quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Existe Coincidência?

Há momentos que precisam urgentemente ser compartilhados. E este texto é um destes. Não por mim. Mas pela Marta. Uma jovem catarinense que mora e trabalha no Peru e vínhamos de Brasília para São Paulo no mesmo ônibus.

Para evitar muitas palavras, eu resumo. Ela leu uma das histórias de meu livro Contos Suaves. Mais precisamente a primeira. À certa altura, eu a testemunhei chorando copiosamente. De fato, esta história rasga a alma; mergulha no inconsciente da maioria; o ser humano chora muito. O nome do conto é 'Lágrimas'. Então chorar ao lê-la faz parte, né? E agora o inusitado.

Exatamente hoje, ela me disse em lágrimas, que exatamente no dia de hoje, 31/12, a sua mãe faleceu há três anos. Repito. Exatamente no dia de hoje. E eu não creio em coincidência. Não mesmo. De jeito algum. Penso espiritualmente mesmo. Foi um choro catártico, de saudade, de memória, de lembranças, de presença, de conforto até, de agradecimento... E tenho certeza. Boas lembranças.

Combinamos depois que, por ela ser acadêmica, faz mestrado lá no Peru, vai traduzir para mim o livro Contos Suaves inteiro para o espanhol. Claro que vou pagar para ela. O mais importante, porém, é que ela colocará o coração em cada história. Tenho certeza.

A nota final: a Marta não sabe também, mas a versão em espanhol eu dedicarei à memória sua mãe, sua amada mãe...

Não nos cansamos; temos saudades

O retorno é sempre muito mais cansativo. Não por apenas já ter ido. Não me refiro apenas a ir e voltar de um lugar e cansar-se na volta. Digo o retorno de tudo. Passa-me à cabeça inúmeros exemplos. Retornar ao banco, um exemplo. Retornar ao médico, outro. Retornar ao mercado para pegar o queijo ralado do macarrão. O clico de retorno é infinito, indefinido, inexaurível, paradoxalmente, incansável.

Evidentemente que neste exato momento pego-me pensando no retorno da Chapada dos Veadeiros e suas cachoeiras e mato e trilhas; de Brasília e a Praça dos Três Poderes, de Juiz de Fora, terra natal de minha mãe e só.

Fui e volto.

A toda ida parece óbvia a descoberta do olhar que nunca se cansa. No meu caso, seja por causa das angustiantes plantações de soja de perder o horizonte, como eu as vi, seja por causa da noite escura da ida que nos relaxa, acalma, silencia e liberta a imaginação para dentro de si mesmo. Eu não dormia durante a noite; eu vivia a noite.

Tim Maia pede em uma de suas músicas motivos para ficar. Não bem retornar. Algo semelhante. Mas ele fala assim: "me dê motivos para não ir embora". Fora o lógico que sempre deveremos retornar caso não seja uma ida definitiva, o fato de hoje ser véspera de Ano Novo abalou meu coração por não estar presente aos meus três filhos. Coisa de pai. O retorno, por isto, está  cansativo, como estaria de qualquer jeito. No entanto, acho que é esta mistura de saudade com a volta que cria a ansiedade inconsciente da demora e do cansaço exagerado. É bom colocar esta possibilidade em palavras. Alivia o coração.

Quem é pai e mãe deve se conformar que eles, os filhos, não terão lá tanta saudade assim se fosse o oposto. Eles lá e os pais aqui. E mesmo se tivessem entre voltar ou ficar, eu berraria para um deles:

"Tá louco! Vá curtir! Ano Novo tem todo ano! Vá viajar porque quando retornar vai sentir-se muito cansado e ficará feliz."

Eu estou feliz. Fui com contentamento e volto com muito conteúdo. Deve ser isto então. A vida de ir de um jeito e voltar mais e maior do que quando saiu.

Pensando melhor agora, eu não estou cansado no retorno. Estou com saudades. Oxi! Será então a mesma coisa? Vou pensar sobre isto. Não nos cansamos das pessoas; temos saudades do que elas eram. Será? Nossa! Forte! Realmente muito forte isto. Vou refletir mais profundamente: não nos cansamos das pessoas; temos saudades do que elas eram...

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Cachoeira Almécegas - A Pequenez do Detalhe

Jantinha. É assim. Um espeto daqueles que se compra na rua mesmo, arroz branco, uma farofa com carne seca (paçoca), um pouco de vinagrete. E se come na rua mesmo. Lá em Brasília havia a jantinha. Achei estranho. Não comi. Só o espeto.

Esta será, por hora, a minha última boa memória de Alto Paraíso-GO, para conhecer a Chapada dos Veadeiros. Foi ontem à noite a jantinha. E horas antes, início da tarde, fui conhecer a lindíssima Cachoeira Almécegas. Vislimbre. Encanto. Sedução. Sensação de ser pequeno e pouco explorado interiormente. Por mais panorâmica que seja a vista do nosso olhar nesta imensidão (foto), eram os detalhes na pequena existência de uma flor (foto) que dava a minha alegria de ser do tamanho do pequeno, da pequenez do detalhe, da pequenez de ficar satisfeito de estar lá. Molhei-me na correnteza. Lavei-me por fora. Fiz parte por dentro. Por fim, permiti-me por mais de uma hora olhar sentado (foto) agradecendo o tamanho de minha mente diante do sol que se colocava lá atrás da montanha. Morro da Baleia.

