sexta-feira, 29 de maio de 2015

Registros dos Momentos

Uma das coisas que mais me arrependo foi queimar dezenas de cartas de minha amiga Renata que me enviou entre os anos 1995 e 1997. Talvez chegasse a uma centena. E eu as queimei por causa de minha ex-esposa. Aquilo a incomodava e assim o fiz. Eu entendi como desconforto com o outro. Claro que a decisão foi minha, como sempre. Poderia ter, naquele momento, nem cogitado esta perspectiva. Afinal, eram minhas histórias pessoais com as quais hoje eu estaria feliz tendo estes registros. E neste ponto, quero chegar ao passado porque o que há de mais bonito de nosso passado é o futuro sem arrependimentos.

Ontem tive um impulso de apagar coisas que representam meu passado. Foi quando ocorreu-me meu presente. O tempo tem o poder de acalmar nossos sentimentos confusos que nos arrependemos dos impulsos que tivemos de eliminarmos rastros do que foi importante para nós. Especificamente, as cartas da Renata dariam um belo de livro: tanto as dezenas que eu enviei quanto as que eu recebi.

Os momentos vivem e nos fazem. Os momentos sozinhos, deitados, descansando, vendo filmes, dentro de um ônibus ou carro são interlúdios, são aquelas pausas que ligam nossos momentos importantes de troca com as pessoas. Os objetos e lugares tem este figurativo poder de evocar os momentos compartilhados. Por que evitar os lugares então? E pior: por que desfazer-se dos objetos? Precisaremos deles porque o futuro transforma o passado em experiência e toda experiência é um importante sonho que fica!

Ontem mesmo, eu iria me desfazer de coisas simples que evocam pessoas e momentos. Ai refleti nas cartas da Renata, que tanto me arrependo, mas sem traumas, e percebi que preciso destes momentos passados e seus registros. Quando eu era mais sozinho entre os anos 1993 a 1997, tive tantos registros pessoais! Tudo virou cinzas. Mas tudo bem. Eu tomei a decisão na época para ser mais cauteloso agora. As circunstâncias nos levam a decisões, ainda mais eu que não sei falar não nem para mim mesmo. Não quero me arrepender. Escolho então deixar os registros de todos os momentos, caso seja possível.

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Bom Dia a Quem Ama

Bom dia de quem a ama...

...e por amar você tanto, sempre, quando estou ao seu lado, vivo como fosse a primeira ou última vez, e toco em seus braços e seus lábios como fossem o primeiro e último toques, e sonho com sua alma tão possivelmente livre que a existência da eternidade é o que me resta.

Bom dia ao carinho que romantiza e harmoniza o estar junto sem sentir onde e quando. Não ao tempo e não ao lugar.

Bom dia à minha flor que me resgatou e que pode me amar, mas será pelo pouco que sou, pelo pouco que tenho para lhe dar. Eu que quero ao mesmo tempo tudo sem deixar você perder nada.

Meu bom dia ao carinho que quero que me arrebata com aquela certeza inicial de um amor cheio de saudades a ponto de a solidão ser a melhor companheira: o mundo de quem ama sem seu amor não há pessoas, somente ausências.

Bom dia! Da mesma forma ingênua, dou bom dia como uma declaração de amor aberta. Vejo meu amor tão livre que meu coração mais alegre solitariamente fica. Ele quer que você fique. O amor aprisiona. Creia no amor e não na prisão.

Bom dia sempre de quem ama aquilo que de bom o deitar na cama traz: repouso. Do que eventualmente o despertar pode trazer de bom: um novo dia cheio de palavras de amor, sem sono, com vontade apenas de dormir ao seu lado.

Bom dia, meu amor. Não quero seduzir, nem encantar, nem cativar, nem nada! Quero que sua liberdade procure  indefinidamente a sua plena consciência. Se restar amor, ainda que ele cresça justamente pela procura no mundo não houve achamento, é edifica.

Bom dia aos amores na cama. Ambos corações se tocarão ao amanhecer. Não haverá mais saudade e nem tempo; dormir será descansar e despertar será um pequeno e profundo toque de lábios em beijos de gratidão.

Bom dia! Por que dizer apenas bom dia em duas palavra? Pelos olhos se vê a claridade e os olhos da amada.

Bom dia de quem ama e por amar com tanta inocência tem consciência do cuidado que requer todo o amor. Sim. Eu amo. Eu cuido. Eu eupero porque sou livre internamente para esperar você. Eu amo. Meu bom dia!

A vida desperdou, meu amor. Bom dia!

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Amar o que não vemos: orgulho e vaidade

Amar o que não vemos: orgulho e vaidade

Eu gosto de alguém pelo orgulho de estar ao lado e não pelo interesse. Nem beleza, nem riqueza sustentam um querer estar junto se não for pelo orgulho de estar. Confunde-se orgulho com vaidade. Ter orgulho de algo e alguém difere bastante de ser vaidoso por causa de algo ou alguém. Uma que o orgulho vem fora de nós para dentro de nós, já a vaidade sai de dentro para fora. A vaidade se preocupa com o que o mundo exterior pensa sobre nós; o orgulho preenche o mundo interior com valores pessoais e compartilhados. Eu disse valores, sem preço e etiqueta.

Toda a minha vaidade ficou presa no pouco que me resta de inteligência para tentar descomplicar o que a vaidade humana insiste em complicar. Tenho orgulho da beleza por causa do carisma e da inteligência; como tenho ojeriza à feiúra por causa da vaidade e arrogância. Uma beleza em si com essência em si me entristece porque o maior valor ali é o espelho. Sem o espelho, a vaidade da beleza não se contempla, vira pouco e, aos poucos, nada.

Podem acusar-me que não gosto de espelho e não sou vaidoso porque até para estes gostos e sentimentos há um mínimo necessário, né? Sou feio. Como a feiúra adapta-se ao espelho e como a vaidade acomoda-se no coração de quem só tem interior para se proteger? É verdade. Eu tenho somente meu interior.

E para deixar claro que não dou bola para a vaidade, este texto inspirou-se quando eu ouvi uma bela fala (de um poema?) do cantor Oswaldo Montenegro. Está vendo. Não tenho vaidade de falar que estas palavras não são minhas. Elas não são...

Eu amo, portanto, quem ama o orgulho que descomplica este complicado mundo cheio de vaidades. Eu amo aquilo que não vemos, mas está dentro de nós. Amo poder ser livre com vontade de estar preso. Amo ser tocado a todo momento por momentos que me fazem escrever.

"Sentindo-me Sozinho"

Postei no Facebook, por brincadeira, meio que para ver a reação dos amigos (todos somos um laboratório de pesquisa) algo como "estou sentido-me sozinho". Logo imaginei uma ou outra palavra de consolo, mas esperava qualquer palhaçada de um atento amigo ou amiga que conhece a natureza de minha solidão resumida a quase nada. E desencanei disto.

Um minuto depois, uma amiga de família que há mais de vinte anos não vejo, solidária e temerosa, não teve dúvidas e marcou vários parentes meus no post, meio que implorando ajuda para mim: "Pessoal, o Flávio está se sentindo sozinho. Ajuda-o."

Minha primeira reação foi rir. E rir alto. Em seguida bateu-me no coração a ideia de preocupação e solidariedade. Ser solidário, além de tantas coisas, é quando amparamos. Então, senti-me amparado por uma intenção não calculada nem imaginada. Esta reação de preocupação me tocou. Não cheguei a emocionar-me, mas tocou-me fortemente.

