terça-feira, 22 de setembro de 2015

A Laura

Em 1992 conheci uma pessoa que se apaixonou por mim. O nome dela Laura. Eu 17 para 18 anos. Inocente. Nos anos seguintes, seriam os anos mais tenebrosos e angustiantes de minha vida. Mas em 1992, a Laura se apaixonou por mim. Verdadeira e profundamente. Possivelmente o amor mais forte que eu senti em toda minha vida, de uma mulher por mim.

Eu era bobo e inocente. Descobri que era amado sem querer. Eu fazia inglês. Por uma razão da qual não me lembro, tive aula na sala dela. Eu estava mais avançado. Sentei ao lado dela. E ensinei-a algumas coisas. A partir daquele momento, disse-me ela, se apaixou por mim. Ela namorava. Estava já noiva. Eu não tinha juízo de valor algum sobre relacionamentos. Ela terminou com o noivo sem eu saber. Começamos a sair algumas vezes. Depois da aula de inglês.

Aliás, até hoje, ela tem os olhos verdes mais lindos e a boca e os cabelos e o rosto dos mais belos que pude beijar. Seu tamanho? Menor do que eu. Afável. Dócil. Meiga. Cheia de personalidade. Já eu era inocente, ingênuo, sem malícia, sem propensão ao amor...

Me lembro de algumas cenas que me marcaram. Um dia, ela foi para a escola com um shorts tão pequeno e tão colado que se igualaria a estes das modas do baile funk. Era branco também. Meu amigo Marcelo arregalou os olhos. Não sei se eu falei para ele sobre ela. Bem, no dia anterior, eu acho que eu e a Laura conversamos e eu devo ter passado alguma insegurança e que não queria nada sério. Eu não tinha vontade de namorar. Então, no outro dia, à tarde, me aparece ela com aquele shorts colado e minúsculo. Todos repararam. O que eu fiz?

Sabe quando você bate na testa e fala "que merda!, para que isto?, querer me fazer ciúmes com isto?" Bem, estes foram meus pensamentos. Mas deixei quieto. Nem falei nada. Ela deu um tiro no pé. Sem saber, eu já tinha bem desenvolvido meu poder de ler intenções e minha forte intuição.

Esta cena do shorts curto marcou meu espírito como análise, e só me deu a certeza de que não daria mais certo com ela. Ainda ficamos por mais alguns meses. Por fim, terminamos definitivamente. Era noite. Em um ponto de ônibus. Na Av. Marechal Tito. Na frente das Casas Bahia. Fazia muito frio.

Eu tenho este mal. As pessoas tem o hábito de se comunicar de modo afrontoso para marcar território. Meu Deus! Eu sempre bato a mão na minha testa interna e sussurro "que merda!"

Eu levo palavras belas e dedicação a quem amo. A pessoa pode querer marcar seu território com afronta, eu intensificarei a dedicação e a minha entrega. Não sei o que se ganha com a afronta gratuita, mas eu sei o que se perde. A Laura me perdeu um pouco naquele shorts. Querer ser gostosa esfrirou minha vontade de olhar em seus olhos que eram os mais belos deste mundo e para os quais eu não me cansava de olhar.

Se ela tivesse me olhado com ternura, ao invés do shorts agarrado, teria hipnotozado minha alma. Desviado meu olhar para a lascívia, eu os perdi. Quando os encontrei, eles estavam já perdidos de amor por mim. Ela se perdeu. Eu me perdi. Ambos viveram suas vidas. Marco agora com esta passagem. Tenho enorme vontade de um dia saber como ela está hoje. Eu sei como eu estou e sei do que preciso. E do que preciso está nos olhos: entrada para nossas almas. Amo amar as pessoas de dentro para fora... Sempre. O resto são migalhas. O mundo que se consome de fora são migalhas, e se come muito rapidamente.

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Cartas de Saudade de Você a Você

Tenho saudades suas. Muitas saudades. Penso em você a cada instante. Eu a carrego para onde quer que eu vá.

Ainda mais agora que me parece tão distante nosso encontro, ou reencontro, nosso apego e este desapego.

Pego-me nos pequenos detalhes do que poderia ou deveria ter feito ou dito. Quando estou sozinho converso comigo mesmo sobre nós.

Uma atitude, uma palavra ajudam a mudar, ou mudam tudo. Da mesma forma a ausência. A ausência tanto da atitude quanto da palavra. As recordações do pouco que fomos me trazem a lembrança do que eu não sou agora e provavelmente nunca serei no futuro. Talvez sejamos.

Quem ler esta carta vai arrancar dela todas as suposições. O leitor, porém, será dono exclusivo. Nem tão exclusivo. É justo cada qual fazer do que lê suas mais íntimas verdades, ou melhor, realidades, porque estas são nossos conjuntos de verdades.

Podemos mentir para os outros, para nós, para nosso passado, presente ou futuro. Mentir torna até saudável a dor do que deveríamos ser e não somos. Eu queria ser com você. De verdade...

Eu queria trazer à mente porque é bom. Levar o que é bom à mente das pessoas. 

Escrever refletindo sobre o que existiu e possivelmente não mais existirá incomoda bastante, uma vez que vivemos o presente.

Antes de me calar e sofrer, eu amo poder escrever. Ter esta liberdade de ajeitar externamente o que internamente existe: ideia, sentimentos e sensações. 

Escrever, porém, me condena porque me condenam sempre. Meu combustível é o amor. Este o motivo, me condemam.

Nunca me apego no fim. Apego-me no recomeço. O recomeço é uma espera. Nosso presente é uma espera. Se digo que não espero, eu minto. Se digo que espero como recomeço, eu minto. Se digo que espero na certeza, eu minto. Se digo que perco as esperanças, eu também minto. Mas gosto da verdade. Ela nos faz desviar pouco na espera, ainda que a saudade aperte.

Tenho certeza da aventura de que tudo se tornará possível ao justificar tanto as realizações quanto as desilusões. Sem estas, aquelas seriam mimadas. A desilusão freia. Mas com sabedoria, impulsiona o seu importante momento. 

Não me iludi. Nem você se iludiu. Não nos iludimos. Sentimos verdades porque foram nossas realidades. Daí a saudade.

Mas digo lá. Tenho saudades suas. Terei ainda por um tempo. Nada impede de que ao tempo estas saudades, que me distraem do mundo, desaguam em meu próprio mundo sem ilusão e me tornem uma pessoa realizada com você. Para isto, só tenho por hora as palavras escritas. Tudo tão intenso. Mas tudo tão estranhamente prazeroso. Um prazer por poder ainda ser e estar. A saudade permanece. Um elogio e agradecimento. Ao final, quero agradecer e elogiar. Você...

domingo, 20 de setembro de 2015

Dia-a-dia

- Ah, deixa te falar...

- Pode falar.

- Era para dizer que te amo! Nada demais. Apenas esta coisa normal do meu dia-a-dia.

Onde Está Nosso Coração?

Quando olho e não encontro você, meu coração entra em confusão. Foi o certo? Tudo indica que não. Tudo indica que mesmo assim nada daria para ser feito senão a vontade de esperar o momento, aquele momento certo em que as nossas vidas se uniriam em harmonia interna, em harmonia externa, dentro de nosso presente, juntos, sem impedimentos, com nosso futuro, juntos, em uma bonita entrega de um para o outro.

Agora, não estamos mais lá. Nem eu, nem você. Meu coração busca você, minha imaginação cria cenas bonitas de encontros hipotéticos em que ambos os sofrimentos se tocam, se aliviam, se amam, abraçam-se tão fortemente que não sobra palavra alguma, apenas o silêncio de agradecimento como um "você voltou" e "você voltou para mim".

