quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

As Coisas Podem se Ajustar

Eu creio que as coisas podem se ajustar, se encaixar, se harmonizar na vida das pessoas, desde que elas desejem o ajuste, a harmonia e o encaixe. Na maioria das vezes, quando as pessoas são e sabem que são intelegentes e do bem, resolvidas e sensatas, elas podem partir do coração, que é a emoção para a razão, que são as certas decisões, sem deixar a poluição de qualquer pequena mágoa ou rancor ou orgulho distanciar aqueles sentimentos de pessoas diferentes que querem se conhecer com mais afeto. Insisto. Elas teriam de ceder e crer que erros e acertos são pequenos em corações dignos de serem amados. Vou repetir "corações dignos de serem amados". Quanto a este último, definitivamente não precisamos falar nem dar detalhes... Os corações dignos de serem amados reciprocamente se conhecem inclusive no silêncio de sua solidão.

Começamos a Gostar de Alguém

Uma hora, começamos a gostar de alguém... Não importará para o mundo, senão para aqueles diretamente interessados em nós, interessados em nossas vidas, interessados em passar momentos ao nosso lado, criar boas memórias em comum, ter anos compartilhados, como duas vidas em uma só.

Somos únicos, porém. Esta fusão, ou união de dois não existe. Não existe, senão poeticamente dois em um só. Acho poético "uma única alma, um único desejo, um único sorriso, uma única vida" para exagerar a união de duas vidas enamoradas que são na essência únicas e indivisíveis.

Uma hora, no entanto, começamos a gostar de alguém que começa a gostar de nós também. Seremos poeticamente uma só alma, uma só vida. Quem se importará? O certo seria ninguém se importar. Ou apenas quem queremos que se importe. A verdade, que incomoda, é que precisamos nos comportar ambos como uno desrespeitando nossa individualidade. O triste e tortuoso? Quando duas pessoas são unas, a realidade é que uma deixou de ser, o que é a morte em vida. Deixar de ser para que o outro seja.

Gostar de alguém e ser correspondido pode ser o unício de algumas frustrações pelas quais não queremos mais passar. Claro que pode ser o início de uma vida individual compartilhada. Eu sou otimista e prefiro compartilhar. Acho que o risco vale alguns desafios.

Vagueie a Imaginação

Tudo o que se escreve, quando as pessoas tem algum interesse em nós, seja edificante ou destrutivo, é um passo para a fuga à fantasia. Meu conselho? Fantasie! Liberte! Vagueie a imaginação. Crie os delírios e as esquizofrenias da alma. Suspenda de vez a razão neste momento. O bom dos sonhos delirantes é que eles traduzem a real fragilidade de nossas almas em nosso inconsciente. Deixar solta a alma então edifica verdades... Para fechar o ciclo, porém, volte-se em seu próprio pensamento de onde vem o que queremos. O quanto escondido não está lá em nossas fantasias, que são nossas verdades inquietantes, que o corpo largado na cama, ou no sofá, ou cercado de pessoas onde quer que esteja oprime e fantasia no outro em quem temos algum interesse pessoal. Para sintetizar: no fundo, temos interesse em nós mesmos, e queremos apenas nos encontrar fora de nós mesmos. Deliremos! Fantasiemos! Há males que realmente vem para o bem, porque o bem sempre será bem para os de bem...

Tomar Decisão Rapidamente

Conheça alguém que tome decisão rapidamente e persista firmemente. Será feliz com ela. Uma decisão pode ser tomada em pouco tempo, em muito pouco tempo. Medo de errar? Medo de viver. Medo de se frustrar? Medo de viver. Medo de terminar de uma hora para outra? Medo, definitivamente, de viver. Acho bonito pessoas que se posicionam rapidamente, tomam decisões rapidamente e rapidamente não gastam preciosas energias alheias e as de si próprias. Vasculhe um pouco a realidade do mundo das pessoas que nos cerca. Verá o sorriso autêntico de quem não dá bola para o tal "medo de viver" e tomam rapidamente uma decisão para o primeiro passo de um tempo feliz de vida. Viver feliz é um fenômeno que teremos por parte, homeopaticamente. Tormentos quem não os tem? Ansiedades? Malogros? Fraquezas? Temor e medo? Todos, por onde passa a fragilidade da existência humana, temos. Mas que se dane o tal "medo de viver". Claro que a felicidade (aquela parcial, de alguns dias, alguns meses, alguns anos) baterá à sua porta. O medo de tomar uma decisão rapidamente não ajudará. Abrace a decisão e persista no sim, no claro, no vou, no aceito, no venha, no estou indo, no com certeza, no fico, no durmo, no assisto, no como, no bebo e em todas as infinidades de oportunidades que a felicidade bate para ficar por um período em nossa existência. Ah, mas e o medo de acabar? Oras, se vai acabar então por que começar, certo? Errado! É o medo nem abrindo a porta, e caso abra nem convida para entrar, e caso entre nem oferece a hospitalidade do lar, e caso ofereça nem pedirá para retornar no outro dia. Bobagem. Mais sim ou não rapidamente. Mais decisão rapidamente e menos gasto de energia. Que esta, a energia, seja gasta em beijos, abraços, passeios, olhares infinitos que os toques das mãos e das peles exigem mais e mais proximidade. Decida sempre quando a dúvida for o medo. Afinal, medo de viver, por que razão? Ao final, por razão nenhuma...

