sábado, 31 de dezembro de 2016

Para 2017 e para a Vida

Para 2017 e para a vida

Sinto que o ciclo de minha separação consensual, em abril de 2014, tenha definitivamente se fechado nesse fim de ano. Ou seja, três anos. Três anos que não foram meus. Foram de minha separação. Foi um tempo relativamente curto para que a necessidade das mentes envolvidas pudessem adaptar-se a outros estímulos humanos. Existe o hábito. Existem as expectativas imediatas que esperamos. Acordar ao lado de alguém todos os dias, por exemplo. Vamos chamar essa expectativas imediatas de presentes. São nossos presentes. Separar causa sofrimento porque exige que mudemos nossos presentes. Não mais acordamos ao lado da pessoa. Felicidade é a harmonia entre os presentes e o queremos.

Foi conversando esses dias com uma amiga jovem, a Luana, que me perguntou se eu estava de amores com uma outra jovem, a Juliana, por quem nutro enorme carinho, que me deu o insight do ciclo da separação que se fechou. Três anos e mudanças enormes, tanto emocional quanto materialmente. Uma separação deveria ser um tchau, certo? Resolvida em minutos. Mas aonde enfiamos os presentes de nossa realidade? O certo seria cada qual enfiar goela abaixo e esperar a digestão. Enfim, três anos.

Antes de concluir meu pensamento para o Feliz Ano 2017, nesse mesmo papo com essa minha jovem amiga, a Luana, exteriorizei que minha vida amorosa estará praticamente fechada até meus cinquenta anos. Assim que me separei, iniciei amar uma jovem. Ela me amou também. Com ela idealizamos planos. Por vários motivos, e depois de quase um ano e meio, nos distanciamos. Há o carinho e ainda algumas promessas. Disse a ela que possivelmente eu iria deixar um rastro enorme de emoções fortes no coração de muitas mulheres, caso eu me envolvesse mais ainda. Ela até sorriu e disse "você se acha, hein?" O tempo me deu razão. Eu sei o tipo de presente que compartilho com as pessoas. Depois de tantos conflitos emocionais com diferentes vidas, cansei de sofrer e de fazer sofrer. Ajustei-me internamente. Determinei meus presentes. Nos próximos sete anos, até 2024, desejo para mim mesmo a liberdade de viver a minha vida pessoal - sem egoísmo - com meus objetivos que não meus e de mais ninguém. Depois, quem sabe, a partir dos cinquenta anos, o destino não me encontre alguém para dividir presentes e sermos felizes sem pretensão compartilhando nossos objetivos.

Enfim, chego à minha mensagem de Feliz 2017! O tempo é o fator de tudo. Três anos foi o ciclo de minha separação. Sete anos serão a decisão de viver sem relacionamentos amoros sérios. Sem dizer outros tantos ciclos de vida na vida de muitos, em pós graduação, graduação, escrever um livro, superar uma doença, um trauma etc. Em 2017, realizar-se-ão muitos pequenos projetos e desejos, algumas frustrações, poucos projetos ambiciosos. Meu desejo, portanto, a todos os amigos é pensar em ciclos não de apenas um ano, 2017, 2018, 2019, 2020. Meu desejo é que entenda que a partir do momento em que um "ciclo" tem início, ele terá um tempo. Se absorvermos a nova realidade, admitindo-a, não serão evitadas as dores, mas a dores serão parte dos presentes.

Desejo a todos amigos Feliz 2017 porque é a ele que me refiro agora, mas desejo a todos paciência para crescer emocional, financeira, intelectual e espiritualmente pelo tempo necessário que seja. Já foi dito e repito: a vida é um presente, uma dádiva, um dom. O passado aprendizagem e o futuro expectativas. Olha só a minha expectativa para os próximos sete anos!

Fuga à Fantasia

Tudo o que se escreve, quando as pessoas tem algum interesse em nós, seja edificante ou destrutivo, é um passo para a fuga à fantasia. Meu conselho? Fantasie! Liberte! Vagueie a imaginação. Crie os delírios e as esquizofrenias da alma. Suspenda de vez a razão neste momento. O bom dos sonhos delirantes é que eles traduzem a real fragilidade de nossas almas em nosso inconsciente. Deixar solta a alma então edifica verdades... Para fechar o ciclo, porém, volte-se em seu próprio pensamento de onde vem o que queremos. O quanto escondido não está lá em nossas fantasias, que são nossas verdades inquietantes, que o corpo largado na cama, ou no sofá, ou cercado de pessoas onde quer que esteja oprime e fantasia no outro em quem temos algum interesse pessoal. Para sintetizar: no fundo, temos interesse em nós mesmos, e queremos apenas nos encontrar fora de nós mesmos. Deliremos! Fantasiemos! Há males que realmente vem para o bem, porque o bem sempre será bem para os de bem...