Deixei por mais um tempo o post do "sentir-se sozinho" e em seguida apaguei-o. O que era para ser uma brincadeira, misturada com provocação para dúvidas e polêmicas, tornou-se uma pequenina lição de amparo. Não falo acolhimento, já que este é mais profundo. Há pessoas que se preocupam de um modo sincero. A Simone preocupou-se profundamente. E (de coração) agradeci e quase me desculpei. Ela sentiu temor e eu um pouco de vergonha.

Não importa. Sempre há quem esteja lá para um pouco de açúcar no café amargo. Geralmente das pessoas menos inesperadas. Curiosamente, estava refletindo hoje com minha irmã sobre o altruísmo e como este sentimento me persegue desde criança. Refletia seriamente.

Creio no amor da solidariedade, do acolhimento, do amaparo. Precisamos de tão pouco para realmente ajudar. Mas este tão pouco vem com tanta dificuldade e há quem passe toda uma existência sem o mínimo do pouco da maturidade para enxergar e ajudar. Fato é que não dá para brincar com o que não se sente, porque há pessoas que sentem por nós aquela preocupação. A Simone foi prontamente uma destas! Agora sim: "Obrigado pela sincera preocupação!"

domingo, 24 de maio de 2015

Silêncio

Sabe a que categoria pertence o silêncio? Àquela de que tudo o que você falar irá causar um fastio e cansaço que definitivamente você não quer.

Para quem escreve é numa tortura alucinante.

Aliás, não tenho interesse algum em pesquisar vidas de quem me cansa ou cansou. Algo bem pessoal.

Por outro lado, há leitores que buscam nas palavras de quem escreve sentidos de sofrimento que não existe, de saudade que não existe, de solidão inexistente.

O sonho do escritor é atingir vidas e corações com suas palavras escritas. A sua intimidade, ele a compartilha na intimidade com alguém - se ele sentir que vale à pena.

Já escrivi sobre o silêncio. Já escrevi sobre minhas impressões e experiências. Mas experiência verdadeira é aquela que se convive. Seja no cheiro, no toque, o ouvir e ver e degustar. Um beijo bem dado é um tipo de degustação. Sobre beijo? Já escrevi também.

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Coxinha e pão duro

Engraçado. Você arrisca comer um salgado pela manhã. Mas aí você sente claramente que o salgado é velho, o atendimento é mal humorado, o ambiente é pesado. Você insiste porque crê que suas impressões e intuições também se equivocam. Prova o salgado e é péssimo. O mal humor de quem me atende me desmotiva a fazer cara feia e reclamar. Insisto em um pão com manteiga frio e ele vem duro. Por fim, você reflete sobre o que de positivo tiramos quando não seguimos nossa intuição daquelas mais óbvias. O positivo é que não mais voltarei aqui por capacidade nata de escolher a partir da experiência ruim, e o mais positivo ainda é fazer da experiência ruim uma crônica da vida. A vida exige expansão. Interna e externamente. A arte são os caminhos porque ela nos ajuda a libertar dos limites de nosso quintal. Quem deixa seu interior um pouco maior, fortalece aquela gravidade que atraí coisas boas. A coxinha estava ruim, o pão duro, o mau humor do dono insuportável, mas quem ganha sou eu. Pude escrever. Assim o faria se fosse a melhor coxinha, o melhor pãozinho com manteiga e o sorriso mais acolhedor de quem fica feliz porque ter escolhido-o. E assim vou espelhar o gratidão do melhor. A gravidade de coisas boas e ser algo bom. Cada qual dá o que tem, o que vale para mim de hoje e do amanhã. Boa manhã e bom dia!

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Essência do Vidro na Janela

"Eu gosto de janela. Eu gosto de vidro. Estar diante de vidro parece que você está dentro e fora ao mesmo tempo."

Foi assim. Nesta simplicidade de reflexão, ao tomar um café com uma jovem amiga, que pensei em como há literatura e vida artística nas pessoas. O vidro. Vocé está dentro e fora ao mesmo tempo. Esta sensação é para poucos.

Claro que logo disse para ela. "Vou escrever sobre isto." Ela achou que eu estava ironizando. Certamente não conhece a cabeça desajustada de quem escreve. Faço rir, mas não brinco. Faço rir porque surpreendo, o que é mais elegante do que brincar, eu acho.

Achar que é brincadeira, na maioria das vezes, soa mais negativo. Um "Você está brincando, né?" (minha amiga não falou assim!) causa até um silêncio constrangedor ou uma resposta à altura do tipo "Brincando uma pinóia!", ou irônico "Ah, sim!". Já o "Imagina!" é que a intenção certamente era manipuladora.

Pois é. Não é bacana brincar.

Fazer acontecer traz tanta positividade! Como eu sou muito falador, a certa altura, ela disse "se continuar falando isto, vou me emocinar." E os olhos dela marejaram. Quase que instantaneamente evitei seus olhos, o contato com seus olhos, porque facilita o outro controlar suas emoções. Em seguida mudei sei lá para qual assunto. Mas o fato é que acho que falava de minha pessoal experiência dos meus 18 aos 22 anos, que ja narrei em meu segundo livro.

Como disse, eu faço rir não porque brinco, mas porque surpreendo e isto agrada já que não entro no ridículo, que é o destrutivo. Gosto do inesperado, que é surpreendente. Quando positivo, claro.

A sensação de que o vidro transmite de estar dentro e fora ao mesmo tempo me surpreendeu. Fiquei feliz. Gosto de detalhes tão poéticos como estes ainda mais quando a pessoa fala tão naturalmente e sem medo. E puder fazer o que mais gosto então: falar e ouvir bastante, tendo a certeza de que as palavram chegariam e sairiam com vida com a sensação de estar dentro e fora de nós ao mesmo tempo. A essência do vidro na janela me marcou...

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Minha amiga Igui

Depoimento bonito. A moça da copa, onde trabalho, a Igui, me aborda com a gentiliza dela e uma garrafa térmica de café na mão. Puxa assunto repentinamente sobre meu livro "Contos Suaves", que ela está lendo. Tece elogios de como as histórias são fortes e emocionantes. Diz ela que lê outros livros e nem conhece os autores, mas se sente surpresabe especial em ler meu livro e saber que eu estou ao lado dela todos oa dias na escola. Literalmente, em suas palavras: "Eu leio suas histórias e nem acredito que saíram de você, professor. Nem acredito que é daquela pessoa ao meu lado que escreveu." Sabe, as pessoas entendem bem pouco da essência da vida. Se entendessem muito, se dedicariam a ser o minimamente simples e útil durante sua existência, porque quanto mais entendemos, mais a simplicidade acolhemos. É possível ter tudo neste mundo sem perder a verdade do acolhimento. Eu já tive tantos elogios dos meus livros. O da Igui, porém, será daqueles tão surpreendentes em que falarei em palestras sempre que tiver uma oportunidade. Claro. Lembrarei da garrafa térmica de café que todos os dias ela prepara para todos nós. Por isto (esquece o livro), muito obrigado.

Beijos Inesquecíveis e P.A. (pinto amigo)

Beijar. Desculpem-me os amantes do sexo, que afinal é fundamental para tudo, mas beijar é mais do que fundamental. É o verdadeiro encontro de duas almas.

