Em 1992 conheci uma pessoa que se apaixonou por mim. O nome dela Laura. Eu 17 para 18 anos. Inocente. Nos anos seguintes, seriam os anos mais tenebrosos e angustiantes de minha vida. Mas em 1992, a Laura se apaixonou por mim. Verdadeira e profundamente. Possivelmente o amor mais forte que eu senti em toda minha vida, de uma mulher por mim.
Eu era bobo e inocente. Descobri que era amado sem querer. Eu fazia inglês. Por uma razão da qual não me lembro, tive aula na sala dela. Eu estava mais avançado. Sentei ao lado dela. E ensinei-a algumas coisas. A partir daquele momento, disse-me ela, se apaixou por mim. Ela namorava. Estava já noiva. Eu não tinha juízo de valor algum sobre relacionamentos. Ela terminou com o noivo sem eu saber. Começamos a sair algumas vezes. Depois da aula de inglês.
Aliás, até hoje, ela tem os olhos verdes mais lindos e a boca e os cabelos e o rosto dos mais belos que pude beijar. Seu tamanho? Menor do que eu. Afável. Dócil. Meiga. Cheia de personalidade. Já eu era inocente, ingênuo, sem malícia, sem propensão ao amor...
Me lembro de algumas cenas que me marcaram. Um dia, ela foi para a escola com um shorts tão pequeno e tão colado que se igualaria a estes das modas do baile funk. Era branco também. Meu amigo Marcelo arregalou os olhos. Não sei se eu falei para ele sobre ela. Bem, no dia anterior, eu acho que eu e a Laura conversamos e eu devo ter passado alguma insegurança e que não queria nada sério. Eu não tinha vontade de namorar. Então, no outro dia, à tarde, me aparece ela com aquele shorts colado e minúsculo. Todos repararam. O que eu fiz?
Sabe quando você bate na testa e fala "que merda!, para que isto?, querer me fazer ciúmes com isto?" Bem, estes foram meus pensamentos. Mas deixei quieto. Nem falei nada. Ela deu um tiro no pé. Sem saber, eu já tinha bem desenvolvido meu poder de ler intenções e minha forte intuição.
Esta cena do shorts curto marcou meu espírito como análise, e só me deu a certeza de que não daria mais certo com ela. Ainda ficamos por mais alguns meses. Por fim, terminamos definitivamente. Era noite. Em um ponto de ônibus. Na Av. Marechal Tito. Na frente das Casas Bahia. Fazia muito frio.
Eu tenho este mal. As pessoas tem o hábito de se comunicar de modo afrontoso para marcar território. Meu Deus! Eu sempre bato a mão na minha testa interna e sussurro "que merda!"
Eu levo palavras belas e dedicação a quem amo. A pessoa pode querer marcar seu território com afronta, eu intensificarei a dedicação e a minha entrega. Não sei o que se ganha com a afronta gratuita, mas eu sei o que se perde. A Laura me perdeu um pouco naquele shorts. Querer ser gostosa esfrirou minha vontade de olhar em seus olhos que eram os mais belos deste mundo e para os quais eu não me cansava de olhar.
Se ela tivesse me olhado com ternura, ao invés do shorts agarrado, teria hipnotozado minha alma. Desviado meu olhar para a lascívia, eu os perdi. Quando os encontrei, eles estavam já perdidos de amor por mim. Ela se perdeu. Eu me perdi. Ambos viveram suas vidas. Marco agora com esta passagem. Tenho enorme vontade de um dia saber como ela está hoje. Eu sei como eu estou e sei do que preciso. E do que preciso está nos olhos: entrada para nossas almas. Amo amar as pessoas de dentro para fora... Sempre. O resto são migalhas. O mundo que se consome de fora são migalhas, e se come muito rapidamente.