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

FALAR COMO SE ESCREVE

"Porque você fala como se estivesse a ler num livro aberto à sua frente."

In Noites Brancas

Houve um economista brasileiro, Roberto de Campos, que dava entrevistas como escrevendo um artigo, ou seja, falava como se escrevia um texto conciso e coerente. Como seu assunto era técnico, economia, ele encantava a alma dos técnicos sem confundir a alma sensível dos artistas com seu encanto. Para uma cultura letrada, um fenômeno banal. Para um cultura letrada com poucos leitores, como a brasileira, um fenômeno e tanto! Falar como se escreve. E aqui tomo para mim a reflexão.

Caso eu queira, seja necessário, seja relevante, eu tenho formação interna e capacidade linguística de falar proximamente à escrita. A única diferença seria que "palavra falada o vento leva", e não teria a chance de corrigir os erros dos meus limites naturais. Para o ouvinte, porém, estes erros seriam recompensados com a entonação da voz, com os gestos das mãos, com alguns trejeitos corporais.

Dos encantos como consequência de se falar como se escreve são os encantos na alma do outro em uma conversa intimista, numa distância de poucos centímetros. Não me refiro ao papo pé de ouvido. Estes são os sussurros, e falar como se escreve sussurrando já é burrice. Para um sussurro um "minha linda" e semelhantes causam melhor efeito porque vai profundamente...

Coloco-me a refletir também. O encanto a poucos centímetros tira as imperfeições sedutoras e falsas do corpo, uma vez que nem olhos, nem orelha, nem nariz, nem o rosto como um todo trazem visivelmente a marca da enorme barriga, a calvície ardente ao sol, e algumas assimetrias. Falar de modo encantador a poucos centímetros é o mesmo benefício que traz a paz após a tormenta. A paz é a ausência das inquetações internas e a sensação de segurança absoluta.

Peguei o livro Noites Brancas para retomar a leitura nesta manhã. Li um trecho. Refleti e parei para escrever. No livro, a certa altura, a jovem Nástienhka fala para o "sonhador" narrador:

"Você conta isso lindamente, mas não lhe seria possível contá-lo de maneira menos bela?"

Ele responde:

"Desculpe-me. Não sei contá-las de outra maneira."

Está aí algo que não volta. Quem usa da palavra para falar suas impressões e reflexões sobre o mundo, é natural a clareza... Quando uma pessoa falar que eu sou pedante quando narro algo ou conto algo, em instantes, para não ser indelicado, deixo de lado meu natural dicurso interno de ser eu e me torno amenidades, trivialidades, cheio de coloquialismo e cotidiano. Não por respeito a ela. A maneira mais rapidamente de começar e terminar um papo é falar da chuva, do calor, do stress. Até nisto um escritor pensa...

Como disse, falar como se escreve é possível. Claro que ler é importante ou conviver com pessoas desta natureza. Está aí o convite. Ler. Leia muito. Vai ajudar demais. E aquilo que você chama de solidão, um escritor chamará de vida, ou seja, tem pleno controle de sua própria existência, para mim, cheia de encontos.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Choro

Há quem chore pela ausência; há quem chore por solidão; há quem chore por insegurança; há quem chore pela distância; há choro de medo; há choro de raiva; há choro de saudades, muitas saudades; há choros ao ler ou ver ou sentir ou ouvir ou comer algo que mexe naquele canto escondido de nossa memória de alguma emoção indelével, imortal em nós. Há centenas ou milhares de razões para as lágrimas. E Jesus chorou três vezes, narra a Bíblia.

Jesus chorou. Três vezes. A Bíblia narra. Deve ter sorriso em algum momento. A Bíblia não fala. Deve ter sorrido, talvez, pela felicidade do próximo, por exemplo, da do Jairo quando (a Bíblia narra) sua filha foi ressuscitada por Jesus. E, para terminar, vale a pergunta: que tipo de sorriso seria este de contentamento pela felicidade do outro? O sorriso do choro. Exato. Sorrir por fora; chorar por dentro. E 99% de meus choros por fora são de agradecimentos por dentro.