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Romeu e Julieta

Dei uma palestrinha há muito tempo cujo título foi "Amor e Morte em Romeu e Julieta". A palestra foi um sucesso. Havia oito pessoas presentes - contando comigo e um amigo. Vesti-me a caráter. Uma roupa tipicamente shakesperiana.

Reli esses dias Romeu e Julieta, a peça. Terminei ontem. Já havia lido umas três vezes quando mais jovem. Nessa última, eu "descobri" mais do que amor e morte em seu forte enredo. O olhar de um crítico literário raramente definha. Ele se expande como o ar na bexiga inestourável! Descobri um tema interessante no enredo dos jovens de Verona: Pensamento Complexo e Pensamento Dialético.

Pensamento Complexo é uma forma nova e atual de enxergar a realidade que nos cerca. Pensamento Dialético é mais antigo (coisa de duzentos anos) e portanto muito mais conhecido. E são formas de Pensamento que se complementam.

Pensar dialeticamente é pensar sobre a maioria dos aspectos possíveis de algo. Exemplo? Ser contra a pena de morte, ou a favor da liberação da maconha, ou contra as cotas, ou a favor da demarcação de terras indígenas. Compreende? Quem se posiciona radicalmente contra ou a favor tem suas razões não-dialéticas. Para quem pensa dialeticamente, ele constrói seu pensamento com dois olhares. Um sobre os argumentos favoráveis e outro sobre os contrários, de modo que quem tem um pensamento dialético sobre algo, geralmente tem uma visão mais ampla e realista da realidade. São os filósofos e poetas.

O Pensamento Complexo eu acho mais bonito - pensamento científico. O resumo do Pensamento Complexo é pensar tudo ou quase tudo de algo. Os exemplos são infinitos. Imagine um ovo. Em três minutos se faz um ovo frito (e o próprio ato de fritar um ovo é de infinitas complexidades: o óleo, o fogo, a frigideira, o fósforo, o sal - sem contar que cada um desses ítens tem sua própria "complexidade"). De volta ao ovo, imagine que para ele virar ovo, a galinha levou dias para formá-lo e a natureza levou dezenas de milhares de anos para formá-lo. Em três minutos, ele vira "ovo frito". Entender todo processo é a complexidade.

O Pensamento Complexo é assim. Não existe a favor ou contra. Existe algo e vamos descobrindo a maioria das coisas que fez desse algo o que ele é para nós. O Pensamento Complexo invade nossa mente constantemente sem que saibamos. A propaganda nos envolve em nossos desejos e vontades. Sem que saibamos, ela usa o conceito de Pensamento Complexo para nos influenciar. Parte do desejo que temos, ou constrói em nós um desejo. A propaganda analisa nossas fraquezas e dá brilho nelas. Imaginamos uma luz própria, quando é só uma lamparina bem vagabunda, que se apaga quando consumimos a mercadoria e voltamos à escuridão parcial.

Sou diálético, por isso. Uma mente dialética tem luz própria. Uma mente complexa, além de ter luz própria, analisa todas as outras luzes de todos os fenômenos possíveis. Ora, um marketeiro é assim. Um cientista. Só que ele não revela. Ele esconde. Diferentemente de um dialético que revela poética e filosofocamente.

Incrivelmente Romeu e Julieta tem tudo isso! Do Pensamento Dialético ao Pensamento Complexo. Leia um pequeno trecho adaptado em que o Frei Lourenço repreende Romeu que chorava porque foi expulso de Verona e iria ficar longe da Julieta:

"Está viva tua Julieta, por quem te achas quase no ponto de morrer. Estás com sorte. Tebaldo quis matar-te; Teobaldo morreu. A lei se mostra tua amiga, a pena de morte virou exílio: outra sorte. Sobre suas costas um fardo de bênçãos te caiu. Com seus problemas te vem caindo sempre a felicidade;"

Praticamente Romeu e Julieta é construído em forma de explicação por meio de Pensamento Dialético e Pensamento Complexo. Claro que os temas centrais, Amor e Morte, são o recheio. Como disse meu filho do meio ser o recheio entre os irmãos, provocando os outros dois, sugerindo que era mais importante do que os demais. O recheio é sempre mais importante em muitos casos.