Não é nem questão de romantismo ou lirismo ou qualquer outra sensação amorosa. Beijar difere em tudo do sexo. No sexo, cada parceiro busca seu espaço no corpo do outro e constrói seu próprio prazer, fechando seus olhos e absorvendo o seu momento dentro de seu próprio universo psicológico. Transa-se muito bem sem uma gota pequena de relação emocional ou troca de emoção.

Sexo pode ser apenas prazer, haja vista que as mulheres possuem a expressão P.A. para homens que só a comem, que por sinal é de péssimo gosto e mostra decadência total a que ela se submete, pouca coisa a esperar dela própria em termos de sua dignidade e seu pudor preservado, que são bons para ela mesma na construção de suas memórias.

Quem tem "Pinto Amigo" tem uma carta branca para absolutamente nada. Está no fundo perdida e dando apenas prazer ao outro sem a sua real busca de prazer, que seria no beijo. Ter um Pinto Amigo do tipo: você me paga o cinema e o jantar e depois eu deixo você me comer porque seu pinto entra em mim e nisto eu sinto meu próprio prazer. Este é o tal do Pinto Amigo.

Definitivamente, P.A. é para mulheres pequenas que não descobrem o amor em um beijo verdadeiro. O amor e a entrega estão no beijo e não no sexo.

No beijo.

O beijo é o encontro da verdadeira troca. Não há egoísmo no beijo. Um depende do outro. Não existe libido instintivo no beijo senão o encontro emocional do que a pessoa é para nós em troca de emoção. O beijo é mais sério do que o sexo. Um sexo ruim pode-se perdoar. Mas um beijo ruim é um desastre.

Não beijei muito em minha vida. No entanto, os beijos bons não saem de minha memória. E tenho comigo o melhor beijo de minha vida. Meio que sinto ainda os lábios e o momento: num bar próximo ao Masp depois de ambos tomarmos uma cachacinha: estava frio e ela ficou con os copos. Este beijo acaba sendo aquele modelo, aquele parâmetro. Beijo bom você troca e permanece. O beijo bom é a real porta para o amor. O sexo bom é somente o "estou satisfeito comigo mesmo". Beijo bom apaixona. Sexo bom gera só sexo. Beijo bom gera "quero sempre estar ao seu lado".

Não vou formular o que seria um bom beijo. Tem lá cada qual seus detalhes e preferências. Digo apenas que amar alguém e ser inesquecível passam sem dúvida pelo beijo. Aí descobrimos quase tudo da pessoa: as ansiedades e virtudes, bem como a relação dela com a gente mesmo. Já disse que é na boca de quem amamos que devemos nos encontrar. Mais sério do que fazer sexo é beijar na boca. Disto não tenho mais dúvida alguma.

Está aí uma reflexão. Para o mundo e para os enamorados. Inclusive para quem busca descobrir a essência do outro. Uma mulher vulgar que descobre no seu P. A. um consolo fechou-se no sexo. E olha que a expressão é Pinto Amigo, e não Lábio Amigo.

Eu vejo que não dá para ver como amizade o beijo cheio de encanto e paixão. Tenho saudades dos beijos que tive. Não foram muitos. Mas conto nos dedos os inesquecíveis e em particular o melhor beijo que tive até hoje. Mulher que se ama ama beijar diferentemente do P.A. Tenha, portanto, um Beijo Amigo porque Pinto Amigo é para mulheres decadentes que nunca souberam o valor de um verdadeiro beijo com amor e paixão, ou se já tiveram, elas não tem mais. Que resta? P.A.? Suas virtudes são seu essência. P.A. traduz nada. Absolutamente nada. Fico no beijo. Ele mostra sempre a que veio. Para ficar ou não. Beijo é somente troca. Se amarmos queremos mais. Do contrário, não. Já o sexo e seus P.A...

terça-feira, 19 de maio de 2015

Pessoas Vulneráveis e Frágeis

As pessoas mais vulneráveis e frágeis são aquelas que mais tem a perder nesta vida.

Vale lembra que a vida é um equíbrio que tende ao desequíbrio. Por isto, por exemplo, todos morreremos. E nada de lamentar a tendência do desequilíbrio, que se chama "entropia". Quanto mais cedo anteciparmos a consciência deste nosso equilíbrio milagroso chamado vida, em comparação à decadência certa, menos a morte nos preocupará. Caminharemos no limite entre o equíbrio e o desequilíbrio, ultrapassando até alguns limites que serão partes importantes de nossa história de vida.

Mas então? O que tem a ver pessoas vulneráveis e frágeis com equíbrio e desquilíbrio? Oras! Pessoas vulneráveis não querem arriscar tanto, quem arrisca é o outro; pessoas vulneráveis tendem a perder muito mais do que ganhar diante da vida e fazem quem está ao seu redor perder também; pessoas vulneráveis tem dentro de si o orgulho de jamais ceder porque elas buscam um equíbrio interno e para isto ela tem que fragilizar o outro também; pessoas vulneráveis crêem fielmente que sua certeza diante dos fatos é algo universal e quem cede é o outro, deixando-o menos; pessoas vulneráveis justificam todas as suas virtudes e apontam todos os erros e vícios e defeitos alheios massacrando quem as acerca. Não é fácil. Pessoas vulneráveis e frágeis. Porém...

Porém, a vulnerabilidade tem um preço. O preço da desconfiança e da solidão. No fundo toleramos as pessoas vulneráveis, mas o maior diálogo delas será possivelmente com a sua própria solidão.

Claro que a vida deve ser uma constante mudança de dentro para fora. Todos podemos e até devemos mudar. Uma pessoa frágil é vulnerável, mas pode tornar-se forte e altruísta.

Não falo da fragilidade e nem vulnerabilidade infantil. Falo daquela adulta mesmo, quando podemos ser fortes, arriscar um pouco mais, ter consciência da tendência da vida, que caminha para seu repouso e descanso.

Que são, afinal, nossas histórias? São os nosso "finais", aqueles pontos no fim para um outro começo. Eu uso, mas não gosto da palavra "recomeço". O recomeço existe, mas é mais digno falar "começo". "O começo de minha vida!", por exemplo soa menos frágil.

Pessoas frágeis devemos carregar no colo até mesmo para mostrar onde ela está em relação a nós mesmos. Nós a carregamos e não ela a nós. E não dá para colocar nas costas. Tem de ser no colo. Do contrário, pode ser um desastre para nós mesmos.

Saudades do que nunca tive

Estou com saudades do encontro que nunca tive com você, do abraço forte que nunca  dei em você e do beijo que jamais sonhei com outro alguém. Saudades do que nunca passei com você.

Saudades do futuro que nunca foi meu presente, mas que meu coração sente como um passado cheio de saudades.

Algumas pessoas despertam em nós uma saudade espiritual que ultrapassa a verdade de nunca realizar algo que emocionalmente não sai de nosso coração. Sentir saudades do que nunca tivemos é uma destas ligações espirituais.

Saudades de você que está em meu futuro apenas de modo tão distante, mas ainda assim acessível.

"Vc é um cara sensível, romântico, de bom coração, que consegue expresar os seus sentimentos da forma mais doce. E por mais absurda que seja, não devemos contrariar a uma obra , e sim deixar que os sentimentos fluem sobre ela."

"Esse texto da 'saudade do que nunca tivemos' é lindo, verdadeiro e emocionante demais!
Tocou no que tenho de mais íntimo. Obrigada! Deu até vontade de compartilhar! Quando eu parar de chorar, talvez faça isso. . Acho que de tudo o que já li seu, esse foi o mais lindo!"

