quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Uma época

Houve uma época em que eu escrevia tão mais livremente. Uma época recente na verdade. Relativamente recente. Eu poderia falar de tudo, ou melhor, compartilhar um pouco mais intensamente minhas impressões de sentimentos de natureza forte, tais como solidão, amor, angústia, dúvida, ansiedade, medo, ciúme, fraqueza e tantos outros. Porém, uma coisa é escrever pensando em como um ou outro sentimento invade a vida emocional da alma humana e lá habita com todas as consequências possíveis. Se amor, se solidão, se euforia ou medo. Agora, escrever com autolimitação parece algo burocrático. Se quero falar de amor, ou de solidão, ou de filosofia certamente surge de uma ou outra inspiração. Porém, não é para a inspiração que se escreve. Para isso se faz em cartas. Podemos pensar para nosso olhar interno, que existe, que sentimos, que precisa de um pouco de organização em forma de palavras. Ser compreensivo não é apenas concordar. Ser compreensivo plenamente é saber quais palavras traduzem a compreensão do que se sente, ou do sentimento que se sente. Como ninguém é o detentor da verdade aqui nesse mundo - a não ser nossas mães - cada pequeno texto lido, cada palavra ouvida, cada verdade sentida, nós expandimos nossa autocompreensão, e aí que entra um escritor. Quando se colocava pseudônimos nas crônicas em gazetas antigas, creio que a lógica era o texto e não o autor. Deve ter outras lógicas também. O nome é lido também. Paulo Coelho seria evidentemente lido com mais atenção do que cronistas anônimos da alma humana no mundo limitado das mídias sociais, como eu. Mesmo assim, gosto da diluição, ou seja, o texto, como açucar ou sal na água, se dilui aos olhos do leitor e lá adoça um pouco sua vida ou salga para dar algum gosto no insosso dos dias que passam e passam e passam. Inevitável confundir o autor com a autoria. Para mim a autoria é de quem lê. E mais importante na vida é a autoria do que ser autor. O autor de uma casa poder ser o arquiteto. Quem mora nela é a autoria. Quem faz um bom prato é o autor. Quem o come é a autoria. Sei que estou brincando com essas duas palavras que se confundem. Mas podemos ser autores de nossas vidas, porém a autoria é que faz nossas marcas pessoais terem sentido.

Um artista

Van Gogh cortou parte da orelha. Ele cometeu suicídio. Ele tinha surtos psicóticos. E dizem que nos surtos sua sensibilidade como artista atigia o nível transcedental da criatividade. Em minha última palestrinha na E. E. José Bonifácio, no Jd. Romano (no Itaim Paulista Z/L de SP), uma aluna me perguntou quanto um artista tem bloqueio na criação, quando seca a inspiração. Adorei a pergunta e não tive dúvida na resposta: quando estamos felizes. Toda felicidade e elegria são expansivas. O mundo externo tem sentido em nossas vidas quando a natureza sorri, quando sorriem a vidas, quando pequenas estupidezas sorriem para nós. Nossa felicidade deixa o mundo exterior envolvente, significativo, insuperável, um gigante. O sentido está fora de nós na felicidade e satisfação. O mundo é uma obra de arte e lá nosso espírito se encontra e se esquece.

Um artista deve ser um incompreendido, ainda mais se ele mesmo não se compreende e surta. Seu mundo inter

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Seus lábios

Seus lábios nos meus traduzem minhas saudades. Eu os toco suavemente de um lado a outro e prolongo. Demoro. Quase me perco. Sinto o cheiro do que foi. Um gosto do que poderia. Toque do que quero. Tenho vontade de querer muito. Exagero algum torna mais verdadeira a verdade. Limito-me. Limito-me. Implorando internamente que quebre meus limites e deixe romantizar as vidas caso se queiram e se achem prontas para algo em nome do amor. Gosto de amar. Não exijo que me amem. Gosto que apenas respeitem. E seus lábios em pensamento estão aos meus. Ambos abertos. Em toques. Em algum segredo compartilhado. Um toque.

Nosso tempo é precioso

Dia desses a insônia me pegou. Hoje às dez e meia da noite eu já dormia. Fui direto até as três da manhã. Despertei, fui ao banheiro, voltei a dormir. Como não pego no sono imediatamente, coloquei-me a escrever. Sem aparentemente algo na cabeça, permitindo que minhas ideias saltem para fora de modo relativamente aleatório. Por enquanto nada me vem à mente, senão o ruído do ventilador e uma coriza de um resfriado.

Três alunos vieram assistir à minha aula de inglês. Dois adultos e uma jovem de dezesseis anos - parentes entre si. Gosto, ao longo de minhas aulas, de dizer alguns insights em forma de 'verdade geral'. Ontem eu disse que "não gostamos de ter a sensação de que nosso tempo está sendo roubado". Citei o exemplo das academias de ginástica. Pagamos adiantado. Quem paga, mas não vai para a academia, na essência acha que lá o seu tempo está sendo roubado. Por isso, nada é mais valioso do que o nosso tempo. Tanto que vendemos nosso tempo em forma de trabalho, tanto que um trabalho prazeroso dá-nos a sensação de que nem trabalhamos no tempo, mas nos divertimos. Perder tempo sem necessidade não é bacana.

Estudar inglés, ou qualquer outro idioma, possui equivaléncia de ganhar ou perder tempo. Quando percebemos que nosso tempo está sendo roubado na aula de inglês, não temos motivação para ir às aulas. Faltamos, e cada falta aumenta a desmotivação, até desistirmos - algo muito frequente. Como geralmente se paga antecipado, preferimos perder o dinheiro a perder nosso tempo nas aulas, o que é contraproducente. Perde-se dinheiro em um investimento, que nunca se irá ter o retorno.

Nas alturas de meu envelhecimento, dentro de minha autoconsciência de retornar a minha vida profissional, eu optei pelo tempo. Tanto o meu tempo como professor, quanto o tempo dos alunos. Se contarmos o mundo BILIONÁRIOS das escolas de inglês aqui no Brasil, e o insignificante retorno que elas trazem para a sociedade, não fazendo as pessoas falantes de fato inglês, vemos que todos perdemos tempo, um tempo precioso. Menos as escolas cujo propósito é um gigante enriquecimento bilionário! À custa de baixo retorno para o indivíduo e para a sociedade.

Na minha escola, eu optei pelo precioso tempo. É possível aprender em pouco tempo. Em cinco meses eu ensino praticamente toda gramática essencial da língua inglesa (pronúncia, tempos verbais, preposicão, conjunção, substantivos, adjetivos, leitura de textos mais elaborados) e se o aluno seguir as minhas orientações de estudo, ele faz em pouco tempo o que convencionalmente se ensina em três anos, quatro anos de inglês em cursos de duas vezes por semana, uma hora por dia. Eu antecipo o tempo, simplesmente porque é possível.

Eu disse isso aos novos alunos que pretendem ser meus alunos em 2018. Não quero perder meu tempo, nem fazer os alunos perderem o dele. Eu ensino intensa e didaticamente, mas em contrapartida os alunos devem estudar. Compreende que falta boa vontade por parte das escolas de dizer aos alunos: "vocês têm que estudar!"? Semelhantemente às academias: a pessoa tem que treinar, e tudo mais na vida. Nosso tempo é precioso. Que bem maior há nesse mundo, ao lado da saúde, do amor, da família, da paz interior, senão nosso tempo? Por isso, temos que usar nossas vidas a favor do que desejamos para nós, dentro desse nosso tempo. Dedicar-se a algo é duplamente agradecer a quem se dedicar por nós e ao nosso tempo. Tempo não é dinheiro. Dinheiro é papel. Tempo é valor, e é dentro do tempo que tornamos nossa vida preciosa. Tempo é precioso. Tempo é vida.

terça-feira, 28 de novembro de 2017

Permita-se

"Permita-se a obscuridade da solidão." é o início de um poema que comecei a fazer mentalmente, diante do mar, com um charuto aceso, pé na areia em quase total ermo. Mas não o ermo da alma. O ermo da minha própria companhia comigo mesmo. Recitava mentalmente uns versos de Fernando Pessoa "Sigo o fumo como uma rota própria. Saboreio o cigarro a libertação de todos os sentidos". A inspiração foram interstícios entre o mar, o vento, a areia. O poema fluiu com versos seguidos do tipo "permita-se ir a lugares na obscura solidão e ver pessoas sem ser reparado e ouvir vozes no silêncio da sua palavra..." As imagens dos meus versos sobrepunham-se às minhas palavras. Envaideci-me. A chuva veio repentina. O charuto umideceu. Levantei-me para o carro com o propósito literário de botar no papel. E apenas coloquei o "permita-se" que talvez seja o nome deste futuro poema. Ainda aqui dentro. Buscando caminhos para tornar-se real.

