quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

As Coisas Podem se Ajustar

Eu creio que as coisas podem se ajustar, se encaixar, se harmonizar na vida das pessoas, desde que elas desejem o ajuste, a harmonia e o encaixe. Na maioria das vezes, quando as pessoas são e sabem que são intelegentes e do bem, resolvidas e sensatas, elas podem partir do coração, que é a emoção para a razão, que são as certas decisões, sem deixar a poluição de qualquer pequena mágoa ou rancor ou orgulho distanciar aqueles sentimentos de pessoas diferentes que querem se conhecer com mais afeto. Insisto. Elas teriam de ceder e crer que erros e acertos são pequenos em corações dignos de serem amados. Vou repetir "corações dignos de serem amados". Quanto a este último, definitivamente não precisamos falar nem dar detalhes... Os corações dignos de serem amados reciprocamente se conhecem inclusive no silêncio de sua solidão.

Começamos a Gostar de Alguém

Uma hora, começamos a gostar de alguém... Não importará para o mundo, senão para aqueles diretamente interessados em nós, interessados em nossas vidas, interessados em passar momentos ao nosso lado, criar boas memórias em comum, ter anos compartilhados, como duas vidas em uma só.

Somos únicos, porém. Esta fusão, ou união de dois não existe. Não existe, senão poeticamente dois em um só. Acho poético "uma única alma, um único desejo, um único sorriso, uma única vida" para exagerar a união de duas vidas enamoradas que são na essência únicas e indivisíveis.

Uma hora, no entanto, começamos a gostar de alguém que começa a gostar de nós também. Seremos poeticamente uma só alma, uma só vida. Quem se importará? O certo seria ninguém se importar. Ou apenas quem queremos que se importe. A verdade, que incomoda, é que precisamos nos comportar ambos como uno desrespeitando nossa individualidade. O triste e tortuoso? Quando duas pessoas são unas, a realidade é que uma deixou de ser, o que é a morte em vida. Deixar de ser para que o outro seja.

Gostar de alguém e ser correspondido pode ser o unício de algumas frustrações pelas quais não queremos mais passar. Claro que pode ser o início de uma vida individual compartilhada. Eu sou otimista e prefiro compartilhar. Acho que o risco vale alguns desafios.

Vagueie a Imaginação

Tudo o que se escreve, quando as pessoas tem algum interesse em nós, seja edificante ou destrutivo, é um passo para a fuga à fantasia. Meu conselho? Fantasie! Liberte! Vagueie a imaginação. Crie os delírios e as esquizofrenias da alma. Suspenda de vez a razão neste momento. O bom dos sonhos delirantes é que eles traduzem a real fragilidade de nossas almas em nosso inconsciente. Deixar solta a alma então edifica verdades... Para fechar o ciclo, porém, volte-se em seu próprio pensamento de onde vem o que queremos. O quanto escondido não está lá em nossas fantasias, que são nossas verdades inquietantes, que o corpo largado na cama, ou no sofá, ou cercado de pessoas onde quer que esteja oprime e fantasia no outro em quem temos algum interesse pessoal. Para sintetizar: no fundo, temos interesse em nós mesmos, e queremos apenas nos encontrar fora de nós mesmos. Deliremos! Fantasiemos! Há males que realmente vem para o bem, porque o bem sempre será bem para os de bem...

Tomar Decisão Rapidamente

Conheça alguém que tome decisão rapidamente e persista firmemente. Será feliz com ela. Uma decisão pode ser tomada em pouco tempo, em muito pouco tempo. Medo de errar? Medo de viver. Medo de se frustrar? Medo de viver. Medo de terminar de uma hora para outra? Medo, definitivamente, de viver. Acho bonito pessoas que se posicionam rapidamente, tomam decisões rapidamente e rapidamente não gastam preciosas energias alheias e as de si próprias. Vasculhe um pouco a realidade do mundo das pessoas que nos cerca. Verá o sorriso autêntico de quem não dá bola para o tal "medo de viver" e tomam rapidamente uma decisão para o primeiro passo de um tempo feliz de vida. Viver feliz é um fenômeno que teremos por parte, homeopaticamente. Tormentos quem não os tem? Ansiedades? Malogros? Fraquezas? Temor e medo? Todos, por onde passa a fragilidade da existência humana, temos. Mas que se dane o tal "medo de viver". Claro que a felicidade (aquela parcial, de alguns dias, alguns meses, alguns anos) baterá à sua porta. O medo de tomar uma decisão rapidamente não ajudará. Abrace a decisão e persista no sim, no claro, no vou, no aceito, no venha, no estou indo, no com certeza, no fico, no durmo, no assisto, no como, no bebo e em todas as infinidades de oportunidades que a felicidade bate para ficar por um período em nossa existência. Ah, mas e o medo de acabar? Oras, se vai acabar então por que começar, certo? Errado! É o medo nem abrindo a porta, e caso abra nem convida para entrar, e caso entre nem oferece a hospitalidade do lar, e caso ofereça nem pedirá para retornar no outro dia. Bobagem. Mais sim ou não rapidamente. Mais decisão rapidamente e menos gasto de energia. Que esta, a energia, seja gasta em beijos, abraços, passeios, olhares infinitos que os toques das mãos e das peles exigem mais e mais proximidade. Decida sempre quando a dúvida for o medo. Afinal, medo de viver, por que razão? Ao final, por razão nenhuma...

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

FALAR COMO SE ESCREVE

"Porque você fala como se estivesse a ler num livro aberto à sua frente."

In Noites Brancas

Houve um economista brasileiro, Roberto de Campos, que dava entrevistas como escrevendo um artigo, ou seja, falava como se escrevia um texto conciso e coerente. Como seu assunto era técnico, economia, ele encantava a alma dos técnicos sem confundir a alma sensível dos artistas com seu encanto. Para uma cultura letrada, um fenômeno banal. Para um cultura letrada com poucos leitores, como a brasileira, um fenômeno e tanto! Falar como se escreve. E aqui tomo para mim a reflexão.

Caso eu queira, seja necessário, seja relevante, eu tenho formação interna e capacidade linguística de falar proximamente à escrita. A única diferença seria que "palavra falada o vento leva", e não teria a chance de corrigir os erros dos meus limites naturais. Para o ouvinte, porém, estes erros seriam recompensados com a entonação da voz, com os gestos das mãos, com alguns trejeitos corporais.

Dos encantos como consequência de se falar como se escreve são os encantos na alma do outro em uma conversa intimista, numa distância de poucos centímetros. Não me refiro ao papo pé de ouvido. Estes são os sussurros, e falar como se escreve sussurrando já é burrice. Para um sussurro um "minha linda" e semelhantes causam melhor efeito porque vai profundamente...

Coloco-me a refletir também. O encanto a poucos centímetros tira as imperfeições sedutoras e falsas do corpo, uma vez que nem olhos, nem orelha, nem nariz, nem o rosto como um todo trazem visivelmente a marca da enorme barriga, a calvície ardente ao sol, e algumas assimetrias. Falar de modo encantador a poucos centímetros é o mesmo benefício que traz a paz após a tormenta. A paz é a ausência das inquetações internas e a sensação de segurança absoluta.

Peguei o livro Noites Brancas para retomar a leitura nesta manhã. Li um trecho. Refleti e parei para escrever. No livro, a certa altura, a jovem Nástienhka fala para o "sonhador" narrador:

"Você conta isso lindamente, mas não lhe seria possível contá-lo de maneira menos bela?"

Ele responde:

"Desculpe-me. Não sei contá-las de outra maneira."

Está aí algo que não volta. Quem usa da palavra para falar suas impressões e reflexões sobre o mundo, é natural a clareza... Quando uma pessoa falar que eu sou pedante quando narro algo ou conto algo, em instantes, para não ser indelicado, deixo de lado meu natural dicurso interno de ser eu e me torno amenidades, trivialidades, cheio de coloquialismo e cotidiano. Não por respeito a ela. A maneira mais rapidamente de começar e terminar um papo é falar da chuva, do calor, do stress. Até nisto um escritor pensa...

Como disse, falar como se escreve é possível. Claro que ler é importante ou conviver com pessoas desta natureza. Está aí o convite. Ler. Leia muito. Vai ajudar demais. E aquilo que você chama de solidão, um escritor chamará de vida, ou seja, tem pleno controle de sua própria existência, para mim, cheia de encontos.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Choro

Há quem chore pela ausência; há quem chore por solidão; há quem chore por insegurança; há quem chore pela distância; há choro de medo; há choro de raiva; há choro de saudades, muitas saudades; há choros ao ler ou ver ou sentir ou ouvir ou comer algo que mexe naquele canto escondido de nossa memória de alguma emoção indelével, imortal em nós. Há centenas ou milhares de razões para as lágrimas. E Jesus chorou três vezes, narra a Bíblia.

Jesus chorou. Três vezes. A Bíblia narra. Deve ter sorriso em algum momento. A Bíblia não fala. Deve ter sorrido, talvez, pela felicidade do próximo, por exemplo, da do Jairo quando (a Bíblia narra) sua filha foi ressuscitada por Jesus. E, para terminar, vale a pergunta: que tipo de sorriso seria este de contentamento pela felicidade do outro? O sorriso do choro. Exato. Sorrir por fora; chorar por dentro. E 99% de meus choros por fora são de agradecimentos por dentro.

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Reconstruir

Querer resconstruir, porém, o que não tem mais alicerce é medo, é fraqueza, é vaidade, é egoísmo ingênuo, preso a um único mundo.

Um vaidoso (dentro de qualquer vaidade) é um fraco. Acabou? Deixe o ex-amor ir mais forte para o mundo, de modo que ele ou ela viva livre e com certo direito ao egoísmo da liberdade! A chave é sempre deixar ex-amores melhores do que estão. A chave para viver bem no mundo e livre.

Já me disseram que estabelecer relações amorosas e não quebrar as que temos é o desejo do nosso inconsciente por medo da solidão. Mas há solidão maior do que a presença de alguém para nos lembrar todos os dias de que não queremos estar mais alí?

Existe? Deixe ir. Mais forte para o mundo.

Primeiros minutos

Calma. Não podemos nos iludir. Os melhores momentos de um possível relacionamento amoroso são aqueles em que começamos a conhecer a pessoa. Os melhores futuros (caso existam!) não se comparam com os primeiros minutos, as primeiras horas. E o olhar! O olhar. Não percamos o olhar. Os melhores momentos do início acompanham os marcantes olhares. Olhamos tudo no outro. Olhamos a fala, os gestos, as mãos, como anda, como se senta, como entra e sai de qualquer lugar, como sorri para si, para o mundo. Sorrimos com o olhar da pessoa; envolvemos tudo sem muitas palavras. E só o tempo revelará tão marcante início para nossa felicidade...