Bom mesmo encontra a alma na realidade de sentir no mesmo dia o prazer da jantinha que acabei de descrever no início, naquela vida cotidiana do povo de Alto Paraíso, sem brilho, sem encanto, sem mistério, à altura da mesa e cadeira e prato que me serviram; e sentir-se uma coisa pequena diante da cachoeira (foto), pôr-do-sol (foto) e céu (foto). A foto é um processo consciente de memória preservada por um lado, e por outro, inconsciente para diminuir o que é maior do que nós (maldade!).

Curta as fotos. Sinta-se agora grande diante delas. Um dia (ou já aconteceu) sentir-se-á pequeno como me senti e aprenderemoa algo: este deve ser nosso lugar. A nossa pequenez diante do mundo da natureza será nossa felicidade e, possivelmente, a nossa salvação. 



segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Q.I. 171

Hoje chove. Pouco. Mas chove. Um frio agradável bate nas pernas. Não existe cachoeira que resiste às águas. O chão e solo úmido me lembra São Paulo. O trovão me lembra dia à tarde em São Paulo. E ao fim viajar sempre é um retorno ao que mais amamos. Vamos, encontramos, nos envolvemos, conhecemos a cultura, a comida, as facilidades, as dificuldades, aprendemos quem somos diante do estranho, e aprendemos que os estranhos podem ser mais estranhos que um personagem de livro, e agradecemos o início do fim. Começou a chover. Indica que está na hora de ir, encantado com os três dias... Caramba, se eu descrever muito minha percepção daqui, eu vou deixá-la muito feia do que a beleza exige.

O barato são as respostas para as perguntas que você nem fez. Conheci uma jovem, 25 anos, com dislexia, déficit de atenção, hiperatividade e com QI 171. Eu tenho certeza de que ouvi errado. Mas ouvi isto. Tem também um cara que conheci numa pracinha de 21 anos. Ele interpreta, toca um bom violão compõe muito, letras impressionantes. Eu já tinha tomado umas cachacinhas e mesmo assim não perco meu poder de julgar. Eu disse. "Você vai fazer sucesso, meu velho!" Mas quem dá atenção a um senhor cheio de biritas na cuca. O detalhe. Ele e a namorada vieram de MG e estavam com 20,00 reais no bolso. Eu não acreditei. Dei 100,00 do pouco que eu tinha. Mas ai "Deus em São Paulo é uma nota de 100", manda o Mano Brown. Como meu Deus é o vivo, eterno, senhor de tudo, eles se espantaram com meu gesto. Já disse. O plano de vida da maioria das pessoas é o superficial. Eu já fui superficial. Em várias ocasiões me entrego à futilidade e à superficialidade. Deixar-se bobo. Deixar as pessoas bêbadas em suas próprias conclusões.

Ah, concluo sempre. E o dia está nublado agora, a chuva logo volta, parece interior de São Paulo, aquele um tanto aborrecido e fastidioso. Amei esta breve experiência literal de, aos 40, no meio de minha vida, poder permitir-me solto interiormente. E conheci. Mas conheci gente. Nenhuma me completava porque todas eram parciais. Aliás, todos somos parciais.

domingo, 28 de dezembro de 2014

Um dia, um sonho

Quem se cansa? E quando se sabe que o cansaço atingiu o real limite a ponto de virar sofrimento? Não é difícil não saber. Não. Não precisamos de sofrimento. Ao menos não precisamos sofrer se temos consciência de que ele já não deveria fazer parte de nossas vidas. Isto sem dúvida assusta. Também corroi por dentro.

Ai, meu Deus! Corroer por fora é o metrô lotado, os alagamentos e congestionamento no trânsito, a falta de um banho, a mancha de cândida na calça, o suco de abacaxi aguado e catchup borrando a camisa amarela.

Já corroer por dentro sintetiza o sofrimento silencioso quando existem outras opções e temos esta consciência, como disse. Ou ao menos existe uma única outra opção para não sofrer. Ficamos, no entanto, em silêncio dando adeus ao cansaço porque há muito ele virou sofrimento. Não queremos sofrer. Não somos o outro, mas podemos ser o outro que diz: não sofra. Começou a ficar cansado por dentro, corroendo por dentro, admita e fale. Viva.

Hoje e nestes últimos dias, meu cansaço particular e íntimo tem sido o físico. As pernas, os músculos, a pele ardida do sol, os olhos fatigados e vivos de coisas agradáveis. A agradável insegurança do que fazer daqui a pouco, no dia seguinte, porque não quis planejar o que fazer. O coração em paz, mesmo assim.

Hoje eu disse a um dos anônimos desta minha vida temporariamente errante que eu preciso de modelos para sempre continuar, meus exemplos, e, por isto, gosto, sinto obrigação de ser modelo para as vidas que precisam de modelo para ter opções de não fazer o cansaço virar sofrimento. Compreende?

Escrevo. Compartilho. E minha recompensa virá quando um anônimo qualquer passará a ter coragem de pôr em prática o que o sofrimento oprimiu demasiadamente. Primeiro cansou; depois se conformou; por fim sofre em silêncio e se apaga para a vida. Não.

Um dia, um sonho. Tem nome de livro. Tem nome de filme. Quer apenas dizer que realize seu sonho um dia. Amanhã. Comece hoje. Daqui a pouco. Antes que sofra e o pior fará muitas pessoas sofrerem. Sem saber. Sabendo das consciências diversas. Sabendo das opções.

sábado, 27 de dezembro de 2014

Não ser contrariado

Contrariedade. Contrário. Sem ser arrogante, continue lendo este pequeno texto. Creio que ele será útil. Pode ser que ele ajude você a perceber a ausência do contrário como paz. A paz verdadeira ao ser humano quando o contrário não perturba mais.