Freud e os poderes

Freud dizia que há três tipos de poder. O poder da beleza. O poder da inteligência. O poder da riqueza. Em outras palavras, facilitadores de desejos. Realizar o que queremos. Poder é potência, para algo e jamais em si. Toda potência em si é desperdício de energia. A mim coube o poder de uma inteligência adquirida com muita dedicação. Não sou inteligente. Sou dedicado. Se bem que lendo sobre o cérebro humano e suas áreas mais salientes sobre a função do cérebro cognitivo, o que se fala a respeito de ser inteligente tem um valor bem restrito para mim. Não apenas porque há estudos de inteligências múltiplas e todos têm um tipo de inteligência, certo? Detalhes e mais detalhes das funções neurais que envolvem abstrações, criatividade, empatia, assimilação, metáfora, sinestesia, ilusão, inibição, introspecção relativirazam a inteligência para mim. Não ao leigo para quem inteligência é sinômino de saber o que ela mesma não se dedicou para saber. Sei inglês, escrevo, leio muito. Me dediquei. Não é caso de inteligência, apenas. Não há segredo. Podemos passar horas e horas à toa. Vivendo. Podemos criar alguns momentos de pequenas dedicações à leitura, que nos faz ficar mais "inteligentes". Poder todos querem. Ser rico, ser belo, ser inteligente. A mim coube dedicar-me à inteligência. Para ficar rico? Para cultuar um pouco a beleza? Até espero essas coisas. Mas o bom de ter conhecimento é que ao se adquirir este "poder", a falta da beleza e da riqueza não é sentida, e sua falta não cria angústia, frustração, tristeza e falta de amor próprio.

Você também, pai

Estava sem sono e publiquei no status do whats e por aqui que se alguém quisesse conversar era só me chamar. Minutos depois, assim que visualiza meu status, meu filho do meio me chama:
- Oi.
Puxei assunto com ele. Perguntei se estava bem, o que ele fazia, se lia algo, se jogava online, se estava já de férias etc. Respondeu sim e não, e ele me disse que a lâmpada do quarto estava queimada, mas que não o atrapalhava. Por fim eu falei para ele que o eu amava e disse:
- Descansa, fiilho.
E ele reciprocamente respondeu:
- Você também, pai.

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Poemas Recolhidos - crítica

Primeira crítica do livro (meu livro) 'Poemas Recolhidos':

"É interessante como mencionei, pensante... Muito amor, amor no verdadeiro sentido. Amar e permitir a pessoa ser livre, ser feliz amando, mesmo sem ter ao lado a amada. Seria bom se todos tivessem o mesmo sentimento."

Adquira seu exemplo no Amazon. Tenho certeza que vamos aprender juntos o amor esperançoso, ainda que se sofra, mas feliz porque faz parte as alegrias e as tristezas. Amadurecemos.

domingo, 26 de novembro de 2017

The Rolling Stones

Sempre gostei dos The Rolling Stones. As canções que conheço deles se resumem às famosas, os hits. Uma banda que tenho vontade de me aprofundar em toda a sua playlist, ler biografias etc. Pode ser um passa tempo gostoso. É que estou assistindo no MultiShow a apresentação deles no Havana Moon. Inspirou-me.

Perdi o interesse nos seres humanos

Um dia, quem luta muito, e crê no que faz, atingirá a realização do que busca. Então, não existirá mais o passado da luta para o mundo. Somente o presente da conquista, que equivale a outros problemas, e refiro-me a problemas no plano especificamente psicológico. É que vivemos em um mundo de interesse recíproco. Sabedor do mundo de interesse, eu me cansei das pessoas, de maneira geral, ou seja, eu perdi boa parte do meu interesse por elas. Refiro-me a tolerar o interesse delas. Eu amo ensinar e quero que aprendam. Eu adoro escrever e fico feliz quando me leem. Eu leio por prazer e obrigação, e leio de tudo. Enriqueço-me na conversa e adoro dialogar - ainda que as pessoas não me compreendam às vezes a ironia, o senso de humor azedo e as verdades pessoais e poéticas. Mas converso sobre tudo e muito sincero com o coração pronto para ser altruísta e solícito. Repare que a perda do meu interesse pelas pessoas tem mais a ver com o mundo de interesse que as pessoas vivem e a que pertencem. Não poucas vezes as pessoas têm interesse naquilo que podemos ser úteis, e eu até me conformo, e busco sempre ser útil a quem me procura para as mais pequenas coisas. Posso dizer, então, que ao perder o interesse pelas pessoas não significa que eu não as ame e não as ajude no possível. Simplesmente não as procuro com interesse. A bem da verdade, procuro as pessoas como uma curiosidade humana, de contato humano, para passar meu tempo humano e desdobrar a vida em coisas humanas. Nossa sociedade cada fez mais se reifica, e reificar-se significa "virar coisa". A reificação das nossas vidas se traduz nas coisas que podemos ter, proporcionar, compartilhar, sendo puramente coisas: desde aquilo que se come e como se locomove, ao o que se veste e onde se dorme. É normal e até justo o desejo pelas coisas. Mas é disso que falo. Essa perda de interesse gira em torno da reificação do espìrito das pessoas; seus espíritos viraram coisas. A mim, que sou também da filosofia, o que mais me resta? O prazer antigo de estudar e escrever, assim como ler assumiu o papel do prazer de ter o ser humano em contato comigo, sem ser puramente coisa. Existem muitos semelhantes a mim, espalhados por aí com o mesmo propósito, de ser algo espiritual, ou seja, mais humano e menos coisa. E olha que eu não sou alienado não em relação a trabalho e a dinheiro. Sei de sua importância. Além de uma pensão esse mês de 1400,00 (geralmente fica 900,00), eu ainda pude mandar à parte 1300,00 exclusivamente para meus filhos, sendo que a mãe deles, merecida e competentemente é profissionalmente abençoada com um salário digno à função que ela exerce - se mandei um pouco a mais é porque quero ajudá-los mais, já que dinheiro para mim é coisa. Para meus filhos tem mais importância nesse momento da vida deles. Não busco coisas. Não sou gastão com dinheiro - aliás vivo em parcimônia. Mas quero, dentro do meu possível, ver meus filhos bem nas necessidades das coisas que eles precisam. Antes, eu até fazia questão de pagar a cerveja, o jantar, o cinema etc. em um encontro. Hoje cansei-me. Até divido, e olhe lá. Vi que às pessoas não valem muitos mimos, porque estão muito coisificadas, tanto o pensamento delas quanto o que elas querem na vida delas. Prefiro mandar para meus filhos, já que são a maior parte espiritual de minha existência. Longe de ser pessimista minha reflexão! Estamos cercados de pessoas que olham o mundo e se enxergam no mundo, e não gastam energia que não seja focada diretamente no mundo cheio de coisas. Veem-me à mente tantos exemplos! Deixo só a reflexão, porém. Nada de exemplos, porque me cansa. Sei que escrevo para mim, ou para quem de alguma forma tem interesse em mim, seja de cunho afetivo ou espiritual - e são poucos. Uma hora a vida material ressurgirá e com ela aquele interesse nas coisas. E honestamente me comportarei da mesmo forma que tem me deixado feliz: um completo idiota! Recentemente eu estava conversando com um amigo e a namorada dele. Então ele me disse que iria chamar uma mina tal para sair com a gente etc. Eu sabia quem era. Eu disse a ele: "se fizer isso, vou ter que me comportar como idiota". Ele me perguntou por quê. Respondi que cansa ser envolvente, já que as pessoas estão bastante alienadas em "coisas". Um mínimo de envolvimento espiritual arrebata e explode temporariamente o mundo coisa dela, confundindo tudo. E eu concluí "o papo nosso está tão bom que preferiria manter assim". Gosto de falar o que penso, e falo bem; gosto de fazer rir, e rio facilmente; e assim roubamos o tempo da morte em bons tempos de vida. Meu amigo e a namorada dele entenderam, mas riram da minha cara. Mesmo assim, compreenderam. Ambos não tinham interesse algum em mim, a não ser o espiritual, a ideia, o diálogo. Eles simplesmente gostam de mim. Não desisti dos seres humanos. Somente perdi interesse nos humanos coisificados, e olha que eles são assustadoramente numerosos.

