quinta-feira, 29 de novembro de 2018

1 Reis 8:39

REIS-1 8:39

O ano era 1995. Eu estudava na USP, zona oeste, mas morava no extremo da zona leste. Eram duas horas entre ônibus e metrô, ida-volta. Lembro-me que cruzava a Paulista na Consolação dentro do ônibus. Eu olhava pela janela e naquele momento eu chorei. Não creio que alguém reparava. Eu chorei porque não tinha vontade alguma de voltar para casa. Eu saía do meu mundo de estudos para ir ao que eu chamava "pequeno inferno" na minha vida. Morávamos apenas meu pai, meu irmão e eu. A casa um lixo. Uma imundície. Era uma mistura de todos os odores desagradáveis possíveis. Eu vinha da Cidade Universitária, cruzava a Av. Paulista, ia para o Itaim Paulista para viver tortura emocional que eu chamava "casa". Então uma cena ocorreu ao destempero e desespero de minha imaginação. Ao chegar em casa, eu iria gritar pelos nomes de meu pai e irmão. Como eu morava na frente da Av Marechal Tito, assim que eles aparecessem ao portão, eu iria atirar-me na frente de um carro, gritando "é isso o que vocês querem de mim" e morrer em paz. Assim daria fim para mim e deixaria algum remorso neles, porque eu apenas queria estudar e para isso precisava de paz, que não existia. As lágrimas no ônibus me aliviaram um pouco até em casa. Desci no ponto e fui andando lentamente. Muito lentamente. Não queria chegar em casa. Mas os caminhos têm fim. Entrei e lá vinha a sensação de mal-estar. Cruzar SP inteira para viver naquele estado precário. Eu queria ter forças para mudar, mas conhecia pouco de mim mesmo. Era fraco e frágil. Tudo sujo. Pia, chão, fogão banheiro. Uma nojeira. Casa velha. Meu pai e meu irmão dormiam quando entrei. Mais angustiado, fui para algo que eu chamava de quarto. Sentei numa poltrona velha. A vontade de sumir deste mundo, voltava à minha mente. Eu só queria paz externa para estudar. À época ainda continuava ateu - mas sem tanta convicção. Mesmo assim eu tinha uma Bíblia entre meus livros. Diante de mim a minha modesta estante. Olhei para ela e pedi alguma ajuda divida. Qualquer sinal. Voltei meus olhos para a minha estante e o primeiro livro que vi entre as dezenas foi a Bíblia. Joguei com Deus, desafiei Deus, clamei ajuda. Falei sussurrando: "me dê um sinal, uma luz, qualquer coisa para entender meu pai, meu irmão, e a minha situação neste mundo", e abri aleatoriamente a Bíblia nas seguintes palavras:

"Ouve tu então nos céus, assento da tua habitação, e perdoa, e age, e dá a cada um conforme a todos os seus caminhos, e segundo vires o seu coração, porque só tu conheces o coração de todos os filhos dos homens." 1 Reis 8:39

Diante deste tal arrebatamento, não acreditava no que lia, mas eu estava lá, lendo e não podia negar o que lia. Senti pela primeira vez Deus falando diretamente para mim e comigo. Pela segunda vez naquela noite eu chorei. Então passei a compreender melhor meu pai, meu irmão e meu destino neste mundo. Meu pai e meu irmão à época podiam não me compreender, mas eu os compreendia, e não devia julgá-los nos seus defeitos e no que eles eram para mim. Teria que viver e me superar, porque para isso serve a compreensão. Para perdoar os erros das pessoas e seus limites. Primeiro porque eu também tenho os meus erros e limites; segundo porque eu os compreendia naquilo que eles eram. Eu só não desejava para mim. Desde então - há 23 anos - estes versículos habitam em mim quando tenho que tomar uma decisão. Se eu tenho mais consciência do que a outra pessoa, não adianta julgar e acusar. Tenho que escolher o que é menos pior a todos, e geralmente quem tem mais consciência, tem que aprender a ceder. Desde o início Jesus tinha consciência de seu destino, e em momento algum ele contrariou a si e ao Pai. Aliás, somente fui converter-me a Jesus Cristo em 2005. E se me perguntam a que igreja eu frequento hoje, eu não sei responder. Sei qual Deus falou comigo naquele dia. Sei a que Cristo adorar. Sei que ninguém vai ao Pai senão por Jesus Cristo. Sei que estamos no mundo para seremos filhos de Deus, por meio de Jesus; para amar ao próximo; e que acima de tudo, Jesus quer de nós misericórdia e não sacrifício. Tive misericórdia de meu pai, meu irmão, de minhas ideias e de mim mesmo. Deus desde então vem me sustentando. Porque sempre digo "que seja feita a sua vontade". E aguardo.