domingo, 25 de dezembro de 2016

Namorou, casou

Lendo (na verdade relendo) "Romeu e Julieta", tenho a coragem agora de falar algo que pertece exclusivamente aos jovens. Refiro-me à adolescência (dos 13 aos 19 anos), que é a coragem de arriscar sem medo e colocar a vontade presente na frente da sua própria vida futura. Lembrando, Julieta, 13 anos, e Romeu, entre 16 e 17 anos, morrem tragicamente no final da peça cometendo suicídio. Em nome do amor. Jovens tem essa força trágica. Jovens até os 19 anos. Depois, o enredo muda demais. Na casa dos vinte anos, não pega mais essa ilusão. Imagina então nos trinta, ainda que o medo da solidão da solteirice nos acorda junto com o despertador! Nos quarenta nem falo. Somos idosos aos quarenta anos. Temos mais passado que futuro. A verdade que pode machucar muito o coração de tantas mulheres e até de alguns homens é que se não casarmos com aquele amor da adolescência, dificilmente seremos inocentes para acreditar nessa natureza de amor mais uma vez e anular nossa vida, ou o que nos resta para viver. O tempo passa. O que fazer então? Como administrar o equilíbrio entre a ausência de inocência depois da adolescência com o desejo de uma alma amante permanente que seja nosso desejo e que esteja em sincronia, em harmonia, em empatia com o nome que damos ao amor? Não sei. Mas sei que devemos fazer o que todos fazemos sempre! Tentarrmos. Tentarmos. E tentarmos. Agora aqui reside o ponto delicado. De tanto tentar, as imagens que podemos construir em nossa cabeça é uma silenciosa autodestruição emocional de não dar certo. Erro fatal! Deu certo no tempo que deu certo. Eu imagino um namoro de um dia, ou de algumas horas como um casamento. Houve início e houve fim. Entre uma coisa e outra, foi feito o possível dentro do que o tempo permitiu. Se uma noite, cinema, jantar, sexo. Se um fim de semana, Campos do Jordão, hotel, sexo, restaurante, cerveja, chocolate, hotel, sexo, café da manhã, passeios, almoço, jantar, fundue de chocolate etc. Esses são os pequenos exemplos. Claro que em um casamento de anos, há outras conquistas que nem preciso citar para não prolongar. Oras! Desde que houve cumplicidade, houve um casamento, ou não é? Sei que não é aquele idealizado. Mas toda idealização veio de fora. Da cabeça da mãe, da família, da sociedade. Foi projetada na cabeça. Romeu e Julieta casaram-se no outro dia após se conhecerem. Casamento escondido e proibido. Compreende? E morreram em seguida. Na verdade, cometeram suicídio em reviravoltas doidas. Namorar por algumas horas, dias ou meses é estar casado no tempo que é permitido. Romeu e Julieta tiveram um final blau-blau e ponto final na peça. Terminou? Vida que segue. Entre um amor novo e o velho que virou ex-, o que pode apenas diferenciar é o tempo. Horas, dias, meses, anos. Ou - como idealizado - uma vida inteira. Sei que todos idealizamos. Eu também já.