Gratidão é tudo

Ontem passei a tarde lendo os poemas de Manuel Bandeiras, que foi o autor que mais estudei nos dois primeiros semestres da faculdade. Ontem à praia, eu relia seua poemas com a simplicidade que eles exigem, e relembrava-me das análises do prof. Dr. Joaquim Aguir. O ano era 1995. Nessa época eu tinha 21 anos, e já escrevia. Pedi para o professor ler uns contos meus. Ele leu e me orientou a amadurecer meu estilo, algo que vem com a leitura e com a dedicação. Poderia ter me desanimado. Afinal, um professor da USP dando uma orientação bem pontual de que meus contos eram ainda pobres em termos literários. Ao contrário, então, se antes eu lia muito, passei a ler o dobro, dez, doze horas por dia! Lia pausada e pacientemente com um dicionário ao lado. Precisava entender tudo. Quem me olhasse veria alguém traduzindo um outro idioma. Mas era meu cérebro traduzindo para mim o português escrito e bem elaborado.

Em minha vida sempre foi tudo meio atrasado. Entrei na escola com sete para oito anos; foi aprender a ler entre nove e dez; terminei o fundamental 2 com 16 anos; terminei o ensino médio com 19 anos; fiz um ano de cursinho aos 20 anos; e entrei na USP aos 21. Sendo que dos 18 aos 22 compartilhava minha vida com uma depressão à época não diagnosticada, que quase levou-me à morte em 1994. O fato curioso é que somente li meu primeiro livro aos 18 anos! Eu sei que eu era apenas uma pessoa inteligente cercada de mediocridade, que me limitava a mente e a consciência, com professores de medianos para medíocres  que refletiam suas incapacidades de ensinar, a não ser passar na lousa para copiar! Sempre foi assim, e ainda hoje a maioria passa na lousa para copiar. Só que comigo deve ser na reflexão, não na cópia. O meu ensino médio - em escola particular e cara - foi basicamente na reflexão. Aprendia bem e ficava nas notas sempre entre os vinte melhores alunos dos 120. Não disputava com os melhores, mas tinha já aquele respeito dos demais. Na USP, onde me encontrei, pareceu-me que meu cérebro havia achado o que o alimentava para funcionar direitinho. Funcionou. Depois eu pude seguir praticamente sozinho. Bem, em 1999 casei-me e houve uma interrupção dos meus alucionados estudos. Divorciei-me em 2014  e somente agora, em 2018, retomo meus estudos acadêmicos - quase vinte anos depois. Nesse sentido que digo sempre atrasado. Por outro lado, sempre positivo, confiante, dedicando-me. Hoje não leio as 12 horas diárias. Mas as quatro horas que leio equivalem à 12, ou até mais. Escrevo todos os dias de poemas a reflexões, e o que leio geralmente fica assimilado em minha mente de boa. Foi bom catarticamente reler ontem Manuel Bandeira. Além do mais, meu livro Contos Suaves tem muita influência dele. Um forma de agradecimento, porque gratidão é tudo.

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Ao Nome, que Amamos

Ao Nome, que Amamos

Não ao nome entrego a arte poética.
Seu nome ecoa em outros tantos nomes,
E faz do amor um princípio obscuro.
Seu nome salta em meu peito infeliz,
Por não trazer o gosto da paixão
Em mim realizado, em mim vertido
Em dores febris, de minha existência.
O nome por si nada representa.
Evoca, é vero , a arte poética
De amá-la tanto, e tanto, e tanto assim.
Sua áura é sua plácida essência.
Diz muito do pouco que em versos digo.
Morrer de amor não posso, e sigo vivo,
À espera dos nomes que se assemelham.
Chamo-a Lua, Flor, Sol, Natureza,
Que ela, livre na vida, ama tanto.
Deu à minha vida tanta beleza,
Porque amor comigo vive sempre.
Seu nome pertece a quem a conheça,
Seu nome também chama Liberdade.
Amo-a amar assim, desta forma
Tão distante, intensa e poética.
Recorro à sua presença, minha Flor,
E vivo,  forte, sempre permaneço,
Meu Sol, meu Mar, minha Lua, agradeço.
Sempre...

(flavio notaroberto)

Mudanças

Não há mudanças milagrosas. Penso nas adaptações. Dentro da vida vamos nos adaptando ao que desejamos. Mudar hábito alimentar, mudar o que fazemos com nosso corpo, mudar as escolhas para alguns sentimentos que desejamos ou não desejamos experienciar, mudar de emprego, mudar as idas e as vindas de lugares, mudar as pessoas com quem convivemos. As mudanças assim, então, são términos, em que se troca algo ou pessoa por outro. Penso, então, nas adaptações como a essência do novo para nós. Não basta simplesmente mudar, porque nosso cérebro não funciona assim, com o clique mágico do interruptor, que liga, desliga, desliga, liga. A essência de nosso cérebro são nossas memórias, que são nossas histórias pessoais, que nos fazem ser os indivíduos que somos para nós mesmos. Não mudamos simples assim e tudo vai na corrente do bem-estar emocional, físico e social. Mesmo porque, a mudança, no início, sempre é aparente e quase sempre um belo auto-engano. Se trocamos o hábito alimentar, existe o histórico do hábito anterior do fastfood muito forte dentro de nossa memória emocional. Assim vale para nossos amorzinhos que se foram, mas que carregamos muito dentro de nós; assim vale para os consideráveis quilos de massa gorda que perdemos, em função de exercícios e dietas, assim vale decidir não mais querer uma relação opressora, uma companhia destrutiva, um ambiente hostil aos nossos sentidos. No início a vontade é cruel e sofremos, ou desistimos. Volto dizer que as reais mudanças são na verdade adaptações regulares, que levam um tempo para nosso cérebro assimilar e criar outras memórias, para co-habitar com as memórias já construídas. Muitos desistem das mudanças porque, ao longo do tempo inicial da aparenre mudança, não conseguiram se adaptar, seja porque foram fracos, seja porque sentiram-se infelizes. Eu me adaptei a uma dieta mais saudável e emagreci; eu tenho feito exercícios físicos anaeróbicos diariamente e fortaleci; há quase dois anos vivo sozinho e assim preferi; estou distante de meus filhos, o que me aperta o coração, mas tento ser o pai presente, ainda que distante; eu preferi a solidão da minha companhia diária à poluição emocional ao compartilhar minha vida, porque vale muito viver parte da vida exclusivamente para si - e solidão não significa privar-se dos beijinhos, amassos e pegas acalorados com as minas, mas fazer tudo isso de modo intenso, sem perspectiva de envolvimento emocional. Nada de egoísmo. Eu não gosto de mentir. E todos egoísta mente. Eu não. Nem vontade de adaptar-se à mentira. Cada qual com seus gostos. A mim me sobra sorrir meu doce encanto da vida.

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Seus lábios

Seus lábios nos meus traduzem minhas saudades. Eu os toco suavemente de um lado a outro e prolongo. Demoro. Quase me perco. Sinto o cheiro do que foi. Um gosto do que poderia. Toque do que quero. Tenho vontade de querer muito. Exagero algum torna mais verdadeira a verdade. Limito-me. Limito-me. Implorando internamente que quebre meus limites e deixe romantizar as vidas caso se queiram e se achem prontas para algo em nome do amor. Gosto de amar. Não exijo que me amem. Gosto que apenas respeitem. E seus lábios em pensamento estão aos meus. Ambos abertos. Em toques. Em algum segredo compartilhado. Um toque.