Verdade. Verdade também que nos primeiros minutos, com um pouco de percepção, as pessoas se revelam para nossa frustração. Não for um sedutor, uma sedutora com interesses escondidos, podemos ter uma nada boa experiência. Reciprocamente.

Quem não nos agrada nos primeiros minutos, nós geralmente guardamos o melhor de nós. Ela nunca nos conhecerá. Ficamos até mais idiotas. E deixamos nosso lado tosco se revelar, ganhar forma, corpo e infantilizar-nos. Mas para nos infantilizarmos intencionalmente precisamos ser muito maduros. Compreende?

O grande problema, porém, é quando temos o equilíbrio aterrorizante e surge dúvida acompanhada de um "mas e se..."; ou um "talvez não seja bem assim"; e ainda um íntimo "será que pode mudar ou vai ser assim sempre?". Minha tese: na dúvida, nossa intuição sempre será a mais certa a seguir. Será sempre assim.

Passados os primeiros e eternos minutos, que nos marcarão e seremos marcados, vem a esperança de que o outro saiba nos acolher. Os primeiros minutos serão fundamentais porque queremos ser acolhidos o máximo possível. No fundo, é tudo parte disto.

E convenhamos algo para terminar e deixar o pensamento entregue a si mesmo. Como é gostoso o novo! No fundo, toda nova amizade começa no silêncio, com o olhar somente; todo amor também é no silêncio. Eu amo as primeiras palavras, amo os primeiros momentos; chego a sentir saudades no momento inicial. Reflito: "poderia ser sempre assim; poderia todo futuro ser este início da descoberta do olhar." Mas o que eu amo mesmo é descobrir o outro no silêncio e, ainda mais, quando o silêncio basta e diz tudo. Existe algo mais acolhedor do que um agradecido silêncio?

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Solidão

A Solidão

Peguei a estrada ontem à noite voltando do litoral para SP. A Mogi-Bertioga. À certa altura, vi-me sozinho. Sem carro algum. Céu, um breu. Vegetação escura. A pista sinuosa. O rádio tocava um jazz mais para blues. E de repente, pensei ma palavra "solidão". Inspirado, poetizei "não queiram tal solidão!".

Eu dirigi grande parte do caminho construindo em palavras a Solidão. Fui, mentalmente, sussurando com a mente um poema sobre a Solidão. Uma pena nosso cérebro não ser mais capaz de salvar os cânticos como antes! Sim. O homem, antes da escrita, salvava sua literatura na cabeça.

Teimosamente, fui criando um poema, mesmo sabendo que seria apenas para mim: seu criador, seu apreciador, seu julgador, seu declamador, editor e seu carrasco.

O nome do poema seria "A Solidão" e começaria mais ou menos assim:

"Solidão!
Não queiram!
Não queiram a solidão de uma estrada sinuosa à vida noturna.
Não queiram tal solidão!
A solidão do abandono silencioso do que somos, fomos, seremos.
Não queiram.
Não queiram.
Não à solidão de qualquer canto e cântico de qualquer gênero, de qualquer época, de qualquer solidão.
Não.
Não à solidão.
A solidão do olhar perdido lá longe, nas estrelas, lá distante, no passado, lá entregue dentro de nossa cabeça.
Não!
Jamais queiram tal solidão do afastamento da lápide em que todos dão as costas depois de plangearem verdadeiramente.
Solidão não mata; nos abandona em nós mesmos e vive em nós.
Não queiram tal solidão.
Ela, a solidão do não sentir-se, nem remédio da dor imaginada.
Não existe a solidão, senão criada e intensamente vivida.
A solidão de estar acompanhado.
A solidão de ver acompanhado.
A solidão da vontade de um dia estar acompanhado.
A solidão do alívio de estar só.
A solidão de sofrer, de fazer sofrer, de viver sem saber."

E o poema estendeu-se pela serra inteira. E assim eu quis. Refleti que iria chegar em casa, colocar uma caneta em minhas mãos, papel na mesa e escrever. Escrever ou reescrever a solidão de viver uma rodovia noturna ao som de um blues. Ainda o faço um dia. Tem pulsado bastante a vontade de poetizar o máximo possível tudo aquilo que vale nem que seja um verso só, único, solitário de poesia.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Meu Maior Amor Juvenil

Meu maior amor juvenil

Uma das razões que me colocou a escrever, foi um longo e platônico amor. Não foi o meu primeiro (meu primeiro foi a Patrícia), mas com certeza o mais intenso. Este amor me ensinou que podemos amar e mesmo assim escolhermos entre nossos sentimentos e nossas vidas. Eu optei por minha vida. Não abri mão dela.

Algo me dizia que com ela, a Lica, eu seria infeliz e não construiria a minha ideia de família. Eu sempre quis ser pai. Para criar, estar presente, educar, brigar se necessário, e esperando as malcriações inevitáveis como hoje eu vivo. Não errei em minha previsão. Este meu platônico amor não casou, não tendo filhos e vivendo uma constante adolescência aos 38 anos. Incrivelmente nos encontramos no curso de inglês em 2012. Eu como professor; ela como aluna. Foi surreal. Na verdade, eu retomei contato com ela pelo Facebook. E eu a incentivei a fazer o curso e, mais do que isto, ir para o exterior. Ela é de família classe média. Os pais apoiaram a ideia e ela foi. Já está há dois anos morando lá, em San Diego.

E olha que bacana. Este amor me fez sofrer muito. E foram nos livros e leituras e poesias que descobri parte da tradução deste sentimento confuso e, na época, complicado para um adolescente como eu... Se sou escritor, eu devo a ela muito. Claro tive sorte ou sabedoria, no caso, de seguir minha intuição porque tive oportunidade de estarmos juntos, mas nada do que eu gostava, ela gostava. Seria um desastre. Devemos respeitar os gostos. E a empatia.

Não dá sempre para confiar na intuição. Conhecer uma pessoa, por isto, depende de um pouco de intimidade. Para o bem. Para o mal. Quantas frustrações não temos! Quantas expectativas quebradas nas intimidades. E que angústia, não? A ponto de perguntarmos: o que eu estou fazendo aqui?!? Exato.

Não devemos desconfiar das intimidades. Não desconfie das intimidades, ainda mais depois de repetidos momentos. Intimidade é a verdade. E mesmo que você se encante e desconfie do encanto, eu posso afirmar que o encanto não é o acaso, não foi sem querer, não foi planejado, premeditado: a pessoa deve ser mesmo encantadora. Disto eu não tenho dúvida. Não digo do sedutor que ilude; falo do encanto, que faz a pessoa crescer interiormente. O sedutor deixará você menos; o encantador, deixará você mais. E quanto encanto não temos ao nos sentirmos mais com a pessoa que nos encanta!

O que eu senti por este meu intenso amor lá no passado foi sedução. "Perdi-me dentro de mim." O que eu busco nas pessoas hoje em dia é encantamento, porque é bem o outro deixar você se sentir mais. Mais do pouco que somos. E na intimidade não vejo o complicado. Vejo um momento para decidir o caminho de nossa parcial felicidade. Saber o que quer e para onde ir nos faz felizes. E fiquemos com esta última: ser felizes. Estar bem com o outro que amamos dentro de nós.

Meu Maior Amor Juvenil

Meu maior amor juvenil

Uma das razões que me colocou a escrever, foi um longo e platônico amor. Não foi o meu primeiro (meu primeiro foi a Patrícia), mas com certeza o mais intenso. Este amor me ensinou que podemos amar e mesmo assim escolhermos entre nossos sentimentos e nossas vidas. Eu optei por minha vida. Não abri mão dela.

Algo me dizia que com ela, a Lica, eu seria infeliz e não construiria a minha ideia de família. Eu sempre quis ser pai. Para criar, estar presente, educar, brigar se necessário, e esperando as malcriações inevitáveis como hoje eu vivo. Não errei em minha previsão. Este meu platônico amor não casou, não tendo filhos e vivendo uma constante adolescência aos 38 anos. Incrivelmente nos encontramos no curso de inglês em 2012. Eu como professor; ela como aluna. Foi surreal. Na verdade, eu retomei contato com ela pelo Facebook. E eu a incentivei a fazer o curso e, mais do que isto, ir para o exterior. Ela é de família classe média. Os pais apoiaram a ideia e ela foi. Já está há dois anos morando lá, em San Diego.

E olha que bacana. Este amor me fez sofrer muito. E foram nos livros e leituras e poesias que descobri parte da tradução deste sentimento confuso e, na época, complicado para um adolescente como eu... Se sou escritor, eu devo a ela muito. Claro tive sorte ou sabedoria, no caso, de seguir minha intuição porque tive oportunidade de estarmos juntos, mas nada do que eu gostava, ela gostava. Seria um desastre. Devemos respeitar os gostos. E a empatia.

Não dá sempre para confiar na intuição. Conhecer uma pessoa, por isto, depende de um pouco de intimidade. Para o bem. Para o mal. Quantas frustrações não temos! Quantas expectativas quebradas nas intimidades. E que angústia, não? A ponto de perguntarmos: o que eu estou fazendo aqui?!? Exato.

Não devemos desconfiar das intimidades. Não desconfie das intimidades, ainda mais depois de repetidos momentos. Intimidade é a verdade. E mesmo que você se encante e desconfie do encanto, eu posso afirmar que o encanto não é o acaso, não foi sem querer, não foi planejado, premeditado: a pessoa deve ser mesmo encantadora. Disto eu não tenho dúvida. Não digo do sedutor que ilude; falo do encanto, que faz a pessoa crescer interiormente. O sedutor deixará você menos; o encantador, deixará você mais. E quanto encanto não temos ao nos sentirmos mais com a pessoa que nos encanta!

O que eu senti por este meu intenso amor lá no passado foi sedução. "Perdi-me dentro de mim." O que eu busco nas pessoas hoje em dia é encantamento, porque é bem o outro deixar você se sentir mais. Mais do pouco que somos. E na intimidade não vejo o complicado. Vejo um momento para decidir o caminho de nossa parcial felicidade. Saber o que quer e para onde ir nos faz felizes. E fiquemos com esta última: ser felizes. Estar bem com o outro que amamos dentro de nós.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

São ou Não Descartáveis

Reflexão horrível de fazer. Chega a ser cruel e até dolorida. Ao extremo pode levar os mais sensíveis à ânsia cujo mal-estar é nitidamente 100% psicológico. Mas calma. Aparentemente todas as pessoas concordarão. Arrisco que quase nenhuma se enxergará no lado negativo. A grande maioria condenará o chantagista e perdoará o 'coitado'. no entanto.

Falo do uso descartável que as pessoas fazem dos outros, ou quando o outro não tem mais utilidade, ou quando o outro dá um basta e não aceita mais imposição alguma, parando de ceder. Neste momento as coisas ficam nítidas e a alma do opressor é revelada.