sábado, 24 de dezembro de 2016

Natal 2016

Causa emoção, né? É o Natal. Uma vibração mais ou menos coletiva em que mais ou menos amigos, parentes, conhecidos e desconhecidos entram em uma sincronia gostosa a respeito da vida compartilhada. Isso é bom. Não apenas pelos presentes! Pelos ausentes também! Neste momento, embora meus filhos estejam ausentes (meu segundo Natal que passarei distante deles), minhas emoções estão em equilíbrio paternal - minha essência está em sintonia com a deles, eu acredito. Assim comigo, assim com milhões Causa emoção, certo? Ser o que somos, mas o que gostaríamos de ter sido, não o somos. Ter o que temos, mas o que gostaríamos de ter tido não o temos. Estar com quem estamos, mas com quem gostaríamos de estar nesse momento não estamos. Assim comigo, assim com milhões. Causa emoção, não causa? A mesa, pequena que seja, grande que seja, farta que seja, humilde que seja, agressivamente rica que seja, miseravelmente vazia que seja. São momentos únicos de cada um, na mesma sintonia, na mesma vibração, na mesma sincronicidade humana, que nos torna mais humanos ao olhar um para o outro, dentro de nossos olhos. Nem é questão de Feliz Natal! É a emoção. Assim comigo, assim com milhões. Causa emoção! Há as lembranças em forma de presentes. Presentes dos mais diversos e marcantes e divertidos. Alguns belissimamente exageram (de causar inveja!) o emocional. Vários pedidos de compromisso, noivado e casamento potencializam o emocional para sempre nesse Natal - o sempre humano até quando termina. Existe o Primo Rico do Natal que é o Ano Novo onde os pedidos são infinitamente maiores, mas não são presentes como os de Natal. São renovações. Uma coisa ao lado da outra. Se no Natal há o nascimento, no Ano Novo há a renovação. Uma simbologia ironicamente bonita para nós. Quantas vezes não renascemos e quantas vezes não nos renovamos! Sobretudo na marra! Na necessidade! Na absoluta falta de opção. Precisamos renascer, precisamos nos renovar. Sem alternativa! Às vezes simultaneamente. E causa emoção. Causa muita emoção aquela categoria de sentimento traduzida profundamente por saudades. Saudades fortes, rasgando a alma. Choraremos no Natal e ninguém saberá. Ontem chorei. Fora Deus, ninguém saberá a tradução de minhas lágrimas, que tem a ver com saudade e amor. Oh, união arrebatadora! Chorar por saudade e amor! Os Feliz Natal! de hoje, de ontem e os próximos não escaparão da emoção tão necessária para nosso espelho interno. Sentimos e seremos sentidos. Saudades de Natal. Saudades nossas. Exclusivamente nossas. Para mim, minha fé em Jesus Cristo é sagrada e não a profano. Eu oro em minha alma em joelhos. Natal para mim é também Jesus. Não importa de quem. Importa para mim porque Deus tem sido misericordioso com minhas falhas, rabugices e abnegações. Coração aberto para amar quem me busca. Dois dos ensinamentos que aprendi com Jesus quando dizem "misericórdia quero e não sacrifício" e "amar ao próximo como a ti mesmo". Tento exercer o Natal ao longo de minha vida. Dentro do possível, que Jesus Cristo seja a Luz em todos os corações hoje. Para quem crê e para quem não crê. Eu já descri. Hoje creio. Por isso persisto. Por isso amo. Por isso até me sacrifico. Por isso sou positivo. Coisa minha. Coisa também de Natal. Coisa de milhões e milhões. Em sincrocidade muitp forte.

À minha querida amiga Thaís Patriota

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Tenho um filho com você

- Um filho. Quando quiser eu tenho um filho com você.
- Como assim?
- Pensa comigo apenas e viva, meu anjo. Viva a vida. Tenha suas escolhas para ter seus erros e acertos. Há delícias nos erros e há decepções em acertos.
- Sim.
- Já errei demais. Poucos arrependimentos. Verdade que mais acertei. Não por sorte, ou por ser mais esperto, ou inteligente. Errei porque foi medroso. O medo nos faz acertar muito mais. Quer saber de algo?
- O quê?
- Não erro com você! Nunca errei
- Como assim?
- Você não tem vontade de nos fazer errar.
- Entendi.
- Com você eu não erro. Eu acerto. Viva a sua vida, meu anjo. Ame. Namorar. Case. Sempre feliz. Tente tudo o que você sente no coração que deve tentar. Seu coração é apaixonante e apaixonado. Você percebe as dores dos homens e das mulheres. Nesse sentido eu sei que você gostaria muito de estar lá para ser útil a quem sofre, chora, isola-se. Nem é questão de querer ser Deus na terra. A humanidade dorme com você na sua solidão, acolhendo-as. Você pode estar sozinha em alguns momentos. Sabe, porém, que a paz a acompanha. Quem ama e agradece por amar, chora em segredo sem importurnar-se com a dor. Não! Você não tem segredo. Tem cuidado. Você ama cuidar.
- Obrigada.
- Sou feliz. Deus me proporcionou minhas relíquias porque Deus sabe que sou medroso naquilo que amo incondicionalmente, e me ajudou a acertar. Por mim mesmo, não sei.
- Sim.
- Obrigado, meu anjo.
- Não sei o que dizer.
- Estarei aqui. Só quero que saiba. Do meu jeito. Sendo possível, sendo viável, sendo a vida favorável, você será uma mãe incrível, independemente do pai. Compreende?
- Sim. Obrigada.