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Reconstruir

Querer resconstruir, porém, o que não tem mais alicerce é medo, é fraqueza, é vaidade, é egoísmo ingênuo, preso a um único mundo.

Um vaidoso (dentro de qualquer vaidade) é um fraco. Acabou? Deixe o ex-amor ir mais forte para o mundo, de modo que ele ou ela viva livre e com certo direito ao egoísmo da liberdade! A chave é sempre deixar ex-amores melhores do que estão. A chave para viver bem no mundo e livre.

Já me disseram que estabelecer relações amorosas e não quebrar as que temos é o desejo do nosso inconsciente por medo da solidão. Mas há solidão maior do que a presença de alguém para nos lembrar todos os dias de que não queremos estar mais alí?

Existe? Deixe ir. Mais forte para o mundo.

Primeiros minutos

Calma. Não podemos nos iludir. Os melhores momentos de um possível relacionamento amoroso são aqueles em que começamos a conhecer a pessoa. Os melhores futuros (caso existam!) não se comparam com os primeiros minutos, as primeiras horas. E o olhar! O olhar. Não percamos o olhar. Os melhores momentos do início acompanham os marcantes olhares. Olhamos tudo no outro. Olhamos a fala, os gestos, as mãos, como anda, como se senta, como entra e sai de qualquer lugar, como sorri para si, para o mundo. Sorrimos com o olhar da pessoa; envolvemos tudo sem muitas palavras. E só o tempo revelará tão marcante início para nossa felicidade...

Verdade. Verdade também que nos primeiros minutos, com um pouco de percepção, as pessoas se revelam para nossa frustração. Não for um sedutor, uma sedutora com interesses escondidos, podemos ter uma nada boa experiência. Reciprocamente.

Quem não nos agrada nos primeiros minutos, nós geralmente guardamos o melhor de nós. Ela nunca nos conhecerá. Ficamos até mais idiotas. E deixamos nosso lado tosco se revelar, ganhar forma, corpo e infantilizar-nos. Mas para nos infantilizarmos intencionalmente precisamos ser muito maduros. Compreende?

O grande problema, porém, é quando temos o equilíbrio aterrorizante e surge dúvida acompanhada de um "mas e se..."; ou um "talvez não seja bem assim"; e ainda um íntimo "será que pode mudar ou vai ser assim sempre?". Minha tese: na dúvida, nossa intuição sempre será a mais certa a seguir. Será sempre assim.

Passados os primeiros e eternos minutos, que nos marcarão e seremos marcados, vem a esperança de que o outro saiba nos acolher. Os primeiros minutos serão fundamentais porque queremos ser acolhidos o máximo possível. No fundo, é tudo parte disto.

E convenhamos algo para terminar e deixar o pensamento entregue a si mesmo. Como é gostoso o novo! No fundo, toda nova amizade começa no silêncio, com o olhar somente; todo amor também é no silêncio. Eu amo as primeiras palavras, amo os primeiros momentos; chego a sentir saudades no momento inicial. Reflito: "poderia ser sempre assim; poderia todo futuro ser este início da descoberta do olhar." Mas o que eu amo mesmo é descobrir o outro no silêncio e, ainda mais, quando o silêncio basta e diz tudo. Existe algo mais acolhedor do que um agradecido silêncio?

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Solidão

A Solidão

Peguei a estrada ontem à noite voltando do litoral para SP. A Mogi-Bertioga. À certa altura, vi-me sozinho. Sem carro algum. Céu, um breu. Vegetação escura. A pista sinuosa. O rádio tocava um jazz mais para blues. E de repente, pensei ma palavra "solidão". Inspirado, poetizei "não queiram tal solidão!".

Eu dirigi grande parte do caminho construindo em palavras a Solidão. Fui, mentalmente, sussurando com a mente um poema sobre a Solidão. Uma pena nosso cérebro não ser mais capaz de salvar os cânticos como antes! Sim. O homem, antes da escrita, salvava sua literatura na cabeça.

Teimosamente, fui criando um poema, mesmo sabendo que seria apenas para mim: seu criador, seu apreciador, seu julgador, seu declamador, editor e seu carrasco.

