quinta-feira, 28 de abril de 2016

Sofrer

O sofrer faz parte até onde você quer, quando você aprende a respeitar os seus próprios limites, impondo se já não é mais sofrimento, pois de tal modo já está tudo determinado por você. Eu definiria como martirizar-se , e acredito que não seja nenhum pouco maduro.
Maduro é estabelecer tal limite e seguir aquilo que foi imposto. Logo haverá outro caminho. Maduro é manter o foco e os pensamentos livres para encontrar outro caminho caso seu foco seja deturpado. Maduro é Restabelece as prioridades arbitrárias em meio a caos manter a calma e redirecionar o foco.
Quem continua no sofrimento só está mostrando o quanto tem medo de seguir em frente. E permanecem no sofrimento, porque agora o medo é de ser feliz.

domingo, 17 de abril de 2016

Minha Musa na Praia

Na praia, ao sol, sozinho, sobre a cadeira, sob a sombra, com o livro Esaú e Jacó às mão, em leitura reflexiva. Começo a admirar uma mulher que curiosamente já havia visto meses atrás. Mesma praia. Mesmo local. Da outra vez - creio em janeiro -, eu a busquei muitas vezes com o olhar, porém, um tanto distante. Ela está em família: muitas crianças e adultos. Ela tem dois filhos pelo que senti, e provavelmente não casada, mas sim solteira. Vou acreditar nisto. Quanto aos segredos de seu coração, eu poderia conhecer trocando algumas palavras, que pode ou não acontecer. Seria incomum. Geralmente buscar alguém tão próximo e distante causa um medo justificável. Ela tem ares de quem vive na casa dos trinta anos. Caso tenha seus quarenta ou mesmo seus vinte, peço perdão e culpo a beleza feminina e seus adornos artificias que roubam anos do senhor tempo ou acrescentam. Idade é uma perspectiva. Digo que é uma menina que tem em si todas as possibilidades de seduzir os jovens, emanorar-se dos homens de trinta e encantar os quarentões como eu, que já incluo os cinquentões e sessentões. Já os setentões têm outra natureza sobre a qual deixo para o bom ou o mau da velhice de cada um.

Esta minha musa - eu a chamarei de musa só pelo estilo fino de escrever poeticamente - traz a saúde nos belos músculos cuidados com boa dose saudável de exercícios. Os músculos, seja nas costas, no abdômen, nas coxas e panturrilhas, me intimidam pela minha grande barriga. O brilho de um bronzeado belíssimo já imprime uma cor docemente estimulante ao visual de quem a vê, pelos músculos, pela cor, pela pele. O cabelo preso, uns óculos escuros, um chapéu de aba dizem ao sol e ao vento que nem tudo o que queremos podemos ter de uma mulher com vontade própria. Liricamente, nem a brisa do mar, nem a luz que nos queima terão acesso à sua face, aos seus olhos, aos seus cacheados. A combinação entre a água do mar, as ondas que vêm e quebram à sua cintura, o som de vozes abafadas pela natureza e seu corpo inspira quem vai além da luxúria. Eu a olho e a desejo como homem, mas quero sentir toda poeticidade, por isto escrevo. E neste ponto que eu entro e viro uma incognita.

Palavras buscam palavras para momentos singulares de emoções. As perguntas raramente antecedem os fatos emocionais. Geralmente os porquês vêm depois do convívio, e as dúvidas, incertezas, angústias roubam nossos sonos e pensamentos. Incrivelmente, hoje nos anos dos meus 40, eu antecipo as perguntas das possíveis dúvidas e faço da vondade do meu coração parte do que me basta sem a necessidade de realizar minha vontade de modo precipitado, estabanado e encantador. Sedução e encanto é fazer do outro um objeto apaixonado pelas memórias ouvidas, vistas, sentidas. Apenas memórias.

Gosto demais de inspirações poéticas e emocionais como despertadas por esta minha musa. Bem alguns meses não sentia tal liberdade ao escrever. A prisão de um escritor está na sua pouca produtividade, seja por cautela, seja por sentimentos reprimidos e opressores. Não escrevia desta forma e conteúdo pelas três coisas. Sinto-me livre agora para escrever. Há discórdias e dessabores aos tantos. Há dúvidas roubando presentes e passados. Há dores criando doenças e esfriando o amor. Fico imaginando eu poder pegar este texto e mandar para ela e dizer:

- Escrevi pensando em você aqui na praia.