Desisto facilmente. Verdade. Não esqueço facilmente. Na verdade, não esqueço. Respeito-me porque os sentimentos são meus, projetados em você, com a saudade de praticamente tudo, cada pequeno momento, poucos, foram poucos, fortes e intensos para mim, creio. Para você.

E parti. Fiz partir. Fui. Fiz ir. Desvaneci. Fiz desvanecer. Desfiz-me no ar. E este ar respiro todos os dias para refazer-me. Sim, respiro saudades, vontades, desejos, sonhos também. E sabe, para mim existem sentimentos mais fortes que amor. Refaço-me com este sentimento. Algo como na busca de saber onde está, como está, e se me busca também com o pensamento da saudade de quem ama, quem me quer do seu jeito, do meu jeito, do seu modo, do modo como eu quero, como você quer.

A realidade existe para estarmos nela. Estou nela com vontade de esperar. Não somente porque fiz você partir. Sua distância é uma realidade. Mas esperar porque valeria à pena, e aquilo que vale à pena vale a espera. Estou feliz em poder sentir esta saudade, com ar mais leve, porque respiro de modo profundo e me sinto vivo e mais intenso. Sei que pode ser uma eterna espera. Algo me diz, porém, que aprendi com você um "no futuro sim", "claro que sim!", e tantas pequenas emoções. Emoção nos renova. Ela são nossas memórias. Saudades. Muitas saudades.

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Entrar em Sua Vida? Devemos Ser Pontes

Entrar em sua vida? Sim. Você tem seus sonhos, planos, metas, objetivos. Eu os acolho a todos. Você acolhe os meus? Tenho meus sonhos, planos, metas, objetivos. Algo que as pessoas realmente esquecem. Todos temos planos e para eles a quem amamos, seremos pontes.

Uma troca de vida a dois é encurtar e facilitar caminhos. Muitas vezes seremos aquela ponte que não existe entre um ponto a outro, sobre a qual a pessoa que amamos passará por cima de nossas costas mesmo. E a gente olhando diretamente para o penhasco sem fim. Firme! Acreditando! Sem reclamar. Amamos. Ela passará porque crê em nós. Sobretudo porque crê ser amanda e por nos amar.

Ouvi pela primeira vez a sentença "as palavras comovem; os exemplos arrastam" de minha mãe. Como as palavras tomam minha vida em muitos momentos, tenho sempre que buscar os exemplos para que creiam em mim. É muito difícil fazer crer nos exemplos, uma vez que o homem e suas contrariedades aparentes caminham juntos.

Conversando com um amigo pastor a respeito de casamento, ele me pediu alguma ideia sobre, já que ele iria pregar para jovens. Me ocorreu falar que "quando o parceiro se desculpa de que você não atingiu algum objetivo pessoal porque não quis, isto somente é verdadeiro se você teve 100% de responsabilidade com você mesmo e foi egoísta no relacionamento". E concluí: "em um relacionamento a dois, ambos são responsáveis pelo sonhos, planos, metas e objetivos do outro".

Por que entrar na vida de alguém sem querer ser ponte? Eu compreendo os jovens quando são jovens e suas irresponsabilidades naturais, que são compreensíveis. A partir do momento da consciência, sim, entrar na vida de alguém não implica estagnar a pessoa para seus sonhos, planos, metas e objetivos pessoais. Ser ponte é bom também. Massagear suas costas...

Ser grato para mim é o ponto mais elevado e sublime da maturidade de um relacionamento. Ser grato é a maior virtude de sua maior fraqueza. Quanto mais grato a quem nos dedicou uma ajuda, mais testemunhamos nossa fraqueza, porque nossa maior virtude. Uma relação apaixonada e apaixonante vive em gratidão constante do olhar e do silêncio. Não me refiro à sacralidade do corpo e da pele e do toque: estas coisas devem se fundir em sexos torrenciais! Refiro-me ao conforto de se estar ao lado se olhando em total gratidão. Exatamente.

A gratidão de nossa alma, que vem do nosso silêncio, passa pelos nossos olhos e invisivelmente se comunica com a alma de quem amamos e a quem nos dedicamos, para quem seremos pontes e receberemos reciprocidade.

Entrar na vida de alguém é algo relativamente (ou muito) sério, que pode trazer enorme felicidade se forem recíprocos os sonhos, as metas, os planos e os objetivos. Não os mesmos. Mas as pontes. As pontes sempre serão as mesmas. A gratidão a união eterna de ambos.

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

E Se Eu Não Ficar com Você...

Se eu ficar com você, quero que você fique comigo.

Meu amor é assim: e se eu sair com alguém amando você?

Meu amor é assim. Se eu sair com alguém gostando de você, ainda que não juntos, é como se eu tivesse traindo você.

Se namorando você, eu sair com alguém, é porque não a amo mais, e namoramos em corpos apenas, meu coração não está presente.

Se eu sair com alguém, querendo estar com você, querendo conquistar você, me declarando a você a cada momento, é como se eu estivesse realmente traindo-a. Quem trai, o faz a si mesmo.

Se eu a traí em minha consciência, com outro corpo em meu corpo, não conseguirei mais ficar com você, nem minha alma com sua alma, nem que nos amemos profundamente.

Se eu sair com alguém, amando-a, ainda que não com você agora, vou me sentir mal, triste, injusto. Nenhum belo relacionamento existe na tristeza e na injustiça.

No dia em que ficar com alguém, amando-a, você saberá, porque será minha confissão de atraição e não será para perdão.

Posso sim ficar com alguém, amando-a profundamente. Será adeus. Um adeus sem palavras. Apenas um adeus com lágrimas internas, sem saber como me distanciar, resumindo-me a poluir-me, pecar, trair, condenar-me.

Se eu não ficar com você, amando-a, ganho mais tempo para sofrer. Farei com maturidade.

Se você, me amando, não ficar comigo, e ficar com alguém, imaginarei onde estará seu coração em cada beijo dado, em cada amor realizado, em cada carinho trocado, em cada ida e vinda dos relacionamentos.

Não ficarei com ninguém sem a verdade do que representa ficar com alguém que não seja você. Ao menos serei sincero se acontecer. Quando acontecer, me despedirei de sua alma, de seu coração, de seu amor e de seu presente e futuro.

Se eu ficar com você, eu a amarei com minha alma, meu coração, meu corpo. Não sei que felicidade haverá. Não sei que felicidade compartilharemos. De minha parte, com você, darei palavras, presença, atenção, carinho e dedicação, o que posso, em nossos limites. Todos temos algo. Com amor e sem amor.

Se eu ficar com você, quero que você fique comigo.

domingo, 13 de setembro de 2015

O Coração (conto)

O Coração

- O coração, definia Dr. Marco Pensila, é um músculo cuja única função - para o organismo - é bombear o sangue, fazer o sangue circular pelo corpo, mantendo-o alimentado e oxigenado. Não basta comer e beber, não basta respirar. Nosso coração é a força motriz de nosso elã vital. O músculo mais importante. O centro de nosso aparelho circulatório.

Assim explicava - meio técnico e meio didático - ao pai de Filipe, que sofria uma cardiopatia séria. 10% de chances. Sobreviver e viver, esperando um milagre.

- Meu filho, doutor, pode morrer?

Olhando para a mesa, preenchendo formulários, lendo pedidos de exame e checando um whatsapp que acabara de receber, o cardiologista tinha em mente a pescaria marcada para o sábado pela manhã. Há uma semana adquiriu uma bela lancha Brazilian Boat 235 CR CABIN. Teve o privilégio do primeiro passeio nela. Depois deixou na marina. Próximo à Praia da Baleia. Amava ir para lá. Amava pescar.