Flavio Notaroberto

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Ir verbo

Ir é o verbo que nos traduz, a gente que nunca para. Ir reflete literalmente no corpo, que projeta os lábios apontando para o outro, àquela direção. Como faz a existênciq do tempo, ir é um jamais voltar. Ir é inefável, inexorável, indelével. Quando achamos que retornamos, é uma outra ida, e assim indefinidamente. As coisas do conhecimento e do espírito desafiam o tempo. As coisas do espírito desafiam as idas. Quando congelamos o tempo em uma foto, retratamos nosso pensamento em conhecimento. Vemos e não nos enganamos. Fotografamos todas as idas em nossas memórias, que revestem-se com emoções. Vamos para sentir e criar emoções, ou revisitar emoções, ou reviver emoções, ou renovar emoções. Ir é o maior fato de nossa passagem. Jamais aceito o que diminui a ação de ir, seja no tempo, seja no espaço, seja no conhecimento, seja nas emoções e memórias. Lamento que não tem a mesma inspiração, ou não a tem suficientemente para ir, e reaje à crítica destrutiva de quem vai. Não nos ocupemos. Vida interna ou externa é movimento.

Ouro Preto 3

Reflexão de Viagem 3 - Mariana

"Mariana não tem nada. Fique em Ouro Preto. Vai lá e volte no mesmo dia." Conselho à parte eu fui, com mala e tudo. Hospedei-me num hotel. Andei um pouco à noite. Tomei uma cerveja e comi um lanche maravilhoso. De fato, Mariana parece um bairro de SP, só que mais tranquilo. Existe um pequeno espaço de construções do século XVIII. Talvez haja mais coisas para fazer. Não explorei mais. Mas eu queria vir de qualquer jeito. Conheci uma pessoa bacana, que por si só valeu também. O meu maior prazer, além disso, é poder sentir as pessoas moradoras no seu dia a dia. Ainda que tudo fechado ontem e hoje, entrar em bares locais, conversar com as pessoas, comer o que todos comem, ouvir diálogos prosaicos me encantam e dizem bastante de minhas impressões. Uma amiga se impressionou comigo na quarta-feira, antes de eu viajar, "que memória, hein?", sobre algo que ela me falara em 2015. Não posso esquecer com facilidade. São minhas matérias literárias. O que as pessoas falam, como se comportam, como reagem, os diversos olhares e sorrisos e expressões. Quem escreve vive do outro. Não há muito sentido reconstruir na literatura e na arte uma expressão, um tom de voz, um olhar sem respaldo algum com alguma realidade. Um filósofo grego disse que se os homens fossem cavalos, seus deuses teríam a forma de cavalos. Assim para todas as sensações e apreensões humanas. Também dizem que os poetas eram úteis na Grécia antiga para orientar os jovens - opinião com a qual Platão discordava. Entre concordar e discordar, subimos e descemos. Se não houver tensão, não existe vida, já que a vida é uma luta em todos os sentidos. Esta viagem de volta de Mariana a Ouro Preto, dentro do ônibus comum vale pela linda jovem a dois acentos de mim, que vejo dorme um descanso gostoso, como meditação. Ela me lembra muito aquela minha amiga que citei no início, que me disse "que memória!". Sempre digo que somos o conjunto de nossas memórias e que memórias com vida são emoções arquivadas. Se não ancorarmos emoções a uma memória, nós perigosamente ficamos no limiar entre a depressão e a tristeza profunda. Depressão é ausência de emoção. Tristeza é uma emoção, assim como a alegria, euforia e a esperança. Espero que quem me leia compreenda. A vida passa...

