segunda-feira, 31 de agosto de 2015

A Distorção me Cansa

A distorção me cansa. Não sei se saberei explicar. Não me refiro à distorção mal intensionada, do tipo comum "você está distorcendo tudo". Refiro-me àquele jeito do ser humano querer ser inteligente de forma cult e tentar mostrar ao mundo detalhes que aparentemente passam apenas em sua visão master-cult distorcida. Isto me cansa.

Porque, bem ou mal, me parece coisa de adulto jovem adolescente buscando sentido quando alguns fundamentos já deveriam estar enraizados na sua mente. Veja que eu falo "deveriam". Tenho algo de tradicional na existência humana e nas relações sociais e pessoais por respeito à importância da tradição.

Acho que a vida tem fases. Acho bonito sabermos viver de fases e nossas fases. Acho que há pessoas ridículas que não caem a ficha da fase que vivem. Sim. São geralmente deslocadas. Acho que há pessoas precoces, que não se encaixam na fase de vida que deveriam viver. Sofrem por isto. Ou são acolhidas porque o amor aproximou.

Ontem, em um comentário, uma amiga falou a expressão "preguiça-master" de insistir em algo e discutir algo. De imediato vieram em meu inconsciente tantas "preguiças-masters" que temos e mesmo assim persistimos porque respeitamos nossas fases. Preguiça de viver, no entanto, não é bacana.

Como a vida nos surpreende, ontem também tive um belo insight de como as pessoas inteligentes sabem raciocinar e racionalizar com muita sabedoria as evidências. A mãe estava com problemas emocionais fortes. Antes de qualquer coisa, a filha foi bem precisa:

- Mãe, isto é hormonal. Tiraram seus ovários e úteros sem você saber. Seu cérebro envia ainda estímulos para algo que não existe mais em você. Não está produzindo hormônios!

Dito e feito. Corpo e mente saudável da mãe depois do diagnóstico correto. A vida se reestabelecendo e estabelecida com a mesma naturalidade de sempre.

Como tenho preguiça-master deste cansativo jeito cult de distorcer a realidade para mostrar-se inteligente. Minha amada e querida me surpreendeu comendo lanche do Mac Donalds, com uma bela visão de que podemos fazer a diferença na vida das pessoas. Ser inteligente sem querer distorcer. Ao contrário. Por isto eu amo. Demais. Quando amamos, amamos no outro o que amamos em nós mesmos. O nome disto é comunhão. O nome disto é agradecimento. O nome disto é fase interna. Uma fase precocemete positiva. Finalizo com uma pergunta. Não escrita. Mentalizada. Sim ou não? Já sei. Já sei. Sim.

Os Chinelos de Dedo

Dia 20 de agosto as coincidências da vida me fizeram almoçar no Galeto's no Shopping Pátio Paulista acompanhado com uma pessoa tão importante para mim, e, de quebra, outra coincidência, me fez dar uma singela lembrança a ela. Seu nome é Juliana.

Sempre quis ter este momento com ela e das vezes que tivemos, eu nunca havia ficado satisfeito. Das vezes que saímos, eu nunca gostava do ambiente, desde o hotel ao restaurante, porque para mim, ela merecia muito mais. Muito mais mesmo. Fiquei no Almanara, fila de espera de meia hora, e ela por mensagem:

"Logo estou aí."

De repente, ela aparece. Sorrimos e nos beijamos no rosto. Eu agradeci. Resolvemos deixar o Almanara e ir ao Galeto's. Fomos em dois minutos falando amenidades do tipo: vim da faculdade, fui resolver algo no banco etc. Por fim entramos. Ela saboreou uma picanha ao ponto com arroz branco e uma salada. Tomamos dois chopps Heineken. Conversamos muito.

Na entrada, porém, reparei que ela estava de chinelos havaianas. Calça branca porque estuda fisioterapia. Eu nada disse na hora. Me confessou depois que gosta de ir de chinelo para a faculdade. Depois coloca o sapato no trabalho.

Resumindo: estas cenas me tocam. Me tocam tanto que eu falei para ela ao longo da quase uma hora de almoço:

- Eu reparei que você está de chinelo quando entrou e veio almoçar com a maior naturalidade, de quem entrava na areia da praia, somente faltando o mar. Sabe, jamais perca esta humildade, esta doce simplicidade, que você tem. A gente tende a ficar mais orgulhoso quando mais velho, mas não permita.