Indo para a Cachoeira Loquinhas aqui na Chapada dos Veadeiros, fui a pé. Ninguém vai a pé. Não vi ninguém a pé. Eu fui e voltei a pé. Bem seus 3km. Para ir e para voltar. Fui e sentia a terra batida nos tênis velhos, o calor no chapéu pouco usado e algo pouco comum que era o som ambiente de quem anda sozinho na natureza. O detalhe não era a natureza. O detalhe era sozinho, querer estar sozinho e de modo egoísta sentir tudo aquilo como apenas para mim. Fui egoísta e agradecia ir...

Em seguida me ocorreu a contrariedade. O fato de em momento algum sentir-me contrariado por ninguém. Do tipo: "é longe", "demora", "que calor!", "to com sede", "deveria ir de carro", "dor nas pernas" e por aí vai. E não ser contrariado é estar só. Claro que estar só não é a solidão. Não sou contra a solidão. Pelo contrário. Já disse que a solidão não se vence cercado por pessoas. É algo mesmo bem pessoal, dentro de nossa mente e quanto menos pessoas e mais sensações, a solidão se dissipa no ar. Ah, e a solidão amadurece, reconhece, fortalece, engrandece, nos faz ser quem realmente somos.

E indo à cachoeira sozinho, ocorreu-me que algumas vezes em nossas vidas, precisamos não ser contrariados. Não é bacana sempre um outro para nos trazer o porém. O insight foi forte. Não havia ninguém naquele momento para eu me preocupar; ninguém para julgar; ninguém para desfocar o que meu eu queria; ninguém para me contrariar e logo a solidão com a natureza era a minha harmonia e minha felicidade. Agradeci. A cada suor e aos poucos goles de água de minha garrafinha plástica.

Tirei fotos. Gravei audio. Entrei na água gelada que me tirou o fôlego, literalmente por alguns segundos. E não brinco. Eu brinco para ensinar e não para fazer rir. Está ai como é bom sentir-se solto. Nem todos amam ou sentem esta vontade. Vontade de estar só. Parece mais fraqueza de derrotados do que fortaleza de quem é autônomo. Mas aí é julgamento, né? Julgar é bom. Mas julgar é uma mão dupla.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Os Cantos de Brasília

Brasília, nossa capital federal, não possui um canto aparente algum. E ela não encanta. Ela possui o Governo. Governo de nosso Brasil. E vislumbrar de fora e de longe os segredos e os secretos caminhos de tudo o que acontece por aquelas janelas deveria ser uma experiência revoltante para a fome de justiça. Revoltante não. Humilhante, De ser humilhado. Sentir-se refém do oculto tão escandalosamente desmascarado a todo momento. Mas está aí um sonho que sempre tive, meio masoquista. Ir até a praça dos 3 poderes: Legislativo, Judiciário e Executivo. Fui, Passei na frente de cada um deles. Tirei fotos. Ao logo desta caminhada, tantas imagens passaram em minha cabeça, desde o impeachment do Collor em 1992 - época em que efetivamente comecei a me interessar por política até as denúncias do Mensalão e agora o Petrolão.

Daqui de Brasília, daqui a pouco, vou para Alto Paraíso-GO, conhecer aquela natureza, a Chapada do Veadeiros, andar pelas suas trilhas e, claro, sempre que possível, falar com as suas pessoas. A verdade também é que as pessoas querem nos receber como turistas porque eles, os turistas, consomem e pagam; eles gastam e eles fazem a economia local girar e existir dentro daquele ciclo anterior, do post anterior que falei. Mas insistirei como visita.


A reflexão que fica, para terminar, é a do cansaço com sabor de vida na boca faminta começando a agradecer o ano e o início do ano e a oportunidade de ir, vir, chegar, partir. Viver, porque já vivi o que um homem deveria e deve.

E, agora sim para terminar, escrever e ler é um processo necessariamente simultâneo. Já ler é um processo de reconhecimento de que o escritor existiu. E isto implica agradecimento. O jovem da Lan House de onde escrevo e me ajudou muito aqui agora na rodoviária de Brasília foi presenteado com um exemplar de Contos Suaves. E as trocas também fazem parte. Quero na verdade sentir a natureza da Chapada dos Veadeiros e lá descobrir o bucólico. Sentir e deixar fluir. E se possível escrever de uma forma que as palavras saltem orvalhadas, esverdeadas, acachoeiradas, todas revestidas da bela e boa natureza.

Juiz de Fora - MG

Sua vida não é apenas consumo. Ou não deveria ser. Se sentimos prazer com o consumo, as propagandas fizeram seu  efetivo papel em nossa mente. Para a grande maioria, a vida também não deveria ser apenas pagar contas do mês. Se fazemos apenas isto, escravos. Somos. Não nos diferenciamos dos escravos, já que não nos pertencemos. Mas sim às dívidas. Cruel.

No entanto, a circulação de nossa sociedade depende disto: consumo e pagar contas. Não pare. Eu queria que você continuasse lendo. Este texto. Ele será o mais breve possível. Mas não dá para fazer refletir algo escrevendo "né?" ou "né não?", como se nos restasse a idiotice, a alienação, a resignação dos "né nãos?". A vida está nas estradas; não nos postes que as aluminam.

E hoje visitei Juiz de Fora-MG. Cidade sem atrativo turístico. Mais cariocas que mineiros. Eu sem destino para onde ir. Quis o destino, porém, que a pessoa da minha frente comprasse uma passagem para Juiz de Fora. Na Rodoviária do Tietê. Fui o próximo:

- Belo Horizonte, por favor. E na janela, por favor.

E só tinha no corredor.

- Vê se tem janela para Juiz de Fora?