Ouro Preto 4

Reflexão de Viagem 4 - Ouro Preto Final

Retorno

Lá atrás na foto abaixo vai ficando Ouro Preto. Eu poderia permanecer mais um dia, mas foram três, que se revelaram suficientes para novas memórias, que higienizaram minha rotina. Nesta viagem (a segunda que faço na vida!), aprendi o que é ser blogueiro. Foi uma jovem, que conheci, que me disse "tipo blogueiro" seu perfil. Vou me apropriar do conceito, porque soa menos exibicioniata. Se bem que compartilhar perspectivas culturais numa viagem não é bem um exibicionismo patético. Posso compartilhar momentos, como inspiração às pessoas, dentro do meu olhar, seja poético, seja reflexivo, seja curioso. Neste meu último dia conheci a Patrícia - uma jovem bem interessante, e conversamos sobre tudo. Ela é ricamente exótica, bibliotecária, de Manaus. Eu amei, e já falei do meu livro "Miguelito: Memórias" para ela, e li as partes que dizem respeito a Manaus, como o Morro da Liberdade, e ela me fez algumas fundamentais observações. Não sei se quero outra coisa para mim daqui para frente, senão viver minha liberdade conquistada, e mesmo assim assistida. Sou pai. Estou livre para o que eu quiser, e responsável para não abusar dela, nem de nada, nem de ninguém. Prefiro acolher lugares, coisas e pessoas. Disse à Patrícia que é impossível não levar meu olhar às impressões as minhas palavras, porque depois de uma certa intimidade (já falávamos de tudo), eu tive de descrever a primeira impressão que tive dela com a que criei em nossa despedida "reparando bem, seus contornos estão deixando você bem mais bonita." Como disse, se eu olho para algo, é impossível esquecer que posso usar as palavras para dar voz ao meu olhar. Sei que é muita pretensão e soa muito pobre. Viajar para escrever é pouco. É e não é. Viajei para agregar novas memórias e renovar emoções. Naqueles momentos quase mortos de uma viagem, eu aproveito e escrevo. Tive quatro momentos de Reflexão, e este é o último. Dois deles deitado na cama, um dentro do ônibus comum e este agora no ônibus de viagem, retornando. Tive o privilégio de estar na Praça Tiradentes no início de um evento de cervejas artesanais e vários shows. O privilégio de estar em uma cidade histórica do Período Colonial brasileiro (1532-1808) que faz muito sentido para mim nas artes, na arquitetura, na História e na Literatura. Minha filha, que estuda aqui, me disse "cuidado com os taxis". Em momento algum peguei taxi. Subi e desci morro, bem uns cinco quilômetros ida e volta, a pé. Com as pessoas, eu adorava os sotaques. Puxava assunto para ouvir com atenção. O gostoso foi em Mariana, jovens usando o "sô" como fosse o "né" paulistano. Quem é paulistano caricaturiza o "sô" mineiro, assim como os brasileiros fora de São Paulo caricaturizam o "orra meu!" paulistano. Quem é de SP capital sabe que não falamos hoje em dia este "orra meu!". Mas está valendo. É cultura, é retrato, é caricatura, é o olhar do outro sobre nós. A quem tem dúvida, eu aconselho a perder a vergonha e viajar sozinho. Uma pessoa até imaginou que eu estava em grupo. "Vim sozinho." Ela silenciou um pouco meio sem graça. Nem expliquei. Continuei tomando a minha IPA. Aliás, é muita cerveja artesanal. E se volto hoje também é porque mais um dia bebendo eu não aguentaria, nem fisicamente, nem financeiramente. Vale a pena. Sempre vale.

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Cada Pessoa

Cada pessoa que um dia amamos e que um dia deixamos de amar torna-se um luto, que para alguns quase não dura, e para outros não terá fim. Não que sejam inesquecíveis todos os amores. Ao contrário, porque amores se sobrepõem a amores. Uns vão; outros vêm. É apenas a sensação de quantos futuros amores ainda incomodarão nosso luto que machuca os sensíveis. Não bastam os do passado? Não é de todo péssimo escolher amar o tempo presente e os momentos reais ao lado da pessoa, e tão somente ao lado, sem idealizar nada, neste momento presente. Somos imperfeitos. Desejamos compreensão, sim. A compreensão nos encanta, que nos apaixona. Mas é uma idealização, que um dia irá se humanizar, e tudo que é humano morre.

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Empath

Excerpt from Dr. Judith Orloff’s book, The Empath’s Survival Guide: Life Strategies for Sensitive People 

Empath Self-Assessment

Have I’ve been labeled as “overly sensitive,” shy, or introverted?

Do I frequently get overwhelmed or anxious?

Do arguments or yelling make me ill?

Do I often feel like I don’t fit in?

Am I drained by crowds and need alone time to revive myself?

Am I over stimulated by noise, odors, or non-stop talkers?