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Quando Perdemos a Capacidade de Amar

Quando perdemos a capacidade de amar, não implica necessariamente falta de vontade de amar, ou mesmo de insensibidade de frieza e indiferença ao próximo. Somente não conseguimos realizar aquela ideia de amor com facilidade. Não iludo quem quer que seja. Quero amar, mas creio ter perdido a capacidade. Amar coloca em perigo a liberdade recíproca. Destruindo inclusive as ilusões e expectativas recíprocas. Começo a suspeitar que tenho perdido a capacidade de amar em nome de minha liberdade e falta de ilusão. Faço uma ressalva, claro. Perdi a capacidade de amar e de querer ser amado também. Porque ser amado é uma permissão que damos a uma vontade alheia a nós que nos quer. Não amo e não permito que me amem. Cabe a nós alimentar ou simplesmente estancar qualquer fonte que nutre o amor por nós. Temos de ter enorme desprendimento. Sem alimento, o amor nos amando enfraquece, definha e morre. Claro que eu temi estar entrando em depressão. Estive refletindo bastante nos últimos meses sobre esta hipótese. O que estaria acontecendo com meus sentimentos? O fato de não estar conseguindo amar implicaria eu não conseguir amar a mim mesmo? Ou estou desaprendendo os sentimentos, ficando apático e indiferente a eles? Essa possibilidade é real na vida humana, a apatia. Não é falta de felicidade, nem de tristeza. Ainda que  tanto a apatia quanto a felicidade possam ser reais. Assustadoramente reais. Depressão é apatia aos próprios sentimentos incapazes de existir em nós como antes. Voltar a ter depressão é quase que impossível à luz do meu tempo de vida atual e da autoconsciência da vida que tive, que tenho e que pretendo ter. Todo cuidado é pouco. Sofri depressão por quatro anos quando adolescente e início da minha maturidade. Não sabia o que aquilo era claramente. Nem eu, nem familiares e amigos. Terminaram-me tachando problemático, desajustado, antissocial. O tempo foi o senhor de tudo. O tempo esteve no controle. Particularmente, aprendi a amar a Deus nessa época. Superei o desconhecido. Dominei o desconhecido. Por temor que eu tenha, sofri demais para permitir sofrer novamente. Minha falta de capacidade de amar não vem de depressão, nem de melancolia, nem de tristeza, nem de apatia. Estou fugindo do amor por medo de sofrer o desprezo? Pouco provavelmente. Acho que não me preocupo mais com o que pensam de mim. Quero dizer, adoro viagens emocionais, expondo-me a muitas delas. Desde que sejam novas e sinceras. Refiro-me, por exemplo, se for convidado, a uma roda de fogo, com batuques e movimentos corporais. Vou. Batuco. E até danço. Fecho o ciclo sem ser mais ou menos do que eu era, senão nova experiência. Um dos grandes desconfortos na alma de quem escreve é não querer transmitir o que não agrega a quem lê. Inclusive o radicalismo poético de um recado simples, feito "eu amo você" pode ser mal interpretado. Se eu amar, certamente a pessoa quererá exclusividade emocional se ela me amar. Claro que não é bem assim. Por isso mesmo não me engano ao criticar a minha falta de capacidade de amar. Não é bem não amar. É desistir de continuar amando assim que o coração acelera e a mente começa a não se esquecer. Respiro e controlo-me. Exclusividade a mim mesmo é algo que quero. Não desejo roubar pessoa alguma dela mesma. Recolher-se em si mesmo tem um preço. E para pagar essa fatura de independência emocional estou relativamente bilionário. São os anos de muita vida emocional.

Não Posso Esperar das Pessoas

Não posso esperar das pessoas o que eu espero de mim. Por isso mesmo, se eu governasse o mundo tenho certeza que não declararia guerra jamais; por isso mesmo, se eu governasse o mundo não persegueria meus perseguidores; eu os toleraria, daria a eles voz para se manifestarem, daria o direiro deles desejarem guerra, mas não permitiria a guerra em momento algum. Se eu governasse o mundo nada de preconceitos a minorias algumas. Nem às frágeis, nem a minorias poderosas, que existem, chamadas de elite. Se eu governasse o mundo, o mundo seria um lugar bom para se morrer. Se eu governasse o mundo, não haveria paz. Haveria tolerância e proteção a todos. Posso julgar por mim se eu governasse o mundo. Julgo por mim se eu governasse o mundo. Todos saberiam ser mortais e teríamos tantas coisas boas para aproveitar nesse mundo que destruição humana alguma seria justificável se eu governasse o mundo. Não seria um mundo de amor. Seria um mundo com muitas disputas. Todas elas para curtir a própria vida. Música. Esporte. Estudos. Tenho certeza absoluta que se eu governasse o mundo, jamais haveria refugiados, escravidão, tráfico de órgãos, golpes. Julgo exclusivamente por mim se eu governasse o mundo. Mas eu governo em partes apenas a minha própria vida e minhas vontades. Por isso sei os valores que eu tenho nesse mundo.

Será que serei amada por alguém?

"Será que algum dia na vida eu saberei o que é ser amada por alguém?"

