Quando olho para meus filhos de 18, 16 e 11 anos, vejo a mim mesmo o homem de 44 anos, envelhecendo, insistindo na vida visivelmente desgastada.
Por outro lado, quando olho para meus livros, meus textos, meus estudos, encontro uma outra inspiração dentro de mim, que nega o envelhecimento, rejuvenescendo-me, e mais ânimo me contagia como se eu fosse esperançoso sonhador.
Neste estado de euforia, eu resgato um dos momentos mais mágicos de minha vida, quando me descobri com potencial para pensar a realidade do mundo, e me encantei quando percebi que eu existia e tinha muito potencial para aprender. Eu estava com 18 anos e cursava o 2° ano do ensino médio, em um dos colégios particulares mais puxados de SP. Foi numa aula de História. O professor Alves, dono da escola, malufista. Eu fui contra eleger Maluf em 1992 para prefeito e entramos em discussão ideológica. Não cedi. Debatia ideias livremente.
Pela primeira vez eu pude sentir meu pensamento livre para criticar o mundo sem medo, e não apenas reproduzir mecanicamente discursos ideológicos e ideias alheias sem assimilar o que falava.
Causou-me esquisitice deixar de ser ingênio e ter de ponderar todas as possíveis consequências dos meus atos para a minha vida e para a vida das pessoas. Tão jovem e já um filósofo em potencial.
Esta descoberta teve um preço alto, quase fatal, porque me apresentou a depressão, dos 18 aos 22. Quatro anos tortuosos, que depois de superada, eu canalizei cada dor sentida e desespero vivido na alma para o bem. A dor do ser humano passou a não ser mais segredo para mim. Não somente a dor. A mente humana se abria claramente. Escrever foi refletir a minha compreensão.
Sem saber, hoje existem estudos chamados Teoria da Mente, que é a mente tentando entender para antecipar as intenções de outra (muito comum nos jogos de disputas manipulatórias em grandes empresas, na política, entre advogados, no poker etc). Depois aprendi a sorrir para as pessoas e tornei-me candidamente positivo. Candidamente, referente ao personagem Cândido, do livro de Voltaire.
Depois da maravilha de pensar, a outra maravilha foi descobrir ser pai. Talvez o sentimento que mais me arrebata a cada momento de minha vida. Lembrar todos os dias a eles de que os amo e que quero ser um abre-alas para eles. Muito me inspira. Ser professor é uma mistura entre o pai e o filósofo, que sou, tanto técnica quanto amadoramente. O amadurecimento me fez ser mais feliz e creio que nossos jovens - paralelamente à reflexão - precisam rir. Gosto de fazer rir.
Ultimamente acredito no sorriso como irmão gêmeo do medo, mas que, ao invés de oprimir, liberta. O medo e o riso tem o mesmo princípio. Se não bota fé, relembre as "pegadinhas" do Sílvio Santos.
Este ano lanço mais um livro, Miguelito: Memórias e já possuo cinco na fila para terminar e tentar publicar ao menos um por ano. Mas quem sabe dois por ano? É a minha juventude em ação. Nada de parar a vida. Parafraseando Clarice Lispector, quem para morre; quem pensa em parar está morrendo sem saber.