Do I have chemical sensitivities or can’t tolerate scratchy clothes?

Do I prefer taking my own car places so I can leave early if I need to?

Do I overeat to cope with stress?

Am I afraid of becoming suffocated by intimate relationships?

Do I startle easily?

Do I react strongly to caffeine or medications?

Do I have a low pain threshold?

Do I tend to socially isolate?

Do I absorb other people’s stress, emotions, or symptoms?

Am I overwhelmed by multitasking and prefer doing one thing at a time?

Do I replenish myself in nature?

Do I need a long time to recuperate after being with difficult people or energy vampires?

Do I feel better in small cities or the country than large cities?

Do I prefer one-to-one interactions or small groups rather than large gatherings? 

Now calculate your results:

If you answered yes to one to five questions, you’re at least partially an empath.

Responding yes to six to ten questions means you have moderate empathic tendencies.

Responding yes to eleven to fifteen means you have strong empathic tendencies.

Answering yes to more than fifteen questions means that you are a full blown empath.

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

À Tatiane (poema)

À Tatiane

Seu rosto delicado,
Palavras tão macias
Dos lábios apaixonates,
Todo beijo apaixonado,
Que refaz o seu instante.
Beijar amando o mundo,
Seu mundo enamorado,
Que converte lágrimas
(Todas nossas!)
Em algo, esperança,
Da mulher que sonha,
Fascina, fascinante.
Um sonho acordado,
Bela é, luz divina.
É anjo, sim, da alvura,
Que a noite afugenta.
Sua pele, Tatiane,
Seu terno sorriso,
Arrebata o ardor,
Do amor, todo amor
Que aplaca a dor no toque,
Que amor algum supera
Seu carinho encantado,
Que faz amar corações.
Não só ame, Tatiane!
Ame e encante.
Nem o bruto se converte
Quando raia o dia,
Que alegra as horas andantes.
Ame a todos, Tatiane,
Que amor nos contagia.
Se não amar com alegria,
Ame os versos que inspiram
O ardor sempre vibrante.
Inspiração maior procuro,
E tento refazer o desfeito,
Olhando aqui em Ouro Preto,
Vêm-me à mente, eles,
Os inconfidentes, e suas musas.
Por instante, converto-me,
Num pobre poeta errante.
Marília, de Dirceu, bela e pura,
Tatiane, dos meus versos,
Linda e delicada amada.
Ainda mais outros tantos,
Versos surgem e surgirão,
Porque nada racional aguenta,
O repente, inspiração.
Se hoje sou pego por hora,
Logo serei acalentado,
E aquilo que crio agora,
Entregue será ao passado.
Tenha este esforço meu,
Um desejo de ir além.
Que vejo de amor em você,
Aos olhos de quem crê,
Mais do que um poema,
Quero ir na essência
A par do que lhe traduz,
Bela, linda, amor, minha luz.