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Devemos Aceitar as Circunstâncias

Há coisas sobre as quais não vale à pena procurar entender, senão aceitar em nossas vidas como a luz do sol que nos aquece ou o brilho da luz que nos lembra da existência do sol.

Nem é questão de apenas se conformar. É aceitar realmente a mudança porque não existe ser humano com ideias que não mude de tempos em tempos diante de novas circunstâncias.

Aliás, não ceder ou não mudar diante de uma nova circunstância denuncia o quanto de falta de espírito a pessoa tem. Afinal de contas, pensamento real não é aceitar. Pensamento real é se adaptar.

Devemos (creio eu) aceitar as mudanças sem querer discutir com elas. Aceitá-las sem entender, caso não seja extremamente necessária a compreensão.

Verdade que quem pensa não aceita tudo de imediato. Porém, quem pensa, aceita as mudanças justamente porque a pessoa visualiza as novas circunstâncias. Eu não mudei. As circunstâcias me mudaram. Quer ser uma mesma pessoa sempre, esteja diante de uma mesma realidade constantemente.

Sou acusado de mudar muito de posição e até de decisões. Quem mudou fui eu? Provavelmente não! Aliás, certamente não. São as circunstâncias. Não posso, por isto, manter os mesmos pensamentos e decisões diante de uma nova realidade. Eu aceito a realidade. Ao aceitar a realidade, coloco e adapto-me à minha nova posição sobre ela.

Não tenho mais inclinação e nem tempo para lutar por algo que não merece a energia que vou gastar. Nem vontade tenho para lutar por algo que deveria ser minha a felicidade pessoal. Lutar para ser feliz é uma daquelas aberrações das mais esquisitas para nossa própria existência. Não lutamos para ser felizes.

Devemos lutar por paz, por conquistas, pelas pessoas que amamos incondicionalmente, por comida, abrigo, por uma causa importante socialmente falando.

Lutar para ser feliz é guerrar e aumentar as dores, as angústias, as desorientações. Lutar para ser feliz é perder a paz e viver infeliz. Não dá para lutar por algo quando as circunstâncias mudam. Lutar por uma felicidade que não quer vir somente aumenta as suas dores.

Não mudamos na essência se temos o livre arbítrio da reflexão. Da mesma forma, devemos aceitar a nova mudança das pessoas diante de novas circunstâncias, ou seja, paz é basicamente isto. Aceitar as mudanças.

Por isto no início disse: devemos aceitar as mudanças, desde que as circunstâncias também tenham mudado. Aceitar. Se conformar. Isto faz parte de nossa paz. E aquela paz, ainda que não seja a ideia de felicidade. Paz é muito mais do que ser feliz. Não se luta para ter felicidade; se luta para viver em paz. Aceitamoa logo para ter paz. A felicidade virá nos encontros casuais entre duas pessoas que estejam em paz com elas mesmas e com o mundo.

domingo, 17 de maio de 2015

O que sobra deve ser Carência

Alguém quer você, mas você não a quer, porque você quer alguém que não quer você. Quando ambos se querem, o tempo vai demonstrando aos poucos que o que ambos queriam na época eram os momentos iniciais de cada sem os limites, manias e defeitos.

As pessoas também não vivem em função de alguém, senão por carência. Mesmo quem nos quer, e quem nós queremos, parece ser por carência. Ou carência, ou ilusão.

A próposito, minha irmã tem uma bela definição sobre o conceito de "grande amor" que as pessoas insistem em querer viver ou reviver em suas vidas. Diz ela: "Quer um grande amor? Então, tenha um filho!" Eu ri e concordei imediatamente.

No fundo, o estar e ter alguém não deixa de ser um "temporariamente fechado para balanço". As fórmulas para viver com alguém são inúmeras e a maioria desconhecida, diferentemente da fórmula para viver sozinho, que é ser o mínimo auto-suficiente consigo mesmo.

Não deixamos de querer as pessoas. As pessoas não deixam de nos querer. Eventualmente esta querença é recíproca no início, e aí vem as várias fórmulas das quais poucas ou nenhuma conhecemos. O tempo pode criar dependência, mas não a querência. O mesmo tempo que nos leva a nós mesmos. Ou então, aos filhos que temos: possivelmente nossos únicos e grandes amores. O que sobra, deve ser carência. Inclusive o que sobra de nós mesmos e nossa mínima auto-suficiência...

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Somos Solos Sagrados

"Antes de entrar em minha vida, tire as sandalhas dos seus pés porque eu sou um solo sagrado."

Longe de sermos perfeitos, eu vejo assim a vida das pessoas. Todas elas. Todos somos solos sagrados no sentido mais óbvio de ser: existimos! Nossa existência nos traz a auto-imagem de que vivemos em nós mesmos e somos algo para nós, sagrado ou não.

Verdade que há quem não suporte ter a si mesmo como sagrado em algum momento da vida e abandone este mundo com as próprias mãos. Quem fica, ao mesmo tempo, fica perplexo e com dúvidas angustiosas das razões existencias que levaram a pessoa a dar fim de si mesma.

Para mim, todos solos sãoi sagrados. Todos devemos entrar com os pés descalços e limpos e puros na vida de quem quer que seja. Não sabemos o tanto de amor que as pessoas estão precisando e nem o tanto de cuidado e atenção. Neste solo sagrado, talvez, ela não veja nada senão guerras e dores, e cada centímetro profanado pelos conflitos humanos.

Tive dezenas de experiências nos últimos meses em que as pessoas somente queriam um pouco de atenção para se sentirem erguidas para a vida e para o mundo. Uma atenção sincera. Depois, aos poucos, elas conseguiam caminhar com seus próprios pés e tinham uma pequena devoção sobre si mesmas.

Todos precisamos de um cuidado mínimo de alguém para que paremos de tremer o coração cheio de dúvidas e angústias e resgatar em nosso solo a sacralidade de nosso próprio corpo e o milagre de nossa própria existência.

Quando isto ocorre, descobrimos que não importa a idade para existirmos: há muita coisa possível para se fazer com nossas vidas, desde que (depois das incertezas) alguém nos indique que somos importantes ao recebermos um pouco de atenção e cuidado.

Quem não nos vê sagrado e macula nosso espaço:

A) Crê na sacralidade da riqueza, do dinheiro, do consumo. "Em SP, Deus é uma nota de 100" traduz muito bem onde está o coração da pessoa. Ela quer a matéria e não uma essência sagrada.

B) Ainda não tem a maturidade em seu coração e não enxerga o outro; não possui ainda estrutura psicológica madura porque empacou entre a infância e a adolescência e seu ego vê apenas sagrados sua vida e seu corpo.

C) No fundo está gritando, implorando, berrando, lacrimejando atenção, cuidado, amor e o mínimo de proteção para voltar a crer em si mesma. Ela precisa de amparo e não tem nada para dar. Nesta vida, somente compartilha algo aquele que sabe o que tem. É impossível exigir algo de alguém que não existe ainda nela.

Neste sentido, não dá para culpar ninguém de como entrar na vida das pessoas. Diariamente pessoas entram em nossas, saem ou ficam. É a vida.

O que dá para ser feito é ter paciência e aos poucos mudar nossas expectativas do outro sobre nós. Quem sempre nos trata com respeito, nos trata como solo sagrado; quem nos entra de qualquer jeito, é o que tem para nos dar.

