quarta-feira, 20 de novembro de 2019

SOBRE DEPRESSÃO

Sobre DEPRESSÃO

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domingo, 3 de novembro de 2019

NOSTALGIA

Peguei o Daniel, meu caçula, para ver um filme. "Vamos ao Shopping União ou Eldorado?". Ele hesitou um pouco. "Tanto faz, pai." E fomos ao Shopping União, em Osasco. No caminho insisti se ele não preferiria ir ao Eldorado. Ele respondeu que não, mas acrescentou que gostava de ir ao Shopping Eldorado porque sentia "nostalgia". Quem não sabe o que é nostalgia? Uma das definições de nostalgia é "saudades de algo, de um estado, de uma forma de existência que se deixou de ter; desejo de voltar ao passado." A palavra também está ligada ao afastamento do lar, do país, da casa, da família. Se ele me disse que gostava do Eldorado, era porque sentia "aquele desejo de voltar ao passado", e se referia a um momento fortemente construído de imagens ricas da família de saudáveis emoções. De fato. Quando casado, íamos como família muito ao Eldorado, minha filha fazia teatro no Macunaíma, as salas de cinema são muitas, Outback, teatro, brinquedos, exposições, e um clima familiar muito agradável. Às vezes não sabemos como funciona nossas emoções e este o foco da vida. Ontem mesmo, uma conhecida me perguntou pelo whats: "Flávio, o q vc acha da alexitimia, da ausência de emoções? O q a neurociência diz sobre isso?" Eu não sabia o que era alexitimia. Fui ao dicionátio e achei "uma desordem psicológica caracterizada pela incapacidade de identificar e descrever emoções; significa literalmente 'sem palavras para a emoção'." Resumidamente, eu foquei no "ausência de emoções". Há duas formas básicas de não termos mais fortes emoções. A primeira é através da depressão, um distúbio neural que anestesia as emoções e faz nossas memórias e lembranças perderem significados e associações, como comer diferentes comidas sem sabor algum. A grosso modo, o depressivo olha para fotos suas de criança e vive uma dor estranha. Ele sabe racionalmente que é ele nas fotos, mas não significa emocionalmente nada. Além das fotos, podem ser lugares, pessoas, músicas, momentos etc. Esta é uma forma cruel de viver nossa pouca existência, motivo pelo qual o suicídio é uma triste alternativa e um desesperado alívio. A outra forma de "ausência de emoções" vem de algo bem diferente da depressão. As emoções não estão ausentes, nem anestesiadas. Elas apenas estão controladas, pelo fato de tanto vivê-las e analisá-las. Nossa mente racional pega nossas experiências em lutos, angústias, tristezas, melancolias, euforias, felicidade, timidez, introspecção, ódio, raiva e mágoa, desprezo, rejeição, humilhação e todas as diferentes formas de emoções, que já sentimos, e cria um controle inibitório quase que natural. Se tanto sentir, nem ligamos mais. Pessoas que passam por guerra ou abuso, e mesmo assim não se traumatizam, é porque conseguiram, por meio da mente racional, entender a existência e o poder da emoção vivida. A palavra resiliência traduz esta última definição de ausência de emoção. A emoção, então, não está ausente, mas faz parte da vida sem perturbar quem sente. De volta ao meu filho. Ouvi-lo dizer "nostalgia" de um lugar, e ele com doze anos, me rasgou liricamente a alma e me deixou com leve melancolia. Aquela minha família de antes: esposa, três filhos, passeios, jantares, filmes e viagens não existe mais no momento presente dele, mas os lugares ainda evocam fortes emoções daqueles momentos de família, em que ele tinha seis, sete anos. A partir de então, foram outras memórias de pais separados. Eu sempre tive cuidado com as memórias que poderia construir na mente de meus filhos depois de separado, e buscava amenizar qualquer possível potencial para trauma. Raramente temos 100% de sucesso naquilo que não depende apenas de nós. Por outro lado, conversando com meus filhos hoje, eu vejo que há uma autoconsciência implantada em cada um deles, e a autoconsciência é primeira condição de conhecer nossas emoção e nosso corpo, e nosso papel na sociedade, e como as pessoas nos veem e como as vezes. Sobre isso, existe a "teoria da mente", que aliás, já falei com cada um deles a respeito. Está aí algo que vale a pena dar uma pesquisa no Google. Porque "teoria da mente" é tentar olhar para a própria mente através das intenções das pessoas. Se virmos alguém abrindo a porta da geladeira, deduzimos que irá pegar algo. Esta dedução é a "teoria da mente", ou seja, concluir o que o outro pretende ou não fazer. Daniel abriu seu coração a um pai sensível sem ter pensado que eu faria de uma única palavra um profunda reflexão íntima e pessoal. Claro que doeu em mim aquele sentimento nostálgico em uma criança de doze anos. Dá vontade de chorar e pedir perdão a ele. Por outro lado, a vida é um caldeirão de emoções, e quanto mais vivemos, mais nos sentimos incorporados em nós mesmos, e saber que sentimos emoções nos ajuda a amar a arte, e na essência a arte é materialização do belo racional por meio das mais profundas emoções, motivo porque eu escrevo arte e amo, amo muito, e amar nos ajuda a sentir...