Eu não sou assim, opressor. Não me coloco como vítima também. E digo com tanta tranquilidade justamente por ser 'vítima' de abuso das pessoas próximas. Eu não precisava de ajuda, porque tinha mais razão de ser sendo útil. Reparem que quando você quer realmente ajudar alguém, ela nunca sai prejuducada. Nunca. Do contrário, as pessoas usam as pesssoas e depois descartam...

Eu avalio muito o 'padrão'. A experiência nos ensina alguns padrões basilares, sendo que apenas aprendemos os padrões depois de três experiências semelhantes. Podem contar. Podem esperar...

Caso os seus três últimos casos amorosos eram desajustados, o padrão é você, e por algum comportamento psicológico você busca este perfil de caso. É um padrão. Considere este critério do 'terceiro' semelhante que acontece em sua vida. Ele mostrará um padrão. Pode ser muito benéfico para uma auto-avaliação. Ajuda a nos ajudar.

E o padrão se repete em ser útil. Clara e obviamente o padrão aparece quando você não aceita mais ser usado em hipótese alguma. Você deixa claro. A pessoa aceita. Diz que entende. Mas reserva-se porque não é ainda definitivo. Sabe que aos poucos, com um pouco de conversa, você pode ser maleável, o que é verdade. Mas quando realmente você se torna inflexível...

Bem, aí mesmo na sua inflexibilidade você pode ou poderá lembrar à pessoa: tudo o que você está falando contra mim agora, e mesmo o modo como você fala é pela simples razão de que você sabe que agora nunca mais me usará ou irá tirar nada de mim mais. E ela falará coisas que você não acreditaria. Do contrário... Exatamente. Do contrário, ela toleraria muita coisa e se guardaria. Não por amor, como muitas mães fazem com seus filhos desobedientes. Os interesseiros fazem porque são egoístas. Pensam só neles. Fazem por interesse. Há ainda a possibilidade de tirar algum suco. Não jogará ainda no lixo o que sobra. Somente vai para o lixo quando definifivamente ela perceber que pode cair o mundo, o rompimento aconteceu. Nada mudará a postura do oprimido.

As chantagens emocionais vivem bastante disto. Eu acho triste. Vejo sim uma mistura de fraqueza com muita safadeza e manipulação. Porém, é necessário romper-se de qualquer escravidão. Nenhuma é bacana. Nem todos se dão bem com a escravidão emocional. Acho que ceder faz parte. Minhas três experiências, no entanto, me fizeram botar os pés no chão. Claro que fui errado por ceder demais. Não posso ser vítima. Porém, depois da terceira experiência, criamos uma estrutura interna que nos ajudará a solucionar muitos problemas. Viver tem estes benefícios. Podemos aprender para melhorar. E acho que melhorei...

domingo, 13 de dezembro de 2015

Sociologia de Nossa Burguesia Brasileira

por Flávio Notaroberto

Por que gosto de falar muito sobre mim? Creio e sinto que praticamente a maioria do potencial do sentido das palavras já foi usado. Qualquer força de expressividade já foi expressa por grandes pensadores e escritores. A originalidade não existe mais, senão para os jovens que são virgens e ainda aprendem o desconhecido. Sem novidade expressiva, falo de mim porque ao menos são as minhas impressões que podem ser interessantes.

As pessoas precisam de traduções emocionais e reconhecer seus sentimentos, em síntese.

Encontrar na palavras o alívio que a descoberta de um sentimento confuso, ou que confundia, traz, é como ter um dinheiro inesperado para zerar todas as dívidas. Se me permitem admitir: temos dívidas emocionais. E raramente sabemos se são dívidas que fizeram para nós, ou se fomos nós que as arrumamos.

Neste sentido que muita coisa cansa. Cansa o excesso de problemas que criamos ou que nos trazem. E agora falo de mim: como me trazem problemas. Aliás, muitos problemas. O contrário não é verdadeiro, com exceção de dois: cito no final.

Eu tinha o hábito de me preservar mais. Não que não tinha meus problemas, e que ainda não eram meus. Mas me preservava muito mais. Por sinal, vou falar sobre ser burguês já que no fundo do pobre ao rico: todos somos burgueses, e a essência do burguês é a vida privada e liberal.

Eu sou burguês. Gosto de ser "burguês", porque denota simultanemente ser privado e reservado no âmbito familia e trazer na alma o conceito de liberdade e autonomia no âmbito social. Que brasileiro sabe desta nota histórica?

Eu li um pouco sobre a ascenção da burguesia no Séc. XVIII em dezenas de livro. Cito aqui o História Social da Arte e Literatura, do alemão Arnold Hauser. A família burguesa em oposição à família da nobreza.

Todo burguês é reservado com sua intimidade, sem deixar de fazer valer a sua liberdade, ou mais precisamente a realização de sua vontade.

Curiosamente estou lendo este dias Honoré Balzac. Um escritor e romancista francês que teve a ideia de retratar e pintar em palavras a sociedade francesa ao longo dos anos 1600, 1700 e 1800, período de transição social da família da nobreza para a burguesia. Lembro que a Revolução Francesa (matar literalmente reis) foi em 1789. A nobreza, quem satisfazia suas vontades através da plebe e do burguês, ao passo que quem satisfaz ainda hoje a vontade da burguesia é o poder econômico e para isto o conceito paradoxal de ser livre.

Pois é. As pessoas, e logo os burgueses, no Brasil, tem pouca iniciativa pessoal, logo não sabem que não são livres como um burguês o é atualmente. E pior, além disso, tem pouco conhecimento de mundo, de arte, de leitura, o que nos dias de hoje limita demais os pensamentos. E as razões são diversas para esta falha.

Por outro lado, a falta de cultura geralda pela falta de conhecimento não implica falta de dinheiro da nossa burguesia e nem dificuldade de acesso aos produtos modernos. Ao contrário. Nossa sociedade brasileira acha que ter acesso aos produtos substitui ler, aprender, refletir. Se comportam na essência bem ignorantes como os primeiros burgueses do século dezessete e dezoito. Sem cultura mas com dinheiro. Aí que vem o estrago.

A maioria das pessoas que tem dinheiro no Brasil, por pouco que seja, acredita que nunca é problema e sempre parte da solução. Paga impostos, ainda que sonegue, e opine, ainda que sem preparo. Neste ponto a novidade: ela é o problema que nossa sociedade brasileira burguesa atual temos. Como professor e como escritor, falo e deponho como é de arrepiar estes problemas que esta burguesia inculta nos traz opinando e vivendo como fosse a solução. Não é. Porque não consegue. Sem preparo.

Aliás, retomando, eu só levo problema para as pessoas, ou sou um problema de duas formas. A primeira, porque minhas palavras vão na alma e confundem a zona de conforto e crença de quem me lê e ouve: grande problema mesmo; e a segunda é quando me cansa ou me prejudica demais anular-me e ceder ao outro a minha própria vontade e desejo, dando um basta. Sim. Neste momento o outro tem um problema. Coisa mais particular.

Bem, só não seremos problemas a quem amamos incondicionalmente. A vida pode nos tornar um problema aos outros sem querermos, porque o corpo cansa, envelhece e defina. Algumas tristes velhices... E neste momento não há mais nada. Absolutamente nada, senão esperar passivamente definhar. Claro que o bom é ter um boa aposentadoria. Qualquer sociedade cuida o mínimo de um idoso gagá que ganha muito bem. Ele é ainda um burguês. As pessoas vão consumir com seu dinheiro.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

QUANDO VOCÊ NASCEU?

QUANDO VOCÊ NASCEU?

Em 2004 dei aulas em uma escola particular na cidade de Arujá, próximo à capital paulista. Eu marava no bairro de Ermelino Matarazzo, na zona leste, e trabalhava em mais quatro escolas na cidade de São Paulo: no Bom Retiro, na Bela Vista, em Artur Alvim e em Ermelino Matarazzo, no colégio Argumento, onde aliás fiz o Ensino Médio.

Todo início de ano, em todas as escolas, antes das aulas efetivamente começarem, há um ritual de reuniões pedagógicas onde se discute sobre tudo o que envolve a relação professor x escola x aluno x família. Se levássemos mais a sério estes encontros, eles seriam extremamente importantes e gerariam excelentes frutos.

E na escola lá em Arujá, próximo a um condomínio de luxo, não foi diferente. Eu, recém contratado, tenho um olhar desconfiado quando não acostumado ao meio. Falo menos, ouço mais, palpito pouco, sou conciso e lacônico em cada intervenção. A reunião pedagógica começou depois do café com pão e bolachas. A diretora olhou para nós, propondo uma reflexão inusitada:

“Quando você nasceu?”

Não houve quem não sorrisse levemente diante da questão. Eu quase falei 02 de maio de 1974. Preferi esperar...

E antes, porém, de qualquer resposta, ela insistiu, sem mudar a expressão séria do olhar.

“Quando você realmente nasceu?”

E aí a pergunta ficou um pouco mais complexa no ar! A palavra “realmente” soou enigmática. Um “presta atenção!” seu tonto! Interessante ainda é que ela disse: “Não se preocupem se chorarem. Chorar faz parte da vida! Chorar é uma maneira de explodir o coração silenciosamente.” Chorar? Foi estranho aquilo.

E ela insistiu: “Quando você realmente sabe que começou a viver e que nasceu de fato para a vida?” Então, a partir destas palavras, a coisa ficou séria! Todos os presentes engoliram seco.

Uma professora, soltando algumas lágrimas, falou algo relativo a uma doença que ela tinha superado! E o silêncio foi assustador. Outro, em seguida, lembrou da ausência da mãe quando era adolescente. E assim fomos! Quando minha vez, em lágrimas, solucei o nascimento de minha filha em 2000 e de meu filho em 2002. E todos, um por um, fomos descobrindo quando realmente tínhamos nascido para o mundo e para a vida!

Eu sempre fui perspicaz. Logo matei a charada! Nascer não é começar a respirar. Nascer envolve o que de fato fazemos com nossa vida quando decidimos fazer algo bom com ela! Nascer é quando nos sentimos amados e amando. Nascer é quando nos sentimos realmente vivos para a vida.

A diretora mexeu em nosso emocional, vasculhando nossas memórias: as marcas positivas e negativas que temos dentro de nós e que fazem o que somos. Seres absolutamente únicos!

Finalmente, eu descobri quando tinha nascido para o mundo! E não era um nascimento físico. Era um nascimento emocional! Um nascimento – como ela disse – para o mundo. O mundo real! O mundo que não pertencia a mim, porque passei a pertencer ao mundo. No meu caso, ao mundo de meus filhos e à minha responsabilidade de ser pai!