O nome do poema seria "A Solidão" e começaria mais ou menos assim:

"Solidão!
Não queiram!
Não queiram a solidão de uma estrada sinuosa à vida noturna.
Não queiram tal solidão!
A solidão do abandono silencioso do que somos, fomos, seremos.
Não queiram.
Não queiram.
Não à solidão de qualquer canto e cântico de qualquer gênero, de qualquer época, de qualquer solidão.
Não.
Não à solidão.
A solidão do olhar perdido lá longe, nas estrelas, lá distante, no passado, lá entregue dentro de nossa cabeça.
Não!
Jamais queiram tal solidão do afastamento da lápide em que todos dão as costas depois de plangearem verdadeiramente.
Solidão não mata; nos abandona em nós mesmos e vive em nós.
Não queiram tal solidão.
Ela, a solidão do não sentir-se, nem remédio da dor imaginada.
Não existe a solidão, senão criada e intensamente vivida.
A solidão de estar acompanhado.
A solidão de ver acompanhado.
A solidão da vontade de um dia estar acompanhado.
A solidão do alívio de estar só.
A solidão de sofrer, de fazer sofrer, de viver sem saber."

E o poema estendeu-se pela serra inteira. E assim eu quis. Refleti que iria chegar em casa, colocar uma caneta em minhas mãos, papel na mesa e escrever. Escrever ou reescrever a solidão de viver uma rodovia noturna ao som de um blues. Ainda o faço um dia. Tem pulsado bastante a vontade de poetizar o máximo possível tudo aquilo que vale nem que seja um verso só, único, solitário de poesia.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Meu Maior Amor Juvenil

Meu maior amor juvenil

Uma das razões que me colocou a escrever, foi um longo e platônico amor. Não foi o meu primeiro (meu primeiro foi a Patrícia), mas com certeza o mais intenso. Este amor me ensinou que podemos amar e mesmo assim escolhermos entre nossos sentimentos e nossas vidas. Eu optei por minha vida. Não abri mão dela.

Algo me dizia que com ela, a Lica, eu seria infeliz e não construiria a minha ideia de família. Eu sempre quis ser pai. Para criar, estar presente, educar, brigar se necessário, e esperando as malcriações inevitáveis como hoje eu vivo. Não errei em minha previsão. Este meu platônico amor não casou, não tendo filhos e vivendo uma constante adolescência aos 38 anos. Incrivelmente nos encontramos no curso de inglês em 2012. Eu como professor; ela como aluna. Foi surreal. Na verdade, eu retomei contato com ela pelo Facebook. E eu a incentivei a fazer o curso e, mais do que isto, ir para o exterior. Ela é de família classe média. Os pais apoiaram a ideia e ela foi. Já está há dois anos morando lá, em San Diego.

E olha que bacana. Este amor me fez sofrer muito. E foram nos livros e leituras e poesias que descobri parte da tradução deste sentimento confuso e, na época, complicado para um adolescente como eu... Se sou escritor, eu devo a ela muito. Claro tive sorte ou sabedoria, no caso, de seguir minha intuição porque tive oportunidade de estarmos juntos, mas nada do que eu gostava, ela gostava. Seria um desastre. Devemos respeitar os gostos. E a empatia.

Não dá sempre para confiar na intuição. Conhecer uma pessoa, por isto, depende de um pouco de intimidade. Para o bem. Para o mal. Quantas frustrações não temos! Quantas expectativas quebradas nas intimidades. E que angústia, não? A ponto de perguntarmos: o que eu estou fazendo aqui?!? Exato.

Não devemos desconfiar das intimidades. Não desconfie das intimidades, ainda mais depois de repetidos momentos. Intimidade é a verdade. E mesmo que você se encante e desconfie do encanto, eu posso afirmar que o encanto não é o acaso, não foi sem querer, não foi planejado, premeditado: a pessoa deve ser mesmo encantadora. Disto eu não tenho dúvida. Não digo do sedutor que ilude; falo do encanto, que faz a pessoa crescer interiormente. O sedutor deixará você menos; o encantador, deixará você mais. E quanto encanto não temos ao nos sentirmos mais com a pessoa que nos encanta!

O que eu senti por este meu intenso amor lá no passado foi sedução. "Perdi-me dentro de mim." O que eu busco nas pessoas hoje em dia é encantamento, porque é bem o outro deixar você se sentir mais. Mais do pouco que somos. E na intimidade não vejo o complicado. Vejo um momento para decidir o caminho de nossa parcial felicidade. Saber o que quer e para onde ir nos faz felizes. E fiquemos com esta última: ser felizes. Estar bem com o outro que amamos dentro de nós.

Meu Maior Amor Juvenil

Meu maior amor juvenil

Uma das razões que me colocou a escrever, foi um longo e platônico amor. Não foi o meu primeiro (meu primeiro foi a Patrícia), mas com certeza o mais intenso. Este amor me ensinou que podemos amar e mesmo assim escolhermos entre nossos sentimentos e nossas vidas. Eu optei por minha vida. Não abri mão dela.