- Olha, seu Ricardo, disse ao pai, temos de ser realistas. A dor agora é muito grande. Mas não podemos encobrir nada. Tudo será complicado. E nós apenas seremos usados para consertar o coração do seu filho. Quem cura mesmo é Deus. Sou apenas um instrumento.

- Ele vai morrer, doutor?

O médico refletiu que todos vamos morrer. Por que o desespero?

- Vamos fazer de tudo para que isto não ocorra. Mas é uma situação muito grave. Dependemos de um milagre mesmo. De um milagre.

- E que horas vai começar a cirurgia?

- Remarcamos para daqui três horas. O coração ainda não chegou.

- Meu filho está lúcido ou sedado?

- Lúcido, porém, com poucas forças. Esta com um reforço de oxigênio. Não tem forças nem para falar.

- Posso ver ele, doutor?

- Melhor não.

O celular tocou. Pediu licença. Explicou que teria uma cirurgia em algumas horas. Mas que à noite daria para ir. Amanhã? Tudo certo. Combinadíssimo. Eu, minha esposa, dois casais de amigos. Na minha casa, na Baleia. Tem sim. Tem sim um heliponto lá. No condomínio mesmo. Claro que pode! Não sei. Pode chegar o horário que quiser. Deixo avisado. Até mais. Abraços. Vai ser um excelente fim de semana.

- Por que não posso ver meu filho, doutor? - insistiu assim que Dr. Marco Pensila desligou. E se ela morrer?

- Olha, seu Ricardo, vamos fazer o melhor possível. Seu filho será o meu filho na sala de cirurgia. Será o meu filho que eu perdi na mesa de uma cirurgia no ano passado. Faremos de tudo. Agora, quanto a vê-lo, posso te levar, mas ele não pode passar nenhum tipo de nervoso para não acelerar o músculo cardíaco.

O pai foi. Via pela janela do quarto o filho. Olhar quieto. Sem expressão. Preferiu não entrar. Oito anos. Apenas oito anos. Começou a chorar. Silenciosamente, escorrendo pela porta até cair de joelhos e permanecer lá, mãos juntas, pedindo a Deus um milagre, até ser retirado com delicadeza por uma enfermeira e levado à sala de espera, onde ficou todas as 8 horas de cirurgia, religiosamente agarrado ao terço.

O fato é que o doutor deve um fim de semana maravilhoso, com amigos e a família em sua casa na Praia da Baleia, curtindo muito sua lancha e folga. O amigo do helicóptero foi um dos mais empolgados. Houve camarão. Casquinha de siri. Vinho branco francês. Dançaram à noite. Todos. No domingo um churrasco digno. E futebol à tarde. Era a mais importante rodada do Brasileirão. Fluminense Campeão 2012. A vida corria. A vida em gotas de felicidade. Impulso de momentos. Voltou na segunda-feira à tarde para São Paulo. Antes, na mesma manhã de segunda, recebeu uma ligação do hospital em seu celular privado:

- Dr. Marco. Bom dia. Desculpe-me ligar para o senhor neste horário. É a Carol, chefe da enfernagem, do segundo turmo.

- Oi, Isabel. Tudo bem? - disse ainda sonolento. O que houve?

- Sabe aquela criança que o senhor operou na sexta-feira.

- Sim. Sei. O que aconteceu? Ele não resistiu?

- Sim. Quero dizer. Não. Ela está bem. Teve uma melhora considerável. Verdadeiro milagre. Pressão normal. Oxigenação normal. Enzimas todas normais. Parabéns.

Dr. Marco permaneceu daí em diante em silêncio. Não respondeu mais nada. Desligou o telefone. Desligou o aparelho. Desligou-se do mundo. Queria ficar incomunicável. Respirar. Profundamente. A terceira esposa ao lado, na cama, dormia, profundamente. Quase trinta anos mais jovem. Ela dormiu feito anjo. Abriu a gaveta do criado-mudo. Tirou uma caixinha. Tirou dentro dela um saquinho plástico. Tirou dentro dele uma foto pequena, 3X4, da carteira de escola. A foto do filho. A foto do filho que não conseguiu salvar, porque em viagem. Lacrimejou, sussurrando com dificuldade, soluçando silenciosamente, engolindo a vida solitária:

- Para você, meu filho. Este também é e sempre serão todos, sempre serão todos para você.

Dormiu.

A Intuição: Dr. Micheal Kremer e Oliver Sacks

"Parecia ler a mente dos pacientes e conhecer intuitivamente todos os seus medos e esperanças. Observava seus movimentos e atitudes como um diretor de teatro observa seus atores. (...) ...mostrava o quanto ele observava e entendia antes mesmo de fazer um exame neurológico, antes mesmo que o paciente abrisse a boca."

Oliver Sacks sobre o Dr. Micheal Kremer.

Sou uma pessoa bastante intuitiva. Em alguns momentos, eu mesmo coloco em dúvida a minha humildade em troca de minha arrogância e prepotência.

Paradoxalmente, quem eu amo e quero ao meu lado é quem mais sente minha prepotência e arrogância. Abro meu coração. Pronto. Tenho minhas razões íntimas.

Quando compartilho minha forte intuição e ela começa a fazer parte da rotina da pessoa, incrivelmente eu contagio. Por um processo incrível do inconsciente, ambos entram em sintonia. Ambos aprendemos uma comunicação invisível, mais clara do que a oral.

De fato, de modo prepotente, liberto qualquer repressão e opressão. Eu dialogo abertamente o que sinto e o que sou em minha percepção de mundo. Fico agradável e suavemente apaixonante. Suavidade na essência, desde que toleremos nossas superfícies; apaixonante no convívio, desde que toleradas as altas cargas emocionais que a dor e sofrimento humanos me causam. Sim, o sofrimento humano me compadece.

Ao mesmo tempo, sinto um pouco de vergonha de sentir sem nada poder fazer. O artista deve ir através desta linha imaginária, mas totalmento sincero e preparado para as condenações do gosto de quem não tem acesso a ele. Todo artista é um incompreendido.

Sou um daqueles professores intuitivos. Falo com naturalidade a respeito de assuntos bem delicados como "aspectos fisiológicos da fala" e "desinências verbais" como se ensinasse as letras "a", "e", "i", "o", "u" para altamente especializados.

O equilíbrio entre o que ensino e o que eles assimilam está na minha intuição, no jogo de saber como jogar, no poder de me enxergar no ponto de vista dos alunos que precisam aprender. Creio ter bastante êxito como professor, palestrante e escritor. Oito de cada dez alunos, seguramente assimilam. Uma estatística meramente intuitiva e observável. Um troca.

Ao ler a percepção do médico Oliver Sacks a respeito do Dr. Kremer e sua forte intuição, eu fico bastante tranquilo quanto a mim mesmo. Claro que ser diferente entre iguais faz que todos sejamos comuns. Já disse: sou igual, mas não comum. Quando desviamos do padrão de nosso comportamento, somos consideramos anormais, sofremos pela dificuldade de estabelecer relações normais, ou melhor, comuns. As relações ficam mais ou menos assim: você atrai as pessoas pela admiração e elas se afastam de você (ou o contrário) pela prepotência.

Ser intuitivo é algo que não se controla. Nem se reprime. Quem convive comigo percebe quão natural o é. Ler os detalhes das curvas são significativas quanto o todo da forma acabada. A arte são curvas sobrepostas por curvas. O artista uma linha perdida cheio de intuição. Viva com um. Tolere um. Acolha um. Ele precisa.