Fazer as pessoas nascerem para o mundo significa fazê-las reconhecer suas memórias mais marcantes, tirando delas a marca de crianças egoístas e adolescentes mimados. E vejo isto como grandioso! Grandioso porque somos o conjunto de nossas memórias. Somos a consciência de nossas memórias!

Por que não fazer da presença em sala de aula uma oportunidade de gerar memórias positivas nos alunos? A grande maioria de nós passa pela escola. Raramente, no entanto, ela é um sinônimo de nascimento! Infelizmente criam-se muitos traumas e dificuldades e desesperos ao longo dos anos em sala de aula!

Como sugestão de reflexão, dentro do seu coração, quando você realmente nasceu? Quando você realmente nasceu para a vida, para o mundo? Nascer é uma das grandes virtude do ser humano, principalmente quando ele já está vivo neste mundo, com o mundo, para o mundo, pelo mundo. Você já nasceu ou ainda estar para nascer?

domingo, 6 de dezembro de 2015

Enquando o Sol Caía

Enquanto o sol caía, uma mão esfregava a outra.
Era um diálogo, e ao fundo o sol caía.
Os olhos se viam, e parecia que das bocas poucas palavras saíam.
Ao longo, abóbora, o sol, entremente, caía.
Não parecia um casal que a vida discutia.
Nem a natureza do sol parecia qualquer dia.
Era apenas duas pessoas em que uma delas passava as mãos uma na outra, sem que para isto algo importante existia.
Era tarde de um dia certamente ensolarado.
O cair da tarde do dia muito daquilo que eventualmente fora o dia.
Para a noite surgir tão firme como o dia que talvez as duas pessoas diante de si mesmas ainda continuariam.
Só quem tem o olhar vadio na vadiagem da existência sabe apreciar a brevidade do sol escondido nas mãos de dois olhos que nem discutiam.
A poesia no olhar é fria para quem nem noite nem dia tem a importância que tem a vida.
Ficaram lá sem saber que foram vítimas de uma lente humana que em um relance o pouco que via, sentia.
A sensação tudo explica.
A sensação inclusive de ser, seja de noite ou de dia.
Amor que é bom amar a essência somente que a poesia cultiva.
E de poesia a alma humana breve sabe que para a eternidade um dia é simplesmente uma finita sequência de dias.
As pessoas querem ser amadas mas amar a si mesmas em suas carências.
Sobre poesia? Nem digo. Mais nada. Nadinha...

Fêmeas humanas não comem placenta

Uma cena forte para mim na vida animal é a fêmea devorando a própria placenta após o parto da sua cria. Seja quais das boas razões e benefícios há nisto, um gesto instintivo e sem julgamento. Mais do que alimento, porém. Ou que seja apenas mais um alimento fácil que lhe traga energia, é um ato que nossa cultura vê com nojo e incluve desnecessário.

No parto humano, não me lembro de uma cultura em que a mulher coma a própria placenta. Pode inclusive ainda haver tribos que o façam. Ou tribos que faziam e veneravam este gesto. A natureza tem algo uniforme e comum e belo que harmoniza todas as espécies em uma massa homogênea válida para todos. Por mais que há cultura em nós, somos natureza.

Em nossa cultura, alguns aspectos da natureza foram psicologicamente domesticados. O fato se evidencia hoje na mulher humana, ou na fêmea humana, não precisar devorar a própria placenta assim que nasce seu rebento. E os partos são aos milhares todos os dias. Da placenta do parto, se especula bastante nutriente e coisa para a ciência: desde as células-troco a enzimas e substâncias para a cura do virus da AIDS. Uma riqueza que envolve o filho que vem ao mundo sentir o que os vivos sentem e que a espécie perpetua. Sou fã da vida. Admiro a força e a fragilida de nossas crias. Amo ver o corriqueiro como uma milagre. Amo olhar e sentir.

Para mim, nada mais sacro em toda a sacralidade de nossa espécie, ou de qualquer espécie, que a maternidade. Viver é pouco se comparado ao nascer. Superar a vida que chega é um nada à vida que termina. Uma mulher grávida deveria ser venerada como Deusa, embora a minha fé apenas venere o Deus único. Tal a vida que ela carrega, que sem ela, a mulher, não teríamos a nós mesmos.

Amo as mulheres, como minha mãe, pelo potencial pai que todos os homens podemos ser e pelo pai que sou, pelo pai que deixo meus filhos serem o que a vontade deles querem ser. Sei que para o amor, há o ódio. Meu lado é da admiração e carinho. Não dá para fazer que os contrários gostem também do amor da vida, mas dá para dizer a quem ama a maternidade que estamos juntos. Juntos para nutrir sonhos. E florescer nossos rebentos.

Flavio Notaroberto

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

sábado, 14 de novembro de 2015

Carinho é Aproximação

Quem disse que é fácil? Demonstrar carinho é a última barreira que separa as pessoas para o amor total. Depois dele, o que sobram são os deleites e prazeres de quem faz nosso mundo um lugar bem melhor para respirar, comer e beber.

Carinho, na essência, é aproximação. Uma pessoa nos toca como fôssemos crianças. Um exemplo é o toque em nosso ombro da professora quando nos explica com interesse. Existe o carinho do bichinho de estimação. Existe o carinho inocente do filho. O carinho de ser lembrado e de lembrar.

O afeto que gera carinho vive em posição vertical. Geralmente de cima para baixo. Em absoluto depende da idade, da inteligência, da riqueza, da beleza, do gênero e, inclusive, da espécie. A superioridade de quem sabe dar carinho confunde-se com o altruísmo e, por isto, com a entrega, e, por isto, quem dá carinho parece muitas vezes ter 'dependência' emocional. Claro que é engano. Se tem dependência emocional não é carinho. É insegurança: como a frieza e indiferença.

Sou inquietantemente adepto ao carinho, aquele que traduz a atenção e a preocupação, bem como o acolhimento e a entrega. Lembrar e ser lembrado são inquetações nossas ao longo da vida. Quem não as tem? Pelos pais, pelos filhos, pelos amores e amantes. Nem tudo, porém, se tem. Nem tudo se pode. Nem todos sabem como.

Como professor, tenho o privilégio de sentir diversas mudanças de corações duros e frios, presos em seus próprios valores inflexíveis, para aos poucos permitir o carinho do outro em suas vidas. A mudança é visível.

Neste sentido, minha mãe tem uma frase que ouvia do pai dela e que traduz muita coisa: cada um dá o que tem. Eu acrescento um ponto: para alguém ter, precisamos, antes, dar. Deus me deu a possibilidade de sentir muitas emoções reais ou imaginadas ao longo dos anos de minha vida através de minhas sensibilidades da alma. O mínimo que faço é compartilhá-las. Sempre há um coração precisando. Sempre há um coração aberto pelo desespero.

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

CARTÃO BOM E MASTERCARD

Cada artista é a parte espiritual da reflexão de um povo. Na música, na dança, na pintura etc. Na poesia, a arte assume a responsabilidade de fazer todas as demais artes falarem. A leitura existe como algo exclusivamente do ser humano. No ser humano a palavra se realiza.
Brasil, Reflexão é o escritor ajudar seu povo a reencontrar-se na palavra escrita através da arte. Imagine algo constrangedor do dia-a-dia. Vulgarmente triste e para alguns revoltante.
- Bom dia. Eu quero o cartão BOM para integração ônibus-metrô.
- Seu primeiro cartão?
- Sim.
- É gratuito?
- Não. R$11,10.
Eu achei esquisito. Porque relativamente caro.
- Aqui, senhor.
- E esta bandeira MasterCard?
- Ah, não tem anuidade. É pré-pago. Você pode fazer compras online. Muito útil.
Nenhum argumento me convenceu. Pedi para trocar. Com humildade, para ser mais preciso. Mal humorada, foi fazer a parte burocrática de cancelar um e pegar o outro. Mais de meia hora para me dar o cartão simples, sem bandeira, sem nada, senão a função para que ele existe: pagar o transporte público.
- Este cartão simples tem taxa?
- Não.
Daí surgiu o constrangimento. Sem taxas. Não falei nada mais. Esperei. No final disse a ela para avisar as pessoas se ela querem o cartão da MasterCard. Ela nada disse. Algumas pessoas até surtariam no meu lugar. Faz parte das paixões humanas. Outra coisa: eu não me sinto bem fazendo propaganda gratuita, que é uma das funções, né? Compreende? Abriu os olhos?
Para terminar, nestes momentos, percebemos no Brasil o mal que estas empresas fazem aos serviços brasileiros. Queremos e precisamos do cartão BOM para um serviço simples como deslocar nosso corpo na cidades e entre as cidades. Mas aí vem a MasterCard como poderia ser qualquer outra, e polui um serviço simples, com a chaga moderna de tirar o máximo possível de proveito de tudo. Eu troquei. Eu não julguei a menina. E percebi que todos perdem: eu, a sociedade, a menina que atente, a supervisora, a coordenadora, a gerente, o diretor e o CEO. Todos reféns do lucrinho maior no bolso de cada um, e um lucrão no bolso da MasterCard.
Brasil, Reflexão. A função do artista. Olhar e fazer refletir o que dá vontade de surtar.

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

A Rodovia Diante de Nós (conto)

Eu falo algumas palavras bonitas a ela. Ela gosta. Ela se envolve. Eu abro meu coração a ela. Reprimir o amor fortalece a solidão. Quero solidão não. Quero o lado dela. Ela olha para a rodovia diante de nós. Eu dirijo. No carro. Ela se esconde para não olhar para o seu próprio coração e aceitar sim a todos os belos pedidos de troca, de companheirismo, de amizade, de cuidado, de entrega, de dedicação que meu convite persistentemente insiste. Eu a toco e a beijo. E sinto-me feliz por sentir na alma a boca de nossos lábios. Saio de lá alegre. Cheio de afeto. Chego em casa imaginando-a entregue a todos os únicos pedidos que eu lhe faço: fica? Ela, mesmo assim, fala que não quer nada. Fica? Não. Na verdade, ela está. Ela está aqui. Fico.

Chove Nosso Breve Momento

Chove. Uma garoa fina, leve, constante e resiliente. Aos meus olhos, um pouco distante, se estende um morro verde gigante. Ele porém está em silêncio como sempre. Nada diz senão o que eu penso dele. As núvens, mais ousadas, o tocam e o mancham de cinza. O morro lá, indiferente. Se meus olhos vêem, meus ouvindos dialogam com milhares de pequenos pingos sob as dispersas poças na terra. A chuva mais interativa. Pássaros, a dezenas, conversam entre si, agradecendo o dia. Talvez sobre o banho. Talvez sobre a felicidade de ser tão natureza quanto a chuva, o morro, as núvens. Não estão preocupados comigo. Pouco compreendo a língua dos pássaros também. Isto me leva a crer que por mais que eu compreenda a língua dos homens, eu nada seria sem pássaro, sem chuva, sem morro e núvens. Convenço-me de que a natureza é o meu descanso dos homens, cuja língua eu sei, através da qual uso para me aproximar com amor e acolhimento, uso para me distanciar, por meio de minha vaidades.