E embarquei. Juiz de Fora. Terra Natal da minha mãe. Ela viveu até seus 12 anos (eu acho) lá. Ela era chamada de tico-tico sem rabo pelo pai dela. De tão levada. E hoje fui ver o endereço da casa onde morou (foto). Parece que é ainda a mesma com algumas mudanças. E fui lá no cemitério municipal encontrar o túmulo de meu avô (falecido em 1963). Não achei. Mesmo assim ficaram as histórias. Histórias que tem valor para quem é próximo. Nem vale muito lembrar algumas.

Fato também é que minha aluna Edméia, que mora em São Paulo, que estuda comigo, estava aqui porque tem parentes aqui. E nos encontramos. E posso falar. Comi o melhor pururuca de minha vida até hoje. Caseiro. Feito pelo irmão, Capitão reformado da PM. Aliás, meu avô também reformou-se com a mesma patente, do Exército.

A querida Thais, sobrinha da Adméia, psicóloga e trabalha com doenças mentais como esquizofrenia, apresentou-me de carro a UFJF e em seguida o Mirante para um panorama geral da cidade.

Há quem prefere ser turista em uma cidade; eu prefiro ser visita, pedir licença para entrar e conhecer as pessoas mais do que os lugares: além da Edméia, Thais e sua festeira e acolhedora família, conheci coveiros, um dono de boteco que me ensiou que há pessoas que não nasceram para ser ricas (o caso dele, porque desfez 3 milhões em patrimônio). E claro, a doce Helena de 8 anos, filha da Thais, inteligentíssima e de um inglês precioso (ela está numa escola bilingue).

E viajar pode ser assim. Livre. Desde que se acredite que a solidão seja uma companheira das mais afáveis e parceiras porque ela vai acompanhar você para onde for, desde que você vá sem se preocupar com a solidão.

Em resumo. Estou agora, neste momento, dentro de um ônibus indo a Brasília. Sempre tive vontade. Cada canto para onde formos será algo mais ou menos igual. Há pessoas, há comida, há cultural local, há vidas presas naquela de viver para consumir e escravas das dívidas. Há de tudo. Penso que, para finalizar, à certa altura da vida, o peso de logo deixar de existir neste planeta diminui a ansiedade de ter as coisas e fortalece a liberdade de desprender-se das amarras. Exato: queremos mais ser e livres para ir sem frescura, e crer que viver, não importa se aos 40, é sem dúvida uma viagem. Vamos ver Brasília como visita:

- Com licença, posso entrar?

Do que como turista:

- Sai da frente que quero tirar as minhas selfies das Esplanadas.

Claro que tirarei selfies.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Vontade de Chorar

Vontade de chorar. Quem não a tem? E desaba facilmente. Por mais diferentes que sejam as vontades, nem todas elas traduzem o peso, a forma, a densidade e a intensidade das lágrimas.

Oras, mesmo assim, lágrimas são emoção. Existem explicações desnecessárias. Esta o é. Chorou. Emocionou-se. E de choro, emoção, lágrimas, falemos do Natal.

Eu choro fácil. Não me contenho e choro. Claro que por tristeza quando do passamento de alguém. Meu choro mais comum, porém, tem a ver com o sacrifício e a entrega. Perco o chão e o mundo por ela. Inúmeros vídeos, reportagens, filmes, relatos, depoimentos, livros me comovem por isto. Alguém se sacrificou, não desistiu, foi até o fim e recebeu a firmeza do olhar em troca até mesmo sem gratidão. Eu choro.

Há quem chore pela ausência; há quem chore por solidão; há quem chore por insegurança; há quem chore pela distância; há choro de medo; há choro de raiva; há choro de saudades, muitas saudades; há choros ao ler ou ver ou sentir ou ouvir ou comer algo que mexe naquele canto escondido de nossa memória de alguma emoção indelável, imortal em nós. Há centenas ou milhares de razões para as lágrimas. E Jesus chorou três vezes, narra a Bíblia.

Meu choro, como disse, é a entrega para o sacrifício sem a desistência, indo até o fim. Comoção total.

1) Um filho sofre um acidente de carro. O pai sempre duro com ele. Vê o filho em cadeira de rodas. Não admite, não aceita, não desiste. Coloca-o sobre as costas e o carrega por semanas até fazê-lo andar. E ele consegue. 2) Outro filho paraplégico com deficiência mental por causa de um trauma na adolescência Quer participar de um iron-man (natação, ciclismo, corrida). O pai se prepara por anos. E faz as três provas com o filho ao lado, em boat, carrinho e apoio na frente da bicicleta. 3) o filho fica doente aos sete anos, descobre-se sem cura pela ciência, problemas neurais, sem estudos médicos sobre o assunto. O pai, sem conhecimento científico algum, estuda por anos para descobrir a cura para a doença do seu filho e assim o faz, mas as lesões no cérebro são irreversíveis e o deixará debilitado; porém, seu sacrifício curou milhares de outras crianças no futuro. São três exemplos apenas. E detalhe: jamais nenhum deles demonstrou fadiga e dores diante deles e do mundo. Sacrifícios não combinam com dores nem cansaços. Sacrifício combina com entrega, amor e jamais desistir.

Imaginem então a cena. A entrega foi plena. A esperança sempre ao lado. A certeza de que deve continuar até as últimas consequências. E entre o início e o fim, o olhar determinado. Nem com felicidade, nem a espera de agradecimento e recompensa. O que passa na cabeça é apenas a consciência absoluta da obrigação do seu dever e da sua responsabilidade simplesmente porque seu amor é infinito. Sim. Isto me faz chorar e muito.