Mudar as pessoas? Precisamos fazer como os gregos na antiguidade: lavar os pés delas com cuidado e amor, de todos que entrava em nossas casas. Isto era conhecido como a Lei da Hospitalidade. Assim, as pessoas podem aprender com nossos gestos e nosso acolhimento o amor que podem compartilhar.

Nem todos conseguem. Alguns nem querem porque neste mundo sempre foram pouco amados. Acham que machucar o outro, alivia muito a dor interna. Só que profanar nunca é bom. 

Somos solos sagrados. Tiremos as sandálias ao entrar em qualquer um destes solos.

terça-feira, 12 de maio de 2015

Sou chato: recuso-me

Somente os chatos se recusam. E eu me recuso a tantas. Sou muito chato. A recusa é a última essência que resiste na personalidade de uma pessoa, e quem tem personalidade é um chato de galocha (o que significa "galocha"?, è com "x" ou "ch"?)

Eu me recuso há anos a ler, ver, ouvir qualquer coisa relacionada a BBB; eu me recuso há anos a ler, ver, ouvir, conhecer qualquer coisa relacionada ao funk deprevado; eu me recuso há anos a ler, ver, ouvir, saber qualquer coisa relacionada a novelas. E me sinto um chato com estilo por tirar de minha vida estas coisas.

Meu bom gosto, porém, é péssimo. Um prato feito no restaurante do China na Av Brigadeiro que cheira a xixi, eu o como de boa, e assim o fiz um mês atrás porque a grana estava muito curta. Renunciei meu carro e percebi que tirar o carro de um homem é castrá-lo moral, psicológica e até sexualmente! Mesmo assim, franciscanamente, eu fiquei sem carro: nada a favor do carro, mas o homem é o que é em algumas coisas. Não reclamava. Aceitei. Não queria ser chato.

Ou seja, se sou chato com algumas coisas, sou irreconhecivelmente desencanado e easy-going para outras e até incrivelmente de péssimo bom gosto. Gosto do Shrek, o ogro chato e teimoso. Quero ainda minha Fiona. Mas tem que ser princesa!

Aprendi que há coisas boas para compartilhar. Vinho, cerveja, whisky e cachaça devem ser bebíveis; um bom gourmet no prato faz uma diferença enorme no estômago; perfumes criam memórias olfativas indeléveis e afrodisíacas; óperas e raps são as minhas trilhas sonoras preferidas de minhas vidas vulgar e intelectual; teatros e filmes não é questão de estilo: é extensão dos meus olhares no mundo. Ah, sobre ler e escrever nem vou comentar. Sou cafetão dos livros e do que eu escrevo. Um cafetão inverso: eu pago para fazer isto, mas quem manda sou eu!

Bom gosto é uma questão de chatice também. Mas meu bom gosto às vezes é pessimamente chato e incrivelmente péssimo.

P. S. Inspirado sobre os comentários de um amigo sobre a novela Paraisópolis da Globo.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Entrevista

1 - Como é ser um autor independente? Quais as vantagens e desvantagens de ser um autor independente?

É sentir-se não comercial, primeiramente. Levei praticamente 15 anos para publicar meu livro. Foi um projeto que tive de fazer como algo bem pessoal mesmo. As pessoas que lêem meu livro Contos Suaves, ao menos a grande maioria, elas se surpreedem positivamente. Sinto até ser questão mesmo de tempo e uma oportunidade boa para que o livre ganhe seu espaço na sociedade que lê.

2 - Os livros são sua única fonte de renda, ou tem algum projeto paralelo a esse?

Não ganhei nada financeiramente com o livro. E dou aulas como professor. Na verdade, eu investi e nas vendas dos livros acabei equilibrando o investimento

3 - Por que optou pela autopublicação?

Pelo simples fato de iniciar um projeto literário. Meus livros não devem ter qualidade comercial e nem tanta qualidade literária (ainda que eu acredite que sim). Todos criticam a autopublicação. Eu acho um equívoco esta crítica. Todo artista tem que ter algo concreto. As primeiras edições dos livros são geralmente pequenas tiragens custeadas pelo autor ou amigos etc. Somente desta forma um artista anônimo inicia um projeto.

4 - Futuramente você pensa em conseguir apoio editorial ou prefere continuar independente?

O apoio editorial ajuda na divulgaçao. Deve ser este o caminho. Eu terminei meu terceiro livro, Miguelito: Memórias. Vou tentar uma editora. Se não der, eu autopublico novamente.

5 - Como é feito o processo de editoração? Desde o processo da escrita, revisão, até a produção de arte antes de chegar às mãos do publico?

Particularmente, eu fiz tudo com alguns profissionais. Acompanhei a capa e a editoração etc. Há muitos erros e imperfeições nos meus dois livros publicados. É o preço do amadorismo. Por outro lado, estou pensando seriamente em abrir minha própria editora. Estes dois livros me deram muito know-how.

6 - Quais os meios e canais que você utiliza para divulgar seu trabalho?

Somente Facebook e Youtube e alguns entrevistas em mídias alternativas. Mais nenhum outro.

7 - Como é feita a venda das suas obras?

Fiz pelo PagSeguro, online em 90% dos casos.

8 - Já utilizou um Book trailer como meio de divulgação? Se sim, qual foi o resultado alcançado?

Não sei o que é Book Trailer. Não fiz.

Assim que possível, me respondam as perguntas, por gentileza. E mais uma vez, obrigado de verdade pela ajuda!

Abraços, Lucas Bispo

ESCONDIDOS NO LIVRO!

Pessoas Fortes e Fracas

A vida é contraditória. As pessoas são contraditórias. O medo tanto empurra para lugares seguros e confortáveis quanto desvia de lugares potencialmente enriquecedores e desafiadores.

O medo tem forte vínculo com a certeza. Porque o medo é ao mesmo tempo a falta de certeza com a certeza de que não se pode fazer parte e fugir. O medo é fuga. O medo é não querer fazer parte.

A contradição mora entre o medo e a vontade. Espíritos fortes e inovadores tem a vontade acima do medo e buscam realizar suas ideias no mundo real e lutam e fazem; espíritos titubeantes e indecisos satisfazem-se com apenas a realização da vontade como ideia dentro de suas cabeças e aí ficam as vontades e as ideias.

Seria mais fácil dar exemplos a filosofar como eu faço. Convenhamos, porém, que os exemplos são aquelas ideias que nos satisfazem sem desafios para entender. Exemplos são bons para crianças e para adolescentes que buscam modelos; exemplos são bons para as multidões que não pensam individualmente; exemplos são bons para quem tem problemas cognitivos e dificuldade de pensar.

Já o desafio de ler e reler até entender, este pertence àqueles espíritos fortes que desejam, tem vontades e realizam. Ontem uma querida jovem fez isto: leu e releu até o pensamento dela reconstruir algo real. Pessoas fortes são desta natureza: fazem da sua vontade uma extensão de sua vida real: quer uma casa, vai lá e compra; quer viajar para o exterior, vai lá e viaja; quer estudar medicina, vai lá e estuda; quer ter filhos, vai lá e os tem; quer realizar o que quer que seja, vai lá e realiza! A vontade como ideia é apenas o início para pessoas fortes. É assim até morrer porque entende que esperar somente é uma pequena morte em vida.