Estou na praia. De onde estou não ouço o mar. Mas não muito longe de mim. O mar me traz recordações nunca vividas como a dos piratas, das navegações, dos naufrágios, de Moby Dick, das sereias, de Netuno, do Tráfico Negreiro, dos imigrantes e refugiados. Minha imaginação, minha companheira. É a parte do homem que vive em nós, que constroi vidas no pensamento tão real quanto os estímulos das gotas da chuva, do frio suave que ela traz, da pouca coisa que sou sem falar a língua dos pássaros, sem subjulgar o morro verde com meus pés no topo dele. O homem na natureza é cruel.

Chove. A chuva persiste. Demais, é agradecer. À vida. Este nosso breve e singular tempo. As dores doem. As ausências ferem. A rejeição perturba a alma. O término do amor é o chão que se desfaz, o mundo que desmorona, e nada resta senão a solidão. São os humanos em nós. Mas calma. A natureza está aí para nosso descanso dos homens. Agradecer. Pela vida. Nosso fugaz momento. O tempo dirá que ser grato é a verdadeira razão. A chuva garoa...

domingo, 1 de novembro de 2015

Amor Eterno. Nosso Eterno Movimento

Não existe tempo. Existe movimento. Quando alguém se separa de você ou pede a você um tempo, basicamente ela procura outros movimentos em outros lugares e corpos. O contrário é também verdadeiro. Se ela quiser estar a todo tempo ao seu lado, em qualquer lugar, quer seguir seus movimentos a cada momento, como uma dança a dois.

Se não quiser mais estar ao seu lado, seus movimentos são diferentes. A dança não ocorre. E você sofre.

O que é, então, sofrer? Basicamente são duas ações diferentes no tempo. Estar preso a um movimento que você não quer mais é um dos sofrimentos. Estar afastado dos movimentos que você quer, o outro dos sofrimentos.

Em outras palavras, ter tempos diferentes ao lado de quem você não ama mais, mas se resigna em estar ao lado porque não sabe como deixar de sofrer. Ou, querer o mesmo tempo ao lado de quem está ausente e não quer estar ao seu lado.

Não existe tempo. Existe movimento. O que chamamos de ano é o ciclo completo da Terra ao Sol. De dia, da Terra em torno de si. De hora, a divisão do dia. De minutos, da hora. Dos segundos do minuto.

Tire uma foto agora, ou pegue uma foto tirada antes, e o tempo congela. É quando as memórias criam, por exemplo, as saudades e os arrependimentos. Ou a felicidade, ou a tristeza. Eu gosto de destruir as fotos de tristeza e de arrependimento.

O tempo é meu movimento. Mas o tempo não existe. O que existe é movimento. Quanto mais intenso o movimento ao lado de quem amamos, mais rápido caminha o tempo. E não importa muito a intensidade do movimento. Sem o nosso amor, ele insiste em contar os segundos que machucam.

Tempo não existe. Existe movimento. Os melhores movimentos da vida é amar a si mesmo. Quando nos amamos intensamente, todos os nossos movimentos justificam nosso tempo. Claro, bom mesmo é amar a si mesmo ao lado de quem amamos e que nos ama, reciprocamente. O nome disto é AMOR ETERNO. Eterno para todo sempre. Nosso eterno movimento.

terça-feira, 27 de outubro de 2015

"É inocente. Sonhador ainda."

Em 1995 entrei pela segunda vez em uma sala de aula como professor, no CEIP, Itaim Paulista. Fazia frio e usava toca.

Crer é criar aproximação. Ódio é criar justificativas preconceituosas para afastar-se sempre. A toca era um pano, que revestia minha cabeça e me aproximava dos alunos. Sem ter consciência, rapidamente tornei-me um professor popular. Exaltado. Elogiado. Querido pelos alunos. Para a escola, não. E, claro, não pela toca. A toca era para o frio. As palavras que saiam de minha boca, aos 21 anos, eram vida. E os alunos gostam disto. De viver. De palavras de vida. Eu acreditava na aproximação.

Lembra-me de que toda sexta-feira - e outros dias da semana - os alunos eram dispensados do CEIP entre as 20:00 e 20:30. Logo após a primeira aula (quando havia!). Na minha inocência, usando toca, achava que alunos dispensados, professores livres para ir para casa, porque a existência do professor é vinculada à do aluno. Sem os ouvidos não há música. O que serviria minha toca na sala dos professores? Cada qual já tinha sua vida.

Claro que diante daquela regularidade de ficarem livre dos alunos, eu discuti feio com a Diretora - uma japonesa sem maldade no coração, mas acomodada e viciada:

- Não tem alunos! O que vou fazer aqui? - eu disse na sala dela

- Tem que cumprir o horário.

- Meu compromisso é com os alunos. Então tragam eles de volta para eu ir trabalhar.

- Você não entende nada de como as coisas funcionam aqui na educação. É inocente ainda. É muito sonhador.

- Sonhador? Mas triste é que seus filhos estudam no Objetivo e um dia eu terei de dar aulas para eles lá.

Ela silenciou. Isto em 1995.

Dito e feito. Em 1997 comecei a trabalhar no Objetivo. Dificilmente, diretores e vice-diretores de escola pública deixam seus filhos estudarem na própria escola pública. O nível da educação reflete o ânimo da maioria dos profissionais que estão lá, naquele contexto. Todos sabem que são raros os que trabalham com a aproximação devida. Os demais professores e diretores cumprem horário. Sem alunos, é melhor ainda. Menos desgaste.

Aguentar o ambiente na escola pública virou uma profissão, com metodologia e estratégia. Tem que saber como se relacionar. Tem que saber como se envolver. Tem que saber aturar os vícios inconscientes dos agentes escolares. Porque estão de fato viciadas, alienadas, imersas naquela realidade sem pensar na relação Educação x Professor x Aluno x Sociedade.

Os acomodados julgam as novidades experimentalismo. Diferentes perspectivas são um laboratório de testes e os alunos cobaias. É tão contraditório porque "alienação" e "ideologismo" é a mesma coisa, só que os primeiros são noveleiros globais e os segundos são os concursados que fazem pós-graduação à distância pela USP, com discurso de professor e não para tocar o coração dos alunos. “É tudo animal estes alunos!” Quem lá nunca ouviu isto?

Sou irritantemente otimista. Quando tenho a oportunidade, faço viver o otimismo no coração de meus alunos. Crer é aproximar. Com ou sem toca. Fazer é silenciar e trabalhar. E quando sair palavras da nossa boca, que saiam cheio de vida. Vida sempre. Ainda que a angústia, a tristeza e o desânimo batam à porta ao ouvir da boca de um professor "é tudo animal!"

Vida nas Memórias (micro-conto)

Vida nas memórias

- Amanheça sempre com um sorriso, disse a avó no leito de seu quarto, sentindo rapidamente os sintomas. O sorriso sempre será a melhor maquiagem da sua vida.

A neta deixou escorrer uma lágrima no olho direito. Então do esquerdo. Em segundos, dos dois. Não soluçava. Engolia a fala. Chorou.

- A vida, continuava a avó apertando a mão da neta, espera de você um agradecimeto. Lá na frente ela pode pedir suas memórias. E de memórias criamos nossa história. Amanheça com um sorriso.

A neta forçou um sim, mas não conseguiu terminar. Chorava. E sorriu. Pensou nos últimos anos. No que fez. Como seria daqui para frente?

- Daqui para frente, lendo a mente da neta, seus caminhos estarão livres, e você fez o que tinha que ser feito. Obrigado. Você está chorando?, suspeitou a avó.

Cega há 3 anos, debilitada há 2, em uma cama imóvel há 1, a avó perguntou novamente:

- Você chora, minha neta?

A neta não respondeu. Amava muito a avó. Não queria. Com o copo ainda nas mãos, o líquido começou a fazer efeito definitivo. Cianureto. Indicação da avó, médica aposentada, com 89 anos

- Acorde sempre com um sorriso, e viva a sua vida, minha neta. Prolongue seus dias com amor. Suas memórias farão de você uma pessoa feliz. Cultive o amor. Cultive o bem. Eu tive a melhor vida que uma ser humano poderia ter. Estou em paz.

E, sem conseguir mais falar, lançou seu último expiro aliviada e feliz.

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Um homem. Duas criança. Domingo.

Um homem. Duas crianças meninas. Duas sacolas de plástico. Luz amarela. Rua sem movimento. Fim de domingo. Uma delas na carcunda do homem. A outra atrás. Possivelmente o pai. Aquele perfil de pai que ama. Andava no ritmo das crianças. Porque quem ama, vai no ritmo do amor. Ou melhor, caminha no limite do amor. Passaram por mim. Curiosamente a pequena foi colocada ao chão. Para caminhar ainda mais lentamente. E deu a mão ao homem. Domingo à noite. Por isto eu amo a segunda. Domingo tem tudo para sempre cheirar a família. Por que amo segundas-feiras? Porque é dia de agradecimento. Se a farra começa na sexta à noite, a cada segunda começamos a viver novamente. O pai. As filhas. Todos que amam... Porque quem ama cuida daquilo que inclusive é da pessoa amada. Quando meu filho caçula me diz:

- Não quero descer. Quero ficar com você.