- flavio notaroberto

sexta-feira, 1 de novembro de 2019

A Mendiga no Terminal

A mendiga no Terminal

No Terminal Rodoviário do Tietê, a mendiga passou na minha frente com duas sacolas e trapos, andando apressadamente. Para ser mais preciso, foi do Desembarque pouco movimentado numa quinta-feira à noite. Ela tinha a altivez dos dominadores, que fazem do mundo um palco lúdico de avanços e recuos, até o cenário ideal para dominar. Eu me intimidei no olhar introspectivo da solidão triste de esperar a paz que não sentia. A mendiga não era introspectiva. Nem licença ela pediu. Tão somente foi para a sua reunião de negócio, que equivaleria a um contrato fechado com o peso da sua assinatura e as glórias do poder. Ela estava atrasada para ele, e eu pensei no recalque que a imaginação da arte representa em contraste com a realidade da doce esquizofrenia dela, e que fosse uma leve e espetacular esquizofrenia! Quem não é esquizofrênico diante das dúvidas e incertezas que plantam em nossas mentes na sociedade cheia de segundas intenções e recalques? Está ou não me traindo? Devo ou não aceitar? Vale a pena? Vale? O que tem de importante para falar comigo? Por que quer falar comigo mais tarde? E o “eu preciso de falar algo depois”? Por que foi um "sim" seco? Por que apenas "não"? Recortes e recortes profundos de tortuosas dúvidas, que nos consomem tempo de vida e higiene emocional, traduzidos no que queremos ser e no que somos na vida que segue. A mendiga seguia sem a par algum pelas ideias de um outro esquizofrênico nas palavras, que fantasiava a fantasia real dela, que ela tinha ao olhar de quem a via com outros olhos. Os meus eram o da dor. O dela, o da liberdade. Possivelmente o desejo seu de desembarcar de dentro de sua mente o imaginado real de pessoa séria, ocupada, cidadã de bem, com personagens e lugares reais na mente viva era a minha imaginação do que poderia ser, mas não deveria. Uma sacola pesada no braço direito, outra no esquerdo, passos curtos acelerados. Quem corre, teme. Quem acelera, faz porque pode. Ela podia e pôde tudo. Colocou nas minhas reginas internas uma cena de breves segundos em um enredo atemporal. A mendiga olhava soberba para cima. Não nariz tão empinado, porque o exagero é um amigo da insanidade. Nem desviava o olhar para os lados, pela mesma razão do pouco caso a quem não a notasse. Os holofotes da alma não se comparam ao que o sol diz ao que somos aqui e agora. O sol existe por existir. Os olhos da mendiga é uma luz miraculosa de um universo que olha para si mesmo com as poeiras de um início que não sabemos por quê, nem quando, nem nada. A mendiga, porém, é vida, e vida em abundância como havia sido de todas as rainhas e reis de outrora e vindouros, e farrapos artistas. O nariz e o olhar iam na medida da dona, que avançou ainda para a escada rolante, acima, e deixou quem tivesse sensibilidade para ver parado, silencioso, agradecido, a desilusão da existência sem sentido algum. Ela deixou inveja da certeza de quem vive seu próprio mundo com autonomia, sem recorrer às esquizofrenias artísticas, sendo que a arte é o último refúgio dos que sentem que podem ser algo, mas são pouco, porque meras ferramentas de quem vive daquela mesma poeira estrelar intensamente. Ela, a mendiga, vive a arte real de ser e não inventar. Sua criação do mito de si própria. A imaginação melancólica da arte apenas mimetiza o poder limitado da intuição, que tem vida inconsciente cheia de segundas intenções e associações. A mendiga no terminal...

- flavio notaroberto -