Alma velha

Alma Velha, Vida Tardia

(vontade de mexer no interruptor do sim e do não que pulveriza algumas pessoas: inclusive a mim mesmo para elas!)

Ópera é um teatro cantado. Aprendi ópera depois de velho. Aliás, minha aprendizagem em geral foi depois de velho. Velho na alma aos 22 anos. Gosto muito dos Racionais quando ele falava: "Eu? Tenho uma alma velha, uma pistola automática e um sentimento de revolta. To tentando Sobreviver no Inferno." que inicia o segundo álbum deles, de 1997, sobre a periferia de SP. Somos da periferia. O próprio Edi Rock diz que  "não pode tirar de dentro dele a favela." E mais ainda, Mano Brown nos lembra "o ensinamento da favela foi muito bom pra mim". Não cresci em uma. Mas como estivesse. O limite de meu olhar aos 16 anos era jogar bola na praça, tomar tubaína e ler Notícias Populares na mesa de bilhar do Bar do Paulinho. E lia com dificuldade. Aos 21 anos, já na USP, alma velha, tudo sobre cultura veio mais tarde para mim e nunca precocemente: a ópera, música clássica, Shakespeare, filosofia, Machado de Assis, artes, a escrita e, por fim, falar em público, que virou minha maior conquista de tudo aquilo que nunca sonhei. Apaixonei-me pelo ser humano no olhar e faço questão de ele sentir o que eu sinto ao ouvir, ao fazer, ao ler algo sublime. Inclusive ao escrever uma inspiração. Quero compartilhar um trecho do libreto de uma ópera chamada "La Traviata". A Violeta canta sua entrega à morte, depois de ser forçada e convenciada pelo pai de Alfredo a abandonar seu amor, uma vez que ela era prostituta. Alfredo, o amor de sua vida, correspondia. Das partes finais desta ópera, que assim como a mim, talvez venha a muitos tardiamente. Tarde é tudo o que desistimos e jamais o que começamos. A letra da canção abaixo. Leia. Ouça. Emociona-se. Apaixona-se. E viva com alternativas.

La Traviata

Violette, ato 3.

- Eu duvido que você possa sonhar com tanto, meu amor.  Eu preciso purificar minha alma. Baixar minhas guardas. E cantar para você. Adeus, sonhos felizes de um tempo que se foi! A rosa da minha juventude desvaneceu e morreu! O amor de Alfredo enfraqueceu meu coração. Meu conforto, minha força - essas também não existem mais!  Conforto. Força. Conceda a esta perdida sua graça infinita. Oh, a ela conceda seu perdão, e a acolha. Oh, Deus!  Logo tudo, tudo vai passar!  Tudo. Tudo. Tudo irá acabar! A alegria, a dor, em pouco tempo acabarão. E uma tumba fria cobrirá  todas as coisas, no final! Nem lágrimas, nem flores enfeitarão minha solidão!  E nem cruz, nem nome estarão no local onde me enterrarão!  Nem cruz. Nem flores.   Conceda a esta perdida sua graça infinita. Oh, a ela conceda seu perdão, e a acolha. Oh, Deus! Logo tudo, tudo vai passar!  Tudo. Tudo. Tudo irá acabar.

Pureza

Pureza

Precisamos de pureza. Aquela sensação de verdade tão ingênua sem a qual viveríamos normalmente, mas com a qual acabamos sendo inspiração para tantos corações duros pela vida. A pureza, a entrega, a dedicação a uma simples causa humana, que ajuda a ocupar o tempo das pessoas, agregando à vida delas vontades positivas e sonhos importantes.

Quem não ama a pureza de uma ajuda e não sabe seu valor, ainda não superou a fase do trabalho diário que envolve grana, crescimento profissional, poder, disputa. Não existe pureza em nada disto. Se sorriso há no interesse dele, não vem do coração. E vale para a atenção dada, para o interesse no outro, para a aparente ajuda: tudo isto na superfície. Ganhar dinheiro é a vida da superfície. Ganhou, acabou a relação.

Não posso me queixar

Quase uma semana sem treine. Logo mais irei retomar. Em minha cabeça passam muitas reflexões, desde as nobres razões por que me ausentei por seis dias, até as consequências no próprio corpo por descansá-lo e ao mesmo tempo sair sa dieta alimentar. Mas enfim, publiquei um livro de poemas na plataforma digital, que disponibilizo via Amazon. Entre a ideia e a publicação, uma semana. Gostei de aprender, eu que já sou escritor autoral. Escrevo meus textos por aqui, e pratico. Hoje cedo estava muito chateado por ter que me ver nessa minha situação, para ter paz e evitar desgaste para meus filhos. Pedi a Deus que despoluísse minha mente e retornasse a mim minha paz interior para seguir meu projeto de vida, que está indo. Tem sido aprendizagem. Nesse sentido eu tenho autoconsciência. Não posso me queixar.

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Quando pararemos

Meu primeiro livro, Contos Suaves, retrata a alma de pessoas comuns que vivem em SP. Eu sou da zona leste, Itaim Paulista, e é aqui que a maioria das histórias aconteceu. O cenário muitos amigos conhecem. A alma das pessoas das histórias, muitos reconhecerão parte de sua própria, ou parte de seus conhecidos. Tenho um projeto literário consciente para que a posteridade curiosa possa olhar para a zona leste, encontrar pessoas e sensibilizar-se com as almas comuns, de um lugar e tempo distantes. Um dos palcos para alguns histórias é o trem. Não é por razões emocionais não. É que tudo crescia em torno das estações de trem, e as pessoas que se deslocavam por ele moravam por ali mesmo. Agora estou no trem. Vêm-me à mente minhas histórias e parte dessa zona leste cresce com nossas memórias. A filosofia nos ajuda a atingir um entendimento peculiar. Sentimos o mundo, mas antes de reagir à sensação, refletimos. Damos o nome de metafísica a essas reflexões do sentir antes de reagir. O que é sentir por meio de nossos sentidos? A história da resposta a esse questão é longa. Prefiro a narrativa à filosofia. Ao menos prefiro uma filosofia poética, que me ajuda a distinguir a fato de viver e o ato de sentir a vida. Meu olhar perdido dentro de mim sabe para onde vai e para onde vou. Ele está perdido para o mundo. Não há mergulho interior passivo. O mundo julga a reflexão, ou o reflevixo algo doente. Afinal, o mundo existe e tão somente. Não há filosofia no mundo. Há distração, e não necessariamente distração feliz. Não poucos perdem seu tempo com preocupações burocráticas, sem tempo algo para questionar o que sente, por que sente, de onde vem. Eu vou no trem agora. Centenas me acompanham. Todos sentem. Todos sabem. Bem, eu sei, motivo pelo qual me indago: quando pararemos?

sábado, 18 de novembro de 2017

Livro

"Dois tópicos na pesquisa cerebral parecem sempre atrair gênios e loucos. Um é a consciência e o outro é a questão de como a linguagem se desenvolveu." (Pag. 211)

Trecho de um livro. Segunda vez que o leio e ao invés de continuar, sou tomado por uma vontade enorme de escrever sobre. O limite entre entender a essência das coisas e as coisas em si está dentro de nós mesmos. A maçã é uma coisa em si, mas não sabemos qual a sua essência. Falar de consciência é genérico; falar de linguagem é comum. Entretanto, envolver pesquisa cerebral sobre consciência e linguagem abre a mente para ultrapassar o genérico e o comum. Atingimos a essência de que nós, humanos, temos consciência e para manisfestá-la temos a linguagem. O que são consciência e linguagem na sua essência?

O corpo humano como existe, a alma e o espírito humanos como existem, todas as sensações humanas como existem, a relação entre vontade pessoal e repressão das vontades como existem, a liberdade da felicidade e a prisão do sofrimento como existem, a resignação e a persistência como existem, a paixão dos sentimentos e a psicopatia como existem, estão em um único mediador comum: nosso cérebro. Como o Sol, a partir dele, do cérebro, nosso corpo todo se ilumina, e na luz fica menos turvo o que somos e queremos, e as frustrações. Vivemos pelo cérebro que nos cativa ao ouvir Soul ou Jazz ou comer pipoca do CineMark.