Eu penso em cuidar de mim mesmo. Porque eu o amo. Como o pai de agora, no breu da rua amarela. Possivelmente voltando e indo. Seus descansos. Que Deus esteja com eles em particular. E com todos de modo geral.

domingo, 4 de outubro de 2015

Quando Amar é Realmente Bom

Amar é algo bom. Gosto muito do amor. Ele aproxima. A vida conecta sentimentos. Nos libertamos do mundo exterior. Por isto que, se for amar, não pense em sua carência. Ela vai sufocar todo seu amor. E não será feliz e nem fará feliz. Seja íntimo de fazer intimidades do tipo cólica ou mesmo um imprevisto pum. Particularmente, eu tenho vergonha. Tenho vergonha de minha intimidade. A paixão, no entanto, cresce ao perdoar nossas vergonhas. Quem não sente algumas? E amamos mais no perdão, não é verdade? Não ao perdoarmos, mas ao sermos perdoados, porque seremos tratados como humanos, seremos queridos pela consciência de que a vida não se congela em um selfie esteticamente vislumbrante. A pausa dos segundos que antecedem a foto é uma perspectiva do que seremos e queremos ser. Se formos bem, nossa imagem nos agradará e amaremos ser vistos. Mas apenas uma imagem. Gosto de amar por isto. Não se ama algo parado, congelado, estático, sem vida. No fundo, precisamos daquela vida imperfeita. Precisamos que nos façam sentir intensa e amorosamente vivos na vulnerabilidade da imperfeição. A fraqueza da vontade da entrega gera o verdadeiro amor. Já amei a carne, já amei a beleza, já amei a essência. Hoje amo a entrega. Não aquela total. A entrega da intimidade do que nos faz feliz. Sou contra a carência. Ela destroi. Sou pró o amor: ele edifica. Sou crente no sacrifício: somente ele justifica o amor. De resto, é ser sincero com o que de verdade precisamos. Eu preciso de meus filhos porque os amo. Sinto que me sacrificarei por eles sempre. Ah, e eles sabem disto. Mas amar não anula o sacrifício. Ele o completa. Fora isto, é um pouco amor adolescente. Não querer se sentir sozinho na festa. O amor maduro sabe muito bem o que significa "antes completamente sozinho do que uma companhia que o lembra se vale à pena tanto gasto de energia por uma companhia." Sim. Amar faz bem. Amar quem sabe o sentido real do amor vale à pena? Somente os fortes entenderão. Não é fácil. Creio sim que não é para quem apenas pensa no amor como o eu-feliz. Amar o outro-feliz. O outro muito feliz. Reciprocamente.

terça-feira, 22 de setembro de 2015

A Laura

Em 1992 conheci uma pessoa que se apaixonou por mim. O nome dela Laura. Eu 17 para 18 anos. Inocente. Nos anos seguintes, seriam os anos mais tenebrosos e angustiantes de minha vida. Mas em 1992, a Laura se apaixonou por mim. Verdadeira e profundamente. Possivelmente o amor mais forte que eu senti em toda minha vida, de uma mulher por mim.

Eu era bobo e inocente. Descobri que era amado sem querer. Eu fazia inglês. Por uma razão da qual não me lembro, tive aula na sala dela. Eu estava mais avançado. Sentei ao lado dela. E ensinei-a algumas coisas. A partir daquele momento, disse-me ela, se apaixou por mim. Ela namorava. Estava já noiva. Eu não tinha juízo de valor algum sobre relacionamentos. Ela terminou com o noivo sem eu saber. Começamos a sair algumas vezes. Depois da aula de inglês.

Aliás, até hoje, ela tem os olhos verdes mais lindos e a boca e os cabelos e o rosto dos mais belos que pude beijar. Seu tamanho? Menor do que eu. Afável. Dócil. Meiga. Cheia de personalidade. Já eu era inocente, ingênuo, sem malícia, sem propensão ao amor...

Me lembro de algumas cenas que me marcaram. Um dia, ela foi para a escola com um shorts tão pequeno e tão colado que se igualaria a estes das modas do baile funk. Era branco também. Meu amigo Marcelo arregalou os olhos. Não sei se eu falei para ele sobre ela. Bem, no dia anterior, eu acho que eu e a Laura conversamos e eu devo ter passado alguma insegurança e que não queria nada sério. Eu não tinha vontade de namorar. Então, no outro dia, à tarde, me aparece ela com aquele shorts colado e minúsculo. Todos repararam. O que eu fiz?

Sabe quando você bate na testa e fala "que merda!, para que isto?, querer me fazer ciúmes com isto?" Bem, estes foram meus pensamentos. Mas deixei quieto. Nem falei nada. Ela deu um tiro no pé. Sem saber, eu já tinha bem desenvolvido meu poder de ler intenções e minha forte intuição.

Esta cena do shorts curto marcou meu espírito como análise, e só me deu a certeza de que não daria mais certo com ela. Ainda ficamos por mais alguns meses. Por fim, terminamos definitivamente. Era noite. Em um ponto de ônibus. Na Av. Marechal Tito. Na frente das Casas Bahia. Fazia muito frio.

Eu tenho este mal. As pessoas tem o hábito de se comunicar de modo afrontoso para marcar território. Meu Deus! Eu sempre bato a mão na minha testa interna e sussurro "que merda!"

Eu levo palavras belas e dedicação a quem amo. A pessoa pode querer marcar seu território com afronta, eu intensificarei a dedicação e a minha entrega. Não sei o que se ganha com a afronta gratuita, mas eu sei o que se perde. A Laura me perdeu um pouco naquele shorts. Querer ser gostosa esfrirou minha vontade de olhar em seus olhos que eram os mais belos deste mundo e para os quais eu não me cansava de olhar.

Se ela tivesse me olhado com ternura, ao invés do shorts agarrado, teria hipnotozado minha alma. Desviado meu olhar para a lascívia, eu os perdi. Quando os encontrei, eles estavam já perdidos de amor por mim. Ela se perdeu. Eu me perdi. Ambos viveram suas vidas. Marco agora com esta passagem. Tenho enorme vontade de um dia saber como ela está hoje. Eu sei como eu estou e sei do que preciso. E do que preciso está nos olhos: entrada para nossas almas. Amo amar as pessoas de dentro para fora... Sempre. O resto são migalhas. O mundo que se consome de fora são migalhas, e se come muito rapidamente.

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Cartas de Saudade de Você a Você

Tenho saudades suas. Muitas saudades. Penso em você a cada instante. Eu a carrego para onde quer que eu vá.

Ainda mais agora que me parece tão distante nosso encontro, ou reencontro, nosso apego e este desapego.

Pego-me nos pequenos detalhes do que poderia ou deveria ter feito ou dito. Quando estou sozinho converso comigo mesmo sobre nós.

Uma atitude, uma palavra ajudam a mudar, ou mudam tudo. Da mesma forma a ausência. A ausência tanto da atitude quanto da palavra. As recordações do pouco que fomos me trazem a lembrança do que eu não sou agora e provavelmente nunca serei no futuro. Talvez sejamos.

Quem ler esta carta vai arrancar dela todas as suposições. O leitor, porém, será dono exclusivo. Nem tão exclusivo. É justo cada qual fazer do que lê suas mais íntimas verdades, ou melhor, realidades, porque estas são nossos conjuntos de verdades.

Podemos mentir para os outros, para nós, para nosso passado, presente ou futuro. Mentir torna até saudável a dor do que deveríamos ser e não somos. Eu queria ser com você. De verdade...

Eu queria trazer à mente porque é bom. Levar o que é bom à mente das pessoas. 

Escrever refletindo sobre o que existiu e possivelmente não mais existirá incomoda bastante, uma vez que vivemos o presente.

Antes de me calar e sofrer, eu amo poder escrever. Ter esta liberdade de ajeitar externamente o que internamente existe: ideia, sentimentos e sensações. 

Escrever, porém, me condena porque me condenam sempre. Meu combustível é o amor. Este o motivo, me condemam.

Nunca me apego no fim. Apego-me no recomeço. O recomeço é uma espera. Nosso presente é uma espera. Se digo que não espero, eu minto. Se digo que espero como recomeço, eu minto. Se digo que espero na certeza, eu minto. Se digo que perco as esperanças, eu também minto. Mas gosto da verdade. Ela nos faz desviar pouco na espera, ainda que a saudade aperte.

Tenho certeza da aventura de que tudo se tornará possível ao justificar tanto as realizações quanto as desilusões. Sem estas, aquelas seriam mimadas. A desilusão freia. Mas com sabedoria, impulsiona o seu importante momento. 

Não me iludi. Nem você se iludiu. Não nos iludimos. Sentimos verdades porque foram nossas realidades. Daí a saudade.

Mas digo lá. Tenho saudades suas. Terei ainda por um tempo. Nada impede de que ao tempo estas saudades, que me distraem do mundo, desaguam em meu próprio mundo sem ilusão e me tornem uma pessoa realizada com você. Para isto, só tenho por hora as palavras escritas. Tudo tão intenso. Mas tudo tão estranhamente prazeroso. Um prazer por poder ainda ser e estar. A saudade permanece. Um elogio e agradecimento. Ao final, quero agradecer e elogiar. Você...

domingo, 20 de setembro de 2015

Dia-a-dia

- Ah, deixa te falar...

- Pode falar.

- Era para dizer que te amo! Nada demais. Apenas esta coisa normal do meu dia-a-dia.

Onde Está Nosso Coração?

Quando olho e não encontro você, meu coração entra em confusão. Foi o certo? Tudo indica que não. Tudo indica que mesmo assim nada daria para ser feito senão a vontade de esperar o momento, aquele momento certo em que as nossas vidas se uniriam em harmonia interna, em harmonia externa, dentro de nosso presente, juntos, sem impedimentos, com nosso futuro, juntos, em uma bonita entrega de um para o outro.

Agora, não estamos mais lá. Nem eu, nem você. Meu coração busca você, minha imaginação cria cenas bonitas de encontros hipotéticos em que ambos os sofrimentos se tocam, se aliviam, se amam, abraçam-se tão fortemente que não sobra palavra alguma, apenas o silêncio de agradecimento como um "você voltou" e "você voltou para mim".

Desisto facilmente. Verdade. Não esqueço facilmente. Na verdade, não esqueço. Respeito-me porque os sentimentos são meus, projetados em você, com a saudade de praticamente tudo, cada pequeno momento, poucos, foram poucos, fortes e intensos para mim, creio. Para você.

E parti. Fiz partir. Fui. Fiz ir. Desvaneci. Fiz desvanecer. Desfiz-me no ar. E este ar respiro todos os dias para refazer-me. Sim, respiro saudades, vontades, desejos, sonhos também. E sabe, para mim existem sentimentos mais fortes que amor. Refaço-me com este sentimento. Algo como na busca de saber onde está, como está, e se me busca também com o pensamento da saudade de quem ama, quem me quer do seu jeito, do meu jeito, do seu modo, do modo como eu quero, como você quer.

A realidade existe para estarmos nela. Estou nela com vontade de esperar. Não somente porque fiz você partir. Sua distância é uma realidade. Mas esperar porque valeria à pena, e aquilo que vale à pena vale a espera. Estou feliz em poder sentir esta saudade, com ar mais leve, porque respiro de modo profundo e me sinto vivo e mais intenso. Sei que pode ser uma eterna espera. Algo me diz, porém, que aprendi com você um "no futuro sim", "claro que sim!", e tantas pequenas emoções. Emoção nos renova. Ela são nossas memórias. Saudades. Muitas saudades.

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Entrar em Sua Vida? Devemos Ser Pontes

Entrar em sua vida? Sim. Você tem seus sonhos, planos, metas, objetivos. Eu os acolho a todos. Você acolhe os meus? Tenho meus sonhos, planos, metas, objetivos. Algo que as pessoas realmente esquecem. Todos temos planos e para eles a quem amamos, seremos pontes.

Uma troca de vida a dois é encurtar e facilitar caminhos. Muitas vezes seremos aquela ponte que não existe entre um ponto a outro, sobre a qual a pessoa que amamos passará por cima de nossas costas mesmo. E a gente olhando diretamente para o penhasco sem fim. Firme! Acreditando! Sem reclamar. Amamos. Ela passará porque crê em nós. Sobretudo porque crê ser amanda e por nos amar.