A pergunta foi feita para mim e me deixou por segundos sem saber o que fazer. Ela entrou como um drama shakesperiano. Eu não poderia dizer que sim, que ela seria amada por alguém. Ela perguntou sem olhar para meus olhos. O nosso contexto, porém, era que da parte dela eu declasse um amor inexistente e em seguida a beijasse na boca. Porém, nunca passou pela minha cabeça ficar, beijar, namorar ou mesmo amar essa jovem. À época, fazíamos USP juntos. Ela no mestrado e eu ainda formando. Ela me dava carona até um certo trecho e depois eu pegava o ônibus. Fomos assim por semanas e semanas. Sem eu perceber (eu era ainda ingênuo) cresceu no coração dela amor por mim. Fui vítima de minha própria gentileza, de minha sincera atenção, de minha natural preocupação  ao querer ser querido como amigo. Sempre fui comunicador. Ou melhor, sempre fui falante, a ponto de algumas meninas falarem "pare de falar e beija logo!". Não muitas. Umas três. Ela me traumatizou. Deveria ter ido a um psicólogo dias depois para aprender a entender que eu não tenho nada a ver com o sentimento alheio, sem ter culpa alguma, sem alimentar nada. Não tenho culpa de amar e não ser amado, e nem de ser amado e não amar. E nem de amar, ser amado e mesmo assim deixar quieto. Nem eu, nem ninguém. Como não fui a um psicólogo, nunca saiu de minha mente a preocupação se ela seria um dia amada por algum homem. Mas sim. Ela foi amada. Casou-se. Depois de um tempo perdi contato total. Nem havia tantos motivos para termos mantido contato. Mas perdi contato propositalmente. Um dos respeitos que levo muito seriamente em minha vida é quando uma pessoa com quem converso bastante, tenho amizade forte,  é solteira e começa a namorar. Tenho a elegância de respeitar o novo momento dela. Gentilmente me distancio. Muitos e muitos casos de amigas com quem eu tinha papo dos mais diversos e até confidenciais, ao saber que ela estava namorando ou mesmo evitava conversar, eu alegremente respeitava. Todos temos nossos momentos. Todos queremos saber o que é ser amado ou amada. Não é legal poluir a felicidade das pessoas. Falando em felicidade, demora - e meus jovens devem me ouvir! -, demora ser feliz. O tempo nos fará felizes. Porque antes entendemos a felicidade algo compartilhado e vem  em parte do outro. Somente no outro que aprendemos a ter sentimentos. Raiva. Vaidade. Arrogância. Fúria. Compaixão. Amor. Solidão. Paixão. Sem o outro, nada sentiríamos. Onde entra o tempo na demora para ser feliz? Sentir, sentir, sentir, sentir e sentir por anos e anos e anos. De tanto sentir, aprender que os sentimentos que achamos eternos e profundos, são infelizmente rasos e cíclicos. O que eu acho mais importante agora? É não desiludir e convidar a sentir intensamente as dores e as felicidades. Não ouça os mais velhos como eu. Sinta apenas. Não ouça não. Sentir é tudo. Se lá naquela pergunta inicial fosse-me perguntado hoje eu responderia "claro que será amada sim!" Tendo certeza ou não da resposta. Sou otimista. Por isso persisto. Quero sentir ainda. Convido também a sentir. Ao menos fica em nós a sensação cíclica que parece eterna. Mas não o é. A eternidade vem das criancas. Um paradoxo fácil de compreender pelos filósofos.

Temos Empatia

Será que somos, as pessoas, mais iguais do que diferentes? Ou contrariamente somos mais diferentes do que iguais? Antes de refletir, digo que foi o acaso. Um acaso que não me agrade a rima -ente de diferente e contrariamente. Pensei em mudar. O gasto de energia seria maior do que eu pretendo. E sobre nossa diferença ou semelhança, eu e todos os psicólogos sabemos que somos muito mais semelhantes. Temos empatia.

Primeiro que somos altamente previsíveis. A propaganda fala por si mesma ao entrar na mente da massa. Um pensamento único em milhares ou milhões de pessoas. As tragédias coletivas trazem um pensamento único de comoção. O feito de superação traz o pensamento único de esperança. A humanidade é igual. A fome crônica traz o pensamento único de injustiça. Os desvios dos padrões quase insignificantes que nos diferenciam.