Ter consciência sempre machuca. E machuca muito. Cada consciência a mais que temos, mais realidade absorvemos. A dor, neste caso, é um bom remédio. A dor exige de nós o esforço de dobrar a atenção. Perigo. Cuidado. A dor é a fraqueza às claras de que nossas vontades não serão sempre atendidas ainda que temos cosciência da realidade. A relação entre consciência e dor surge ao sabermos quão limitados somos. Temos livre vontade para desejar. E geralmente nos limitamos aí, ainda mais quando a realização de nosso desejo esteja na vontade do outro. Ter consciência também machuca quando uma verdade aparece repentinamente. Aquela verdade que não acreditávamos ou a verdade que nunca imaginávamos. Sair de um emprego, terminar um relacionamento, reconhecer-se sem formação suficiente são verdades que machucam demais porque nunca imaginávamos em nós. O dispositivo dor é acionado. A partir de então, a consciência toma parte.

A linguagem, creio, é o fenômeno mais importante do que a consciência e mais dolorido quando incapaz de nos ajudar. Como disse, através da linguagem, manifestamos nossa consciência. Linguagem falha, consciência limitada. A dor inicial da realidade é a confusão que o novo causa em nossa mente. Ficamos sem fala. Ficamos sem voz. Ficamos sem palavra. Ficamos mudos. Perdemos a linguagem. Todos ao descobrirem algo que julgavam não existir ficam mudos. Dar exemplo apenas machucaria. Vamos a apenas um. 

- Pai, sou baitola.

Por segundos o pai tenta reorganizar a linguagem interna. Imaginamos o silêncio dele para oprimir a baitolagem do filho. E pego este exemplo que é mil vezes mais tranquilo do que:

- Pai, sou corintiano, sendo o pai santista fanático.

A linguagem ajuda a traduzir em palavras a confusão desta realidade em nossa mente quando temos consciência dela. O pai poderia traduzir a novidade em palavras e tranquilizar-se. Se ele tiver esta competência, o filho, em relação ao pai, nada sofrerá emocionalmente. A linguagem vai muito mais além. O encanto de estar ao lado de alguém que transmita segurança com as palavras e com o que fala, parte deste princípio. A pessoa tem forma de trazer paz em nossas mentes por meio de palavras. Toda confusão é gerada pela falta de entendimento onde a luz da razão é obscurecida, sobrando sombras e mais sombras de todos os lados. A consciência virando palavras acolhe quem sofre de excesso de realidade. Não neste mundo quem resista a um bom bate papo em que a realidade é apreendida.

Reflexões

Algumas reflexões surgem inusitadamente e saltam para fora. Tormam-se palavras e até sinto meus lábios mastigá-las em movimentos involuntários. Deste vez foi um "não somos obrigados", e se não somos obrigado, podemos não nos permitir. Forte isso. Podemos não nos permitir desde ser idolatrado - meu caso ao dar aulas ou palestras - a não seguir uma moda qualquer em que nada perderíamos se a seguíssemos. Simplesmente pelo fato de não sermos obrigados e não nos permitirmos. Como a essência do mundo de hoje é o medo à solidão, nossos dias tendem à busca de relacionamentos amorosos, seja sonhando, desejando, procurando e sofrendo. Raramente falamos um "não sou obrigado" a ter alguém. Ainda mais quando a parte mais forte em nós mesmos é o envolvimento emocional, sem a frieza manipulatória do psicopata e mau-caratismo. Quem vive muita emoção não se contenta com "não sou obrigado". Mas imagine-se escovando os dentes e simplesmente se comunicar com seus próprios olhos do tipo "não quero", "não preciso", "não sou obrigado". Compreende? Pode ser que as emoções ainda sejam fracas e precisemos ficar inquietos desejando e fazendo inclusive o que sabemos que não precisamos nos submeter, vindo o arrependimento posteriormente. Oras! A solidão é um estado da alma. Da mesma forma em que se canta a realidade de uma recíproco com flores, chocolates, vinho, cinema e viagens, pode-se refletir sobre a solidão, não se permitindo a necessidade de ter alguém pelo simples fato de que as pessoas buscam olhos para serem olhadas, toques para serem sentidas, espaço e tempo para serem compartilhados, podendo viver bem com a sua própria presença cada detalhe disto. Não descarto eventuais toques. Porque noa descobrimos no toque do outro. Sofrer de amor ou de ausência qualquer de amor? Na verdade, podemos escolher o "não sou obrigado" a ser ou estar em uma condição em que vejo as pessoas sendo, estando, buscando e sofrendo por isto. Definitivamente não. Por outro lado, não descarto nenhuma complexidade da mente humana. Mas aí eu entraria em neurologia e quero só ter as impressões dispersas de um poeta com as palavras de um filósofo contemporâneo. Não somos obrigados. Você não é também, desde que não prejudique pessoal algum, porque minha moral é esta. Não sou obrigado, desde que não prejudique ninguém.

Russell

"Ao estudarmos os céus, vemo-nos privados de todos os sentidos. Exceto a visão."

- Bertrand Russell

E assim podemos compreender o início da especulação sobre a Teoria da Relatividade, do Arbert Einsteins. A visão humana neste nosso mundo físico é que as coisas são fisicamente fixas. A visão da Teoria da Relatividade neste mundo físico é que absolutamente nada no universo é fixo. Posso fazer uma analogia às àguas do mar ao lançar uma bola sobre elas. A bola nunca permanecerá no mesmo lugar, bem como cada litro de água nunca será o mesmo. Podemos imaginar que um barco afundado permanecerá no mesmo lugar. Mas na verdade, as águas que passam pelo barco serão sempre diferentes, logo, o lugar fisicamente tem mudanças... Adoro Teoria da Relatividade. Nos deixa tipo assim "relativos".

Ensinar

Ensinar nos ajuda a aprender. Como estou lendo neurociência pelo prazer que posso ter ao aprender, vou pontuar aspectos do nosso self (nossa própria identidade, daquilo que chamamos nosso eu). De acordo com Ramachadran,

1. O self é uma unidade, ou seja, nos sentimos um todo.
2. Continuidade, ainda que possamos nos fragmentar em criança, jovem, adulto e velho, a sensação de sermos algo contínuo fortalecesso nosso self.
3. Nosso corpo é a nossa morada. Nosso self tem muito a ver com a incorporação.
4. Privacidade nos torna cada vez mais dentro de nós mesmos. Podemos intuir a alegria ou a dor do outro, mas jamais sentir em nós a completude da realidade do outro.
5. Viver em sociedade nos faz sentir nosso próprio eu. Através da vida social que temos dimensão mais clara do que somos. Todas as nossas emoções (todas!) somente têm sentido sobre o outro. A vergonha e o pudor deixa clara esta perspectiva. Assim como a raiva, o ódio, o amor e a compaixão. Ausência de vida social  ausência de sentimentos. O que é o ciúmes? O que é a piedade?
6. Livre-arbítrio. Nosso eu, nosso self, nossa maior identidade surge quando consideramos nosso livre arbítrio. Nosso eu prevalecerá em nossas escolhas.
7. Por fim, autoconsciência. Podemos trazer todo mundo exterior para dentro de nós e refletirmos a respeito, bem como refletir sobre por que pensamos sobre as coisas. Autoconsciência do mundo e autoconsciência de nós mesmo.

"Esses sete aspectos trabalham em conjunto e juntos para sustentar o que chamamos de self. (...). A.mesa do self pode continuar de pé sem uma dessas pernas, mas se um número muito grande delas for perdido, a estabilidade fica severamente comprometida", nos diz o neurocientista.