Ouvi pela primeira vez a sentença "as palavras comovem; os exemplos arrastam" de minha mãe. Como as palavras tomam minha vida em muitos momentos, tenho sempre que buscar os exemplos para que creiam em mim. É muito difícil fazer crer nos exemplos, uma vez que o homem e suas contrariedades aparentes caminham juntos.

Conversando com um amigo pastor a respeito de casamento, ele me pediu alguma ideia sobre, já que ele iria pregar para jovens. Me ocorreu falar que "quando o parceiro se desculpa de que você não atingiu algum objetivo pessoal porque não quis, isto somente é verdadeiro se você teve 100% de responsabilidade com você mesmo e foi egoísta no relacionamento". E concluí: "em um relacionamento a dois, ambos são responsáveis pelo sonhos, planos, metas e objetivos do outro".

Por que entrar na vida de alguém sem querer ser ponte? Eu compreendo os jovens quando são jovens e suas irresponsabilidades naturais, que são compreensíveis. A partir do momento da consciência, sim, entrar na vida de alguém não implica estagnar a pessoa para seus sonhos, planos, metas e objetivos pessoais. Ser ponte é bom também. Massagear suas costas...

Ser grato para mim é o ponto mais elevado e sublime da maturidade de um relacionamento. Ser grato é a maior virtude de sua maior fraqueza. Quanto mais grato a quem nos dedicou uma ajuda, mais testemunhamos nossa fraqueza, porque nossa maior virtude. Uma relação apaixonada e apaixonante vive em gratidão constante do olhar e do silêncio. Não me refiro à sacralidade do corpo e da pele e do toque: estas coisas devem se fundir em sexos torrenciais! Refiro-me ao conforto de se estar ao lado se olhando em total gratidão. Exatamente.

A gratidão de nossa alma, que vem do nosso silêncio, passa pelos nossos olhos e invisivelmente se comunica com a alma de quem amamos e a quem nos dedicamos, para quem seremos pontes e receberemos reciprocidade.

Entrar na vida de alguém é algo relativamente (ou muito) sério, que pode trazer enorme felicidade se forem recíprocos os sonhos, as metas, os planos e os objetivos. Não os mesmos. Mas as pontes. As pontes sempre serão as mesmas. A gratidão a união eterna de ambos.

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

E Se Eu Não Ficar com Você...

Se eu ficar com você, quero que você fique comigo.

Meu amor é assim: e se eu sair com alguém amando você?

Meu amor é assim. Se eu sair com alguém gostando de você, ainda que não juntos, é como se eu tivesse traindo você.

Se namorando você, eu sair com alguém, é porque não a amo mais, e namoramos em corpos apenas, meu coração não está presente.

Se eu sair com alguém, querendo estar com você, querendo conquistar você, me declarando a você a cada momento, é como se eu estivesse realmente traindo-a. Quem trai, o faz a si mesmo.

Se eu a traí em minha consciência, com outro corpo em meu corpo, não conseguirei mais ficar com você, nem minha alma com sua alma, nem que nos amemos profundamente.

Se eu sair com alguém, amando-a, ainda que não com você agora, vou me sentir mal, triste, injusto. Nenhum belo relacionamento existe na tristeza e na injustiça.

No dia em que ficar com alguém, amando-a, você saberá, porque será minha confissão de atraição e não será para perdão.

Posso sim ficar com alguém, amando-a profundamente. Será adeus. Um adeus sem palavras. Apenas um adeus com lágrimas internas, sem saber como me distanciar, resumindo-me a poluir-me, pecar, trair, condenar-me.

Se eu não ficar com você, amando-a, ganho mais tempo para sofrer. Farei com maturidade.

Se você, me amando, não ficar comigo, e ficar com alguém, imaginarei onde estará seu coração em cada beijo dado, em cada amor realizado, em cada carinho trocado, em cada ida e vinda dos relacionamentos.

Não ficarei com ninguém sem a verdade do que representa ficar com alguém que não seja você. Ao menos serei sincero se acontecer. Quando acontecer, me despedirei de sua alma, de seu coração, de seu amor e de seu presente e futuro.

Se eu ficar com você, eu a amarei com minha alma, meu coração, meu corpo. Não sei que felicidade haverá. Não sei que felicidade compartilharemos. De minha parte, com você, darei palavras, presença, atenção, carinho e dedicação, o que posso, em nossos limites. Todos temos algo. Com amor e sem amor.

Se eu ficar com você, quero que você fique comigo.

domingo, 13 de setembro de 2015

O Coração (conto)

O Coração

- O coração, definia Dr. Marco Pensila, é um músculo cuja única função - para o organismo - é bombear o sangue, fazer o sangue circular pelo corpo, mantendo-o alimentado e oxigenado. Não basta comer e beber, não basta respirar. Nosso coração é a força motriz de nosso elã vital. O músculo mais importante. O centro de nosso aparelho circulatório.

Assim explicava - meio técnico e meio didático - ao pai de Filipe, que sofria uma cardiopatia séria. 10% de chances. Sobreviver e viver, esperando um milagre.

- Meu filho, doutor, pode morrer?

Olhando para a mesa, preenchendo formulários, lendo pedidos de exame e checando um whatsapp que acabara de receber, o cardiologista tinha em mente a pescaria marcada para o sábado pela manhã. Há uma semana adquiriu uma bela lancha Brazilian Boat 235 CR CABIN. Teve o privilégio do primeiro passeio nela. Depois deixou na marina. Próximo à Praia da Baleia. Amava ir para lá. Amava pescar.

- Olha, seu Ricardo, disse ao pai, temos de ser realistas. A dor agora é muito grande. Mas não podemos encobrir nada. Tudo será complicado. E nós apenas seremos usados para consertar o coração do seu filho. Quem cura mesmo é Deus. Sou apenas um instrumento.

- Ele vai morrer, doutor?

O médico refletiu que todos vamos morrer. Por que o desespero?

- Vamos fazer de tudo para que isto não ocorra. Mas é uma situação muito grave. Dependemos de um milagre mesmo. De um milagre.

- E que horas vai começar a cirurgia?

- Remarcamos para daqui três horas. O coração ainda não chegou.

- Meu filho está lúcido ou sedado?

- Lúcido, porém, com poucas forças. Esta com um reforço de oxigênio. Não tem forças nem para falar.

- Posso ver ele, doutor?

- Melhor não.

O celular tocou. Pediu licença. Explicou que teria uma cirurgia em algumas horas. Mas que à noite daria para ir. Amanhã? Tudo certo. Combinadíssimo. Eu, minha esposa, dois casais de amigos. Na minha casa, na Baleia. Tem sim. Tem sim um heliponto lá. No condomínio mesmo. Claro que pode! Não sei. Pode chegar o horário que quiser. Deixo avisado. Até mais. Abraços. Vai ser um excelente fim de semana.

- Por que não posso ver meu filho, doutor? - insistiu assim que Dr. Marco Pensila desligou. E se ela morrer?

- Olha, seu Ricardo, vamos fazer o melhor possível. Seu filho será o meu filho na sala de cirurgia. Será o meu filho que eu perdi na mesa de uma cirurgia no ano passado. Faremos de tudo. Agora, quanto a vê-lo, posso te levar, mas ele não pode passar nenhum tipo de nervoso para não acelerar o músculo cardíaco.

O pai foi. Via pela janela do quarto o filho. Olhar quieto. Sem expressão. Preferiu não entrar. Oito anos. Apenas oito anos. Começou a chorar. Silenciosamente, escorrendo pela porta até cair de joelhos e permanecer lá, mãos juntas, pedindo a Deus um milagre, até ser retirado com delicadeza por uma enfermeira e levado à sala de espera, onde ficou todas as 8 horas de cirurgia, religiosamente agarrado ao terço.

O fato é que o doutor deve um fim de semana maravilhoso, com amigos e a família em sua casa na Praia da Baleia, curtindo muito sua lancha e folga. O amigo do helicóptero foi um dos mais empolgados. Houve camarão. Casquinha de siri. Vinho branco francês. Dançaram à noite. Todos. No domingo um churrasco digno. E futebol à tarde. Era a mais importante rodada do Brasileirão. Fluminense Campeão 2012. A vida corria. A vida em gotas de felicidade. Impulso de momentos. Voltou na segunda-feira à tarde para São Paulo. Antes, na mesma manhã de segunda, recebeu uma ligação do hospital em seu celular privado:

- Dr. Marco. Bom dia. Desculpe-me ligar para o senhor neste horário. É a Carol, chefe da enfernagem, do segundo turmo.

- Oi, Isabel. Tudo bem? - disse ainda sonolento. O que houve?

- Sabe aquela criança que o senhor operou na sexta-feira.

- Sim. Sei. O que aconteceu? Ele não resistiu?

- Sim. Quero dizer. Não. Ela está bem. Teve uma melhora considerável. Verdadeiro milagre. Pressão normal. Oxigenação normal. Enzimas todas normais. Parabéns.

Dr. Marco permaneceu daí em diante em silêncio. Não respondeu mais nada. Desligou o telefone. Desligou o aparelho. Desligou-se do mundo. Queria ficar incomunicável. Respirar. Profundamente. A terceira esposa ao lado, na cama, dormia, profundamente. Quase trinta anos mais jovem. Ela dormiu feito anjo. Abriu a gaveta do criado-mudo. Tirou uma caixinha. Tirou dentro dela um saquinho plástico. Tirou dentro dele uma foto pequena, 3X4, da carteira de escola. A foto do filho. A foto do filho que não conseguiu salvar, porque em viagem. Lacrimejou, sussurrando com dificuldade, soluçando silenciosamente, engolindo a vida solitária:

- Para você, meu filho. Este também é e sempre serão todos, sempre serão todos para você.

Dormiu.

A Intuição: Dr. Micheal Kremer e Oliver Sacks

"Parecia ler a mente dos pacientes e conhecer intuitivamente todos os seus medos e esperanças. Observava seus movimentos e atitudes como um diretor de teatro observa seus atores. (...) ...mostrava o quanto ele observava e entendia antes mesmo de fazer um exame neurológico, antes mesmo que o paciente abrisse a boca."

Oliver Sacks sobre o Dr. Micheal Kremer.

Sou uma pessoa bastante intuitiva. Em alguns momentos, eu mesmo coloco em dúvida a minha humildade em troca de minha arrogância e prepotência.

Paradoxalmente, quem eu amo e quero ao meu lado é quem mais sente minha prepotência e arrogância. Abro meu coração. Pronto. Tenho minhas razões íntimas.

Quando compartilho minha forte intuição e ela começa a fazer parte da rotina da pessoa, incrivelmente eu contagio. Por um processo incrível do inconsciente, ambos entram em sintonia. Ambos aprendemos uma comunicação invisível, mais clara do que a oral.