O perigo também será duplo. O maior é ela chamar a polícia e os parentes para me espancar por assédio e temor pela sua liberdade de ser livre e bela e interessante sem ser inspiracão de vagabundo algum com ares de poeta. Ela está com os filhos e um mundarel de parentes, e, vê-se, família com certa unidade. Sem dizer da especulação mais saudável para mim de ser solteira. A outra hipótese - a menos provável, porém a mais temida e pior - é este texto ser acolhido com curiosidade e despertar encanto e sedução em sua alma. A curiosidade desconstruirá todo assédio, todo medo, todo receio, todo temor, toda covardia que roubam sonhos, presentes e futuros. Ela se interessará por mim e eu por ela e viveremos momentos intensos de felicidade compartilhada. Claro que não vou apresentar este texto a ela. Somente a quem possa ler com meio sorriso de imaginação nos lábios da alma. Existe uma outra possibilidade de minha vontade ser algo pessoal, e tudo aquilo que projetei em fantasias desmoronar à troca de algumas palavras com ela. Sou muito chato. Eu projeto ideias. Nem todos compreendem que ideias existem para algo interno. Ideias não são fatos. E o fato é que ela há muito saiu da água e, ainda sobre a cadeira e sob a sombra, me concentro exclusivamente no que escrevo. E vale dizer: mulher quando apaixonada anseia exclusividade, do contrário sua ideia de amor dissolve-se no ar por meio de discussões e opressões. Não. Um escritor deixa tanto as discussões quanto as opressões para seus personagens. Quando muito o que qualquer escritor quer é fazer isto: sentir na imaginação para escrever a outras imaginações...

Flavio Notaroberto

Coração das Pessoas

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Persistir na verdade. A verdade para mim é o que é próximo de fazer o que é correto. Há verdades universais que não nos pertencem, muito embora nós a percebamos com a razão, com o pensamento que nosso cérebro constroi magistralmente.

A inteligência é o exercício diário de nossos pensamentos relacionando tudo o que for possível para pensarmos cada vez mais e mais inteligentes ficarmos.

Devo admitir. Neste exato momento, sinto-me aliviado. Os últimos dias foram daqueles que nos ajudam a valorizar nossos momentos de paz.

Eu disse dias atrás que muito de nossa paz vem do outro, porque o outro tem este poder de acabar nosso sossego e raramente nos deixar em paz. Sei lá o que acontece. Mas o que acontece é quase isto: poder respirar tão calmamente que os segundos passam a equilaver a horas, tamanho o desprendimento do tempo; tão lentamente respiramos que o tempo congela e sabemos o que é agradecer e respirar em paz.

Por este motivo a chave - escrevi no início - é persistir. Persistir na verdade. Contra ela, você somente será caluniado, difamado, desrespeitado e mais nada. Você está na verdade. A verdade tem começo, meio e fim. Somente. Já a mentira...

Adoro poder palestrar a respeito disto. Adoro poder levar um pouco de reflexão às pessoas e aos jovens, sejam em aulas ou palestras ou nos meus textos.

Quando queremos mudar o mundo externo é óbvio que queremos ter poder, mandar e subjulgar os outros; quando nossas atitudes ajudam a mudar pessoas individualnente, nosso muito interno tem auto-confiança suficiente para saber o que quer e a que caminho ir. Ir ao coração das pessoas. Que elas descubram seu mundo interno para o expandir cada vez mais...

quarta-feira, 13 de abril de 2016

Diálogos

A: Bom dia.

B: Bom dia!

A: Beijos e beijos ontem em 10 mim. Mas acho que voltamos simmmm!

A: Gostoso isto. Olha. Como disse, para uma mulher intensa conquistar o coração de quem ama e é amada, tem que "abrir-se toda, sem permitir o coração duro."

B: Extamente. Perfeito. E foi assim. Não fiz nada. Só acolhi o ❤ e aceitei o caminho.