Algo me dizia que com ela, a Lica, eu seria infeliz e não construiria a minha ideia de família. Eu sempre quis ser pai. Para criar, estar presente, educar, brigar se necessário, e esperando as malcriações inevitáveis como hoje eu vivo. Não errei em minha previsão. Este meu platônico amor não casou, não tendo filhos e vivendo uma constante adolescência aos 38 anos. Incrivelmente nos encontramos no curso de inglês em 2012. Eu como professor; ela como aluna. Foi surreal. Na verdade, eu retomei contato com ela pelo Facebook. E eu a incentivei a fazer o curso e, mais do que isto, ir para o exterior. Ela é de família classe média. Os pais apoiaram a ideia e ela foi. Já está há dois anos morando lá, em San Diego.

E olha que bacana. Este amor me fez sofrer muito. E foram nos livros e leituras e poesias que descobri parte da tradução deste sentimento confuso e, na época, complicado para um adolescente como eu... Se sou escritor, eu devo a ela muito. Claro tive sorte ou sabedoria, no caso, de seguir minha intuição porque tive oportunidade de estarmos juntos, mas nada do que eu gostava, ela gostava. Seria um desastre. Devemos respeitar os gostos. E a empatia.

Não dá sempre para confiar na intuição. Conhecer uma pessoa, por isto, depende de um pouco de intimidade. Para o bem. Para o mal. Quantas frustrações não temos! Quantas expectativas quebradas nas intimidades. E que angústia, não? A ponto de perguntarmos: o que eu estou fazendo aqui?!? Exato.

Não devemos desconfiar das intimidades. Não desconfie das intimidades, ainda mais depois de repetidos momentos. Intimidade é a verdade. E mesmo que você se encante e desconfie do encanto, eu posso afirmar que o encanto não é o acaso, não foi sem querer, não foi planejado, premeditado: a pessoa deve ser mesmo encantadora. Disto eu não tenho dúvida. Não digo do sedutor que ilude; falo do encanto, que faz a pessoa crescer interiormente. O sedutor deixará você menos; o encantador, deixará você mais. E quanto encanto não temos ao nos sentirmos mais com a pessoa que nos encanta!

O que eu senti por este meu intenso amor lá no passado foi sedução. "Perdi-me dentro de mim." O que eu busco nas pessoas hoje em dia é encantamento, porque é bem o outro deixar você se sentir mais. Mais do pouco que somos. E na intimidade não vejo o complicado. Vejo um momento para decidir o caminho de nossa parcial felicidade. Saber o que quer e para onde ir nos faz felizes. E fiquemos com esta última: ser felizes. Estar bem com o outro que amamos dentro de nós.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

São ou Não Descartáveis

Reflexão horrível de fazer. Chega a ser cruel e até dolorida. Ao extremo pode levar os mais sensíveis à ânsia cujo mal-estar é nitidamente 100% psicológico. Mas calma. Aparentemente todas as pessoas concordarão. Arrisco que quase nenhuma se enxergará no lado negativo. A grande maioria condenará o chantagista e perdoará o 'coitado'. no entanto.

Falo do uso descartável que as pessoas fazem dos outros, ou quando o outro não tem mais utilidade, ou quando o outro dá um basta e não aceita mais imposição alguma, parando de ceder. Neste momento as coisas ficam nítidas e a alma do opressor é revelada.

Eu não sou assim, opressor. Não me coloco como vítima também. E digo com tanta tranquilidade justamente por ser 'vítima' de abuso das pessoas próximas. Eu não precisava de ajuda, porque tinha mais razão de ser sendo útil. Reparem que quando você quer realmente ajudar alguém, ela nunca sai prejuducada. Nunca. Do contrário, as pessoas usam as pesssoas e depois descartam...

Eu avalio muito o 'padrão'. A experiência nos ensina alguns padrões basilares, sendo que apenas aprendemos os padrões depois de três experiências semelhantes. Podem contar. Podem esperar...

Caso os seus três últimos casos amorosos eram desajustados, o padrão é você, e por algum comportamento psicológico você busca este perfil de caso. É um padrão. Considere este critério do 'terceiro' semelhante que acontece em sua vida. Ele mostrará um padrão. Pode ser muito benéfico para uma auto-avaliação. Ajuda a nos ajudar.

E o padrão se repete em ser útil. Clara e obviamente o padrão aparece quando você não aceita mais ser usado em hipótese alguma. Você deixa claro. A pessoa aceita. Diz que entende. Mas reserva-se porque não é ainda definitivo. Sabe que aos poucos, com um pouco de conversa, você pode ser maleável, o que é verdade. Mas quando realmente você se torna inflexível...