Dragões do Éden

O livro abaixo, Os Dragões do Éden, foi escrito em 1977 pelo cientisra Carl Sagan. Este livro é uma tentativa de entender o desenvolvimento da capacidade dos seres humanos de produzir inteligência especializada reflexiva, e não apenas instintiva. Abordar cientificamente um assunto exige dados, amostras, pesquisas, análises, conclusões. Não sou pesquisador. Apenas alguém que escreve e sabe organizar um pouco o que compreende do que aprende. Interessante que há 39 anos imaginava-se relativo progresso das ciências que iam dando o acabamento final a tudo o que se sabia no castelo do conhecimento humano. Hoje em dia, muito do que se sabia certo, nem como referência científica serve - a não ser A Evolução das Espécies, de Charles Darwin e outros estudoa. Quem acompanha um pouco das pesquisas atuais no campo da cognição, por exemo, especificamente os estudos das partes especializadas do cérebro humano e a formação de inteligência especializada, ao ler o livro Os Dragões do Éden, reflete com curiosidade de como cientistas sérios de 39 anos atrás especulavam suas hipóteses científicas. Até o Big Bang tem sido questionado. Tenho certeza de que se estivesse vivo, Carl Sagan seria um destes atuais cientistas acrescentando pontos e vírgulas no acabamento do castelo científico, desmoronando outras construções. É isso aí. Estudar e aprender não exclui viver. Bem, não faço pesquisa e não posso julgar pelos pesquisadores. Mas tenho por mim que especializar-se em algo não anula outras vivências, desde aquelas mais profundas, como fé em Deus às mais humanas, como um belíssimo porre de caipirinha em pleno Carnaval.

Tomar Decisão

Conheça alguém que tome decisão rapidamente e persista firmemente. Será feliz com ela. Uma decisão pode ser tomada em pouco tempo, em muito pouco tempo. Medo de errar? Medo de viver. Medo de se frustrar? Medo de viver. Medo de terminar de uma hora para outra? Medo, definitivamente, de viver. Acho bonito pessoas que se posicionam rapidamente, tomam decisões rapidamente e rapidamente não gastam preciosas energias alheias e as de si próprias. Vasculhe um pouco a realidade do mundo das pessoas que nos cerca. Verá o sorriso autêntico de quem não dá bola para o tal "medo de viver" e tomam rapidamente uma decisão para o primeiro passo de um tempo feliz de vida. Viver feliz é um fenômeno que teremos por parte, homeopaticamente. Tormentos quem não os tem? Ansiedades? Malogros? Fraquezas? Temor e medo? Todos, por onde passa a fragilidade da existência humana, temos. Mas que se dane o tal "medo de viver". Claro que a felicidade (aquela parcial, de alguns dias, alguns meses, alguns anos) baterá à sua porta. O medo de tomar uma decisão rapidamente não ajudará. Abrace a decisão e persista no sim, no claro, no vou, no aceito, no venha, no estou indo, no com certeza, no fico, no durmo, no assisto, no como, no bebo e em todas as infinidades de oportunidades que a felicidade bate para ficar por um período em nossa existência. Ah, mas e o medo de acabar? Oras, se vai acabar então por que começar, certo? Errado! É o medo nem abrindo a porta, e caso abra nem convida para entrar, e caso entre nem oferece a hospitalidade do lar, e caso ofereça nem pedirá para retornar no outro dia. Bobagem. Mais sim ou não rapidamente. Mais decisão rapidamente e menos gasto de energia. Que esta, a energia, seja gasta em beijos, abraços, passeios, olhares infinitos que os toques das mãos e das peles exigem mais e mais proximidade. Decida sempre quando a dúvida for o medo. Afinal, medo de viver, por que razão? Ao final, por razão nenhuma...

Atenção

A atenção do carinho parece que pertence ao jovens do que ao maduros - ao menos em nossa terra brasilis. Deveria ser equivalente. Com o passar dos anos, a atenção ser proporcional à maturidade, compreende? Algo do tipo, nos beijamos, nos envolvemos, nos sentimos reciprocamente, terminamos, e o carinho se mantem, sem apego, sem necessidade senão pela gratidão. Quem gosta de si e se ama, quer o passado feliz, ainda que corporalmente presente sem as permissões de outrora. Certa vez meu irmão me disse "essa pessoa sobre quem você fala não é a que você fala." Não que eu me iludia. Apenas exteriorizei algo ideal. É possível, desde que recíproco, a cumplicidade de pessoas que se amaram. Os filmes de Wood Allen são assim, né? É possível, desde que ambos solteiros, certo? Isso porque sou machista. Acho que mulher deve ser cuidada como filha, mãe e avó. E homem tem mesmo que proteger e ir para guerra.

Falo


Falo para todos que já sou um senhor de quarenta anos por razões pessoais, mas saber amar não me deixa envelhecer o olhar e o contato. Passam os anos e os sentimentos bons conservam os ânimos. Não me perco no que eu sei. Resumo, vivo em gratidão. Sou paciente para muitas coisas. Inclusive para o amor. Como acho que não preciso que as pessoas que me amam sejam pacientes comigo, prefiro que partam, porque boas experiências me formaram em minha quase totalidade, e respeito o tempo da pessoa ter suas próprias e importantes experiências. Não gosto de se fazer perder tempo, se a autoconsciência exige muitas diferentes nuances de sentidos.

Cansa

Cansa falar dos sentimentos de amor que sentimos. Particularmente, posso dizer que ainda me encontro apaixonado por ela. Bastante. Posso dizer que ainda gosto dela demais e sonho com ela quando ela estiver preparada para compartilhar um intenso amor. Ela surgiu sem querer em 2014 como as boas coisas da vida. Quase dois meses depois de minha separação. Ficamos nos vendo por quase dois anos. Mudou minha vida novamente. Me fez tomar decisões contra a minha vontade, acreditando que seria melhor mais para ela do que para mim. Temos 21 anos de diferença. Ela de 95 e eu 74. Sempre narrava um fato de minha vida passada. Por exemplo, entrei na faculdade em 95, vinha na cabeça dela "no ano que nasci", ou minha filha nasceu em 2000, eu falava "você tinha 5 anos". Comecei a trabalhar aqui em 2003, e eu a lembrava "tinha 8 anos". Desespero de minha parte à parte, ríamos juntos. Eu me apaixonava ainda mais. Um dia falei "sempre vai ser assim". É que eu tenho passado e ela não tem ainda. Mas não foi por isso que nos separamos, nos distancicamos e nos falamos quase nada mais. Olha que eu a amo muito ainda. Tenho minha débil convicção de que, se ela não me ama como eu a amo, ou se ela não me ama mais como antes, há muito sentimento ainda envolvido da parte dela. Somente especulo e devaneio. Na minha posição de homem realizado, eu preferi esperar e guardar com cuidado esse sentimento de amor. Vai que ela volte! Eu espero. Disse que esperaria. Tenho medo do ridículo e guardo esse amor do meu jeito, agradecendo, nutrindo a beleza dela com a saudade minha. Certa vez ela me disse que eu nunca seria 100% dela. Era março de 2015. Eu tenho três filhos. Ela é muito inteligente. Ambos compreendemos o que ela quis dizer. Preferi vê-la livre por isso. Ainda que desejava ter para mim meu objeto de amor. Sinto saudades dela. Sinto falta dela. Mas vou esperar. Que ela viva muito intensamente. Que eu me reconstrua para poder tê-la caso ela volte. Que ambos em alguns anos possamos nos reecontrar como nosso delicioso começo e recomeçar algo bonito, sincero, apaixonado. Ela perdoa facilmente. Eu também. No fundo ambos queremos ser felizes. Sim. Eu amo você, meu anjo. Amo tanto que sua felicidade me basta. Se for para juntos ficarmos, não quererei outra vida, senão da felicidade. Você merece. Eu amo ser feliz. Com você. Para você. E tudo o que uma vida junda proporcionaria. Um beijo novamente em seu coração. Te amo lembrando Cazuza "eu preciso dizer que te amo... tanto." Eu te amo tanto. Preciso dizer sempre.