A: Que bom. As mulheres se encantam no convívio e se apaixonam. Antes eu dava espaço e oportunidade para prolongar o relacionamento. Minha experiência demonstrou que não durava muito. Sou terno de um lado, e muito exigente de outro. Exemplo: não tenho paciência para discussão que acho incompatível com certa idade: ciúmes, busca de atenção exagerada, chantagem de qualquer natureza etc. Por isto, as mulheres pecavam justamente neste encantamento. Elas se perdiam diante dele. E se envolviam nele. Mas mantinham o coração duro, cheio de verdades próprias como escondendo a fragilidade, e cheio de certezas que foram construídas em outros contextos fora do meu. Maturidade e certa doçura vem ao colocar de lado esta dureza que afasta as pessas que se amam. Creio que tem de ceder os dois. Sobretudo a mulher. Nem sei se é machismo de minha parte, ou a convicção de que uma mulher tem mais poder de compreensão do que o homem. Nós amamos uma mulher e por isto somos cobrados pela sociedade a proteção a ela, caso ela nos corresponda. Uma mulher ama um homem e a cobrança social tem outra natureza. Por este motivo, se uma mulher consegue deixar o coração leve no relacionamento e a alma superiormente compreensiva, acho que ajudará a dar certo a vida emocional para ambos. No meu caso, o que observei com as mulheres em minha vida, ao invés de permitirem a doçura e responderem positivamente, me cobravam algo que eu não esperava e nem tinha como dar. Nem quero detalhar o quê. Fato é que um homem espera de uma mulher compreensão assim como ela espera dele. Oras, se somos adolescentes, temos nossos valores dos anos de vida que temos; se somos já experimentados em tantas dores e delícias, não dá para descartar este tempo de vida e ponderar. Ceder é para os dois. Amolecer o coração meigo é para as mulheres como acolhessem filhos ou bichinho de estimação.

As Trocas nos Jardins

Quer ser mais uma rosa querida? Meu jardim é amplo. Há espaço confortável. Prometo regar com muito cuidado. Todas as plantas. Todas as rosas. O sol e a terra, porém, são exclusividade minha. Levo água para o jardim. Coração? Trancado. E com preguiça de abrir. O mundo do lado de fora está muito confuso para a simplicidade com que escolho as palavras mais complexas possíveis que dizem as coisas mais triviais possíveis. Seja rosa se lhe apraz uma pequena porção do jardim. Não seja chave de portas. Seja uma vida em comunhão com outras, sem a pretensão de abrir o que quer que seja do objeto que não precisamos ser. A chave abre portas; a rosa dialoga com o meio onde está. Coração metaforicamente trancado. Jardim florido, sempre para mais uma rosa querida. Seja rosa. Sejamos jardins. Posso ser uma erva largada em qualquer acolhedor jardim. Me importa as trocas nos jardins. Apenas nos jardins.

sábado, 9 de abril de 2016

Entre em Minha Vida

Entre em minha vida, meu anjo.
Entre em minha vida.
Eu a acolho bem.
Se for de poesia melhor ainda.

Meu único bem que me faz algo bem são os poemas que vêm.
Poemas com o olhar.
Verá meu silêncio em a amar.
Eu não sei o que entregar.
Não sei bem como falar.
Sei que posso alma com alma.
Minha alma com sua alma.
Não sei explicar.
Caso saiba, não o quero.
Tenho medo da ilusão.
Não de me iludir.
Não mais.
De iludir os sonhos perdidos.

Entre em minha vida, meu anjo.
Posso a ajudar.
Ajuda de quem escreve e descreve e transcreve, inscreve a palavra que a quer para seu bem se bem eu for em você.

Entre em minha vida, meu anjo.
Os beijos podem ser mais dos mesmos.
Os abraços toques viciados.
Os carinhos sobras do que sou.
A entrega uma vida só compartilhada.
A idade corrompe quase tudo.

Entre em minha vida, meu anjo.
Ainda assim eu insisto.
Amo a palavra amor mas amar para mim é não-apego, é não-carência, é não-dependência, é não-prisão, é não-não.
Mexeu comigo ainda que amigos.
Mexeu muito comigo.
Não tenho o medo de pensar em mim.
Penso em você com o cuidado que o não-eu merece.
Creia em você.
Comece a sentir um quê de emoção.

Entre em minha vida, meu anjo.