Bem, aí mesmo na sua inflexibilidade você pode ou poderá lembrar à pessoa: tudo o que você está falando contra mim agora, e mesmo o modo como você fala é pela simples razão de que você sabe que agora nunca mais me usará ou irá tirar nada de mim mais. E ela falará coisas que você não acreditaria. Do contrário... Exatamente. Do contrário, ela toleraria muita coisa e se guardaria. Não por amor, como muitas mães fazem com seus filhos desobedientes. Os interesseiros fazem porque são egoístas. Pensam só neles. Fazem por interesse. Há ainda a possibilidade de tirar algum suco. Não jogará ainda no lixo o que sobra. Somente vai para o lixo quando definifivamente ela perceber que pode cair o mundo, o rompimento aconteceu. Nada mudará a postura do oprimido.

As chantagens emocionais vivem bastante disto. Eu acho triste. Vejo sim uma mistura de fraqueza com muita safadeza e manipulação. Porém, é necessário romper-se de qualquer escravidão. Nenhuma é bacana. Nem todos se dão bem com a escravidão emocional. Acho que ceder faz parte. Minhas três experiências, no entanto, me fizeram botar os pés no chão. Claro que fui errado por ceder demais. Não posso ser vítima. Porém, depois da terceira experiência, criamos uma estrutura interna que nos ajudará a solucionar muitos problemas. Viver tem estes benefícios. Podemos aprender para melhorar. E acho que melhorei...

domingo, 13 de dezembro de 2015

Sociologia de Nossa Burguesia Brasileira

por Flávio Notaroberto

Por que gosto de falar muito sobre mim? Creio e sinto que praticamente a maioria do potencial do sentido das palavras já foi usado. Qualquer força de expressividade já foi expressa por grandes pensadores e escritores. A originalidade não existe mais, senão para os jovens que são virgens e ainda aprendem o desconhecido. Sem novidade expressiva, falo de mim porque ao menos são as minhas impressões que podem ser interessantes.

As pessoas precisam de traduções emocionais e reconhecer seus sentimentos, em síntese.

Encontrar na palavras o alívio que a descoberta de um sentimento confuso, ou que confundia, traz, é como ter um dinheiro inesperado para zerar todas as dívidas. Se me permitem admitir: temos dívidas emocionais. E raramente sabemos se são dívidas que fizeram para nós, ou se fomos nós que as arrumamos.

Neste sentido que muita coisa cansa. Cansa o excesso de problemas que criamos ou que nos trazem. E agora falo de mim: como me trazem problemas. Aliás, muitos problemas. O contrário não é verdadeiro, com exceção de dois: cito no final.

Eu tinha o hábito de me preservar mais. Não que não tinha meus problemas, e que ainda não eram meus. Mas me preservava muito mais. Por sinal, vou falar sobre ser burguês já que no fundo do pobre ao rico: todos somos burgueses, e a essência do burguês é a vida privada e liberal.

Eu sou burguês. Gosto de ser "burguês", porque denota simultanemente ser privado e reservado no âmbito familia e trazer na alma o conceito de liberdade e autonomia no âmbito social. Que brasileiro sabe desta nota histórica?

Eu li um pouco sobre a ascenção da burguesia no Séc. XVIII em dezenas de livro. Cito aqui o História Social da Arte e Literatura, do alemão Arnold Hauser. A família burguesa em oposição à família da nobreza.

Todo burguês é reservado com sua intimidade, sem deixar de fazer valer a sua liberdade, ou mais precisamente a realização de sua vontade.

Curiosamente estou lendo este dias Honoré Balzac. Um escritor e romancista francês que teve a ideia de retratar e pintar em palavras a sociedade francesa ao longo dos anos 1600, 1700 e 1800, período de transição social da família da nobreza para a burguesia. Lembro que a Revolução Francesa (matar literalmente reis) foi em 1789. A nobreza, quem satisfazia suas vontades através da plebe e do burguês, ao passo que quem satisfaz ainda hoje a vontade da burguesia é o poder econômico e para isto o conceito paradoxal de ser livre.

Pois é. As pessoas, e logo os burgueses, no Brasil, tem pouca iniciativa pessoal, logo não sabem que não são livres como um burguês o é atualmente. E pior, além disso, tem pouco conhecimento de mundo, de arte, de leitura, o que nos dias de hoje limita demais os pensamentos. E as razões são diversas para esta falha.

Por outro lado, a falta de cultura geralda pela falta de conhecimento não implica falta de dinheiro da nossa burguesia e nem dificuldade de acesso aos produtos modernos. Ao contrário. Nossa sociedade brasileira acha que ter acesso aos produtos substitui ler, aprender, refletir. Se comportam na essência bem ignorantes como os primeiros burgueses do século dezessete e dezoito. Sem cultura mas com dinheiro. Aí que vem o estrago.