Nosso Inconsciente

1991. Primeiros dias no 1° Ano do colegial. Estudava em São Miguel. Tinha 16 anos então. Faria 17 em maio. Dois anos trasados. Fiz supletivo da 5° à 8°. De algum modo, me eu compensaria posteriormente.

Nesta época, um canção não saía de minha cabeça. Era a mesma que meu filho Pedro, 12 anos, ouvia ano quarto, desenhando. A canção é "Patience" dos Guns and Roses. Muitos a conhecem, ainda que poucos tenham vivido o auge da banda.

Há um assovio inicial. Eu fiquei marcado por duas amigas orientais, a Lucia e a Regina, porque distraidamente eu assoviava esta melodia. Insegurança? Medo? Solidão? Distanciamento?

Tivesse a consciência que tenho hoje, eu saberia que era meu ato falho, ou seja, um mecanismo inconsciente para distrair pensamentos que eu queria que ninguém percebesse.

Os atos falhos possuem basicamente dois propósitos contrários: tentar esconder ou tentar revelar. A todo momento manifestamos atos falhos.

Percepção é algo parecido. Ler as intenções indiretas também. Intuição é a maturidade do ato falho. Sou fã dos livros "Por que mentimos?" Oras, se não for doença a mentira - anormalidade -, mentimos porque muitas vezes queremos que as pessoas descubram nossas verdades inconscientes. Acabei de falar dos atos falhos, desta tentativa de comunicação do inconsciente.

Portanto, refiro-me à mentira da ajuda, do socorro, do desespero, da leitura ao contrário. O livro a que me refiro é leitura obrigatória para todos que vivem de vendas. Não para mentir. Para ler os mecanismos de mentira (atos falhos) de quem quer comprar.

Qual, então, era o ato falho que em 1991, eu queria esconder dos outros alunos? Em resumo: o desconforto de não me sentir igual a eles. Eu havia feito supletivo (em seis meses como fosse um ano) da quinta série à oitava, como disse Sentia-me velho aos 17 anos. Outros problemas pessoais que, aliás, já narrei em meu segundo livro.

O bacana de saber onde e como caminha seu inconsciente, mora no conforto daquilo que você realmente busca no mundo como propósito de vida. Ah, propósito de vida! Quem não o tem? No ápice de minha incompetência para ser aluno de escola pública (repeti quatro vezes), tive ainda tempo e a misericórdia de adquirir vocabulário e estilo para escrever. Meu propósito totalmente consciente para escrever. Claro, as palavras serão lidas, julgadas, admiradas e condenadas até. Só que o autor vai junto. Um erro.

Seria verdade confundir o autor com o que ele escreve se fossem atos falhos seus textos. A grande maioria, que tem consciência, porém, não é ingênua para escancarar de modo inocente sua alma sem saber por onde e como anda seu inconsciente. No momento da canção "Paciente", eu voltei 24 anos. A sensação inteirinha em meu coração. Foi bom. Muito bom. Existe um turning-point sobre o qual eu já escrevi... Já escrevi, mas que Jung e nem Freud captariam agora. Por quê? Ah, eu sou danado quando tentam invadir a minha alma. Não permito.

Permito revelar o que vale. Vale muito olhar para seus atos falhos e admitir que os tem. Quem tem não percebe. Pode perceber. E se perceber terá um alívio, uma epifania enorme. Bons. Muito bons atos falhos.

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Beijo

- Já saiu com ele?

- Hã?

- Você saiu com o rapaz com quem está conversando?

- O que é sair pra você?

- O coração estar no momento.

- Beijei ele.

Despoluição Emocional

Vinha para casa à noite dirigindo e refletindo sobre a quantidade de bobagem, em forma de conselhos, que eu tive de ouvir e aturar nas últimas semanas. Vinha pensando a razão descabida para esta liberdade que algumas pessoas tiveram e, claro, os erros que cometi para que elas ultrapassassem estes limites.

Algo ficou evidente para mim: eu estava em enorme poluição sentimental. Eu permiti uma confusa poluição sentimental em mim e, ao invés de posicionar-me de forma bem clara, eu ia e vinha posicionando-me de forma tímida e às vezes retrocedendo como indeciso. Ou seja, um total banana, que aparentava alguém sem iniciativa e confuso. Realmente devo ter deixado esta sensação. Para mim, eu era direto e franco, deixando claro meus problemas pessoais a todo momento.

Se está poluído, portanto, urgentemente despolua sua mente, despoluindo as suas relações que lhe causam mal. No caso dos sentimentos, desfaça radicalmente contatos que quiseram perturbar a ordem dos seus valores e emoções. Sobretudo aqueles para quem seu passado pessoal foi um livro aberto e usaram e abusaram contra você cada vírgula que falou. Talvez ainda não tenha chegado ao seu limite e, como eu, você tende a ir e vir, insistindo e até tolerando. Quanto mais rapidamente cortar, terá oportunidade de despoluir sua mente e sua alma, entretanto.

Para uma verdadeira despoluição emocional e sentimental, vai ter que fazer destas pessoas um passado enterrado, porque foram maléficas a você e às suas experiências. Você permitiu as pessoas se sentirem tão íntimas com seus problemas e acima deles que, por rancor ou mágoa, destilaram venenos quando elas perceberam que no fundo você fazia o que queria e não havia em momento algum dependência e fragilidade emocional dos seus mais importantes valores.

Comece mesmo apagando estas pessoas. Apague as bobagens que elas disseram. Depois, os relacionamentos ruins, corte-os na raiz. Eles somente fizeram mal e fazem mal a você. Um período de transição será fundamental e deslocado do seu eixo. Vida do zero, deslocamento e adaptação nos novos relacionamentos de amizade, amorosos e profissionais. Seu presente e futuro são mais importantes do que seu passado aos novos relacionamentos, que diz respeito a você, mesmo porque todos tem passado. Nosso presente deve ser muito mais legal que nosso passado. Já o futuro uma consequência. Foque no seu presente e futuro. Seus novos relacionamentos terão interesse no que de bacana você faz: esportes, cultura, atividades das mais diversas e que agregam. Assim como você pelo deles.

Não adianta. Quem o conheceu de um modo e passou a criticar sua atitude e a sentir-se com autoridade de falar o que você deve fazer, jamais mudará. A única forma de mudar, será sabendo ou testemunhando sua nova vida, que foi possível porque tivemos a consciência da poluição emocional que vivíamos. Mesmo assim, ela julgará que foram os conselhos dela que o ajudaram a mudar. Sim, foram os conselhos, mas não por sabedoria; foram porque simplesmente a pessoa ultrapassou os limites e venceu-o pelo cansaço.

Fico imaginando qualquer nova pessoa que você conheça. Numa festa, academia, viagem, em um curso. Despolua seu passado. Você será, num primeiro momento, parte daquele momento e este momento já basta para ambos. Focar nele. A partir daí, é viver o mais saudavelmente possível e ficar feliz se for uma pessoa bacana, ou afastar-se o mais rapidamente possível se for mais uma das mesmas. Geralmente vamos atraindo aquelas que tem o mesmo perfil da poluição emocional e sentimental que antes. Algo inconsciente. Fuja.

As pessoas que amam você, principalmente as mulheres que se apegam a homens, dizem para si mesmas que você foi o pior que aconteceu na vida delas quando você resolve se afastar. Simplesmente elas vão querer acreditar que o homem precisa de tratamento, já que vive indeciso e uma das indecisões era ficar ou não com ela. Não partirá delas que esta indecisão é mais por causa do medo delas do que pela objetividade dele. Homens maduros tomam decisões rapidamente. Daí vem a poluição. Se elas estão poluídas, nada tem de se fazer. Fuja.