Vi pela manhã um ser com um microfone, palco cheio, muita luz, um telão central enorme, três telões menores ao lado, e todos reproduzindo a mesma imagem. Era um palestrante. As pessoas, no afã de serem diferentes, pagam caro para crerem serem únicas e especiais, quando são iguais. São iguais até no propósito de não desejarem ouvir verdades desconcertantes. Sendo nossas experiências sensações, a ilusão cabe muito bem em sensações de experiências únicas. Eu acho injusto fazer todos se sentirem reis, que é uma sensação praticamente única na vida de um ser humano. Ser rei.

O tempo que se gasta para a especialidade tem sido encurtado. Quem diz não sou eu. Há um estudo bem bacana a respeito. Os gênios são aos milhares diante dos bilhões de seres humanos. Na arte de modo geral. Mas na ciência e no esporte também. Assimilamos bem mais rapidamente porque os treinos foram incrivelmente aprimorados. Imagine só o ato de ler. Bilhões sabem ler. Número imensamente proporcional dos que sabiam há cem anos.

Nossa academia de ginástica, nossas festas, nossas conquistas acadêmicas e profissionais, nossas viagens e nossos relacionamentos amorosos. Temos tudo isso em comum. Inclusive nossas angústias, nossas doenças psicológicas, nossos atos falhos querendo ser felizes onde somos ainda tristes.

Sua dor é a minha dor. Sua felicidade é a minha felicidade. Sua fraqueza é a minha fraqueza. Sua dúvida é a minha dúvida. Sua necessidade é a minha necessidade. Temos de certo modo apenas momentos diferentes. Ao final, somado tudo, há empate. Um empate técnico. Alguns podem até refletir sobre e colocar em palavras. Ou, quando fazem muito, leem as palavras concordando ou discordando. E não importa para um ou para outro. Ambos titubeiam. Ambos são indecisos. Ambos levam a vida. Cada qual contribui da sua forma para reconhecer um ao outro.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Capacidade de amar

Quando perdemos a capacidade de amar, não implica falta de amor no próprio coração, ou mesmo de insensibidade psicopática de desprezo ao próximo. Apenas não conseguimos realizar aquela ideia de amor. E não iludo quem quer que seja. Porque meu amar é "a liberdade do que fazer com a minha vida é minha". Sem ilusões e expectativas recíprocas. Começo a suspeitar que tenho perdido a capacidade de amar por isso. Faço uma ressalva. Perdi a capacidade de amar e de querer ser amado. Porque ser amado é uma permissão que damos a uma vontade alheia a nós que nos quer. Cabe a nós alimentar ou simplesmente estancar qualquer fonte que nutre o amor por nós. Temos de ter enorme desprendimento. Sem alimento, o amor nos amando enfraquece, definha e morre. Claro que eu temi estar entrando em depressão. Estive refletindo bastante nos últimos meses. O que estava acontecendo com meus sentimentos? O fato de não estar conseguindo amar implica eu não consrguir amar a mim mesmo? Ou estou desaprendendo os sentimentos, ficando apático e indiferente a eles? Essa possibilidade é real na vida humana. Não sentimento felicidade, nem ao menos tristeza. Pode ser real. Assustadoramente real. Porém, quase que impossível para mim à luz do meu tempo de vida e autoconsciência da vida que tive, que tenho e que pretendo ter. Já sofri depressão por quatro anos quando adolescente e início da minha maturidade. Não sabia o que era claramente. Nem eu, nem familiares e amigos. Terminaram-me tachando problemático, desajustado, antissocial. O tempo foi o senhor de tudo. O tempo esteve no controle. Particularmente, aprendi a amar a Deus nessa época. Superei o desconhecido. Dominei o desconhecido. Por temor que eu tenha, sofri demais para permitir sofrimento novamente. Minha falta de capacidade de amar não vem de depressão, nem de melancolia, nem de tristeza, nem de apatia. Estou então fugindo do amor por medo de sofrer o desprezo? Pouco provavelmente. Acho que não me preocupo com o que pensam de mim mais. Quero dizer, adoro viagens emocionais e exponho-me a muitas delas. Desde que sejam novas e sinceras. Refiro-me, por exemplo, se for convidado, a uma roda de fogo, com batuques e movimentos corporais. Vou. Batuco. E até danço. Fecho o ciclo sem ser mais ou menos do que eu era, senão nova experiência. Uma dos grandes desconfortos na alma de quem escreve é não querer transmitir o que não agrega a quem lê. Inclusive o radicalismo poético de um recado. Se eu amar, certamente a pessoa quererá exclusividade emocional. Claro que não é bem assim. Por isso mesmo não me engano ao criticar a minha falta de capacidade de amar. Não bem não amar. É desistir de continuar amando assim que o coração acelera e a mente começ a não se esquecer. Respiro e auto controlo-me. Exclusividade a mim mesmo é algo que quero. Não desejo roubar pessoa alguma dela mesma.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Experiência