Era dos extremos

Lia agora algumas linhas do livro  Era dos Extremos, que narra a perspectiva do historiador Eric Hobsbawm sobre "breve" século em que ele viveu e boa parte de nós agora que me lê nasceu. A essência dele é que a Guerra prevaleceu ao longo do século XX. Alguns momentos de paz, porém, como sinais de cansaço para outras guerras. Começou oficialmente em 1914 e terminou oficialmente em 1991 esse período de guerras intermitentes. Aos olhos de quem testemunhava os horrores das irracionalidades humanas, o fim da humanidade estava mais próximo a cada discórdia lançada em um tiro. Para mim, o que esses olhares aprenderam, nós hoje exageramos em nosso sofrimento e angústia. A maior preocupação não é a paz, mas a vida amorosa. De fato, tirando o evento de 2001 em Manhathan, não houve um ataque que levasse temor coletivo à humanidade. Temos nossos conflitos e temores, e creio que a maioria de cunho pessoal, pouca coisa coletiva. Temos o Trump no poder, o que fica algo iminente, como a possibilidade do "Americans first" e esse irreponsável começar um temor coletivo. Com o que nos preocupamos coletivamente? Meio ambiente, mudança climática, consumo, natalidade, recursos naturais, energia. Creio que ao menos já três gerações - desde 1960 - não experimenta o temor do fim do mundo como verdade plausível e real. Seria nossa infantilidade sintoma de não temer? Creio que sim. Querer ser amado em tempo de paz faz sofrer mais do que querer viver em tempo de guerra. Morrer na guerra é natural, ainda que sofrido. Não ser amado e querer ser amado na paz nos faz encontrar nosso terrível lado sombra, que pode nos destruir emocoionalmente. Viver tem dessa contradições. Viver em paz pode causar mal se não souber o valor que a paz proporciona.

Vasto horizonte

Em algum canto, deste vasto, mas finito, horizonte, se escondem milhares de mentes inseguras e inquietas. Elas buscam a si mesmas - envoltas em reflexões - as verdades, que nunca serão encontradas, a não ser dentro de suas imaginações. Uma vez soltos, onde aportarão tantos incontáveis desejos? A maioria se perde. A mente que admira é a mesma que se deixa apequenar. Lá longe, uma linha imaginária, que aprendemos a chamar horizonte, nunca será alcançada por quem quer que seja, semelhante à desilusão no amor que, por mais que se busque, nunca será compartilhada. Em algum canto agora há um amor que chora, outro que desespera, outro que ri das infelicidades, e do riso se faz nada e silêncio absoluto para sempre. Melhor que sentir é imaginar; melhor do que ir ao encontro do horizonte é crer nele à distância; melhor do que perseguir o amor é ser feliz na imaginação de respirar a paz da alma com nosso cérebro liberto, porque nunca se apequenerá diante da escravidão de uma dor que não lhe pertence. O horizonte não pertence ao mar, mas sim à nossa própria imaginação. Em algum canto uma lágrima pertecem ao mar agora, eu imagino. Em todos os cantos o horizonte não tem fim. É somentr uma linha imaginária.

Existe o todo

Existe o todo e existem as partes. Existe o particular e existe o universal. Existe a porção e existe o globalizante. Tenho lido sobre o universal. Na verdade, sobre a História Universal. De imediato, não creio em universalização, não creio em uma teoria que unifica, engloba e totaliza o conhecimento. Para mim, a filosofia parou em Kant, e depois dele aprendemos a pensar como Kant. Inclusive quem nunca leu Kant. Fui entender Kant apenas em 2016. Olha que eu já tentei inúmeras vezes compreendê-lo ao longo de vinte anos. Kant me ensinou didaticamente que duas coisinhas parecem ser realmente universais e ao mesmo tempo incompreensíveis para a mente humana, e para quem gosta de pensar - assim como eu - na mente humana: o Tempo e o Espaço. Kant escreveu que somos simultâneos no espaço. Eu, você, o mar que é minha paisagem agora, o sol que esquenta a areia da praia, e algo mais distante no universo que a imaginação humana não sabe onde é. No tempo, somos sucedâneos, consecutivos, somos constantes, porque o tempo é indelével. No tempo nossos eternos no passado e no futuro - existindo ou não existindo a mente humana. O tempo não existe senão em si e o espaço existe para nós, sol, planetas, buraco negro, partículas, que existimos, ou para o que virá a existir e para o tempo. Sem o espaço, o tempo interrompe seu percurso. Foi Einstein que disse. Nossa história é uma sucessão de acontecimentos que nos marcam a alma, assim como outro acontecimentos que são esquecidos. Chamamos de tempo de vida nossas experiências marcantes. Inclusive os traumas, que roubam malignamente nosso tempo. Tiramos de nossas experiências as dores e as alegrias, que também são relativas. Existem sentimentos inesquecíveis, porque habitam a memória de cada um de nós. Tenho os meus. Todos os temos. Por mais que exista algo de universal nos sentimentos humanos, eu observo o mar e reflito. Digo para mim mesmo que jamais uma onda no mundo será igual à outra - não importa quão eterno tem sido o movimento, não importa quão eterno será seu movimento. Ela vem, quebra, sonoriza algo, recua, semelhante a qualquer vida humana, que eu creio nunca haverá uma igual, ou semelhante à outra - ainda que compartilhemos o mesmo tempo, o mesmo espaço, os mesmos sentimentos. Jamais saberemos o que de fato o outro é. Quem me ensinou pensar assim foi Kant. Nossa razão possui um limite. Assim vejo também a História Universal da Humanidade. O Universal é o que tem de mais diversificado em qualquer teoria totalizadora. Sinto os estudos do cérebro humano - a atual neurociência - mais especificamente a parte dele chamada "neurônios-espelho" algo futuro do que explicará po rque pensamos, por que refletimos, por que somos introspectivos, por que olhamos para nós mesmos e por que conseguimos olhar para o outro dentro de nós mesmos. Sou mero curioso sem ter vontade de passar meu tempo em festas, ebriedade e frivolidade, porque gosta de aprender e quanto mais aprende, mais relativiza suas certezas e mais se entraga à poesia e à arte poética. Às vezes arrisco uma reflexão cujo modesto objetivo é tentar organizar as leituras sobre um tema tão específico como a História Universal da Humanidade, para qualificar-me no mestrado sobre o romance Esaú e Jacó, de Machado de Assis. Ironias à parte, um celular como esse em minhas mãos é a máquina de escrever na escrivaninha do passado, onde nossos intelectuais se intelectualizavam. Com o celular, podemos nos permitir arriscar reflexões e poesia em qualquer canto, inclusive na praia, uma praia tão linda como essa. Eu não enumero quantas ondas já se quebraram enquanto escrevo, mas as ondas não me deixam esquecer-lhes. Além de serem minha 9° Sinfonia de Beethoven, elas são a diversão de muita gente, e cada qual na sua fruição apaixonada, ou simples frivolidade.

Férias

Férias. Algo que podemos chamar de distanciamento. Ficar longe. Sair de férias, distanciar-se, ficar longe. Não dá para viver de outra forma senão querer algumas vezes meter um pé na jaca para não ser um pé na bunda de alguém.

Um pouco mais intenso do que a maioria dos meus conhecidos, eu tenho enorme necessidade de ficar longe de algumas coisas e até de algumas pessoas. Simplesmente afastar-se. Nem que para isto sobre o corpo apenas. Da mesmo forma que damos energias, pessoas, coisas e momentos que vampirizam.

Sei quão complicado é se distanciar sem os rastros. Admiro quem vê friamente a quebra das relações com um simples f%¤¥₩da-se! Não que internamente não esbravejo. Só que preservo. Paz é um bem muito precioso para mim. Quero as férias sem ser procurado. Xingar ajudaria. No entanto, seria guerra, ou medo, ou até covardia.

Fala Edipo Rei

"Seja quem for o culpado, proíbo a todos, neste país onde tenho o trono e o poder, que o recebam, que lhe falem, que o associem às preces e aos sacrifícios, que lhe deem a menor de água lustral. Quero que todos, ao contrário, o lancem para fora de suas casas, como a imundície de nosso país (...). Rogo aos céus que o criminoso, quer tenha agido a sós, sem se trair, ou com cúmplices, tenha uma vida sem alegria, vivida miseravelmente, como um miserável; e, se por ventura viesse a admiti-lo conscientemente em meu lar, que eu sofra todos os castigos que minhas imprecações lançaram sobre outros. (...) E a todos que se recusarem a executar minhas ordens, peço aos deuses que não deixem as terras dar a colheita, não deixem nascer filhos de duas mulheres, mas que os façam perecer desse mal que nos atinge, ou de um outro pior..."

