sexta-feira, 24 de junho de 2016

Cirurgia da Virgindade

Cirurgia que promete trazer a virgindade. Não sei se masculina ou feminina. Provavelmente fenimina. E sobre isto tive uma experiência interessante. Eu me relacionei com uma jovem. Linda, inteligente, apaixonante. A idade foi um fator para mim. Vinte e um anos de diferença. Ela teve um relacionamento acho que por quatro ou cinco anos. Eu no meu momento delicado, pós separação, vivia muito confuso e atrapalhado. Mesmo assim, foi muito bacana. Bacana e verdadeiramente verdadeiro. Certa vez eu pergunto a ela:

- Sobre a pessoa com quem se relacionou por tanto tempo, quando você acha que o deixou de amar.

Estávamos dentro do meu carro. Iria deixá-la no metrô. Ela me olhou e me disse:

- Eu acho que não sabia o que era amar antes...

Marejaram seus olhos. Ela abriu a porta do carro. Saiu às pressas, ainda que eu insistisse para não ir. Confesso que meus sentimentos ficaram confusos, e falo como quem agradece poder entender algo muito pessoal. Entendi que tirar a vingindade de alguém representa muito pouco. E me explico. Porque naquele momento trouxe para mim uma responsabilidade muito grande. De certa forma, ela aprendeu as delícias e tormentos de amar através de mim. Um homem que tira a virgindade emocional de uma mulher e vice-versa não tem operação que resolva. Prometi a mim mesmo tomar o máximo possível de cuidado com ela. Afinal, temos uma geração de diferença. Eu poderia ser o pai dela, da mesma forma que o Michel Temer poderia ser o avô da Marcela Temer. Tratei meu relacionamento con ela com o cuidado que era possível. Errei muitas vezes. Mas creio que ela sabe que jamais abusaria do amor, ainda mais do amor tão virginal, tão casto, tão imaculado que estava surgindo para, como disse, as delícias e dores da vida. Quando aprendemos a amar, definitivamente entendemos que jamais teremos psicopatia, na essência técnica do que significa psicopata: frio, insensível, indiferente, calculista, egocentrista...

domingo, 19 de junho de 2016

Poema

A Noite e Clara

Era noite ainda.
Clara disse,
Olhar solto,
Era tímida,
Que amar,
Assim de dia,
Sua vida vivida
Muito mais ela a
Prolongaria.

Clara sorriu.
A timidez coloria.
Buscou no chão
A tal solidão
Que sentia.
Clara, timidamente,
Chorou seu sorriso
E gritou no silêncio:
"Sempre amaria!"
Dor passageira.
Uma hora, sim!
Sim, qualquer hora,
Ela, a dor, em lugar,
Em lugar algum
Desvaneceria.

Sua felicidade,
Clara, claro, clarearia.
O dia veria da noite
Sombria. Clara iria.
Era a noite posta
Ao vento posta
Os uivos sons...
Sombrios, noite fria.

"Clara, clareou o dia!"
O dia lhe sorria.
Confusão do amor.
Que amor haveria?
Era a voz da alegria.
Cantou Catão o amor.
"Nosso dia clareou!"
O amor uniu
A solidão de Clara
E de Catão o desespero.
"Volta para mim!"
Não podia, poderia.
E vivem amantes
Feitos ares fugazes
Paixão de dia e noite.
Paixão eterna
De noite e dia.
Eternamente dia.

Poema

O Ar Vazio

Anjo da minha alma.
Anjo da minha vida.
Saem tão soltas as palavras.
Do espanto, do susto.
Por um momento não sei.
Não sei onde termina.
E estendo meus braços
Para alcançar os seus;
Elevo-os ao ar e no ar ficam, suspensos.
Indo, buscando, mas o vazio frenético.
No vazio repousam agitados.
Permanecem intocados.
Dá-se lhe qualquer nome
Que um dia traduziria o inalcansável.
Anjo da minha alma.
Anjo da minha vida.
Marcas são o que ferem a luz do ar que me sublima.
Então o ar em si termina.
Termina como no breu a vida.
Os braços se recolhem.
Vivos.
Presos na ilusão do vazio.
Vida, a viva no toque da eternidade.
A rima, uma rima, qualquer rima.
Saudade, saudade, saudade.
Meu recanto, meu encanto, meu canto.
O ar vazio.

Flavio Notaroberto