Serão os pequenos valores em comum que enriquecerão os relacionamentos. No início tudo é legal e bacana. Se a pessoa é uma escritora e leitora voraz e comunicativa, sem perder a ternura e a feminilidade, possivelmente terá muita empatia comigo; se a pessoa é do tipo que julga o mundo, já começa a poluir meus sentimentos. O certo é cortar e transformar em momentos superficiais o encontro do café. Não significa que temos de ser mal-educados. Correto mesmo seria ser mais frio. Do contrário, sua indiferença futura será lida como "ser bipolar".

Sabe, pé na bunda destas poluições. No afastamento sempre sobrarão rancores e mágoas. Sempre. Vida realmente nova. Há pessoas bacanas sempre. Atraia-as para você. Deixe que as demais vivam em suas respectivas poluições. Viver relacionamento saudáveis pode ser uma escolha. Uma boa escolha. Nem todos estão de fato preparados.

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Me Mandaram para a Terapia

Mulheres, muitas delas, precisam de defesas emocionais para não explodirem. Se eu as compreendo? Mais do que compreensão. Certa vez, insinuaram ao Machado de Assis uma certa ingenuidade a respeito das mulheres. Ele, dedo em riste, para o alto, sacramentou:

- Tudo neste mundo. Menos ingênuo. Jamais ingênuo.

Roubo-lhe as palavras. "Jamais ingênuo!" Mesmo assim, em menos de duas semanas, meia dúzia de mulheres me aconselharam a ir à terapia para tratamento em função de minha 'volubilidade' (nenhuma delas usou este termo). Em comum: todas gostam ou gostaram de mim; em comum, não tenho muita paciência para algumas coisas e nem quero ter para o que me incomoda. Quando tentei ter, fui tido idiota (abnegação) ou bipolar (escolha).

Dentre elas, e sobretudo delas, a quem não posso me referir, foi a mais radical. Elas que se iludem comigo. Sou útil, sou diferente; me posiciono, sou igual. Querem de mim o que não posso dar, ou mesmo a quem resolvo dar algo, a mão é de via única.

Engraçado aconselhar com convicção alguém para tratamento psicológico. Todas elas me mandaram! Tivessem 10% das preocupações que tenho, fora meus escritos e trabalho, muitas delas somatizariam em poucos meses. A preguiça e aborrecimento nem me permitem detalhar.

Aí vem os julgamentos pelo que eu escrevo. Parte de mim é a presença do olhar. Parte de mim é a interpretação da palavra. Se sou algo presente e ao vivo, a palavra escrita me dá a pausa necessária para escolher as vírgulas, a sonoridade e os efeitos na imaginação de quem lê. Olha. Sou danado.

A todas vocês, e tenho enorme vontade de dar nome, convenhamos, tratamento psicológico precisa quem não sabe bem o que quer, ou quer entrar na minha alma, fazer morada, com a sua mobília. Eu tanto sei o que quero que de imediato deixo claro que compartilho meu quintal.

Uma é enrolada e tem medo, apesar da idade; a outra se apaixonou perdidamente sabendo que somos pais de muitos filhos, ela com os dela e eu com os meus; a outra com quem vivi tantos anos, sofre de 'ódio patológico' e perdeu o pai, ou seja, a mim mesmo; a outra não entende que eu não queria viver a mesma vida dos meus últimos quinze anos, que seria meu destino se ficássemos; uma outra queria me convencer que eu estava apaixonado por ela e chorava deseperada; e tantas outras que querem ser minhas salvadoras emocionais da solidão delas. Por Deus! O que quero são leitores e espaço literário e minhas palestras para pessoas que precisam. Dentre elas, todas elas.

Tenho alguns conhecidos psicólogos que me admiram. São mais silenciosos comigo porque visualizo mais intimamente a alma deles. Teve uma conhecida que me disse algo bacana do tipo "sua vida externa é compatível com as emoções internas; se você não sentisse isto, então você teria um grande problema." Ela sabe o que falava.

Imaginem só. Se uma delas ler este texto, serão as mesmas coisas, os mesmos discursos, as mesmas palavras que me assustam. É prototípica a estrutura. Me assusta. De verdade.

Enfim, minhas lindas, fui poeta na fase bem difícil de minha vida: péssimo poeta; decorreram os anos, as histórias me roubaram a imaginação e escrevi contos; na fase adulta, primeira meia idade, vem as reflexões; e agora, daqui a pouco, meu primeiro romance de muitos outros. Aliás, dentre eles, tem um que será bem bacana cujo título já tenho "Destilando Rancor e Mágoa". Toda esta experiência, depois de separado, e esta maluquice, virará um belíssimo romance. Ao terminar de escrevê-lo e lê-lo, cada alma feminina se olhará no espelho e, reflexiva, perceberá que elas somente querem machucar para não gritar. Depois sofrem em silêncio até superar dentro de seu amor próprio e orgulho.

Sou tudo neste mundo, menos ingênuo. Ingênuo jamais. Há ainda mulheres que me olham como escritor e um bom escritor. Não deixam seus sentimentos por mim interferirem. Estas amam o que eu escrevo. Separam o homem do escritor. Ponto final.

Para todas: believe in yourself and never give up. I gave up.

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

O Tempo Dirá se Foi Melhor ou Não

O tempo dirá se foi melhor ou não. Sempre o mesmo tempo. Não me refiro ao meu passado. Nem a quem pertenceu ao meu passado. Meu passado é passado. Refiro-me ao meu presente que me envolve intensamente em tantas reflexões e pensamentos e no ato de amar e ser amado, querer e ser querido, desejar e ser desejado, doar e receber, paixonado e apaixonante. Este meu presente. Somente o tempo dirá se foi melhor ou não.

Via de regra eu tenho uma forte intuição de que o tempo responderá a favor de quem não toma uma decisão presente por orgulho ou vaidade. Ainda falaria o quanto eu amo você e o quanto é forte meus sentimentos por você. Ainda que tomado por forte paixão, sou homem de decisões com as quais preciso viver, do contrário eu me diluo no ar. Cederia por sacrifício, mas meu coração estaria distante. Quanto mal existe na falta de comunhão entre duas pessoas que se amam! Amam-se tanto que ficam em guerra porque valores e amores raramente caminham juntos. Se sofre tanto.

O tempo dirá se voltaremos em comunhão um dia, em união de amor, em harmonia de sentimentos, em que possamos ceder nossos corações e até nossas almas um para o outro sem nos perdermos. Tenho você em mente. Apenas em mente. Tenho você como vontade de ter. Apenas vontade. Tenho você como amor. Apenas como amor. Cada qual, no entanto, tem um ao outro livre, solto, independente. Imagine que quem nos controla são nossos sentimentos e emoções. Isto à parte, não somos controlados. Cedemos circunstancial e conscientemente.

O tempo dirá o distanciamento. Trago em mim boas verdades. Respiro com sinceridade os segundos da vida. Creio assustadoramente na entrega do amor. Somente o tempo mesmo é capaz de dizer. Como se vê, meus sentimentos, eu os uso ao meu favor como prática de imprimir palavras depois de ter sido sufocado por quinze anos em uma relação muito má para a minha vida pessoal. Exemplo eram meus dois mil livros que viraram 350. Outro exemplo é que terminei a graduação em 2000 e mantive-me nela. Outro exemplo foram os 99 quilos em 2014 e as doenças em decorrência. Outro exemplo é meu primeiro livro publicado em 2013 e meu segundo em 2014 e meu terceiro será em 2015. O tempo disse que foi um desastre e péssimo relacionamento, tirando meus amados filhos, que eu amo e os quero para mim.