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Uma Hora o Amor Acontece (conto)

Ela veio até mim na distração de minha solidão. Eu estava deitado em casa. Na cama pequena. Distraído, cheio de pensamentos e ideias soltas. Início de noite. Fazia calor como da vez em que sentamos e bebemos e conversamos. Ela começou a surgir entre sorrisos e olhares. O cabelo preto e longo, num corpo pequeno, fino, elegante. A imaginação passou a palavras soltas, sem som. As palavras eram as imagens de sua boca sorrindo. Cenas e mais cenas desconexas cuja lógica era meu anseio de pensar nela, mesmo porque nosso contato limitou-se a meia dúzia de falas pessoais e a apenas um momento de aproximação, lado a lado, sentados, claramente com ardor por toques, que gerou olhares diferentes de minha zona de conforto racional e iniciei a amar. Pude humanizar-me. Ela amadureceu mais ainda a mulher que se escondia no jeito pueril e inocente e solto das meninas-mulheres exigentes de um amor maduro e acolhedor. Não um amor para sempre. Mas um amor para si até quando durar.

No boteco, em um roda de cerveja, mais duas pessoas, ideias desde filosóficas, políticas, alternando seriedade e comicidade. Sei fazer rir. Sei fazer pensar. Sei fazer apaixonar-se. As horas evaporaram-se. As palavras jogadas à mesa, engolidas na bebida e mastigadas com batata frita fizeram o tempo passar como as pétalas das rosas colombianas, que caem, ainda que das mais belas. Compreende meu particular grau de contentamento naquele momento de amar? Depois eu a levei para casa. No caminho deixei de ser menos obtuso. Quando a sós ultrapassei um limite que toda mulher exige que o homem, a quem ela tem curiosidade, ultrapasse para que o recuo parta dela e assim diminui o fogo, o pó turvo da emoção volta à forma inerte e incólume, a água fria imprópria para consumo desacelera o rítmo cardíaco e os papeis do homem e da mulher no jogo de conquista ficam claramente desenhados: eu avanço, ela recua, até o momento em que ela cede e a mim é permitido sentir seu beijo e sua vontade de saber como é minha intimidade. Antes sussurrei em seu ouvido algo que mantenho no devido segredo para minhas próprias neuroses. Ela retribuiu com um sorriso que aqueceu a minha alma; me despertou prazeres; me fez reaprender mais fortemente aquele troço esquisito do amor que sobe e desce. Momentos de uma felicidade expansiva. Depois, certezas de uma felicidade reprimida. Acho natural o movimento no jogo do amor a expansão e a retração. Inflamos na felicidade; retraímos jogados à solidão.

Não posso dar detalhes dos caminhos por onde fui com ela, dos bairros por onde passei com ela, das cervejas que tomamos, das circunstâncias em que nos conhecemos, das ideias dos poucos conhecidos em comum que compartilhamos, do que ela faz da vida e da vida que eu vejo em sua intimidade. Mais vale a certeza da dúvida na arte ao dar existência às impressões na alma do que fragilizar-se na construção do seu castelo de areia sentimental para ser bombardeado com chuvas de invejas. Nem todos vêem beleza nos amores. Amar uma mulher para um homem é um ato individual, respeitado por quem sabe realmente amar. Deve ser semelhante a todos. Quem não sabe amar e nem sofrer acusa os amantes de fracos idiotas alienados prontos para arder em vão. A arte é uma arma e tanto. Imagino quem possui apenas sentimentos sendo obrigado a conviver com eles sem escape. Escrevo. A natureza de quem escreve é a certeza da primeira impressão de quem lê. Está aí meu conforto e meu sossego. O quadro que se olha internamente lendo uma história de amor são raízes ocultas da leitura de suas próprias vivências. Eu olhei para ela e disse:

- Não fosse a circunstância da sua vida, eu amaria namorar você.

Ela sorriu. Quase me convidou para um beijo. Não fosse o boteco onde estávamos... A coragem de beijar pode vir em um boteco. Mas quando o meio é a favor do beijo, explora-se mais o todo da troca emocional. Sem dúvida. Penso, por este motivo, que, de alguma forma, ela considerou como um elogio minhas palavras "amaria namorar você", porque foi apaixonante a harmonia do olhar receptivo dela, dos lábios chamativos, do silencioso laço que as nossas almas nos buscavam. Existem elogios que se faz exclusivamente no desejo e na vontade. Se eu materializei meu desejo, ao menos ela sorriu para a minha vontade com aqueles modos que uma mulher, na sua intuição própria sem palavras, sabe muito bem onde mete os pés. Sem dizer que sentir-se amada, ou desejada, ou querida por quem filtra muito bem as palavras que escolhe assemelha-se aos achados daqueles diamantes preciosos. Fui ourives e ela um bem valioso, uma pedra rara, uma relíquia emocional.