Muitas vezes - para finalizar - sou pego realizando as vontades das pessoas, deixando-as apenas nas ideias. Percebi que, ao mesmo tempo, faço um bem e um mal a elas. O bem vem de a pessoa sentir-se suficientemente feliz com apenas a ideia realizada; o mal vem de ela não buscar realizar a ideia em sua cabeça na sua vida concreta e real. Não vou dar exemplos. O fato é que tem que ir e fazer. Uma ideia na cabeça é a manisfestação de que estamos vivos; realizar a ideia na cabeça é a manifestação de que somos fortes e que vale à pena viver.

domingo, 10 de maio de 2015

Trecho de "Miguelito: Memórias"

O Hospital Universitário Getúlio Vargas fica bem em frente do Cemitério São João Batista em Manaus. Padre Miguel deu-se por isto quando o repórter insistia na pergunta do menino.

─ Onde estão os pais do menino?

Olhar para o cemitério desestruturou os alicerces emocionais de padre Miguel. E ainda seu inconsciente ressoava as palavras “amor”e “sacrifício”. A diferença entre amor e sacrifício, padre Miguel, é nenhuma! Aquilo era tão óbvio para sua vida e nunca reparou que nasceu para amar e tinha a maioria das respostas de porque se sacrificava tanto pelas pessoas, apesar de seu notória fraqueza pela sexo feminino. Mesmo assim, todas as mulheres que passaram por sua vida foram amadas. E, como princesas, eram a mulher do padre. Julgou toda dedicação e atenção ao sentimento de culpa que tinha em seu coração. Não. Agora padre Miguel via claramente que não se sentia culpado. Se sacrificaria de qualquer forma. Era sua essência em fazer o que tinha que ser feito. Ajudava as pessoas como padre, como pai, como homem porque amava, e a dor sentida pelo outro compartilhava com sua própria impotência de não fazer o outro sofrer. Não queria ver ninguém sofrendo. E agora Miguelito. Nunca havia testemunhado outra coisa do garoto senão travessuras com um sorriso no rosto. Atento às circunstâncias para o momento certo de aparecer. E ser a atenção. E conseguir manter-se vivo para o mundo. Miguelito não desperdiçava nunca uma oportunidade para deixar sua presença onde quer que estivesse. E se ele agia assim, por que não inspirar-se nele? Por que não agarrar as oportunidades que as relações humanas permitem e considerar o lado positivo que Miguelito tinha. O repórter insistia irritantemente:

─ Como o menino, caiu, senhor? Onde o senhor estava na hora? Cada vez mais pessoas conhecidas tanto da Mariana quanto da escola vinham para ter informações.

─ Miguelito morreu! Caiu do telhado da escola! Morreu agora à tarde. Curiosos. Pais de alunos. Professores. Os turnos da tarde e da noite foram dispensados.

sexta-feira, 8 de maio de 2015

O Tempo é Fundamental

Alguns textos de alguns sentimentos deveriam ser páginas em branco. Sem uma única palavra. Por absurdo que parecesse! Na página em branco o sentimento continuaria existindo apenas dentro do coração (como verdade interna) e se fosse a sensação de pureza, não se macularia nem com as imperfeições humanas nem com a fragilidade de quem escreve o que sente quando o que sente o deixa feliz.

A felicidade, que é a paz interior, acalma a agitação dos neurônios (para ser um pouquinho só técnico) e neurônios calmos, vida pacata, ansiedade pouca, tempo mais longo, passos bem mais lentos, os segundos batem no nosso ritmo cardíacos, respiramos vida e exalamos confiança: agradecemos.

Diminuímos praticamente todos os ritmos de nossas vidas na felicidade.

Ah, não confunda, por outro lado, felicidade com euforia. A euforia é o pico da aparente felicidade tão passageira que em seguida a morbidez vem inevitavelmente. Exato: o início feliz do futuro porre. Sim. Euforia é desânimo em potencial. Ficou eufórico, logo um desânimo mórbido vem buscar seu espaço. Euforia é um pequeno panorama de um pico forte de atenção feliz, aparentamente infinito, porque ilusório. Mas, como tudo na vida, a própria euforia tem sua importância. Com ela fazemos coisas que não faríamos somente felizes. Mas se sabendo que apenas estamos eufóricos, que mal tem?

Basicamente o mal na vida vem de fora para dentro. O mundo nos traz problemas, a não ser que você leve os problemas para o mundo, o que faz da pessoa o mundo. Por isto, existe maldade de dentro para fora. Infinitos problemas internos em que a pessoa não tem controle e deixa quem convive com ela em estado de alerta e atenção. Bebida. Drogas. Vícios. Intolerança. Preconceito.

Alerta e atenção são o risco, a defesa, o medo, a fuga, o contra-ataque, a proteção, enfim, a guerra. Reparem que na guerra, a euforia deve permanecer; não a euforia de felicidade, mas aquele pico de aceleração para preservar a própria vida ou a vida de quem amamos. Por isto a maioria dos males deste mundo está fora de nós, se não despertamos no outro o sentido de alerta e atenção. Devemos ir com nossa paz à guerra. Nossa paz é a paciência sobretudo.

Queremos paz. Queremos desacelerar. Queremos que o nosso ritmo de felicidade seja a paz interna. Queremos que no caminho a partida e a chegada sejam tão desejadas quanto sair e chegar. No início de uma briga, queremos logo que acabe: é guerra. No início da felicidade queremos nossos olhos desacelerados para ver o trajeto com calma e queremos nossos ouvidos para sentir o arfar quase silencioso de nossa respiração tranquila. Na paz relaxamos quase tudo. O único meio de vencer uma guerra que não é nossa é buscar nossa paz interna.

Gosto de falar de mim como um pequeno exemplo da vida que passa. Sei que há tantas guerras internas em tantos corações neste exato momento. Sei que os mais completos absurdos passam nas mentes em guerra no momento em que não se sabe nem o caminho que se trilha. Passos pesados.

Ontem, tive uma troca injusta: em troca de algo, eu apaguei algo. Uma troca realmente injusta. Eu ganhei muito e dei relativamente pouco. Me senti explorando. Mas explorei o que meu coração queria. Ainda que eu tenha ganho algo tão relativamente breve. Mas daquela brevidade em que os segundos se eternizam.

Para quem o conflito, a atenção e o alerta aceleram o mundo, minha fórmula básica: A) primeiro, o tempo; somente o tempo encarrega de desacelerar as coisas; B) segundo, não alimentar o conflito; toda guerra perdura quando uma das partes não se rende; renda-se e espere; sua paz será fundamental; C) terceiro e último: Deus; ainda que seja ateu; a fé é a crença última naquilo que não existe mas que existirá ainda que nosso mundo mostre o contrário. Eu tenho fé.

Se sofrimento é dormir com os olhos da alma abertos e alertas e inquietos, ser feliz é dormir com a fé de que a alma tem asas e voa; voa lentamente, sem euforia, sem necessidade de chegar; ela aprecia o tempo porque o tempo foi aos poucos acertando tudo. Confiar em Deus sempre e crer que tudo o que precisamos para resolver nossos problemas humanos é de tempo: seja mesmo nos relacionamentos ou na coisa mais vulgar como dívidas para pagar. A paz prevelece. Mas o tempo será fundamental.

quarta-feira, 6 de maio de 2015

O cansaço de nossos avós

Onde está aquele cansaço gostoso que nossos avós sentiam? Falo do cansaço do esforço merecido ainda que sem sucesso. O cansaço extenuado. Dos músculos e mentes exaustos em que o repouso vira um prêmio tão certo que a vida entra em suspensão e hiberna profundamente dentro das sandálias.