Experiência pessoal que pode valer para algumas outras experiências. Foi numa diálogo com uma amiga sobre um tema diário que de alguma forma consome parte de nosso tempo e de nossa energia. Tempo e energia é aquilo de que precisamos. E paz! Depois que me separei em abril de 2014, eu tive alguns estresses em relacionamentos que não desejaria ter tido. Os estresses foram no conflito entre eu justamente o que eu tinha a oferecer e àquilo que pessoa tinha a me oferecer. Muitas vezes o desequilíbrio causa enormes desconfortos e sentimentos deprimentes a ambos. Falo em termos do que eu entendo de cuidado, preocupação e abnegação, que deixam as pessoas incrivelmente apaixonantes. Não creio em brigas, por exemplo. Não creio em desentendimentos. Não creio em birras e afrontas. Não creio em ciúmes. Não creio em competição explícita, nem implícita. Não creio em vantagens, apelos, nem em chantagens. Mas creio em momentos irônicos quando são exclusivamente para fazer rir. Sou muito irônico. Amo, aliás. Minha crença ainda é fazer todas as pessoas melhores do que elas já eram. Ainda mais se houver consentimento de cumplicidade. Afinal, qual é a essência ao relacionar-se com alguém? Não é ser cúmplice? Meu jeito. Nem sei se consigo, na verdade, deixar as pessoas melhores. Eu apenas quero. Tenho meus vícios e as pessoas têm os delas. Honestamente - tirando meus filho - meus quinze anos de casamento, em particular, me estagnou muito, sobretudo minha vida intelectual e profissional. Não viajei para uma pós no exterior. Não expandi-me como antes o fazia - publiquei meu livro só em 2013, e já tinha o livro escrito desde 2000! Nem mestrado fiz ainda. Nos últimos três anos de meu casamento, era eu fazendo comida, lavando louça e limpando casa. Justo? Justamente aquilo que eu não queria para a pessoa com quem fiquei casado, e presenciei limpando casa, passando roupa, fazendo comida. Não. Havia casado com alguém para ser do lar. Literalmente coloquei-a para estudar, fazer faculdade, fazer três pós, fazer algumas viagens internacionais etc. Ganhei ingratidão em troca. Melhor ingratidão do que a sensação de destruição. (Eu sei a importância do que eu quero sentir). Embora eu ganhasse bem, ainda que eu trabalhava formalmente 5 horas por dia, eu era acusado de ter tempo para poder cuidar da casa. Essencialmente, por meio de chantagens emocionais, eu cedia sabendo que estava tudo acabado. Não havia estudado para virar do lar. Era somente uma questão de tempo a separação. Hoje, com 42 anos, eu preciso tentar sair do estado atual em que me encontro, que é delicado porque todo recomeço do zero é uma incognita. Não me sinto mal. Minha forma positiva de transmitir otimismo e esperança. Por isso procuro não me enfiar em relacionamentos. Quero meu tempo, minha energia bem. Dou das mais variadas desculpas. Da falta de grana à falta de tempo. Pretendentes existem e na essência, muito legais, inteligentes etc., mas não posso exigir abnegação e compreensão na totalidade de meu delicado momento. Não vou ter muita paciência em um relacionamento em que o stress não seja evitado, e seja valorizado. Antes eu tinha, caso fosse necessário ter paciencia acima do limite o normal. Hoje não tenho mais. Eu não posso criar mais pequenos traumas em minha vida emocional, atualmente bem delicada. Veja que tenho até autocontrole para me autoanalisar sem inventar diagnósticos delirantes. Tenho minha paz para oferecer. E acho que é até muito intensa a minha paz. Profunda, aliás. Na verdade é das poucas coisas que sei que tenho para oferecer às pessoas. Ter a autoconsciência de que em qualquer momento que eu fique com uma pessoa, ela experienciará otimismo, verdades, cumplicidade, poesia, correção de pensamento, muita reflexao e muita compreensão. Em outras palavras, minha paz. O espírito humano somente sabe o que é paz depois que quase se perdeu em uma guerra emocional. Se já há alguém dando paz a você, encontre nisso amor e admiração. Valorize. É vaidade querer se feliz com opressão. Vaidade e egoísmo. Nós, brasileiros, não somos educados a respeitar verdadeiramente o outro - ainda que soframos por causa do outro. Oras, respeitar o outro é apoiar os projetos dele ou dela. O mínimo que podemos fazer é trazer-lhe paz.