destino,
E seu encanto habita meu sonho.

Flavio Notaroberto

domingo, 13 de maio de 2018

Jamais outra vez (conto)

Jamais outra vez

Era para ser uma noite especial. Eu havia sido contratado há um mês depois de quase três anos vivendo de bicos. O primeiro pagamento saiu na quinta-feira. Separei parte dele para sair à noite com um amor platônico, que sinto até hoje. Ela morava próximo da minha tia. Eu não liguei para confirmar se ela iria. Ela havia me confirmado na segunda. Cheguei e esperei. Espero até hoje. Sei que no outro dia liguei para ela. Sua voz foi muito afetuosa, acolhedora. Falamos por alguns minutos. Perguntei se estava bem. Disse que sim. Depois que teria que desligar. Eu não compreendi. Será que esqueceu? Eu não quis confirmar. Deixei a dúvida morar nas minhas memórias por muitos e muitos anos. Por acaso, estou me lembrando dela hoje, em que recebo meu primeiro mês de minha aposentadoria, deitado na sala, tv ligada, lembrando-me dela. Seu olhar, seu sorriso, os cabelos soltos, os cabelos presos, com e sem maquiagem, a voz nunca alterada, sempre discreta, sempre positiva, sempre apaixonante para mim. Fizemos colégio juntos. Nunca consegui gostar de outra pessoa em minha vida. Continuei trabalhando. Como não tinha com o que gastar o salário que eu recebia, gastava o mínimo comigo e deixava no banco. Comia pouco, muito pouco. Dormia em um quarto simples no fundo da casa de minha tia, que não cobrava nem aluguel, nem água, nem luz, nem nada. Fazia ainda mimos, deixando-me algo para comer. O trabalho era meu contato com o mundo. O trabalho ao longo da semana. No fim de semana eu caminhava pela manhã e início da noite. Contava os passos no início. Depois entrava em transe e esquecia de mim mesmo. Não sabia aonde ia. Depois voltava e sentia profunda melancolia quando fechava a porta do meu quarto. Dormia cedo. Foram mais de dez anos assim. Aos 30, resolvi começar a faculdade. Sem perceber, eu pude sair do emprego. Sem perceber, porque a minha conta bancária tinha tanto dinheiro que me assustei. É que depois de um certo valor, o correntista muda de perfil. O gerente me ligou oferecendo uns pacotes. Fui ao banco. Vi a quantia. Agradeci a informação. Não aceitei mudar. Transferi tudo para a poupança. Poupei sem saber. Fiz uma breve carta de demissão. Inclusive dispensei o aviso prévio. Fazia mais de dez anos que exercia a mesma função, sempre eficiente, e nunca ausente. Meus passatempos permitiam ser funcionário exemplar. Era controlador de mercadoria de um depósito de material de construção. Tudo o que entrava e tudo o que saía passava pela minha assinatura. O RH aceitou sem contendas. Saí de lá. A pé fui pensando. O que iria estudar? Desde que terminei o colegial, não me vinha a vontade de voltar a sentar em um banco de escola. Gostava de pensar. Me incomodava olhar para o mundo sem resposta. Sentir era algo confuso. De repende, veio-me à mente uma professora de filosofia do colégio, que me chamou a atenção pelas ideias que tinha do mundo. Fui à faculdade e perguntei do curso. Dois meses depois eu estava na sala de aula. Mudei-me da minha tia para uma casa na rua atrás da faculdade. Minha tia me desejou boa sorte. Nos primeiros meses - comecei em agosto -, era sempre "o quê". O que era isso e o que era aquilo. Eu ia anotando o que no meu caderno. Passei os quatro anos entre perguntas com "o que" e a vida dos filósofos. Não trabalhei neste tempo todo. Estudava pela manhã. Almoçava frugalmente. Ficava na biblioteca até anoitecer. Ia para casa. Comia uma bolacha. Ligava o rádio. Tomava banho. Dormia antes das nove. Todos os dias - com exceção dos fins de semana e férias. Ao invés de ir para a faculdade, eu caminhava toda manhã. Admito que, ao tornar-me filósofo graduado, senti-me culto, mas cheio das mesmas perguntas sem respostas. A faculdade não me ajudou a responder os por quês. Eu vivia para sentir. Nos quatro anos de faculdade, eu pude desviar a atenção do amor platônico de minha alma, e aprender a cultura do pensamento Ocidental. Graduado, sem respostas, aos poucos o amor voltou em meu coração. Foi estranho. Veio pior do que antes. Foi forte e não conseguia pensar em mais nada. Seis meses depois, eu me sentia tão doentemente apaixonado que procurei por ela na mesma rua da casa da minha tia. Fui à tarde, logo depois do almoço. Era sábado. Apertei a campainha. Dois cachorros pequenos latiram estridentemente. Ela abriu a porta. Veio ao portão. Perguntou quem é e abriu o portão. Não me reconheceu. Fazia quase quinze anos que não nos víamos. Eu tinha deixado a barba crescer. Me deixava com ar de filósofo. Ela se surpreendeu quando falei detalhes. Surpreendeu-se e sorriu. O mesmo sorriso apaixonante. O cabelo descuidado. Mesmo assim, ali a pessoa que eu amava doentemente. O corpo mais cheio do que vazio. Mesmo assim, não me importava. Ficou feliz em me ver, tanto que me chamou para entrar. Porém, em seguida, passou por nós de dentro da casa um jovem, que se despede com a palavra mãe. Disse-me que ele estava com quinze anos. Ela até me lembrou de que naquele dia de nosso encontro, que não aconteceu, ficou sabendo da gravidez. O inusitado foi tão grande que se trancou no quarto. Saiu de lá somente na segunda para ir trabalhar. Estava feliz hoje. Eu fiquei feliz. Não entrei na casa dela e minutos depois me despedi. Saí de lá igualmente apaixonado. Voltei a estudar para distrair a mente. Mestrado, doutorado. Há três anos tornei-me livre-docente. Aposentei-me há um mês. Não me casei e não quis macular meu amor tão sublime. Foi bom viver entregue a um sentimento caro para mim. Se pude amar tanto, não me importei em não ser amado. Sentir me bastava. Ao menos, eu não sofria a dor do outro sobre mim. Eu poderia ter arriscado mais. Poderia ter perguntado mais. Poderia ter libertado-me mais. Saber por que nunca foi meu forte. Aceitava. Ao menos deveria ter entrado na casa dela naquela vez. Seria um risco. Este outro pequeno detalhe vai morrer comigo. Jamais vou atrás de resposta novamente. Jamais.