Este cansaço de fazer nada no início de noite porque o olhar não se vê mais cansado. Nem o olhar que olha para dentro si mesmo através de todas as imagens que durante o dia nos bombardearam em uma cidade feito São Paulo.

Será que me refiro ao cansaço da velhice? Ou será nossa contemporaneidade nestas sociedades em que vivemos visivelmente cansativas, sugando desesperadamente o dinheiro do trabalho que temos e que para termos o trabalho devemos consumir cada vez mais de um modo altamente cansativo e infindável, não nos sobrando tempo para aquele cansaço absoluto do eterno descanso do início da noite?

Talvez vivemos em tantas responsabilidades? Ou talvez em nosso tempo livre nós o gastamos cansativamente em explicar aos nossos mais próximos que não somos o problema de suas vidas?

As coisas cansam. A vida em si tem seus problemas. E isto naturalmente cansa. Se amamos e não somos amados, o outro é um problema nosso que não gostaríamos muitas vezes de ter. Isto cansa. Temos já tantas poucas coisas para sermos menos ainda amando!

O cansaço do descanso pertence a uma outra realidade passada? Viver em São Paulo e querer ser o que São Paulo exige de nós cansa em demasia? O refúgio das obrigações seria o descanso de nossos avós? Pés nas sandálias. Não sei se na velhice, ou porque eram outros os tempos, mas nossos avós descansavam.

Eu vou culpar nosso tempo cruel que nos cansa a todo momento e nos rouba o descanso do verdadeiro cansaço sem preocupação. A conclusão a que chego também é que a maldade nos cansa muito. Em todos os lados e cantos vemos e convivemos com pessoas maldosas. E quem faz o mal sente prazer. O prazer é um tipo de descanso. Nosso cansaço é o descanso delas. E isto cansa demais.

E nos vemos cercados de tantos cansaços nos restando primeito a fé, depois a paciência e por fim o tempo. O cansaço dos nossos avós talvez será um dia o nosso descanso: sandálias nos pés. Mesmo porque, somente os anos nos ensinam realmente a filtrar as consequências. Saber pelo que vale ou pelo que não vale à pena se cansar.

Para pouco

Definitivamente amar é para poucos. Ser amado, por outro lado, é para a maioria. Daí quem ama sabe mais da arte de encantar do que quem é amado. Amar implica um momento de doação e até pureza com boas intenções; ser amado implica exigir da sua vida a atenção quase que total.

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Histórias e Fofocas

Chega um momento nas palavras de um escritor em que de tanto escrever sobre um mesmo assunto, o assunto não mais estimula em nada quem lê e sobretudo quem escreve. O tal tédio.

O bom de escrever histórias ou então fazer fofocas é que as pessoas são o centro da atenção e não nos cansamos tão facilmente das pessoas quando nós as olhamos como espectadores. Nós a olhamos e somos espectadores delas.

A fofoca ajuda a destruir ou ao menos tenta destruir a moral do outro porque a moral do outro é perturbadora. É feio fazer fofoca. E muito pouco para a vida. Já as histórias criadas pelos escritores colocam na boca das personagens suas falas e o autor tem o delicioso álibi de dizer que nada tem a ver com o que pensa a personagem por pior em moral que ela seja. Caputu? Lembram? E nada tem a ver mesmo. O autor só cria. Na fofoca a vítima tem de se explicar; na história, o autor somente transfere a responsabilidade.

Prefiro muito escrever histórias a fofoca. Fazer a imaginação das pessoas concluir suas próprias percepções através das personagens e daquilo que lêem é demais de estimulante. Tais pequenas marcas intimistas parecem tão pouco.

Aliás, infelizmente, a força de algo é construído pelo poder da massificação. Não tenho dúvida de que a fama traz o interesse, porque nos deixa a sensação de compartilhar aquela importância alheia. Todos precisamos de algo importante para o nosso espelho interno.

Refleti hoje à tarde e retomarei um livro que está escrito, chamado "Miguelito: Memórias". É um romance tragicômico. Muito estimulante e que vai mexer a imaginação das pessoas e arrebatá-las no final. Modéstia à parte, recebi um tamanho elogio à noite. A pessoa não é famosa. Para mim isto se chama verdade. Eu amo e relacionar com a pureza da verdade. Eu não coube em mim mesmo. E o único interesse dela sobre mim eram meus pensamentos e minhas palavras, ou seja, aquilo que de mais puro e verdadeiro tenho para dar neste momento aos leitores. Nada de fofoca. Histórias e reflexões. O que eu tenho, o que na verdade eu sempre tive...

Sonhos Catárticos

Tenho tido quase diariamente sonhos catárticos. O desta noite foi justamente eu terminando o sonho com esta reflexão: sonhos catárticos. Ao acordar, anotei antes de esquecer: "escrever sobre sonhos catárticos". E, claro, falar sobre a palavra "catarse", que para mim é daquelas definições mais importantes ao ser humano.

Meus sonhos catárticos envolvem coisas bem pessoais. Daí podemos já ver parcialmente que catarse é algo pessoal. Só que catarse é algo pessoal do ponto de vista emocional. E mais do que isto. Pode ser do ponto de vista emocional extremamente profundo mesmo!

Falando em biologia, li há muito tempo que a cada três meses nossos corpos são renovados inteiramente. Um proceso simples de células morrendo e células nascendo. Há células, como os neurônios, que ficam conosco até a morte. A maioria se renova, porém. E assim vale para as unhas, os cabelos, o que comemos (entra e sai) e o que bebemos (entra e sai). Nosso corpo biológico é todo movimento num processo de "entra▶metaboliza▶sai". Isto no físico. E o nosso emocional? Pode entrar e ficar. (Isto é um perigo!) Justamente aí surge a catarse. Esta palavra chave.

Emocionar-se. Chorar. Refletir. A catarse faz dos seres humanos isto: emoção, choro, reflexão. Mas faz de um modo relativamente seguro. Podemos nos emocionar diante de uma cena real, em que testemunhamos a dor; podemos chorar desesperos verdadeiros diante da morte; podemos refletir sobre nossa realidade achando que nunca terá fim uma dor, um amor, uma desilusão, uma derrota. Viver a realidade não é, portanto, catarse. Viver a realidade são nossas próprias experiências emocionais, o que nos fazem o que somos e seremos.

Meus sonhos catárticos vem, portanto, com a finalidade de eu sentir, refletir, expelir, colocar para fora um sentimento, ou alguns sentimentos que não mais estão no meu cotidiano. Imagine que as lágrimas de um filme são catarse, que o envolvimento emocional de um livro, de uma peça, de uma música, tudo tem este efeito catártico de mexer em nosso emocional e tirar um pouco daquilo que nos incomoda. O Pe. Fábio de Melo tem muito deste poder com suas palavras intimistas: arrancar das pessoas o emocional que perturba.

Todo artista real tem este sonho consciente ou inconsciente: traduzir sentimentos e mostrar ao outro que emocionamente ele nunca esteve e nunca estará sozinho, e é possível colocar para fora de forma poética: "amor é um querer estar preso por vontade", exemplo de Camões.

