quinta-feira, 25 de abril de 2019

Janaína quer ser Feliz

Imaginei um conto, uma narrativa, uma história sobre uma mulher que, depois de altos e baixos emocionais na adolescência, passou a acreditar que não mereceria a felicidade, e evitar quando percebe a felicidade rondando suas emoções. Pensei em chamar personagem Janaína. Não sei por quê. O nome me ocorreu repentinamente. "Janaína acreditava que não merecia tanto a felicidade, sobretudo no amor." Ser feliz é uma acomodação e harmonia entre alguns fatores na mente. O passado, o presente e o futuro fazem parte destes fatores. A aceitação do que somos e fomos com os traumas e tudo, e possivelmente seremos. Saber que somos sentimentos e sensações, e que as emoções a todo momento acontecem porque vivemos a vida e estamos vivos. Ser feliz também tem a ver com o que chamamos desejos. Desejar e conquistar soa felicidade - ainda que fugaz. Desejar e não realizar gera algo frustrante, e este incômodo, algo infeliz. Janaína não acreditava que algo feliz, um amor feliz, pudesse fazer parte de sua presente vida. Juras de amor ela evitava, e vez ou outra apareciam os homens apaixonados. Ela fugia. Elogios, ela pulverizava em segundos. Qualquer insinuação de brilhos amorosos nos olhos de uma outra pessoa, Janaína fazia cara de abobada, desentendida e mudava constrangedoramente de assunto, de alhos para bugalhos. Dava dó das esperanças dos homens. Mas era Janaína. E Janaína viveu. Amores apareceram e desapareceram. Janaína viveu sua vida e nunca permitiu. Ela se apaixonou, verdade, antes dos 30 anos. Que paixão avassaladora saboreou! Se apaixonou profundamente. Como achava que não merecia a felicidade, achava também que ela seria motivo de angústia e aborrecimento a quem ela amasse. Desistiu. Jamais deixou transparecer seu desejo. Ela até teve uma vida feliz. Gostava de sexo. Era fácil para ela. Saía e bebia. Conquistou suas pequenas vitórias, como o belíssimo e funcional apartamento nos Jardins e trocava para um carro zero todo ano. Uma a duas viagens por ano também, para a Ásia ou Europa ou África. Ela amava a Índia. Era uma titia amada pelos cinco sobrinhos e duas sobrinhas. Nem quando adoeceu, caiu enferma, câncer no ovário, quis aborrecer quem quer que fosse. Fez todo tratamento sozinha aos 36 anos. Curou-se em dois anos. E se dedicou então aos esportes nos anos seguintes. A vida do corpo exige movimento. As incertezas da morte já não era mistério. Venceu-a temporariamente. Chegou aos 50 anos linda e sarada. Turbinou os seios. Esticou a pele do rosto. Fez um belo lance nos dentes e os lábios ficaram mais grossos. Atingiu os 60 anos com a sedução dos 30 balzaquiana. "Que coroa gostosa nas baladas!". E propostas sempre ignoradas. Não merecia ser feliz. Aos 67 anos ela se aposentou definitivamente. Diretora de uma rede de material de construção. Vendeu o apartamento. Pegou suas economias. Ações no Ibovespa e poupança. E sacou o FGTS, nunca mexido em quase 50 anos de trabalho! Uau! Comprou a passagem só de ida para a Índia. Hoje está lá, agora, vivendo o que ela chama de doce velhice e feliz. E se esta história é verdade ou não, eu não sei. Uma história que apenas imaginei. Porque imaginar também é vida.