Somente o tempo dirá se estaremos juntos, ou se será melhor este distanciamento. Se aprenderemos a ceder o que para o outro é realmente importante e dar ao tempo a chance de nos responder as coisas futuras. Dizer o que se quer do outro não significa controlar a vida. São escolhas e valores. Acho que eu seria bem mais feliz com você ao meu lado agora, mas seria mais triste comigo mesmo desconfigurando aquilo que são minhas essências. Assim, vamos. O tempo vai. A saudade fará parte. A saudade do que poderia ter tido com você. Isto me deixa feliz. Um paradoxo. Amar é no fundo complicado quando não se tem a pessoa amada.

Dizer Impropérios na Alma

Impropérios. Sei o uso desta palavra. Ela não tem muita ligação com impróprio. Mas estão ambas numa mesma relação de significados. Tanto é verdade que 'dizer coisas impróprias' e 'dizer impropérios' tem "quase" o mesmo sentido, ainda que bem diferentes. Para mim e para o dicionário, a segunda é mais forte. Olha só a definição de 'impropério':

1. ação, postura ou discurso ofensivo e afrontoso destinado a ofender alguém;

2. Ação censurável, ato detestável ou repreensão injuriosa; ofensa ou afronta;

Logo se vê. Dizer impropérios é bem mais do que dizer coisas impróprias, como por exemplo, dentro do elevador "fui peidar agora, mas acho que caguei".

Nesta mesma linha de palavras, o salto para quem estuda, dizem, que sai de 15 mil vocábulos aprendidos até os 18 anos para 140 mil aos 40 anos para quem fez doutorado. Li estes dados nem me lembro onde. Mas há lógica.

Concluí que especializar-se é apenas aprender conceitos mais específicos através de palavras, porque ajuda a mente humana a traduzir a verdade de forma mais clara possível, deixando a visão da alma mais conscientemente aberta ao que o mundo pode ser.

Aliás, quando ouço impropérios contra mim, eu me oprimo internamente. Não me vitimizo, porém. E respondo à altura. A explicação vem do que o mundo realmente é para mim. Queremos saber o que o mundo realmente é, certo? O ato de dizer impropérios é encher a alma do outro com palavras agressivas que não são reais. A finalidade é apenas de machucar, ferir, destruir, humilhar, desmotivar, acabar o máximo possível com o outro para a vida e para o mundo. Acho injusto e retruco para o bem do outro. Paradoxal, né? Mas imagine que o silêncio machuca muito mais.

Raramente uso de impropérios. Já o fiz. Inclusive recentemente com alguém que me fez ultrapassar meus limites. Podem exigir do homem a calma que for. A verdade é que vivemos de limites. Ainda mais eu que reprimo as ofensas e os impropérios sobre mim, porque sei que ofender ajuda a acalmar as pessoas. Sim, os impropérios vem de quem geralmente nos ama e criou um 'ódio patológico'. Precisa nos acusar e xingar para ter paz. Me xingar eu deixo ad nauseum. O problema é arrancar a alma para que o outro sofra. Ninguém tem este direito. Querer deixar o outro na merda é apenas ódio patológico. Uma doença.

Quanta energia gasta sem volta. Quantos dias para solucionar algo que não tem mais solução porque acabou há muito tempo. Não adianta deixar o 'ódio patológico' dominar e fazer moradia. O que era para durar no máximo um ano, vai se alastrando para mais tempo até certo limite impossível de ultrapassar.

Quando termina algo compartilhado, aquele que mais perde é quem quer ter tudo, chantagia e deixa o outro pior, enchendo a alma dele de impropérios, vitimizando-se no olhar, no rosto, nas palavras para o mundo. A cena será algo triste no futuro. Quando aprendi a definição de 'ódio patológico' aprendi nossas escolhas erradas. Em ambos os lados. Mas do erro também aprendemos histórias. E mais entendimento. Eu demoro para aprender porque escolho insistir. Mas aprendo com segurança porque as palavras existem para traduzir. O bom termômetro de viver bem é respirar em paz. Tenho vontade enorme de estar ao lado de alguém que me complete com palavras. Ainda assim prefiro a solidão a um silêncio profundo compartilhado ou a uma tagarelice que nada traduz. Ao cabo, me distanciarei e lá virão mais impropérios.

Eu não desisto nunca, na verdade. Me sinto bem quando desistam de mim. Me deixam em paz. Posso pegar minha liberdade. O único problema são os impropérios. Eita palavra bacana de refletir. Como é bom refletir.

domingo, 6 de setembro de 2015

As Chaves que Abrem os Carros

As chaves abrem portas. Algumas abrem gavetas. Outras janelas. Abrem cadeados, que existem para proteger espaços cujas portas não tem chaves. Chaves lembram bastante o personagem amigo do Quico e da Chiquinha. Os politizados vão lembrar-se do fanfarrão ex-Presidente da Venezuela, que faleceu de câncer - acusam 'orquestrado' pelos EUA - e que, dizem, teve um caso amoroso com a Naomi Campbel, a belíssima negra modelo internacional. Que gata!

O que dizer da chave de meu carro Pálio Weekend 97? Desde o mau contato na ignição todos os dias, a ele me acompanhar até a academia do condomínio de luxo onde moro temporariamente até fazer a natural partilha de meus bens após meu divórcio. Imaginem que a mulher me enrolou para deixar tudo para ela! "Em nome dos filhos!" Bem, vim morar em um condomínio de luxo a convite de minha irmã. Aceitei e admito que dá vontade de não sair mais daqui. Claro, se ao menos eu trocasse de carro, ficaria mesmo.

Entra aí a chave de meu carrinho velhinho que me leva e traz. Chego à academia pela manhã com meus 90kg mal distribuídos, concentrados na minha barriga. Hoje, porém, já corro 8km em um período de uma hora. Dizem que está bom. Malho bastante. Os músculos enrigecem aos olhos do espelho. Nas pernas e nos braços. Me sinto feliz. Minha felicidade diminue ao pendurar e depois retirar a chave de meu carro do lugar destinado a este propósito. Um penduricalho cheio de pequenas garras.

Imagine algo miudinho. Minha chave. Bem magrinha e sem nada que possa trazer uma luz de nada. Minha chave. Nem brilho tem. Minha chave. Aliás, manchas de ferrugem e arranhos em cada detalhe. Minha chave. A parte de plástico de cima encardida de marrom. Minha chave. Timidamente, eu apareço e penduro entre as demais a minha pequenina chave de meu carrinho 97. Inevitavelmente vejo tantas outras e me pergunto onde está o metal delas. Aquele metal que penetra com agressividade o miolo para dar a partida? Nada. Que coisa. Tempos que nos destinam aos detalhes de quem é quem e o que tem o que.

Minha irmã me disse que não se pode tirar o carro de um homem. Quando a mulher faz isto, ela tira o órgão genital dele. Exatamente. O seu pinto. Não importa tanto a ele o olhar feminino anatômico. Desde que entre o uso dele e seu descanso, a mulher sentiu-se mulher. E convenhamos: quem gosta de passear de transporte público são adolescentes e ciclistas, né? É ou não é? É. Esta história de nada a ver é que não tem nada a ver.

E minha irmã me vendeu sua Pálio Weekend 97, indignada ao me ver sem carro pelas razões que já disse. Quando peguei-o, parecia que me lambusava com doce. Voltei um pouco a sentir-me livre e confiante. Até o momento em que comecei a comparar chave com chave. Vejo sempre com um sorriso. Acho cômico. Vou, evidentemente, dar um passo maior depois e ter de mudar de chave, né?