Por fim, chorar é catarse. Nas lágrimas mais se percebe este movimento. Não nas lágrimas mentirosas, nem nas infantis. O choro catártico é a certeza de que nosso emocional vai muito bem, obrigado! Eu não me iludo com quem fala "eu não choro fácil": ou a pessoa reprime, ou é mesmo insensível, portanto, se não sente emoção, também não sabe dar emoção. Só manipula os sentimentos dos outros ao seu interesse e até prazer. Isto não é bacana. Por fim mesmo, a psicanálise define assim a catarse:

"É provocar em outra pessoa, de forma controlada, o despertar de emoções contidas e omitidas, que precisam ser despertas e expostas, para a liberação de bloqueios emocionais.", uma vez que

"Catarse é um conceito derivado da língua grega, kátharsis, significando “purificação”. Seu significado original se refere ao procedimento para purificar ou higienizar indivíduos ou objetos com algum tipo de impureza."

Bom dia!

domingo, 3 de maio de 2015

Adoção

Conversando com minha irmã, após deixar meus filhos na casa deles, tematizamos algo bem delicado a respeito de um caso que ela conheceu e bem comum a muitas pessoas: adoção de crianças.

Pensamos em adoção como alguém que está recebendo um filho gerado em outro corpo. E aí geralmente paramos de refletir no assunto. O que quase ninguém percebe é que a grande maioria das adoções não são frutos da fatalidade, como a criança ficar órfã pelo falecimento dos pais e ser entregue à adoção.

No nível mais profundo da adoção, e que não enxergamos, é que para uma mulher ter a experiência de ser mãe, sem ter dentro de si a capacidade biológica, ela precisa de algo impossível na mente dela: o desapego, a falta de amor, a entrega de uma criança, por uma outra mãe, que lá ficou ao longo de nove meses sentindo as consequências de seu corpo e ao final desfazer-se de seu filho. Para uma receber o que não é seu, mas que deseja ter, a outra dá o que é seu porque não o quer.

Isto é relativamente forte. Semelhantemente a um transplante de coração que para salvar alguém por mais alguns anos há a necessidade da fatalidade da morte de alguém saudável.

Não sei até que ponto tudo isto faz parte de somente falta de amor pela pessoa que gerou, com a vontade de amar o que não consegue gerar. Verdade, porém, que a vida tem das maiores ironias, e infinitas falsas conclusões. Não dá para concluir nada e nem para somente aceitar as ironias da vida. No fundo, à certa altura de nossas vidas, o futuro, mais do que tudo, é um desdobramento de nosso real presente. Sabemos como a vida é pela própria vida e não pela imaginação. Coisa de gente velha, passada dos quarenta anos.

Mas não sai da minha cabeça: para uma mulher ter a experiência da materidade e de amar um filho, foi necessária a renúncia e a falta de amor de uma outra mãe: somente a ironia compreende; somente os anos nos fazem aceitar.

O Amor à Porta

O Amor à Porta.

O amor bateu em minha porta.

"Toc. Toc. Toc."

- Pois não? - eu atendi.

- Você me procurou?

- Verdade. Procurei.

Em seguida fiquei em silêncio. Não sabia o que falar. Fiquei buscando palavras. Toda minha história concentrou-se no tempo presente diante do Amor.

- Posso entrar? - o Amor pediu.

Fiquei com medo então. O Amor, que é dor para a maioria, geralmente me traz muitas felicidades. Por outro lado, não existe amor sem prisão. E não de minha parte. Eu nunca levo as chaves comigo. Meu espírito cresce quando eu amo. Mas me aprisionam quando me amam. Agiganto-me à altura dos meus poucos centímetros quando amo. Amar para mim seria liberdade. E o medo de me aprisionar sem chaves?

"Mas eu sempre liberto quem eu amo", sussurrei alto.

- Como disse? - replicou o Amor com olhar sério.

- Desculpe. Sussurei alto.

- O que sussurrou?

- Disse para mim mesmo que o amor para mim não é prisão. Eu sempre liberto quem eu amo. Paradoxal. Amor para mim é minha prisão.

- Por que acha que eu estou aqui à sua porta pedindo para entrar? Meu amor não cabe em qualquer coração. Coube no seu. Você me chamou e vim. Posso entrar ou não?

Com meu olhar silencioso, eu quis dizer que ele já estava lá dentro. Era manhã. No fundo, os primeiros raios do sol invadiam meu olhar. A porta aberta.

- Sou eu quem renasci e não o sol...

- Como disse? - me interrompeu novamente o Amor à porta.

- Você está aí fora, eu disse, mas para mim, você faz morada em meu coração há muito tempo.

- Eu sei.

- A porta sempre ficará aberta. Não precisa mais bater.

- Eu sei.

- Por que então você não entra de uma vez?

- Na verdade, eu não posso. Não ainda. Você quem me chamou. Perguntei se eu poderia entrar por educação. Afinal, quem ama cuida, de verdade. Eu sei que você quer cuidar de mim como eu preciso.

- Eu quero sim. Eu posso cuidar de você?

- Claro que sim!

Silenciei...

- Preciso ir.

- Eu espero você. Você me ama também?

- Claro que sim!

Encostei a porta. Por fim, despertei. Não do sonho. Eu não sonhava. Despertei para o sol que invadia parte da porta aberta. Sabe o que eu fiz então? Tirei a chave. Os trincos. E jamais a fechei. Ela está aberta. O Amor não estava mais lá. Mentalizei profundamente e pensei: "Jamais bata. Entre quando der. Estarei esperando."

sexta-feira, 1 de maio de 2015

SAL DA TERRA

"Foto" vem de luz e "grafia" de escrever. Fotógrafo é aquele que escreve com a luz. Achei linda esta definição no início do documentário Sal da Terra. A partir daí foi a vida de Sebastião Salgado e suas escritas com a luz marcou o ritmo lento de tudo para educar nosso olhar e atenção.

O olhar deve estar sensível para assisitir, porém. Um olhar mais duro com o mundo - comum em nossas vidas - descobre pouco ou nada demais do que foi mostrado no cotidiano.

Eu busquei o meio termo entre a sensibilidade e dureza emocionais. Exemplo? Não me choquei com as fotos de africanos mortos naquela situação "pele e osso" e ao mesmo tempo me indagava a razão de quem comanda o mundo ser mais psicopata e sociopata do que altruísta em função de seres humanos terninarem suas vidas naquele estado.

Eu sei um pouco a resposta. Minha questão é mais uma razão arquetípica. Quem busca poder de fato traz na sua essência a falta de amor ao outro porque os fins justificam os meios. Os meios são o que vale.

A pergunta seria: sem pensar no ser humano indivídual, por que a maioria apoia esta brutalidade de poucos seres humanos impor sua realidade má na vida de quem quer somente viver? A arte nunca nos deixa vazios...

Gosto de fotografia. Gosto de arte. Gostaria de viver em uma sociedade onde a música clássica fosse o som ambiente de uma construção de uma pequena obra e a leitura o hábito dos olhos do dia a dia.

Todos passamos a vida com a sensação de eternidade. Mas aquilo que irá nos prolongar mais um pouco será um pouco de alma que a arte possui, um pouco do espírito humano dentro da arte. Neste sentido, vale triplamente ver este documentário: o filme, a fotografia e a vida do homem Sebastião Salgado. Arquétipos são nossos modelos psicológicos inconscientes. Viver deste modelos nos une à humanidade. A sensibilidade do homem e do fotógrafo do filme é bem arquetípica. Gostei e quero assistir novamente.

Bom dia!