sábado, 12 de maio de 2018

Ansiedade

Vejo que o mal que mais destroi a mente humana é o espírito da dúvida. Quanta ansiedade ela não constroi? Ansiedade é desejo, ou um forte desejo inquieto, que não para nunca, não dá trégua, não alivia a mente enquanto não transformarmos a dúvida em certeza. A doença ansiedade é quando jamais há certezas, e a pessoa precisa, por isso, de tratamento. É natural, no formato de nossas relações humanas, do tipo sociedade competitiva, de consumo, de coleguismo, de sentimentos sempre no limite do exagero, é natural vivermos ansiosos, e este mal não há cura enquanto não houver a mudança necessária nas relações sociais - vivermos mais do que consumirmos mais. Nossa situação de trabalho gera ansiedade; nossa relação familiar gera ansiedade; nosso envolvimento amoroso gera ansiedade; assim como a ausência de trabalho, de família, de amor. Tirar as dúvidas de nossa cabeça é viável, mas quase impossível. Porque tirar as dúvidas seria esvaziar, como uma bexiga enorme, nossas emoções diante do mundo. Bem, neste sentido religião e meditação ajuda muito a equilibrar as emoções, acalmando-as. A meditação do que a religião, e desde que se saiba que meditar é um ato racional e voluntário para se entrar conscientemente na irracionalidade, na invontulariedade para que o inconsciente nos governe por um período, um ciclo, com começo, meio e fim. Neste sentido, podemos estar cercados por um mundo de pessoas e mesmo assim manter a paz interior, na meditação. Então relativizamos nossos desejos e, por consequência, nossa ansiedade. Não é questão de ligar o "foda-se", que soa vulgar. É desligar o mundo em nós e respirar nosso limite humano, para não nos cobrarmos naquilo que não depende apenas de nós. Não podemos nos forçar a seremos amados por alguém que amamos, nem pelos filhos que temos; não podemos consumir o mundo sem limites se não temos dinheiro para a troca; não podemos ter a paz no trabalho, mas podemos fazer de nosso trabalho uma paz naquilo que é possível. Vejo as pessoas se deteriorando mentalmente pela ansiedade, inclusive daquilo que nunca, jamais terão - algo triste para quem está de fora. Temos que nos preocupar, e viver dentro de nós a preocupação. Ao mesmo tempo, manter a respiração regular é um treino, como se acostuma com as atrocidades em uma guerra depois de sobreviver por anos nela. É difícil provar viver a paz. É uma conquista. É uma busca. É o que nos prolonga o bem estar emocinal.

sábado, 5 de maio de 2018

Inocência e pureza

Para que o amor aconteça, me parece necessária boa dose de inocência e de pureza. Basicamente, o amor surge esvaziando nossa individualidade. Quanto mais a outra pessoa cresce em amor em nossa mente, menos somos para nós mesmos. Eu acho bonito. Eu creio neste amor. Hoje li que do ponto de vista neurológico o amor romântico é uma doença, como qualquer outra dependência. Somente quem já sofreu por amor sabe o estado em que se encontra. Um estado completamente passivo e dependente do outro. O amor é uma força Universal, assim como a morte. Os dois temas universais que fazem o seres humanos peculiares são o Amor e a Morte. O amor uni; a morte aparta. Quando há morte por amor, existe o maior dos paradoxos justificado somente pela palavra 'patologia'. Matar ou matar-se por causa do amor não tem sentido do ponto de vista da lógica da pureza, da inocência, quando tudo começa. Eu me cansei do amor romântico. Mesmo porque para mim amor é sacrifício, e sacrifico-me apenas pelos meus filhos. Não quero tirar a liberdade de ninguém, e não quero ver-me podado de minha liberdade. É que não consigo mais ser inocente, não trago experiência de pureza. Estou corrompido pela filosofia, pela reflexão, pela abstração. Não quer dizer que se deva usar a libertinagem ao extremo. Ao contrário. É saber ser livre para não mais perder a liberdade.