Minhas lágrimas, portanto, são de agradecimento. Todas. Praticamente todas. Tive algumas de desespero. Outras breves de tristeza, ainda que fortes. Nenhuma de solidão. Não me importo tanto comigo e de dores internas, nunca chorei, ou levei em consideração dores internas. São minhas. Mas para mim, sempre foi o outro. E retomo, relembro, não deixo esquecer: chorar de agradecimento pelo sacrifício e entrega de alguém. Digno. Nobre. Sublime. Nada tão valoroso, encantador e humilde.

E a nota final. Amo Jesus Cristo e o tenho como meu Salvador para estar ligado a Deus. E, na essência, Jesus Cristo veio para isto: entrega, sacrifício, amor e redenção, o que passa disto é dinheiro, Mamom.

Jesus chorou. Três vezes. A Bíblia narra. Deve ter sorriso em algum momento. A Bíblia não fala. Deve ter sorrido, talvez, pela felicidade do próximo, por exemplo, da do Jairo quando (a Bíblia narra) sua filha foi ressuscitada por Jesus. E, para terminar, vale a pergunta: que tipo de sorriso seria este de contentamento pela felicidade do outro? O sorriso do choro. Exato. Sorrir por fora; chorar por dentro. E 99% de meus choros por fora são de agradecimentos por dentro. Obrigado!

Feliz Natal a todos!

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Maturidade não é Felicidade

O que é um insight? Literalmente é um "sinal dentro de você". E como funciona o insight? Aparição repentina. Ele não existia dentro de nós como ideia fixa e, de repente, passa a existir arrebatadoramente. Aí o insight pode ir ganhando realidade fora de nós, nascer, crescer e ter depois existência autônoma na vida de outras pessoas.

Sobre um dos meus posts, uma amiga sugeriu que eu deveria prolongá-lo em forma de livro. Foi o insight dela. Eu gostei. E não deixei morrer a ideia. Já vislumbrei a ideia. Refleti rapidamente. Envolvi-me em segundos e tomei-me preso a ela, a ideia, e claro farei dela uma realidade ao seu tempo. Realidade ao seu tempo sem deixar morrer.

O mundo real existe e a gente se conecta ao mundo real. O mundo de ficção também existe e nossa mente pode se conectar a ele também. Tanto o mundo da ilusão quanto o mundo real são projeções de nosso cérebro. Basicamente, tudo o que conhecemos no mundo se encontra nele, no cérebro. Seja a conexão com o mundo real (padrão normal de nossos sentidos), seja a esquizofrenia ou qualquer outro distúrbio neural.

Ser feliz passa pela realidade e pela fantasia. Ser feliz é um equíbrio entre a vontade dentro da alma e a realização de, ao menos, parte de nossa vontade. Reflitamos: somos vontades íntimas.

Uma pessoa madura não é feliz com o conceito de felicidade que eu proponho aqui. Se você não se sente mais feliz como antes, você amadureceu. Bem-vindo!

A grande virtude da maduridade, porém, é o contentamento. Contentamento vem de conteúdo e uma pessoa contente é aquela que tem conteúdo. Louco, não? Se você tem conteúdo, você é contente! A pessoa madura tem contentamentos; felicidade, não. Por quê? A maturidade plena nunca é egoísta. Logo, suas vontades passam para a realização da vontade do outro: filho, filha, namorado, namorada, marido, mulher; raramente pessoal.

Contentamento pode ser confundido com felicidade, é verdade. Mas não é não. Uma pessoa madura, por este motivo também, raramente é triste. Se não é feliz, mas também não é triste. Preocupação? Sempre. Tristeza, nunca. E como iniciei este assunto de um modo e termino de outro, vou retomar o início reproduzindo o trecho do insight para meu outro livro que escreverei em 2015:

"Querer resconstruir o que não tem mais alicerce é vaidade, é medo, é egoísmo Acabou? Deixe o ex-amor ir mais forte para o mundo, de modo que ele ou ela viva livre e com certo direito ao egoísmo da liberdade! A chave é sempre deixar ex-amores melhores do que estão. A chave para viver bem no mundo e livre.

Já me disseram que estabelecer relações amorosas e não quebrar as que temos é o desejo do nosso inconsciente por medo da solidão. Mas há solidão maior do que a presença de alguém para nos lembrar todos os dias de que não queremos estar mais alí?"

O corpo e quem somos

Ontem li um texto bem interessante. E a ideia básica dele é o culto ao corpo e o reconhecimento do próprio corpo no mundo.

Impressionante o modo como podemos mudar nossa visão de algo tão comum, como o que sabemos sobre nosso corpo, quando lendo dez páginas de um livro. Vou começar por um lado um pouco cruel, mas uma realidade impactante.

O descuido com o próprio corpo, de modo geral, é o primeiro triste sintoma de não se sentir desejado ou desejada por ninguém neste mundo. Seja até na vida matrimonial. Comum. Óbvio. O desmazelo com o corpo. Este sintoma implica algo ainda mais sério que é a ausência do toque do outro em nosso corpo, o não sentir o outro em nós, descobrindo onde estamos, nossas curvas, grandes ou curtas, nosso ser no tempo e espaço. Sem esta sensação, não nos reconhecemos como um todo no mundo, o que é fundamental para não deixarmos se ser quem somos.

O lado bacana disto está justamente nesta consciência transformadora do que somos ao percerber que nosso corpo somente é percebido na sua totalidade com o toque erótico do outro. Erótico mesmo.

Este sintoma da falta de cuidado com nosso corpo nos orienta para olharmos para nós e buscarmos nosso mundo físico pessoal como reflexo do nosso mundo dentro de nossa cabeça, o emocional. Emocionalmente nos anulamos.