Eu acho bem isto. O tempo tende a deixar  as pessoas ou mais egoístas ou mais altruístas, ou mais humildes ou mais arrogantes. São as circunstâncias, mas também as escolhas. Por que negar nossas origens com o passar dos anos? Por que anular as memórias que nos forjaram no passado? Por que se perder em um novo mundo que nunca fora nosso? A alma interna jamais pode ser deslocada da sua essência, porque se assim o fizer, a gente se perde numa grande confusão.

Eu preciso dizer que, apesar das complexidas do ser humano, amo tanto esta minha vontade de crer nesta simplicidade de estar feliz internamente. Em paz com os homens. Em paz com a vida. Não estou compartilhando minha paz, estou compartilhando os chinelos de dedo. Na praia ou em qualquer lugar.

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Ela na Psicóloga

Ela na Psicóloga

- Não gosto dele. Estou me equilibrando entre minha carência e minha auto-estima por ele. Por isto fico com ele. Ele me trata bem. Ele diz sempre que me ama. Quando sinto forte angústia, estar ao lado dele me traz forças. Depois me desespero internamente. Não queria para mim. Não assim. E fico vendo a vida passar. Meu passado sem volta. Minhas decisões que pareciam tão certas. Minhas coerências pessoais tão precisas. Minha confiança em meus sentimentos. Eu me assusto porque fui ingênua. Hoje sou consciente. Esta consciência machuca demais. Admito para mim todos os dias que águas passadas passaram sem volta. Vida nova. Tudo novo. Eu me empolgo. Creio em mim. Me liberto. Euforia. Porém, quando na minha solidão, vem de longe, sem querer, aparecem meus fantasmas. Os meus fantasmas, que tento, que quero, que preciso, que faço de tudo para esquecer. A angústia bate. A carência me envolve. Penso nele, que sei que me ama, para me resgatar para a vida momentânea. Ele me conforta. Diz sempre que me ama. Vou à casa dele. Jantamos. Vemos um filme. Fazemos sexo. E dormimos. Mesmo ao lado dele, a solidão persiste quando em silêncio, e minhas lembranças de minhas decisões passadas aparecem. A diferença é que eu aperto a sua mão. Ele me abraça forte. Sinto-me protegida. E durmo em paz, que dura poucas horas. Depois me pergunto o que faço ao lado de quem eu não amo. Eu me condeno por isto. Quero ir embora. Com um sorriso e promessas de saudades, arrumo desculpas tão sinceras que não deixo outra impressão senão que eu o amo sem o amar de verdade. Beijo a boca dele na despedida. Ele se importa comigo. Diz que me ama. Entro no meu carro. Vou embora e minha vontade é dirigir até acabarem os pneus. Largar tudo. E tento. Mas o tudo não me larga. Vou para casa no domingo pela manhã. Passo na padaria para um pão na chapa e um pingado. Me apaixono por alguns homens por lá com suas respectivas esposas. Sinto pena de mim mesma. Tão carente. A maioria, na verdade, já casados. Não perco a pose. Sei que minha carência vê amor em tudo. Enquanto não me convencer de que não posso viver arrependida de escolher de modo errado o que eu queria para a minha vida, sempre serei carente. O que fazer? Desabafar. Gosto de viver. Meu único problema está em mim. Na decisão que tomei. Por bonita que eu seja, nunca me apaixonei por nada que não tocasse minha alma e me cegasse completamente da minha beleza externa. O toque belo com palavras belas é muito mais belo do que a beleza de um rosto e de um corpo. Sou mulher. E mulher quer abrigo porque ela entende que o escuro tem mais proteção do que a ilusão da luz. O que fazer? Me trancar daqui a pouco no meu quarto. Apagar as luzes. Ligar a Netflix e assistir a seriados. Por mais que eu queira rir, colocarei aquele que me arranca lágrimas. O riso eu deixo para aquele que me ama e eu não o amo. As lágrimas guardo para mim e minha solidão. Há decisões que, ao invés de nos libertar, nos aprisionam em nós mesmos. Eu estou livre para o mundo, mas presa em mim mesma. Prefiro sua voz na escuridão à beleza na mais clara luz. O que fazer? O que eu devo fazer?