- O amor acontece, eu escrevi a ela semanas ou dias depois deste encontro.

Neste momento houve silêncio absoluto. Não nas palavras. Continuamos a nos corresponder normalmente. Ocorreu que o vazio moldou os contornos do "invisível" no que ela escrevia para mim. Quando uma, entre duas pessoas, a conversa gira em torno do clima quente ou frio na cidade de São Paulo há duas possibilidades: primeiro a aproximação; segundo o distanciamento. Tanto em uma como em outra situação o espírito oculto aparece, o espírito "invisível". Geralmente ele é capaz de entrar em nosso ser. Dizer as intenções. Fazer-nos reapreender. Convencer-nos de permanecer ou sair. No meu caso, eu saí. Saí porque no fundo a vontade dela era que eu permanecesse. Há realidades que são mais sensíveis do que nossas verdades. Em seguida, voltaram minhas palavras a ela "não fosse as circuntâncias de sua vida, eu namoraria você." Não a namorei. Mas eu a enamorei.

Ainda me peguei refletindo e escrevendo sem os detalhes da alma plena. Antes de dizer que o amor acontece, escrevi algo pensando nela. Benefício da arte, como disse, que veio assim:

Alguma vez o amor já terminou em seu coração? Provavelmente não. O que ocorre é que amores aparecem aos montes e se sobrepõem. Ainda mais amores espirituais em que a alma gosta demais da presença daquela outra alma. E não tem idade nem beleza. Há vontade de estar junto e ser lembrado constantemente para não ser esquecido. Uma foto. Um áudio. Uma canção. Um verso. Uma palavra. Admito, como alma aberta, que meu coração vive agora de um incipiente amor, sem que nossas almas se comuniquem com ternura e afeto, ainda que se busquem. Parece que não há atropelo entre nós. Nem sei quanto tempo durará. Porém, ele, este amor, me parece tão meigo. Eu tenho para dar o que ela quer receber; eu quero dar o que eu tenho; e ela quer receber de mim o que eu tenho. Um vício positivo. Uma comunhão. Parece sim uma troca. Eu gosto deste sentimento de troca. Gosto de sentir, aliás, coisas boas. Há momentos que saber os atalhos da alma causa um amor mais arrebatador do que a beleza e a fortuna da riqueza material. Somos humanos. Carentes de essências para viver acolhidos em nós mesmos. Podemos comprar o mundo e olhar e ter as perfeições mais lindíssimas. Quem, no entanto, aguenta a solidão na escuridão de um quarto sem uma troca de essência? Neste momento, considera-se a essência, e é neste momento também que as almas tem valor. É bom gostar. Sentimento que se renova e nos renova. Eu estou gostando, por hora, de uma simples ideia que entendo amor. Uma ideia em minha alma. E sei que está gostando de mim. Faz parte. A vida caminha assim. Desde que haja bontade reciprocamente, eu creio que seja válido o sentimento.

Fez sucesso entre quem lê o que escrevo. Falei para ela. Ela o leu. Refletiu a respeito. Expliquei o contexto. Senti mais uma vez aquela invisibilidade comum a quem ama e não pode nem dizer, nem crer, nem admitir, senão reprimir. Tomei a minha coragem frágil e lhe revelei:

- O amor acontece.

Em seguida pedi algumas desculpas tamanho o cuidado que temos de ter ao entrar pelas portas dos fundos na vida das pessoas quando começamos a amar. Amar é um convite para ser e estar presente nas mais íntimas trocas que a dependência emocional gera nos amados. Não acho lamentável depender emocionalmente de alguém. Acho lamentável transformar o amor não correspondido em ódio eterno, que é a dor mais cruel se quem ama, suportável apenas pelo movimento de vingança que gera a maior das calamidades na raça humana. Como eu enfrento o ódio do amor não correspondido? Não meu ódio, porque não o tenho. O ódio de quem o tem. Bem, eu escrevo e distancio-me. O tempo ajuda a pessoa rancorosa a misturar outros ódios e amores na sua alma. Amores e ódios compartilhados aplacam a doença de quem não controla bem sua vontade de escravizar o outro nos seus desejos, e o sentimento de rejeição que o amor não correspondido gera.