A maioria das pessoas que tem dinheiro no Brasil, por pouco que seja, acredita que nunca é problema e sempre parte da solução. Paga impostos, ainda que sonegue, e opine, ainda que sem preparo. Neste ponto a novidade: ela é o problema que nossa sociedade brasileira burguesa atual temos. Como professor e como escritor, falo e deponho como é de arrepiar estes problemas que esta burguesia inculta nos traz opinando e vivendo como fosse a solução. Não é. Porque não consegue. Sem preparo.

Aliás, retomando, eu só levo problema para as pessoas, ou sou um problema de duas formas. A primeira, porque minhas palavras vão na alma e confundem a zona de conforto e crença de quem me lê e ouve: grande problema mesmo; e a segunda é quando me cansa ou me prejudica demais anular-me e ceder ao outro a minha própria vontade e desejo, dando um basta. Sim. Neste momento o outro tem um problema. Coisa mais particular.

Bem, só não seremos problemas a quem amamos incondicionalmente. A vida pode nos tornar um problema aos outros sem querermos, porque o corpo cansa, envelhece e defina. Algumas tristes velhices... E neste momento não há mais nada. Absolutamente nada, senão esperar passivamente definhar. Claro que o bom é ter um boa aposentadoria. Qualquer sociedade cuida o mínimo de um idoso gagá que ganha muito bem. Ele é ainda um burguês. As pessoas vão consumir com seu dinheiro.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

QUANDO VOCÊ NASCEU?

QUANDO VOCÊ NASCEU?

Em 2004 dei aulas em uma escola particular na cidade de Arujá, próximo à capital paulista. Eu marava no bairro de Ermelino Matarazzo, na zona leste, e trabalhava em mais quatro escolas na cidade de São Paulo: no Bom Retiro, na Bela Vista, em Artur Alvim e em Ermelino Matarazzo, no colégio Argumento, onde aliás fiz o Ensino Médio.

Todo início de ano, em todas as escolas, antes das aulas efetivamente começarem, há um ritual de reuniões pedagógicas onde se discute sobre tudo o que envolve a relação professor x escola x aluno x família. Se levássemos mais a sério estes encontros, eles seriam extremamente importantes e gerariam excelentes frutos.

E na escola lá em Arujá, próximo a um condomínio de luxo, não foi diferente. Eu, recém contratado, tenho um olhar desconfiado quando não acostumado ao meio. Falo menos, ouço mais, palpito pouco, sou conciso e lacônico em cada intervenção. A reunião pedagógica começou depois do café com pão e bolachas. A diretora olhou para nós, propondo uma reflexão inusitada:

“Quando você nasceu?”

Não houve quem não sorrisse levemente diante da questão. Eu quase falei 02 de maio de 1974. Preferi esperar...

E antes, porém, de qualquer resposta, ela insistiu, sem mudar a expressão séria do olhar.

“Quando você realmente nasceu?”

E aí a pergunta ficou um pouco mais complexa no ar! A palavra “realmente” soou enigmática. Um “presta atenção!” seu tonto! Interessante ainda é que ela disse: “Não se preocupem se chorarem. Chorar faz parte da vida! Chorar é uma maneira de explodir o coração silenciosamente.” Chorar? Foi estranho aquilo.

E ela insistiu: “Quando você realmente sabe que começou a viver e que nasceu de fato para a vida?” Então, a partir destas palavras, a coisa ficou séria! Todos os presentes engoliram seco.

Uma professora, soltando algumas lágrimas, falou algo relativo a uma doença que ela tinha superado! E o silêncio foi assustador. Outro, em seguida, lembrou da ausência da mãe quando era adolescente. E assim fomos! Quando minha vez, em lágrimas, solucei o nascimento de minha filha em 2000 e de meu filho em 2002. E todos, um por um, fomos descobrindo quando realmente tínhamos nascido para o mundo e para a vida!

Eu sempre fui perspicaz. Logo matei a charada! Nascer não é começar a respirar. Nascer envolve o que de fato fazemos com nossa vida quando decidimos fazer algo bom com ela! Nascer é quando nos sentimos amados e amando. Nascer é quando nos sentimos realmente vivos para a vida.

A diretora mexeu em nosso emocional, vasculhando nossas memórias: as marcas positivas e negativas que temos dentro de nós e que fazem o que somos. Seres absolutamente únicos!

Finalmente, eu descobri quando tinha nascido para o mundo! E não era um nascimento físico. Era um nascimento emocional! Um nascimento – como ela disse – para o mundo. O mundo real! O mundo que não pertencia a mim, porque passei a pertencer ao mundo. No meu caso, ao mundo de meus filhos e à minha responsabilidade de ser pai!