- Nada. Se conformar. Vida nova. Se tiver paciência, encontrará a voz que precisa na escuridão. Mas pare de olhar. Respire. E sofra. Sempre há alguém pior do que nossas dores.

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Sentimentos Indescritiveis

Há sentimentos indescritíveis. As palavras não vem.

Dizem que não devemos dar nome àquilo que temos de mais sagrado. Falo em relação ao mundo místico. Culturas indígenas e tribos africanas ou do suldoeste asiático ainda vivem o poder do nome sagrado, do sentimento sagrado, da vida sagrada.

No Velho Testamento, quando Moisés pergunta a Deus:

- Como devo chamá-lo?

Deus respondeu:

- Fala que o Eu Sou disse.

Amor é algo sagrado. Bonito. Sentir amor traz a mesma sensação de não nomear o que arrebata a alma.

Talvez por este motivo falamos tanta bobagem ao amar e nos sentimos tontos e imbecis depois. Desespero e temor de abrir nossa alma?

Eu digo logo "Eu te Amo" sem frescura e sem medo do nome. Oras! O que se espera de um encontro entre duas alma? Minha melhor tradução para o indizível é trazer o amor ao nível que eu acho ideal.

Aprendi a canção do Cazuza e a expressão "É que eu preciso dizer que te amo..." desta forma: precisava dizer sem saber como.

Aliás, abaixo, a passagem de Moisés conversando com Deus no Monte Sinai:

"13. Então disse Moisés a Deus: Eis que quando eu for aos filhos de Israel, e lhes disser: O Deus de vossos pais me enviou a vós; e eles me perguntarem: Qual é o seu nome? Que lhes direi?

14. Respondeu Deus a Moisés: EU SOU O QUE SOU. Disse mais: Assim dirás aos olhos de Israel: EU SOU me enviou a vós."

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Todos Somos Sobras

TODOS SOMOS SOBRAS

Depois de um tempo de vida, todos somos sobras. Sobras do que fomos e somos, do que fizemos, do que fizeram conosco. Somos sobras, mas restos sem valor. Somos sobras porque somos inúmeras partes, inúmeros fragmentos e porções. Nossa consistência de um todo unificado somente tem razão à luz de nossos fragmentos.

Aliás, quem considera o outro 'resto' traz para si a sua própria inutilidade e insignificância num relacionamento. Tem o coração cheio de arrogância e prepotência.

Podemos ser a sobra daquilo que nos restou, mas jamais o resto para o outro.

Digamos que a sobra está na mistura de tudo o que somos, ao passo que o resto é a 'sobra' de uma única coisa. Sobramos na experiência acumulada. Já resto de nós é quando não vivemos nossas próprias experiências, porque ficamos presos, fechados, oprimidos, reprimidos.

Bom e belo quando todas as nossas sobras vivem em harmonia. A sobra dos relacionamentos, a sobra da adolescência, a sobra dos empregos, a sobra de tantas amizades, a sobra das dificuldades e dos contentamentos, porque assim temos ainda algo a dar, a compartilhar, a ceder, a ganhar e ter.

Diferentemente do resto. Ser o resto derruma nossa estima e amor-próprios. Ninguém quer nosso resto ou o resto do que somos. Somos sobras de tudo o que fizemos e fizeram de nós.

Restar quer dizer "faltar pouco"; sobrar quer dizer "tem mais do que o completo". Restar é nunca estar completo; sobrar é compartilhar com o mundo, cheio de completude.
Insisto que depois de uma certa idade todos seremos sobras. Sem uma única exceção. Creio que, entrando nos 30 anos, acumulamos muitas experiências e sensações.

Aceitar a sobra do que somos e a sobra do que as pessoas são é um ato lindo de respeito e amor verdadeiros. Quem aceita resto não ama, não respeita, não vê no outro uma pessoa completa. E provavelmente o pouco que lhe resta nunca chegará a ser completo. Amarga e frustrada.

Aceitar as histórias, os anos, as experiências e as memórias do outro é acolher e ser acolhido. Caso olhemos para o outro como resto, nada ele poderá lhe dar senão o pouco que resta. Caso veja um todo cheio de sobra do que é, virá cheio de sentimentos que somente o tempo fez lapidar e deixar mais acolhedor porque os caminhos existem e já foram percorridos, boa parte deles.