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Existe a Filosofia

Existe o todo e existem as partes. Existe o particular e existe o universal. Existe a porção e existe o globalizante. Tenho lido sobre o universal. Na verdade, sobre a História Universal. De imediato, não creio em universalização, não creio em uma teoria que unifica, engloba e totaliza o conhecimento. Para mim, a filosofia parou em Kant, e depois dele aprendemos a pensar como Kant. Inclusive quem nunca leu Kant. Fui entender Kant apenas em 2016. Olha que eu já tentei inúmeras vezes compreendê-lo ao longo de vinte anos. Kant me ensinou didaticamente que duas coisinhas parecem ser realmente universais e ao mesmo tempo incompreensíveis para a mente humana, e para quem gosta de pensar - assim como eu - na mente humana: o Tempo e o Espaço. Kant escreveu que somos simultâneos no espaço. Eu, você, o mar que é minha paisagem agora, o sol que esquenta a areia da praia, e algo mais distante no universo que a imaginação humana não sabe onde é. No tempo, somos sucedâneos, consecutivos, somos constantes, porque o tempo é indelével. No tempo nossos eternos no passado e no futuro - existindo ou não existindo a mente humana. O tempo não existe senão em si e o espaço existe para nós, sol, planetas, buraco negro, partículas, que existimos, ou para o que virá a existir e para o tempo. Sem o espaço, o tempo interrompe seu percurso. Foi Einstein que disse. Nossa história é uma sucessão de acontecimentos que nos marcam a alma, assim como outro acontecimentos que são esquecidos. Chamamos de tempo de vida nossas experiências marcantes. Inclusive os traumas, que roubam malignamente nosso tempo. Tiramos de nossas experiências as dores e as alegrias, que também são relativas. Existem sentimentos inesquecíveis, porque habitam a memória de cada um de nós. Tenho os meus. Todos os temos. Por mais que exista algo de universal nos sentimentos humanos, eu observo o mar e reflito. Digo para mim mesmo que jamais uma onda no mundo será igual à outra - não importa quão eterno tem sido o movimento, não importa quão eterno será seu movimento. Ela vem, quebra, sonoriza algo, recua, semelhante a qualquer vida humana, que eu creio nunca haverá uma igual, ou semelhante à outra - ainda que compartilhemos o mesmo tempo, o mesmo espaço, os mesmos sentimentos. Jamais saberemos o que de fato o outro é. Quem me ensinou pensar assim foi Kant. Nossa razão possui um limite. Assim vejo também a História Universal da Humanidade. O Universal é o que tem de mais diversificado em qualquer teoria totalizadora. Sinto os estudos do cérebro humano - a atual neurociência - mais especificamente a parte dele chamada "neurônios-espelho" algo futuro do que explicará po rque pensamos, por que refletimos, por que somos introspectivos, por que olhamos para nós mesmos e por que conseguimos olhar para o outro dentro de nós mesmos. Sou mero curioso sem ter vontade de passar meu tempo em festas, ebriedade e frivolidade, porque gosta de aprender e quanto mais aprende, mais relativiza suas certezas e mais se entraga à poesia e à arte poética. Às vezes arrisco uma reflexão cujo modesto objetivo é tentar organizar as leituras sobre um tema tão específico como a História Universal da Humanidade, para qualificar-me no mestrado sobre o romance Esaú e Jacó, de Machado de Assis. Ironias à parte, um celular como esse em minhas mãos é a máquina de escrever na escrivaninha do passado, onde nossos intelectuais se intelectualizavam. Com o celular, podemos nos permitir arriscar reflexões e poesia em qualquer canto, inclusive na praia, uma praia tão linda como essa. Eu não enumero quantas ondas já se quebraram enquanto escrevo, mas as ondas não me deixam esquecer-lhes. Além de serem minha 9° Sinfonia de Beethoven, elas são a diversão de muita gente, e cada qual na sua fruição apaixonada, ou simples frivolidade.

sábado, 10 de novembro de 2018

Não Comece - poema

Não Comece

Não comece.
(Fosse para defini-la),
Não comece.
Ela quer que comece,
Sem fim.

For para começar,
For para brincar
Sem graça alguma,
Não comece.
Brincar de iludir,
Não comece.
For para jogar
Dados soltos,
Sem jogo,
Não comece.
For para ir sem nunca,
Nunca ficar,
Por que
Começar?
Não comece!
For para sonhar,
Que fere sem necessitar,
Por quê?

Não, comece
Agora a deixar p'ra lá.
Comece sem olhar,
Comece sem tocar,
Comece sem falar,
Comece sem envolver,
Comece sem encantar,
Comece sem começar.

Ela quer que comece
Um sorriso sincero
De sorrir acolhedor.
Acolher dor?
"Pode ser", ela pensa.
Mas não se fala em dor.
Ela dança,
E quem dança nunca,
Nunca para,
Porque a alma dança
Para sempre,
Anestesia dores,
Que começaram um dia.
Ela dança no olhar,
Nos lábios, sempre.
For para começar,
Vá com ela,
Somente, e quase apenas
Ir com ela no ritmo
Que não ilude, não confunde,
Nem aprisiona.

Não comece a tirar,
A tirar a liberdade,
Que nunca ama.
É forte começar.
Nem comece o que
Não vai durar.
Nem comece a amar.

quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Ao amor entregue sua alma

Ao amor entregue sua alma

Todos precisamos amar alguém.
Não é uma lei.
Mas como fosse.
Saber onde estamos e para onde vamos, sozinhos, sem amor, é um sonho a poucos.
Nem sei se possível a um coração que já amou algum vez.
Mas permiti.
Sem querer, vi-me estranho diante dela.
Desconfiei.
Seu jeito foi aparecendo tão calmamente, que fui permindo.
Permiti até ver-me no estado de quem sofre sem morbidez e melancolia.
Paixão apenas.
Nenhum sofrimento agrada.
Ainda mais amar, desejar, querer, sem ter.
A mente imagina e a imaginação real machuca.
O desejo de realizar não agrada, se há muitas dúvidas e incertezas.
A exclusiva certeza é não saber o que fazer, senão amar o mais belo possível.
São coisas do amor solitário, que constrange admitir, e mais ainda declarar ao mundo, sem que o mundo peça satisfação.
Sou meu mundo, ou melhor, sou neste exato momento dois mundos.
Aquele que ama e aquele que reflete quem ama.
Meu amor está nela e em minha cabeça.
Minha reflexão está em minha cabeça pensando nela.
Parece exagero demasiado, porque a poesia tem um quê hiperbólico.
Nenhum amor vale a indiferença psicopata.
Se escrevo, digo o que sinto.
Se exagero, afirmo que não minto.
Me vem à mente agora outro poeta: "para que mentir?"
Viajo em um lindo sentimento, cheio de sensações incríveis, e se ao menos desperta-me algo criativo, rendo-me a ele.
E se ela duvida de minha capacidade de amar, eu silencio.
Como um filho, na verdade, todo amor pertence a quem ama, e nele entrega sua alma.

Produto

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    - Estou com uma coceira nos dedos dos pés, Rogério. Horrível. Não para. E sempre tive.
    Rogério pediu para Débora tirar o sapato. Ela relutou.
    - Imagina. É feio de ver. Uma vergonha só.
    Ele insistiu. Colocou o pé direito descalço no chão. Ele pediu para ver mais de perto. Ela já não deu caso. Ele abaixou.
    - Já sei. Eu conheço uma pomada excelente. É cara, mas resolve.
    -  Cara quanto?
    - Não se preocupe. Eu vou comprar para você. Um presente.
    - Mas por que este presente?
    Ele se levantou. Pegou o paletó pendurado na cadeira. Era um escritório de advocacia. Ele era novo lá. Débora, um ano mais velha, quase senior, apesar dos 28 anos. Antes de sair pela porta, parou uns três segundos. Voltou os olhos para ela, que sorria pelo hilário dele.
    - Porque eu cuido de quem eu amo, disse visivelmente com os olhos marejados e a fala embargada.
    E saiu. Ela silenciou, séria e perdida. Parecia verdade. De fato. Quem ama cuida, em todos os momentos. Ela, a partir de então, permitiu ser cuidada, e, de sua parte, cuidou de Rogério.

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

À Sheila

À Sheila

Sentir nossa noite ao lado dela.
Contar as estrelas e seus segredos.
Sentir seu silêncio e o silêncio delas,
Meu peito ardente morrendo de medo
Da escuridão que a vida nos lega,
Do incerto segundo que vem e que passa,
Passar uma noite, eterna e sem pressa,
Amar as estrelas que se lembram dela.
Mãos apertadas, olhares perdidos,
Na areia do mar, calmo e espelhado,
Passar uma noite, fazer os pedidos -
Estrelas cadentes, no céu estrelado.
Não contar o giro infindo da noite,
Meu sonho real na imaginação,
Querer namorá-la, dizer boa-noite
Com beijo amado cheio de paixão.
Passar noite e dia ao lado dela,
Fazê-la sorrir, acolher sua dor,
Meu sonho que vive sonha com ela,
Do céu estrelado, da Estrela do Amor.








domingo, 4 de novembro de 2018

Fosse por mim


Deveria estar mais agradecido, e sou muito grato. Fosse apenas por mim, olharia com muito mais amor os pequenos detalhes que formam a minha existência. Fosse somente por mim, honraria muito mais toda doçura que encontro na humildade, pureza e inocência. Fosse por mim, curvaria minha alma e inclinaria meu corpo, tocando com meus lábios no solo sagrado que, afinal, tudo que existe abriga. (Engana-se quem acha que da água viemos: o solo sustenta a água!). Fosse como fosse, faço por quem eu amo. A gratidão, o amor, a existência, a doçura, a humildade,  a inocência, a alma, o corpo, os lábios, o sagrado, o solo. Gratidão é pouco fosse por mim.


Será?


- Será amor eterno?
- E as circunstâncias serão?





sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Faz sentido







Faz sentido, ao amar alguém, desejar lembrar-se da pessoa em pequenas memórias e lembranças. A última vez em que vivi este nefasto sentimento era adolescente. Hoje são as pontas da vida se reencontrando, e o eterno retorno da capacidade de continuar amando intacta.