In Édipo Rei

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Amar é o início

Amar é o início. Dedicar-se à pessoa amada é a habitação. Da mesma forma o poeta que ama, e para sua amada inspiram-se poemas. Elq escreve. Ela gosta, mas um dia ela se cansa da poesia para si, assim tudo na vida que gira em círculo vicioso, porque não sai do lugar. Nossa mente tem muitas asas. Ajudar quem você ama no TCC dela transbora gratidão - digo mais do que um poema até. Um senhor na minha idade foge de quem somente quer amar, porque além de algo pegajoso, vampirizador emocional - já disse - é também um círculo cansativo. Nada de aceitar amar por carência recíproca. Agora, estar ao lado de alguém pela gratidão, bem-estar na companhia, paz de espírito e admiração é demais, onde eu moro, mas sem ela. Eu não estou com ela. Temos muitos anos de diferença. Ela não gosta mais de mim. Eu gosto dela porque ela me faz bem. Entende o que de fato me lembra o amor? Alguém que me faz bem é meu amor. Meus filhos me fazem bem, meus livros e alunos me fazem bem, o sol, a lua, a natureza, a filosofia me fazem bem, e ela, minha doce encantada amada, por quem sinto-me ridículo no que de ridículo o amor encanta, me faz bem. Sobre o ridículo de amar: entregar-se à inocência e puerilidade, e sorrir sem malícia do adulto. Corpo velho, mente dialética, alma nova me foram para mim mesmo e para quem eu particularmente amo. Eu quero minha amada feliz. Muito feliz. Felicíssima. Ela merece. Ela não é tanto de chorar. Sim, ela chora. Mas prefere sofrer com um sorriso nos lábios. Eu a conheço. Ela me faz muito bem.

terça-feira, 14 de novembro de 2017

Muitas coisas morrem

Muitas coisas morrem ao longo de nossas vidas. Porém, para algumas, o sentimento de amor curioso parece nunca morrer - quando muito hibernado, e desperto na menor faísca que o relembre. Tive meu grande amor na adolescência, que me fez perder os rumos do que poderia ser até meus vinte e três anos, e me fez fantasiar que mais nada haveria nesse mundo a não ser ela, a Elisângela, que me trazia uma dimensão espiritual que transcendeu os mais absurdos do sonhos surrealistas. Tudo fruto de minha própria imaginação. Claro que me iludia - muito próprio da adolescência para quem o ato de amar era único e eterno. Estava de fato apaixonado, ou seja, dependente e passivo. Perdia a razão na maioria das vezes, sem perder a dignidade. Incrivelmente foi uma pitada de sanidade que me salvou contra aquele monstro que criei. Uma jovem, que tem a minha idade hoje, que diz se apaixonou por mim quando tivemos algo aos dezessete anos, voltou hoje a falar comigo depois de mais de vinte anos. Não sei se o amor por mim morreu há muito tempo no coração dela, e essa volta faz parte da curiosidade humana. Creio que sim para ambos. Creio porém mais no amor, que está lá. Se a Elisângela aparecesse hoje, eu solteiro, ela solteira, seria no mínimo divertido retomar para mim aqueles tempos de paixão pueril e infinita e beijá-la. Em 2012 eu tive esse oportunidade. Eu não estava impedido, no entanto. Eu estava casado. Ela solteira. Conversamos muito até. Ela quis entender o que era aquele sentimento todo que eu nutria por ela na adolescência. Expliquei-lhe do modo mais racional e didático possível: era imaturo e inocente. Foi gostoso reviver tal momento. Mas a verdade era que pouco sobrou daquele amor que me ensinou a sofrer o outro. Muito pouco mesmo. Minhas emoções foram substituídas por outras bem mais fortes, infinitamente mais significativas, de modo que o eterno daquela paixão foi uma perspectiva, uma curva sinuosa, reticências do absoluto... Tenho vontade de olhar para algumas vidas apaixonadas hojs, que sofrem a dor da morte do amor não correspondido, e dizer que há mais de ilusão do que de amor nesse coração. Certamente receberia o troco da incompreensão por nunca haver amado como ela. Mas não farei. Sei que iludir a mente ajuda de alguma forma saber que somos vidas, somente vidas, breve vida.

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

E se apaixanar-se?

- E se você se apaixonar um dia?
- Aí a pessoa será muito especial e eu não terei com que me preocupar.
- Qual a definição de uma pessoa especial?
- Culta, inteligente, independente financeiramente, que saiba ao menos um outro idioma, gostar de ler muito, gostar da natureza, de filosofia, de animais e de crianças; que seja sensata, sábia, tolerante, não-ciumenta; que não seja carente, nem dependente emocionalmente, não tenha vícios, e que saiba o limite das coisas. Enfim, por ai...

domingo, 12 de novembro de 2017

Diálogo

Eu: Meu anjo, quero que leia o poema que eu escrevi para você. Afinal, embora eu não possa ser 100% seu, você tem a melhor parte de mim.
Ela: Pode mandar.
(Mandei o poema. Ela leu.)
Ela: Nossa. Maravilhoso. Melhor poema que já li seu! Parabéns.
Eu: Foi o melhor poema que eu fiz, porque meu sentimento por você faz de mim alguém que gosta de fazer poemas, especialmente para você.
Ela: Parabéns!
Eu: Mas repare nas letras iniciais dos sete últimos versos. Reparou?
Ela: Nossaaaa! Verdade. Agora que eu vi.

sábado, 11 de novembro de 2017

Poema

Aonde vais tu,
Com o que resta de mim?
Sou pouco aos olhos do amor,
Sou pouco, próximo ao fim.

Iludiras-me tu
E aflito de mim, te amo.
São regras penosas do amor.

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

A Lua

A Lua

Que o brilho da noite suspenda,
Por um breve e curto momento,
A dor solitária de amar.
É que a lua evoca segundos
Passados, felizes, ciosos,
E põe-me sozinho a sonhar.
Das vezes comigo na estrada,
Vadio, errante, dormente,
A lua amiga inspira:
"- Quando voltas a mim, meu amor!",
Suplico sem eco, sem vida.
"- Ao menos a dor me suspira."
Recito-lhe, em meu triste delírio,
Sem fim aqui dentro vago,
Mórbido, a sombra reflete-me.
Só tu, casto amor, me animas,
Não digo das lutas perdidas,
Que ao ar, desfiz-me em pó.
Os pés agarrados ao chão,
Lua brilha assim de repente.
Retorno cansado de amar.
Tão cansado, sozinho, ao luar.
Novamente em tal solidão.
Logo o dia fervente me rende.
Repouso com a mente dormente,
Que a luz causa mais desconforto
E perturba a dor de sofrer.
Quero a lua suspensa, eterna,
Que me lembra a flor dos meus olhos.
Sempre pura, meiga e amada,
Juro a ti o amor verdadeiro,
Uma vez que somente a ti quero.
Livre em mim amor não espero,
Inspirado, mas fraco infeliz.
Ainda que falta-me luz,
Não importa se lua, se sol,
Amar é meu grande momento.

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Despertei

Despertei há duas horas. Fui ao bamheiro. Poderia ter voltado a dormir, porque estava com sono. Equilibrava-me para deitar na cama, uma vez que minha consciência não estava plena ainda. A televisão ligada. Meu filho deitado ao meu lado. Mudei de canal e mantive-me desperto. Vejo as mídias sociais, leio algumas notícias em jornais. Passo meu tempo. Quando passamos nosso tempo, uma das armadilhares e revisitarmo-nos... Não é fácil falar sobre si mesmo sem deixar a impressão de fragilidade. Mesmo se no exaltamos, algo de recalque sugere o contrário. Comum a quem escreve dizer do outro, e quando refere a si, prefere o lirismo que enaltece. Escrever para mim vai além do que se faz diariamente por aqui. Falar dos sentimentos sem filtros é próprio do desabafo. Não há critério algum. Quem não filtra o que fala ou escreve pode se arrepender. Nesses meus sentimentos e memórias revisitados, não chego a ter arrependimento. Algo de satisfação pessoal comigo mesmo e gratidão pelo que pude tornar-me como pai, professor, escritor e aspirante a intelectual acadêmico, me deixa de bem com a vida e com os homens. No amor, minha alma envelhecida, com o corpo em envelhecimento, cansou do amor carnal, como nos