Fiquei me perguntando por que eu, particularmente, me deixei aumentar em largura e peso nos anos de meu casamento, chegando a quase 100 quilos. Com 1,65m de altura com 100 quilos. Obesidade 2. Praticamente dois "eus" em um único corpo.

Como gosto de deixar a resposta buscar suas verdades mais escondidas, eu liberei o pensamento buscando uma verdade que me desse alívio emocional real: trabalho? dinheiro? filhos? preocupação? correria? acomodação? E ia mergulhando mais ainda na minha mente. A verdade se revelou-me de repente: eu não tinha vontade alguma de ser desejado por quem quer que seja. Tinha medo por razões pessoais. Tinha esta fraqueza. E vi sentido forte nisto. Me espantei. Meu emocional concordou. Libertei-me.

Logo me veio à cabeça o caso simbólico do vocalista Jim Morrison da banda The Doors. Ele deixou-se engordar para quebrar o paradigma do sex-symbol, repudiando qualquer desejo sobre ele mesmo.

O desejo de não ser desejado por ninguém ou por alguma pessoa passa como uma negação de tudo o que representa a sua identidade corpórea, perdendo sua identidade de espaço e mais do que isto, do outro ou outras nos toques de nossa intimidade. Curiosamente, um abalo emocional inconsciente.

Claro que das dez páginas que li, esta reflexão agora representa uma pena parte.

Gosto por isto de pegar um pincel de quadro pequeno e fazer um risco, um rabisco na mente do leitor para ele ficar ao menos com esta pequenininha marca e poder ampliar no seu ritmo o desenho que foi iniciado.

Impressionante. Só descobrimos verdadeiramente a totalidade de nosso próprio corpo com o toque amoroso de uma outra pessoa em nós. Aprendemos quem somos e onde estamos. Para dar certa esta reflexão, devemos  pensar que os carinhos que damos ou recebemos é essencial para nossa estrutura psíquica.

E, agora mais óbvio, o que representa a falta de um outro corpo para descobrir o nosso próprio e, por isto, entender aquela forte sensação de que não somos mais corpo em nós, deixando de estar efetivamento no mundo.

Tocar e ser tocado é fundamental. Tocar e ser tocado.

www.contossuaves.com.br para conhecer meus dois livros.

domingo, 21 de dezembro de 2014

Os primeiros minutos

Calma. Não podemos nos iludir. Os melhores momentos de um possível relacionamento amoroso são aqueles em que começamos a conhecer a pessoa. Os melhores futuros (caso existam!) não se comparam com os primeiros minutos, as primeiras horas.
E o olhar! O olhar. Não percamos o olhar. Os melhores momentos do início acompanham os marcantes olhares. Olhamos tudo no outro. Olhamos a fala, os gestos, as mãos, como anda, como se senta, como entra e sai de qualquer lugar, como sorri para si, para o mundo. Sorrimos com o olhar da pessoa; envolvemos tudo sem muitas palavras. E só o tempo revelará tão marcante início para nossa felicidade...
Verdade. Verdade também que nos primeiros minutos, com um pouco de percepção, as pessoas se revelam para nossa frustração. Não for um sedutor, uma sedutora com interesses escondidos, podemos ter uma nada boa experiência. Reciprocamente.
Quem não nos agrada nos primeiros minutos, nós geralmente guardamos o melhor de nós. Ela nunca nos conhecerá. Ficamos até mais idiotas. E deixamos nosso lado tosco se revelar, ganhar forma, corpo e infantilizar-nos. Mas para nos infantilizarmos intencionalmente precisamos ser muito maduros. Compreende?
O grande problema, porém, é quando temos o equilíbrio aterrorizante e surge dúvida acompanhada de um "mas e se..."; ou um "talvez não seja bem assim"; e ainda um íntimo "será que pode mudar ou vai ser assim sempre?". Minha tese: na dúvida, nossa intuição sempre será a mais certa a seguir. Será sempre assim.
Passados os primeiros e eternos minutos, que nos marcarão e seremos marcados, vem a esperança de que o outro saiba nos acolher. Os primeiros minutos serão fundamentais porque queremos ser acolhidos o máximo possível. No fundo, é tudo parte disto.
E convenhamos algo para terminar e deixar o pensamento entregue a si mesmo. Como é gostoso o novo! No fundo, toda nova amizade começa no silêncio, com o olhar somente; todo amor também é no silêncio. Eu amo as primeiras palavras, amo os primeiros momentos; chego a sentir saudades no momento inicial. Reflito: "poderia ser sempre assim; poderia todo futuro ser este início da descoberta do olhar." Mas o que eu amo mesmo é descobrir o outro no silêncio e, ainda mais, quando o silêncio basta e diz tudo. Existe algo mais acolhedor do que um agradecido silêncio?

Egoísmo

É egoísmo. Admitamos sempre: é egoísmo! É egoísmo viver livre e de bem com o mundo. Egoísmo porque estamos no controle dele: sobre nosso ego, sobre nosso eu, sobre as pessoas e parte de nossos desejos.

Porém, qualquer coração livre e de bem consigo pagará um preço cansativo: sempre será desejado e buscado pela carência de quem nunca teve a satisfação do amor da entrega ou é frágil como uma pena ao vento, insaciavelmente.

Quem ainda não traz cicatrizes de amor na alma, deve crer que, na história de quem ama ou amou, o amor surge, cresce, amadurece, passa pelas mais diversas provas (sendo correspondido ou não), atinge seu ápice, alguns desencantos depois, então inevitavelmente esmorece sem que se perceba... Isto pode levar anos, décadas. É normal. É fatídico.