- Eu compreendi, disse ela, e complementou com generalidades daqueles vazios, fazendo-me crer que "amar é normal" e "não existe o que se desculpar."

Compreendi a invisibilidade muito mais latente. Era de certa forma amado e eu amava. Mas a tal das forças invisíveis repulsavam nossas almas neste momento quase mudas, senão sussurros e murmúrios íntimos de quem não tem muito o que fazer. Fiz-me como sempre dos momentos em que vivo e ela continuou vivendo seus próprios momentos. A distância das ideias começaram a ser diferentes, os recortes dos assuntos do tempo, da política, da economia, da vida real do Estado de Direito minaram aquele campo fértil cheio de vida e amor esperando as flores, em um conjunto maravilhoso de flora pintado com o pincel de nossos corações, com tintas de nossas expansivas emoções. No campo aberto do futuro amor correspondido, botamos muita ideologia, ruas agitadas e avenidas largas, poucas praças repletas de concreto, nenhum parque, e milhares de prédios burocráticos onde cada emoção passou a ser dividida por dezenas de andares e cada andar em centenas de repartições e cada repartição um chefe calculista fiscalizando a existência dos subalternos que gerenciava cada emoção dividida. Assim, a ternura não teve mais acesso ao carinho; o encanto deixou de lado o acolhimento; a sedução era vigiada exclusivamente pelo chefe mais ignóbil de todos os chefes. Os sentimentos reprimidos fizeram-se uma cidade consumida pelo consumo e o único bem que circulava era o interesse pelo dinheiro. O amor ficou lá, dividido em milhares de pedaços, no último andar de cada prédio. Ainda que se chegasse a um deles, era uma parte pequena, que por viver sem as outras partes, preferia assim, manter-se sozinho, na espera da solidão que visitava a todos diariamente, a todos os sentimentos com a mesma intensidade de solidão em cada um. Sem o amor, sentimento algum tem vida própria. Esquisito. Mas fiel à realidade de quem ama.

Na distração quando ela veio até mim em imagens entre sorrisos, encantos, seducação, carinhos e toques imaginados, na noite quente, eu vi que o amor acontece mesmo e da forma mais distraída possível. Gosto de amar. Amar expande. Andar amando alguém é preferível ao ódio vingativo. Uma hora o mesmo amor acontece. Uma hora acontece amar e ser correspondido. Uma hora o amor acontece.

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Saber Sofrer a Dor

Sobre o título de um pequeno artigo "Assertividade: não ser Obrigada e não Obrigar Ninguém", uma amiga disse "simplesmente aceite a decisão do outro". Então eu comentei:

"Quando for definifinito, sim. Aceite a decisão do outro." E ela retrucou em seguida:

"Aceitar sempre. Definitivo ou não. Mas por que você diz isto?", e iniciei uma pequena troca com ela:

"O momento definitivo de aceitar a decisão do outro (numa separação) é quando já houve muitos precedentes que abalaram a relação. Há um cansaço emocional. O presente desgastado. Saudades fortes do que se foi. E o futuro, aquela sensação de solidão. Por mais que machuque, este é o real fim definitivo. É aceitar. Sofrer suas dores. Reciprocamente."

Ela responde:

"Devemos aceitar as decisões dos amigos, namorados, maridos, pai, mãe, e ele mesmo. Não podemos obrigar ninguém a nada nem eles a nós."

Eu replico:

"Vale à pena insistir, o que quer dizer perdoar e acreditar que as coisas vão melhorar."

Ela me lembra:

"Leia o texto, Flavio Notaroberto.
É sobre obrigações que cobramos ou cedemos. Nossa postura diante das decisões ou nossas decisões por posturas alheias. Mais ou menos isso. Quando eu estudar psicologia explico melhor...