Fale assim à pessoa que chega, ainda que mentalmente:

- Me dê a sua mão. Podemos ir juntos. Não quero ser o resto do que você ainda não teve. Sobra muito de mim para o mundo porque sou um pequeno riacho límpido quase sempre transbordando: não desperdiço; eu transbordo. Só os meus limites que se acumulam. Nossas sobras é porque somos inteiros demais. Me dê a sua mão e vamos!

Estas coisas do amor

Estas as coisas do Amor

Sem inspiração para escrever, eu me lembrei de uma história em quadrinho do Chico Bento.

Chico Bento despertou pela manhã. Espreguiçou-se. Viu o sol através da janela no seu quarto que o cercava cheio dos seus poucos móveis.

Pés no chão, foi à cozinha. Não viu a mãe preparando o café. Saiu de casa, chamando-a. Reparou que não havia seus animais no sítio. Andou até a cidade e ninguém.

De repente, as casas começam a desaparecer. As ruas e as árvores. O sol e as núvens. Montanhas. Tudo some. Por fim, ele fica sozinho no mundo, em um mundo onde tudo é branco. Ele se agacha abraçando as pernas, colocando a cabeça entre os joelhos, triste pela solidão sem entender. E ao canto fim da história...

De repente, uma voz "Chico!". E a voz vai aumentando o tom "Chico". Uma sentença completa aparece "Chico, eu te amo. Volta para mim." Era a Rosinha...

O sol, as montanhas, as núvens, a cidade, as pessoas e os animais tudo volta à normalidade da vida. O colorido aparece. Ele se levanta. Vai ao encontro da Rosinha e se abraçam. Fortemente. Não disse mais nada...

Estas as coisas do amor.

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Mágoa, Rancor, Raiva, Ódio

Mágoa, Rancor, Raiva, Ódio

Ficar destilando mágoas traz o benefício do alívio. Nem sei se sou adepto a este tipo de alívio porque ele engana quando a mágoa vira rancor. E rancor é doença emocional.

Como a maioria das coisas na vida, toda mágoa vem de um passado, semelhante a um arrependimento, a uma frustração, a uma desilusão que se iniciou uma ilusão. Entre o passado de mágoas e o futuro dos sonhos, o presente é puxado para ambos os lados. Evidentemente, estamos muito mais no passado. Evidentemente o rancor é todo o mal do passado dominando a vida presente. Que Deus nos livre de todos os rancores.

Mesmo porque, viver no passado remete à nossa origem, ao nosso começo, à nossa eternidade paradoxal de ter sido o que somos neste exato momento. O futuro? Está lá longe como realidade do Fim do Mundo, da implosão do Sol em Super Nova, de algum cataclisma avassalador na Terra ou caos Apocalíptico desfazendo tudo que é orgânico em nosso mundo em complexos elementos químicos instáveis buscando equilíbrio. A tendência do Universo é sempre o equilíbrio, isto é, menos gasto de energia. Nosso futuro vem com esta esperança: equilíbrio.

Falar de nossas mágoas ajuda sim no equilíbrio das frustrações emocionais do passado e que algumas pessoas fizeram com a gente. Insistir sempre nestas mágoas pode ser um sintoma de rancor, que é tão angustiantemente destrutivo quando a Super Nova do Sol em alguns bilhões de anos. Rancor, ódio, raiva é esquecer o futuro, anular o presente, aniquilar as origens de nosso passado e gastar boa parte de nossa energia no mal alheio.

Delicie-se na comida, na bebida, na vida que passa e nos diversos complexos sentimentos dentro de nós, sendo nenhum exclusivo a nós. Todos os sentimentos são compartilhados. Ninguém imune nem ao frio, nem à fome, nem à dor. Frio a gente dá um jeito de se cobrir, fome tem que comer algo, a dor devemos sentir como a fome e o frio. Quanto menos mágoa e sem nenhum rancor, ela passa mais rapidamente. Não é reprimir a dor - comum às mulheres. É visualizar o futuro em uma viagem, em um novo projeto, em algo que agregue coisas boas às pessoas, até mesmo um projeto social. Neste caso, cada qual deve buscar visualizar seu futuro diminuindo as mágoas do passado. Vida que segue. Vida que se repete. Ciclo que inicia e termina. Ciclo do sol, que nos aquece e nutre a terra com semente para nos dar o que comer. Já a dor... Paciência, né. Que as mágoas durem pouco e que nunca virem rancor, ou ódio ou raiva...