Ah, e antes que chamem de paradoxal ter de ir de carro à academia dentro do condomínio a ir caminhando, digo que é um pouco longe. Não apenas malho. Ainda escrevo, trabalho e reviso meu terceiro livro. Porque esta é a vida que eu escolhi para viver. Quem geralmente decide quem merece fazer parte dela por muito tempo sou eu. Amo quem ri com inteligência. Amo quem prefere a liberdade de consciência plena. Amo quem lê. Amo quem escreve. Embora fazer tudo isto não signifique amor correspondido. Apenas amar mesmo.

Drama dos Corpos na Escadaria da Catedral da Sé

Sensação. Sentir. Sentidos. Sensoriais. Sensível. Sentimentos.  Enorme o conjunto de palavras que envolvem a relação do corpo com nossa cosciência, ou com a formação de nossa consciência. Chamamos esta formação nossas experiências.

Estética significa 'sentir pelos sentidos': visão, audição, paladar, olfato, tato. Incrivelmente, o sentido que nos diferencia das demais pessoas e nos torna mais íntimos delas é o tato, que é o toque, que é a maior e mais sacra relação entre as pessoas.Tirem de nós a nossa pele, anestesiem nossa pele e acabamos totalmente nosso corpo para o mundo.

Nossa batalha neste mundo é saber quem podemos tocar e quem permitimos que nos toque ou que nós toquemos. Agarrar agride. Prender destrói. Segurar com força mata-nos aos poucos quando sem consentimento.

As escadarias da igreja da Praça da Sé não poderiam ser melhor palco para a cena dos dramas que viram tragédias em São Paulo. A visão é privilegiada para quem está embaixo assistindo. O som prejudicado porque o drama real da vida não tem sonoplastia, não tem amplificadores nem microfones. Os sons reais da vida dizem respeito somente a quem fala e ouve. A cena ao longe. A disputa entre os corpos. Um exigindo obediência e permacência. O outro em luta contra aquele toque que não mais lhe pertencia. Toda a tragédia clássica naquela cena implicada nas contrariedades das paixões, dos amores, dos desejos humanos.

Antes dos minutos finais de um longo drama oculto, o defecho relativamente silencioso para os expectadores, e seus milhares de expectadores assistindo aos curtos vídeos gravados. Os registros das cenas não se perderam. Ampliar a visão. Gravar os momentos. Extender as memórias visuais.

E foi pela memória apenas visual que um homem entra em cena. Um homem sem algum sentido real ao drama. Fosse o pai da vítima? Um irmão? Um tio? Um amigo que a ama, de um amor não correspondido, porém etéreo, puro, sacrificial? O desfecho se inicia.O terceiro corpo em disputa. Um empurrão. Um vacilo. Um ou dois disparos. Um corpo foge escadaria abaixo. Dois permanecem em luta. Mais outros vários corpos uniformizados fazem o que devem. Desferem contra um dos corpos algo que possa fazê-lo parar de desejar, de querer, de lutar por algo que não o quer. O outro corpo, silenciosamente entregue à sensação das primeira balas de revolver em suas entranhas, permanece em pé. Agora expectador. Assistindo. Testemunhando a outro corpo no chão, alvejado por diversas balas e cada qual querendo silenciá-lo. Foi a curiosidade de um em pé do outro começando sua agonia e seu silêncio total. A cena começa o fim. Em pé, ainda firme, o corpo alvejado. Como se bala alguma tivesse desregulado a essência do funcionamento do seu corpo. Ele dá alguns passos para a porta da igreja. Como indo de castigo por ser indisciplinado. Como um não convidado à festa. Como um ator meramente coadjuvante. Sai de cena. Volta ao seu anonimato à porta da igreja. Políciais invadem o palco. E o corpo em pé lentamente, como fosse descansar, vai ao chão. Ninguém o vê. Era o corpo unindo-se ao silêncio absoluto de nossos sentidos. Morre herói. Outro vilão, para a fúria de todos. A refém, liberta. O drama será notícias. As notícias discussões e reflexões. Do que sobra são histórias e a certeza de que a Arte nunca se comparará à vida, certamente entre os moradores de ruas e familiares dos atores, interessantes fofocas por alguns dias.

sábado, 5 de setembro de 2015

Azul e Vermelho, de Costas para o Mundo

Morreu sozinho respirando água. A água era salgada. O sal não salgou a terra e o corpo não resistiu à imensidão da água que tem vida e traz vida, porque por meio dela surgiu a vida.

Do ventre aquoso, embebido de calor e proteção, respirando muitas vezes o amor materno e comendo o que a vida proporciona à mãe, abriu a boca dentro do mar buscando ar porque o homem precisa respirar pela boca ou pelo nariz. Bebeu bem pouca água que não mais saía porque já não era troca. Era a mesma água de dentro e de fora. Agonizou a falta da troca. Não foi demorado para o corpo perceber. Não se sabe nem o tempo nem o que sentiu e nem as imagens que passaram em sua cabeça que seguia a vida dos adultos como verdade absoluta a uma viagem sem verdades algumas.

Quis o destino que a água salgada do mar não o consumisse como ela faz com os bilhões de quilos de vidas diariamente mandadas para o fundo do mar. Dizem que aquele líquilo escuro que se dá nome petróleo foram habitantes dentro do mar que terminaram seu ciclo entre o nascer e o morrer. O mar navegou aquele corpo até a areia, que, de costas para o sol não queimar seu rosto, esperou resgate.

Silenciosamente aos nossos ouvidos humanos o mar produz petróleo. Dizem que por milhões e milhões de anos. Não quis o mar sugar para as suas entranhas este pequeno de vermelho e azul para pertencer ao futuro deste processo natural do orgânico que movimenta muito de nossos deslocamentos mecânicos criados pelos homens. Avião. Navio. Carro. Ônibus.

O homem se desloca. A vida passa. A morte causa surpresa. Outros sentem porque seus momentos são mais sensíveis. Chorei com a cena. Outros, de coração mais frios porque acostumados ou preocupados com seus próprios movimentos, nada tem a ver com o vermelho e azul de costas para o mundo. Dormindo. Quem dorme de barriga para cima são os gordos pançudos feito eu, cheio de banhas vicerais de tantas calorias do Mac Donalds, feijoadas, churrascos, coxinhas e arroz e feijão. Cada caloria transformada em gordura corresponde a uma vida sedentária assistindo à TV e vídeos e olhando as fotos do mundo e das pessoas. Vontade de falar:

- Acorda, menino. Você dorme na areia. Vamos para casa.

Ele, molhado, abre os olhos. Diz na sua língua materna qualquer coisa que uma criança sonolenta diria com vontade de continuar dormindo. O adulto intolerante sacode-o. Ele se levanta. Cara de poucos amigos. Da-lhe a mão. E vai para a casa, no chuveiro, no shampoo e sabonete. Na roupa seca. Depois ligar a TV ou assistir vídeos na Internet.

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Quando sair, sobram as agressões

Quando sai, sobram as agressões

Toc. Toc. Toc.

- Quem é?

- Sou eu.

- Quer entrar?

- Sim.

- Mereça então. A casa é acolhedora demais. Vai criar dependência. Mas sei que quando tiver de sair dela, sua única defesa emocional será falar mal. Vai dizer que ela é horrível, tem goteiras, tem rachaduras, pintura descascando, canos entupidos, cheiro de mofo, sem alma humana e seres viventes nela.

- Como você sabe?

- Porque somente sai daqui quem não merece mais ficar. De raiva e vingança, a pessoa prefere desfazer-se dos momentos de acolhimento. Que não são poucos.

- Deixe-me entrar. Serei diferente.