De fato, de modo prepotente, liberto qualquer repressão e opressão. Eu dialogo abertamente o que sinto e o que sou em minha percepção de mundo. Fico agradável e suavemente apaixonante. Suavidade na essência, desde que toleremos nossas superfícies; apaixonante no convívio, desde que toleradas as altas cargas emocionais que a dor e sofrimento humanos me causam. Sim, o sofrimento humano me compadece.

Ao mesmo tempo, sinto um pouco de vergonha de sentir sem nada poder fazer. O artista deve ir através desta linha imaginária, mas totalmento sincero e preparado para as condenações do gosto de quem não tem acesso a ele. Todo artista é um incompreendido.

Sou um daqueles professores intuitivos. Falo com naturalidade a respeito de assuntos bem delicados como "aspectos fisiológicos da fala" e "desinências verbais" como se ensinasse as letras "a", "e", "i", "o", "u" para altamente especializados.

O equilíbrio entre o que ensino e o que eles assimilam está na minha intuição, no jogo de saber como jogar, no poder de me enxergar no ponto de vista dos alunos que precisam aprender. Creio ter bastante êxito como professor, palestrante e escritor. Oito de cada dez alunos, seguramente assimilam. Uma estatística meramente intuitiva e observável. Um troca.

Ao ler a percepção do médico Oliver Sacks a respeito do Dr. Kremer e sua forte intuição, eu fico bastante tranquilo quanto a mim mesmo. Claro que ser diferente entre iguais faz que todos sejamos comuns. Já disse: sou igual, mas não comum. Quando desviamos do padrão de nosso comportamento, somos consideramos anormais, sofremos pela dificuldade de estabelecer relações normais, ou melhor, comuns. As relações ficam mais ou menos assim: você atrai as pessoas pela admiração e elas se afastam de você (ou o contrário) pela prepotência.

Ser intuitivo é algo que não se controla. Nem se reprime. Quem convive comigo percebe quão natural o é. Ler os detalhes das curvas são significativas quanto o todo da forma acabada. A arte são curvas sobrepostas por curvas. O artista uma linha perdida cheio de intuição. Viva com um. Tolere um. Acolha um. Ele precisa.

Nosso Inconsciente

1991. Primeiros dias no 1° Ano do colegial. Estudava em São Miguel. Tinha 16 anos então. Faria 17 em maio. Dois anos trasados. Fiz supletivo da 5° à 8°. De algum modo, me eu compensaria posteriormente.

Nesta época, um canção não saía de minha cabeça. Era a mesma que meu filho Pedro, 12 anos, ouvia ano quarto, desenhando. A canção é "Patience" dos Guns and Roses. Muitos a conhecem, ainda que poucos tenham vivido o auge da banda.

Há um assovio inicial. Eu fiquei marcado por duas amigas orientais, a Lucia e a Regina, porque distraidamente eu assoviava esta melodia. Insegurança? Medo? Solidão? Distanciamento?

Tivesse a consciência que tenho hoje, eu saberia que era meu ato falho, ou seja, um mecanismo inconsciente para distrair pensamentos que eu queria que ninguém percebesse.

Os atos falhos possuem basicamente dois propósitos contrários: tentar esconder ou tentar revelar. A todo momento manifestamos atos falhos.

Percepção é algo parecido. Ler as intenções indiretas também. Intuição é a maturidade do ato falho. Sou fã dos livros "Por que mentimos?" Oras, se não for doença a mentira - anormalidade -, mentimos porque muitas vezes queremos que as pessoas descubram nossas verdades inconscientes. Acabei de falar dos atos falhos, desta tentativa de comunicação do inconsciente.

Portanto, refiro-me à mentira da ajuda, do socorro, do desespero, da leitura ao contrário. O livro a que me refiro é leitura obrigatória para todos que vivem de vendas. Não para mentir. Para ler os mecanismos de mentira (atos falhos) de quem quer comprar.

Qual, então, era o ato falho que em 1991, eu queria esconder dos outros alunos? Em resumo: o desconforto de não me sentir igual a eles. Eu havia feito supletivo (em seis meses como fosse um ano) da quinta série à oitava, como disse Sentia-me velho aos 17 anos. Outros problemas pessoais que, aliás, já narrei em meu segundo livro.

O bacana de saber onde e como caminha seu inconsciente, mora no conforto daquilo que você realmente busca no mundo como propósito de vida. Ah, propósito de vida! Quem não o tem? No ápice de minha incompetência para ser aluno de escola pública (repeti quatro vezes), tive ainda tempo e a misericórdia de adquirir vocabulário e estilo para escrever. Meu propósito totalmente consciente para escrever. Claro, as palavras serão lidas, julgadas, admiradas e condenadas até. Só que o autor vai junto. Um erro.

Seria verdade confundir o autor com o que ele escreve se fossem atos falhos seus textos. A grande maioria, que tem consciência, porém, não é ingênua para escancarar de modo inocente sua alma sem saber por onde e como anda seu inconsciente. No momento da canção "Paciente", eu voltei 24 anos. A sensação inteirinha em meu coração. Foi bom. Muito bom. Existe um turning-point sobre o qual eu já escrevi... Já escrevi, mas que Jung e nem Freud captariam agora. Por quê? Ah, eu sou danado quando tentam invadir a minha alma. Não permito.

Permito revelar o que vale. Vale muito olhar para seus atos falhos e admitir que os tem. Quem tem não percebe. Pode perceber. E se perceber terá um alívio, uma epifania enorme. Bons. Muito bons atos falhos.

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Beijo

- Já saiu com ele?

- Hã?

- Você saiu com o rapaz com quem está conversando?

- O que é sair pra você?

- O coração estar no momento.

- Beijei ele.

Despoluição Emocional

Vinha para casa à noite dirigindo e refletindo sobre a quantidade de bobagem, em forma de conselhos, que eu tive de ouvir e aturar nas últimas semanas. Vinha pensando a razão descabida para esta liberdade que algumas pessoas tiveram e, claro, os erros que cometi para que elas ultrapassassem estes limites.

Algo ficou evidente para mim: eu estava em enorme poluição sentimental. Eu permiti uma confusa poluição sentimental em mim e, ao invés de posicionar-me de forma bem clara, eu ia e vinha posicionando-me de forma tímida e às vezes retrocedendo como indeciso. Ou seja, um total banana, que aparentava alguém sem iniciativa e confuso. Realmente devo ter deixado esta sensação. Para mim, eu era direto e franco, deixando claro meus problemas pessoais a todo momento.

Se está poluído, portanto, urgentemente despolua sua mente, despoluindo as suas relações que lhe causam mal. No caso dos sentimentos, desfaça radicalmente contatos que quiseram perturbar a ordem dos seus valores e emoções. Sobretudo aqueles para quem seu passado pessoal foi um livro aberto e usaram e abusaram contra você cada vírgula que falou. Talvez ainda não tenha chegado ao seu limite e, como eu, você tende a ir e vir, insistindo e até tolerando. Quanto mais rapidamente cortar, terá oportunidade de despoluir sua mente e sua alma, entretanto.

Para uma verdadeira despoluição emocional e sentimental, vai ter que fazer destas pessoas um passado enterrado, porque foram maléficas a você e às suas experiências. Você permitiu as pessoas se sentirem tão íntimas com seus problemas e acima deles que, por rancor ou mágoa, destilaram venenos quando elas perceberam que no fundo você fazia o que queria e não havia em momento algum dependência e fragilidade emocional dos seus mais importantes valores.

Comece mesmo apagando estas pessoas. Apague as bobagens que elas disseram. Depois, os relacionamentos ruins, corte-os na raiz. Eles somente fizeram mal e fazem mal a você. Um período de transição será fundamental e deslocado do seu eixo. Vida do zero, deslocamento e adaptação nos novos relacionamentos de amizade, amorosos e profissionais. Seu presente e futuro são mais importantes do que seu passado aos novos relacionamentos, que diz respeito a você, mesmo porque todos tem passado. Nosso presente deve ser muito mais legal que nosso passado. Já o futuro uma consequência. Foque no seu presente e futuro. Seus novos relacionamentos terão interesse no que de bacana você faz: esportes, cultura, atividades das mais diversas e que agregam. Assim como você pelo deles.

Não adianta. Quem o conheceu de um modo e passou a criticar sua atitude e a sentir-se com autoridade de falar o que você deve fazer, jamais mudará. A única forma de mudar, será sabendo ou testemunhando sua nova vida, que foi possível porque tivemos a consciência da poluição emocional que vivíamos. Mesmo assim, ela julgará que foram os conselhos dela que o ajudaram a mudar. Sim, foram os conselhos, mas não por sabedoria; foram porque simplesmente a pessoa ultrapassou os limites e venceu-o pelo cansaço.

Fico imaginando qualquer nova pessoa que você conheça. Numa festa, academia, viagem, em um curso. Despolua seu passado. Você será, num primeiro momento, parte daquele momento e este momento já basta para ambos. Focar nele. A partir daí, é viver o mais saudavelmente possível e ficar feliz se for uma pessoa bacana, ou afastar-se o mais rapidamente possível se for mais uma das mesmas. Geralmente vamos atraindo aquelas que tem o mesmo perfil da poluição emocional e sentimental que antes. Algo inconsciente. Fuja.

As pessoas que amam você, principalmente as mulheres que se apegam a homens, dizem para si mesmas que você foi o pior que aconteceu na vida delas quando você resolve se afastar. Simplesmente elas vão querer acreditar que o homem precisa de tratamento, já que vive indeciso e uma das indecisões era ficar ou não com ela. Não partirá delas que esta indecisão é mais por causa do medo delas do que pela objetividade dele. Homens maduros tomam decisões rapidamente. Daí vem a poluição. Se elas estão poluídas, nada tem de se fazer. Fuja.

Serão os pequenos valores em comum que enriquecerão os relacionamentos. No início tudo é legal e bacana. Se a pessoa é uma escritora e leitora voraz e comunicativa, sem perder a ternura e a feminilidade, possivelmente terá muita empatia comigo; se a pessoa é do tipo que julga o mundo, já começa a poluir meus sentimentos. O certo é cortar e transformar em momentos superficiais o encontro do café. Não significa que temos de ser mal-educados. Correto mesmo seria ser mais frio. Do contrário, sua indiferença futura será lida como "ser bipolar".

Sabe, pé na bunda destas poluições. No afastamento sempre sobrarão rancores e mágoas. Sempre. Vida realmente nova. Há pessoas bacanas sempre. Atraia-as para você. Deixe que as demais vivam em suas respectivas poluições. Viver relacionamento saudáveis pode ser uma escolha. Uma boa escolha. Nem todos estão de fato preparados.