Fazer as pessoas nascerem para o mundo significa fazê-las reconhecer suas memórias mais marcantes, tirando delas a marca de crianças egoístas e adolescentes mimados. E vejo isto como grandioso! Grandioso porque somos o conjunto de nossas memórias. Somos a consciência de nossas memórias!

Por que não fazer da presença em sala de aula uma oportunidade de gerar memórias positivas nos alunos? A grande maioria de nós passa pela escola. Raramente, no entanto, ela é um sinônimo de nascimento! Infelizmente criam-se muitos traumas e dificuldades e desesperos ao longo dos anos em sala de aula!

Como sugestão de reflexão, dentro do seu coração, quando você realmente nasceu? Quando você realmente nasceu para a vida, para o mundo? Nascer é uma das grandes virtude do ser humano, principalmente quando ele já está vivo neste mundo, com o mundo, para o mundo, pelo mundo. Você já nasceu ou ainda estar para nascer?

domingo, 6 de dezembro de 2015

Enquando o Sol Caía

Enquanto o sol caía, uma mão esfregava a outra.
Era um diálogo, e ao fundo o sol caía.
Os olhos se viam, e parecia que das bocas poucas palavras saíam.
Ao longo, abóbora, o sol, entremente, caía.
Não parecia um casal que a vida discutia.
Nem a natureza do sol parecia qualquer dia.
Era apenas duas pessoas em que uma delas passava as mãos uma na outra, sem que para isto algo importante existia.
Era tarde de um dia certamente ensolarado.
O cair da tarde do dia muito daquilo que eventualmente fora o dia.
Para a noite surgir tão firme como o dia que talvez as duas pessoas diante de si mesmas ainda continuariam.
Só quem tem o olhar vadio na vadiagem da existência sabe apreciar a brevidade do sol escondido nas mãos de dois olhos que nem discutiam.
A poesia no olhar é fria para quem nem noite nem dia tem a importância que tem a vida.
Ficaram lá sem saber que foram vítimas de uma lente humana que em um relance o pouco que via, sentia.
A sensação tudo explica.
A sensação inclusive de ser, seja de noite ou de dia.
Amor que é bom amar a essência somente que a poesia cultiva.
E de poesia a alma humana breve sabe que para a eternidade um dia é simplesmente uma finita sequência de dias.
As pessoas querem ser amadas mas amar a si mesmas em suas carências.
Sobre poesia? Nem digo. Mais nada. Nadinha...

Fêmeas humanas não comem placenta

Uma cena forte para mim na vida animal é a fêmea devorando a própria placenta após o parto da sua cria. Seja quais das boas razões e benefícios há nisto, um gesto instintivo e sem julgamento. Mais do que alimento, porém. Ou que seja apenas mais um alimento fácil que lhe traga energia, é um ato que nossa cultura vê com nojo e incluve desnecessário.

No parto humano, não me lembro de uma cultura em que a mulher coma a própria placenta. Pode inclusive ainda haver tribos que o façam. Ou tribos que faziam e veneravam este gesto. A natureza tem algo uniforme e comum e belo que harmoniza todas as espécies em uma massa homogênea válida para todos. Por mais que há cultura em nós, somos natureza.

Em nossa cultura, alguns aspectos da natureza foram psicologicamente domesticados. O fato se evidencia hoje na mulher humana, ou na fêmea humana, não precisar devorar a própria placenta assim que nasce seu rebento. E os partos são aos milhares todos os dias. Da placenta do parto, se especula bastante nutriente e coisa para a ciência: desde as células-troco a enzimas e substâncias para a cura do virus da AIDS. Uma riqueza que envolve o filho que vem ao mundo sentir o que os vivos sentem e que a espécie perpetua. Sou fã da vida. Admiro a força e a fragilida de nossas crias. Amo ver o corriqueiro como uma milagre. Amo olhar e sentir.

Para mim, nada mais sacro em toda a sacralidade de nossa espécie, ou de qualquer espécie, que a maternidade. Viver é pouco se comparado ao nascer. Superar a vida que chega é um nada à vida que termina. Uma mulher grávida deveria ser venerada como Deusa, embora a minha fé apenas venere o Deus único. Tal a vida que ela carrega, que sem ela, a mulher, não teríamos a nós mesmos.

Amo as mulheres, como minha mãe, pelo potencial pai que todos os homens podemos ser e pelo pai que sou, pelo pai que deixo meus filhos serem o que a vontade deles querem ser. Sei que para o amor, há o ódio. Meu lado é da admiração e carinho. Não dá para fazer que os contrários gostem também do amor da vida, mas dá para dizer a quem ama a maternidade que estamos juntos. Juntos para nutrir sonhos. E florescer nossos rebentos.

Flavio Notaroberto