- Você não será não. Será como as outras pessoas, cheias de racores, quando partir. Portanto, faça o mínimo para permanecer. Não exijo muito. Aliás, geralmente me comporto como empregado em minha própria casa. Faço as honras de cuidar. As pessoas não entendem de tão acostumadas que estão com a falta de amor

- Verdade.

- Verdade. Agora preciso fechar. Já me encheram muito o saco.

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Acabou a Espera, Acabou

Nesta vida as coisas acabam. As coisas acabam definitivamente quando acaba a espera. De onde esperávamos algo, nós não esperamos mais abasolutamente nada. Acabou.

Retorno à tese das escolhas. Há escolhas impostas que não podemos chamar de escolhas. São imposições autoritárias, sem alternativas, senão aceitar passivamente.

Parte do mundo vive assim, em que o desejo alheio impera em outras vidas sem poder escolhe.

Por outro lado, há escolhas conscientes e maduras. Exemplo é escolher o que causará menos tormento, aborrecimento, cansaço, encheção de saco no futuro. Sou desta última categoria que escolhe e convivo com pessoas que tem o mesmo perfil. Escolher implica excluir. Inevitavelmente.

O fim de qualquer espera é o fim justamente da esperança. Não por acaso os termos se equivalem. Eu espero é tanto 'aguentar algumas horas ou minutos' em um estacionamento, ou 'não perder as esperanças' em algo. Sobre esta última é que sedimenta o verdadeiro fim.

Já disse que não vejo com bons olhos o termo resiliência. Prefiro a resignação ao que é menos pior, desde que esta conformidade diminua e aplaque aos poucos as dores presentes que toda escolha traz. Quando queremos ao mesmo tempo duas coisas incompatíveis, escolher é menos sofrimento.

Por fim, é o fim. Um exercício bom para sair de nossa zona de conforto. Colocar ponto final em uma linha para outras e outras e outras. História de vida. É por aí...

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Porque Ser Verdadeiro

Existe algo na verdade que poucos pensam. Quero tematizar este algo. Pensamos na verdade como aquilo que está de acordo com os fatos. Os fatos estão coerentes, então a verdade faz parte. Até aí sem novidade. A maioria das pessoas não vive de verdade, porque para encarar os fatos reais precisamos de preparo prévio por muitos anos.

Qual, então, a maior importância da verdade? Para resumir: quando deixamos claro às pessoas nossas vidas, o mínimo que damos a elas é o direito de real escolha. Pessoalmente falando, nesta minha vida de solteiro, várias mulheres se surpreendiam com a minha sinceridade. Inconscientemente, eu dava a elas o direito de escolher com quem elas queriam se relacionar. Não vou dar detalhes, mas cheguei ouvir disparates do tipo:

- A maioria dos homens estão nem aí. Saem e depois querem que se danem. Você é diferente.

Esquisito julgar natural o que não deveria ser. Esta é falta de lidar com a verdade através da qual podemos realmente escolher aquilo que queremos para a nossa vida. Neste ponto serei preciso e direto.

Machuca a verdade? Claro que sim. Mas seja aberto ao outro. Tem dificuldade financeira? Fale. Gosta de outro? Fale. Tem algum distúrbio emocional? Fale. Tem algum problema físico? Fale. Fale tudo. Dê à pessoa a opção da escolha. Ficará somente aquele que escolheu ficar, em função de todas as verdades que você deixou claro.

Eu amo exatamente isto. Poder escolher com plena consciência.

Afirmo que se preparar para as escolhas em função da verdade do outro exige muito tempo e muita maturidade. Da mesma forma, abrir-se plenamente para que o outro decida o que quer para a sua vida, eu tenho consciência de que é para poucos.

Seja verdadeiro. Permita que o outro decida caso as suas intenções sejam bonitas. Um cafajeste pensa de modo contrário. Um sedutor, ídem. Um estelionatário nem se fala. Se for para permanecer que seja com a alma limpa e cristalina, porque de ilusão já basta tentar a Mega-Sena toda a semana. Seja 100% verdadeiro. Creio nesta coisa de Lei da Atração. Uma hora as coisas se encaixam e a reciprocidade prevalece. Duas verdade de encontram e vivem de modo belo suas essências. Nossas essências...

Mulheres Maravilhosas Persistem

Saber desistir é algo que eu admiro nas mulheres. Elas desistem com relativo estilo. Eu as admiro e não compreendo qual força psicológica há nelas. Ou então nem força psicológoca seja. Bem possivelmente elas são mais adaptadas à distração dos amigos e dos passeios. Sublimam fácil. Conseguem distrair a desistência emocional. E nomeiam isto "resiliência". Eu nomeio "potencial somatização". Eu queria saber desistir com a mesma facilidade.

Por outro lado, há mais vantagens do que desvantagem na persistência. Uma que não nos enganamos e nem nos auto-enganamos. Diferentemente do "melhor esquecer e deixar quieto", persistir traz ao fim a leveza da linha de chegada. Completar uma prova é o início. Seja em primeiro lugar, em quinto, em último. Ao menos a tragetória existiu. Ao menos o limite - o nosso limite - foi alcançado. Não desistimos. Chegamos em nosso limite.

Tento ser constante, mas a vida traz suas vicissitudes. Eu amo esta palavra: vicissitude. Me lembro quando a li pela primeira vez. Acho que foi em 1993 ou 1994. Era um texto. Eu a achei esquisita. Mas engraçada e sonora. Eu busquei no dicionário de papel o sentido. Não existia Internet no Brasil. Agora eu a escrevo com tanta naturalidade.

Seria bom ter uma vida emocional mais ou menos constante, mas a vida emocional tem suas vicissitudes. O ser humano, cada qual, quer viver suas verdades com suas vicissitudes. A chave é o equíbrio para respeitar o contrário e o diferente do outro longe de nós. Esta é a desistência.

Apesar das vicissitudes, eu não desisto. Quem desiste somente tem a perder. Quem não desiste, no mínimo, empata com a vida, ainda que chegue em último lugar. Correu soluçando? Correu arfando? Correu andando? Engatinhou nos últimos metros? Chegou a ter apoio de alguém para cruzar a linha final? Estes contratempos fazem parte da vida. O importante é saber que foi no seu limite ao final.

Sei que centenas de amigos e conhecidos vivem em seus limites. Sorriem. Bebem. Cantam e dançam. Festejam e confraternizam. Mas tudo isto tem seus limites. Uma faísca. Uma explosão. Ou melhor, uma implosão. Seca. Boca adentro, dentro da alma. Totalmente silencioso. As vicissitudes são internas. E para poucos.

Vou falar. Desista não. Faça igual a maioria das mulheres. Embora elas desistam com grande estilo a vida liberta, muitas demoram para desistir. Elas esperam razões sobre razões, motivos sobre motivos. Crer é uma virtude.

As pessoas julgam imbecis e idiotas e trouxas quem persiste diante de muitas evidências. Eu admiro as mulheres. Eu admiro as mulheres por este motivo. Elas apenas aparentam ser imbecis, idiotas, trouxas. Aparentam somente. As fortes não desistem. Por mais que o mundo as enche de distrações bem bacanas. Elas sabem o que querem. Sim mulheres maravilhosas. Tem limites. Todos temos limites. Mas sempre serão maravilhosas.

Não sou mulher. Queria saber desistir como a maioria das mulheres fazem com um melhor deixar para lá cheio de estilo.

Minha desistência acompanha meu sofrimento. Sofrer é um desacordo entrer o querer, o fazer e o ter. Paciência. Há coisas que queremos. Há coisas que fazemos. Há coisas que temos. Tudo o que temos vem geralmente de escolhas, sendo as mais importantes: a persistência e a desistência.