Querer resconstruir, porém, o que não tem mais alicerce é medo, é fraqueza, é vaidade, é egoísmo ingênuo, preso a um único mundo. Um vaidoso (dentro de qualquer vaidade) é um fraco. Acabou? Deixe o ex-amor ir mais forte para o mundo, de modo que ele ou ela viva livre e com certo direito ao egoísmo da liberdade! A chave é sempre deixar ex-amores melhores do que estão. A chave para viver bem no mundo e livre.

Já me disseram que estabelecer relações amorosas e não quebrar as que temos é o desejo do nosso inconsciente por medo da solidão. Mas há solidão maior do que a presença de alguém para nos lembrar todos os dias de que não queremos estar mais alí?

Existe? Deixe ir. Mais forte para o mundo.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Vontade de Amar

Vontade de amar. Vontade, na verdade, de recomeçar.

Falar de amor é como falar de mulher nua para o imaginário masculino. Comparação estranha e verdadeira. Falar de amor, por sua vez, seduz o imaginário feminimo. Por instantes ela reflete no seu amor.

Nada de estranho onde mora o coração, o desejo de estar ao lado, a vontade de cuidar e ser cuidado, o anseio de ir junto porque o junto diminui a dor do pensamento no outro, ausente. Vivemos para nós um pouco na presença de quem amamos. Somos alguém ao lado de quem amamos.

Não é clichê. Os sentimentos envolvem individualidades. Posso diminuir um sentimento coletivo. Falar que todos enamorados são todos ridículos na sua ridicularidade! Todos! Isto é o coletivo. Jamais, porém, há forças em deixar pequeno um sentimento individual. O casal sente e ponto! Os namorados se cuidam, se tocam, se sentem, se saem, se assistem um filme, se jantam juntos, se tomam banho, se beijam, se deitam, se dorme, se vivem parte um do outro. Amor. Se amam-se! E este "se" recíproco é intencional sempre. Ainda mais quando está no outro o afeto que justifica ser feliz e forte. Você é o "se" amamos.

A sensibilidade encontra-se no outro. Precisamos do outro sensível. O outro que queremos para nós. Não para nós e para mais ninguém. Compartilhar é cuidar, mas deixar ir. Estudar. Viajar. Visitar. Quem ama, no entanto, não quer tudo isto tão longe. A distância cria saudades. E dor na alma. Saudades doem.

Querer só para si é coisa de adolescente carente. Homem ou mulher. E como a mulher sonha que o homem cresça para ela! Geralmente ela sonha! Ela quer! Ela precisa. Que ele a veja como a mulher pelada de qualquer filme erótico! Mas me transmita sua maturidade, que cresceu, que sabe o que faz, que posso confiar que irá deixar minha vida melhor do que a tenho!

O ponto certo de tudo no amor produz uma firme relação. Firme e forte relação. Pode diminuir. Pode debilitar. Pode definhar e morrer. Tudo pode. O tempo possui tudo. Mas entre o início e o fim, deixar bonito é bom, belo, majestoso. Para ambos. Para o amor, que dure para o sempre, mas ao menos comece em algum momento.

Partida e Chegada


- Mas é sério isto?

E era tão sério que nada disse. Absolutamente nada. Fez com os olhos o máximo possível de uma difícil indiferença que não fosse nem arrogância, nem despreso, nem ato falho de dizer o contrário. Ele recusou cerveja. Pediu um conhaque.

Sem mais saber o que falar, as despedidas entre eles eram antes em forma de brigas silenciosas de estresses emocionais, desentendimentos que machucavam o psicológico de ambos.

Ela quis dizer "tudo bem então!", mas jamais deu a útima palavra em momento algum e não revelaria agora seu pensamento de medo. Ela deu um gole na cerveja. Encheu o copo depois.

O orgulho a dominava porque ela o dominou sempre inconscientemente, sendo inconscientemente dominadora com uma crueldade torturante e por isto ele cedia: ela era chantagista. Desesperador sentimento porque o outro sofre sem saber o que fazer nem como.

A vida o encheu de responsabilidades que ele sempre procurou. Ele sempre fez. Sabia fazer do seu jeito limitado. E fez nos seus limites. Tudo. Ele sabia esconder suas verdades internas de angústia e tristeza e se comunicava doentemente com seu inconsciente. Ela não tinha tempo para isto. Ele sabia: o chantagista atua na fraqueza da pessoa. Ela atua em minha fraqueza. A dele era a preocupação.

Demorou para arrancar de sua alma tanta preocupação do outro. Refletiu tudo isto sorrindo para um amigo.Terminou o conhaque. Recusou mais.

Ele via claramente uma vontade louca dela da expressão "absurdo!". E se ela dissesse algo, ele simplesmente faria o que nunca fizera. Ignoraria. Provavelmente ela não fala mais nada, refletiu. Iria embora. E em meia hora. Pouco mais das oito. Marcou às nove. Ele não queria nem ouvir dela.

- Absurdo!, ela disse, em seguida, batendo o copo na mesa. Derramou cerveja.

Ele se levantou. Era uma festa pequena. Amigos. Ouviu com o pensamento mais calmo do que nunca. Ela se sentiu insegura. A verdade era outra agora. Ela quis gritar. Acusar o mundo. Não! Não! Ela engoliu a calma dele. Ele se levantou da cadeira. Nem adeus, nem boa noite, nem coisa alguma para ela. Despediu-se da festa do amigo. Seu coração em total paz. Nem olhou para trás. Dor alguma. Preocupação nenhum. Sua vida de volta. Ela, por sua vez, continuou bebendo cerveja. "Orgulhoso!", sussurrou indignada. Ele? Ele não. Era um homem totalmente apaixonado agora.