E eu concluí:

"Li o texto. É breve. É bem curto. Mas por isto mesmo, muito incompleto. Olha só. Somos assertivos, isto é, nos posicionamos quase que inexoravelmente (cabeça dura) sobre questões bem importantes para nós. Sei lá. Aborto. Liberação da maconha. Deus. Filhos. Ser ou não carnívoro. Ser vegano. A assertividade está em nós sobre diferentes realidades. Você possui valores internos com os quais não negocia e nem abre mão. Por isto que eu disse 'quando for definitivo'. Há algo nobre no sofrimento e na dor que se chama 'maturidade' e 'limites emocionais': resiliência, resignação, conformidade, estoicismo. Somos quase que inabaláveis ao lado de quem e tendo quem amamos conosco. Esta força poderosa do amor e da segurança esvai-se ao rompimento desta união. E aí que entra a virtude de saber que somos partes emocionais. Nunca um todo. Maturidade de saber sofrer a dor: somos partes emocionais e nunca um todo completo e auto-suficiente. Acho bonito quem sabe sofrer este tipo de dor como parte da existência."

sábado, 2 de abril de 2016

Aluna

Hoje minha aluna Juliana Almeida me fez um lindo elogio (como escritor). Em uma sociedade onde os artistas são subprodutos, ter algum valor brilha como diamante raro. Estes são dois diamantes para mim.

"Já alguns dias venho agradecendo ao universo a oportunidade de ter conhecido uma pessoa tão singular. A cada aula você me surpreende com sua cultura, sua perspicácia e seus "insights" sobre essa jornada da vida! Você é muito claro em suas explicações sobre as aulas e sobre as experiências de vida! Um feito raro nos dias de hoje. Eu percebo que fala com propriedade e domínio. Sei que recebe muitos elogios por suas performances, mas gostaria de parabenizá-lo por passar adiante todo seu conhecimento."

sexta-feira, 1 de abril de 2016

A partir

A partir de um certo momento neste aqui e agora, devemos encarar a vida como um tempo único, e não, mais como anos acumulados simbilizados pela idada. A idade é um martelo. Os anos são pregos. Pensar em anos, então, martela todos estes pregos para dentro de nossa cabeça, insinuando aquilo que na verdade não somos: idade.

Todos os anos baterão em nossa porta emocional amigos e parentes congratulando-nos pelo ciclo que remete aos ciclos solares sobre a Terra. Chama-se a isto um ano completo.

É hábito, tradição, até ritualístico. Há suas razões de ser, claro. Mas, como disse, melhor mesmo deixar a cara limpa com o tempo contínuo (temos tempo!) do que focar os anos racionais das leis newtonianas gravitacionais do sol sobre o qual a Terra gira. Sendo o ano um ciclo do sol sobre a Terra para a astro-física, o que resta-nos então? Respondo. O tempo contínuo.

É comum à juventude fragmentar-se. Estimulada pelos pais desde o primeiro mês de vida, as idades como 10, 15, 18, 20, 25 são basilares na nossa existência. E cada momento carrega a sua força psicológica e eventual simbolismo social e pessoal.

O mundo do tempo presente é infinito aos nossos jovens, como foi para nós. Mesmo porque, de um modo geral, na juventude, que obrigação eles tem senão o da descoberta do olhar? O novo seduz facilmente. O novo é sempre ser. Um eterno ser. Jamais um estar. Sou feliz traduz uma perenidade; estar feliz, uma transitoriedade. Sou novo é diferente de estou novo.

Não é por outro motivo, portanto, que refletir a respeito do tempo seja mais adequado do que pensar em anos de vida acumulados.

"Qual a sua idade?", perguntam-me.

"Estou com 41.", respondo, quando poderia me permitir falar: sou um tempo contínuo. Neste tempo eu me realizo e busco o que tenho que buscar.

Porém, compromissos como IPVA, Imposto de Renda, Natal, Ano Novo, Férias etc., nos condicionam a viver em ciclos: ciclos anuais. Aí vem o "estou velho", "estou com idade", "estou com 40, 41, 42, 43...".

Dá para substituir por um "sou um tempo contínuo, e neste tempo contínuo, eu sei muito bem o que pretendo, quero, posso ser ou não posso mais." Ser um tempo contínuo ajuda sobremaneira a contunuar e realizar. Muito melhor do que estar com idade. Estamos em nosso tempo.

Para terminar. Para terminar a ideia de recomeçar deve ser uma virtude por uma razão simples (eu disse há pouco): nada seduz tanto nossa mente do que o novo. Recomeçar estando com x idade vai angustiar? Pode ser. Mas recomeçar sendo um tempo contínui, com o universo aberto, cheio de energia potencial é algo sublime. Somos um tempo. Até o momento em que estejamos todos, inevitavelmente fora dele. E um dos casos é preocupados em pagar todos os impostos anuais. Inexoravelmente.