quinta-feira, 3 de maio de 2018

A arte

Esta semana recebi dois comentários de "lágrimas". Dois textos meus despertaram lágrimas nelas. A reflexão que proponho é a do momento e não da arte. Não são textos e sua arte que nos fazem chorar. Nosso momento, mais sensível e instropectivo, é que nos abala emocionalmente diante da arte. A arte sempre está em nossas vidas como arte, esperando nosso momento. Enquanto houver humanos, haverá arte e suas emoções despertadas nos corações humanos. Quando desaparecermos, as estátuas serão pedras; os castelos, cavernas; a literatura, papel perecível; pintura, representações sem olhar; e a música, morta. Assim é a arte para sempre e o artista efêmero.

44 anos

Fiz 44 anos esta semana. Já vou dizendo que viver cansa. Não sou adepto ao romantismo da juventude longeva. Porque viver cansa. Alguns antecipam o cansaço e saltam para o infinito, por meio da morte, voltando a ser tempo e nada juntamente. A morte restitue o eterno em nós. É trágica e ao mesmo tempo especulativa esta coragem. É porque viver cansa. Cansa a ida e a volta. Por isso preferimos mais permanecer, conforme envelhecemos no passar dos anos. Permanecer onde sentimos o bem, sentimo-nos bem, sentimo-nos fazendo o bem. É que viver cansa os que não se sentem bem neste mundo cheio de possibilidades, que nos ensina que temos apenas algumas reais possibilidades. Viver cansa. Viver é para os fortes e para os fracos. Viver é para todos. Inclusive para quem discorda de nós em tudo, ou concorda com nada. Amar a vida intensamente sem se cansar de viver é algo misteriosamente próprio da inocência, que olha encantada para o mundo a cada momento. Se colocarmos vida em tudo o que se mexe: o sol, as núvens, as estrelas, as folhas, o mar, a areia leve e fina, nossa imaginação, os cabelos da mamãe e a barriga do papai, haverá algo que podemos chamar de vida. Ao menos para as lindas mentes das crianças encantadas com a descoberta eterna da novidade de viver o movimento. Ser criança é herdar a alegria. Envelhecer nos traz melancolia. Assim como é melancólico saber que viver cansa. Mas melancolia é amiga do espírito solitário, que adora estar só na sua melancolia. Se a inocência é a eterna descoberta do olhar no mundo, a melancolia é trazer o mundo para dentro de si, da alma, e com ela formar nosso espírito. O processo é inverso ao da inocência. De tanto viver para dentro, nos cansamos muito facilmente do mundo fora de nós. Viver, neste sentido, cansa. O maior antídoto contra o cansaço de viver é ir, com melancolia e tudo. É não parar. É se inspirar nos jovens que vão à vida e ir também. Me inspiro em meus filhos, sobrinhos, alunos. Eles herdarão o nosso algo, o nosso legado, o que estamos agora fazendo. A certeza deles deve ser acolhida. Por isso eu creio em motivar nossos jovens a serem. Ser e estar ao mesmo tempo. É bobo quem desmotiva a juventude. É bobo e muito perverso e cruel. Eles nos ajudarão a sentir o movimento, que nos dará vida para longe da melancolia. Viver cansa. Mas viver é tudo o que temos. O resto de viver, todos adultos sabem, e por este motivo somos tão melancólicos.

terça-feira, 1 de maio de 2018

Tocar a alma dela

Tocar a alma dela não foi o maior dos encantos.
Foi quando ela sorriu a alma ser tocada.
Simplesmente sorriu para em seguidar lacrimejar.
Sentiu-se amada.
Quis dizer-me que me amava.
Eu sorri também.
Ela não me disse nada.
Continuei falando parte com os dedos em sua face ainda rosada.
Ela sentada.
Eu em pé.
"Chore o amor que sinto, porque hoje estou feliz e amanhã, uma hora, entristecerei. Hoje você me faz feliz." - foi o que pensei e ainda pensava.
Aos poucos, a dor aliviava, da perna esquerda que doía, puerilmente machucada na calçada.
Ela ergueu-se com a normal dificuldade.
Com os cabelos solto o vento brincava.
Ela não sabia ainda que tanto me amava.
Eu quem não pôde saber amar e sorri a tristeza da partida.
Sorri como quem diz e não entende nada do amor.
Ela sorriu de volta.
Nunca mais nos vimos as almas repentinas e encantadoramente encantadas.
Foram boas lembranças.
Boas, fugazes, esfumaçadas.