- Juliana, estou saindo mais cedo do churrasco. Chego aí oito e meia, deixou uma mensagem de voz.

Um homem verdadeiramente apaixonado. Entrou no carro. Ligou o rádio. "Eu preciso dizer que te amo". Cazuza. Amou a canção. Partiu e foi lá buscar parte de sua verdadeira felicidade. E pensou naquela noite em pedir sua mão em casamento.

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Intimidade: seduzir e encantar

Uma das razões que me colocou a escrever, foi um longo e platônico amor. Não foi o meu primeiro (meu primeiro foi a Patrícia), mas com certeza o mais intenso. Este amor me ensinou que podemos amar e mesmo assim escolhermos entre nossos sentimentos e nossas vidas. Eu optei por minha vida. Não abri mão dela.

Algo me dizia que com ela, eu seria infeliz e não construiria a minha ideia de família. Eu sempre quis ser pai. Para criar, estar presente, educar, brigar se necessário, e esperando as malcriações inevitáveis como hoje eu vivo. Não errei em minha previsão. Este meu platônico amor não casou, não tendo filhos e vivendo uma constante adolescência aos 38 anos. Incrivelmente nos encontramos no curso de inglês em 2012. Eu como professor; ela como aluna. Foi surreal. Na verdade, eu retomei contato com ela pelo Facebook. E eu a incentivei a fazer o curso e, mais do que isto, ir para o exterior. Ela é de família classe média. Os pais apoiaram a ideia e ela foi. Já está há dois anos morando lá, em San Diego.

E olha que bacana. Este amor me fez sofrer muito. E foram nos livros e leituras e poesias que descobri parte da tradução deste sentimento confuso e, na época, complicado para um adolescente como eu... Se sou escritor, eu devo a ela muito. Claro tive sorte ou sabedoria, no caso, de seguir minha intuição porque tive oportunidade de estarmos juntos, mas nada do que eu gostava, ela gostava. Seria um desastre. Devemos respeitar os gostos. E a empatia.

Não dá sempre para confiar na intuição. Conhecer uma pessoa, por isto, depende de um pouco de intimidade. Para o bem. Para o mal. Quantas frustrações não temos! Quantas expectativas quebradas nas intimidades. E que angústia, não? A ponto de perguntarmos: o que eu estou fazendo aqui?!? Exato.

Não devemos desconfiar das intimidades. Não desconfie das intimidades, ainda mais depois de repetidos momentos. Intimidade é a verdade. E mesmo que você se encante e desconfie do encanto, eu posso afirmar que o encanto não é o acaso, não foi sem querer, não foi planejado, premeditado: a pessoa deve ser mesmo encantadora. Disto eu não tenho dúvida. Não digo do sedutor que ilude; falo do encanto, que faz a pessoa crescer interiormente. O sedutor deixará você menos; o encantador, deixará você mais. E quanto encanto não temos ao nos sentirmos mais com a pessoa que nos encanta!

O que eu senti por este meu intenso amor lá no passado foi sedução. "Perdi-me dentro de mim." O que eu busco nas pessoas hoje em dia é encantamento, porque é bem o outro deixar você se sentir mais. Mais do pouco que somos. E na intimidade não vejo o complicado. Vejo um momento para decidir o caminho de nossa parcial felicidade. Saber o que quer e para onde ir nos faz felizes. E fiquemos com esta última: ser felizes. Estar bem com o outro que amamos dentro de nós.

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VIAJAR INTERNA E EXTERNAMETE

Logo é Natal. E em seguida fim de ano. E a vida, nossas vidas, como é bom encará-la com boas memórias. Somos nosso conjunto de memórias. Ontem mesmo lembrei aos meus alunos que não somos um tempo dividido, apesar das datas que nos dividem, do trabalho e estudos, dos compromissos dos mais variados, aniversários etc. Nada místico. Não gosto de misticismo. Me cansa, me aborrece, me tira da vida presente, me traz intranquilidade. Gosto de viver com Deus! Acima de tudo com Deus. Lembra-me de Hamlet: "há mais mistérios entre o céu e a terra que sonha nossa filosofia". O mistério de não saber me delicia, desde que cultivemos nossas memórias, nossa vida pessoal, sem depender do que está fora de nós, senão fazer do mundo exterior um companheiro para andarmos juntos, em parceria, numa troca constante. Este ano fim de ano, pós Natal, farei algo que nunca fiz. Viajar sozinho, sem destino. E lembro a idade: aos 40 anos! Rebeldia? Não! Agradecimento. Retomando uma vida intelectual deixada de lado por 15 anos, quero sentir o mundo perdido fora de mim, sem segurança do externo. Claro que farei um diário com assuntos inusitados, mas que motivem e toquem as pessoas. O ser humano vive por grana. Nem todos. Quem não precisa, certo? Dá medo não ter acesso a ela! Mas aí que entra a vida: ganhar dinheiro é ser útil para o outro. Dar algo. Uma troca insensível e profissional. Emoção zero e um pouco de cinismo. Quem é útil para o outro e não ganha nada financeiro em troca é porque possui outros meios de ganhar. O meu é dando aulas, apenas. Nem livros, nem palestras me trazem nada senão a construção de minhas memórias. Por isto a emoção nos livros, nas palestras... Está aí o convite: emoção! Nunca é tarde para uma íntima reflexão de nosso "self junguiano" (eu interior) para nossas memórias. Pode parecer solitário no início. Mas ter pessoas ao lado implica a não solidão? Acho que não! Quer um exemplo? Pense em um. Talvez esteja dentro de alguém que você menos espera. Talvez dentro de nós mesmos. E vai viajar externa ou internamente.

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