quarta-feira, 20 de novembro de 2019

SOBRE DEPRESSÃO

Sobre DEPRESSÃO

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domingo, 3 de novembro de 2019

NOSTALGIA

Peguei o Daniel, meu caçula, para ver um filme. "Vamos ao Shopping União ou Eldorado?". Ele hesitou um pouco. "Tanto faz, pai." E fomos ao Shopping União, em Osasco. No caminho insisti se ele não preferiria ir ao Eldorado. Ele respondeu que não, mas acrescentou que gostava de ir ao Shopping Eldorado porque sentia "nostalgia". Quem não sabe o que é nostalgia? Uma das definições de nostalgia é "saudades de algo, de um estado, de uma forma de existência que se deixou de ter; desejo de voltar ao passado." A palavra também está ligada ao afastamento do lar, do país, da casa, da família. Se ele me disse que gostava do Eldorado, era porque sentia "aquele desejo de voltar ao passado", e se referia a um momento fortemente construído de imagens ricas da família de saudáveis emoções. De fato. Quando casado, íamos como família muito ao Eldorado, minha filha fazia teatro no Macunaíma, as salas de cinema são muitas, Outback, teatro, brinquedos, exposições, e um clima familiar muito agradável. Às vezes não sabemos como funciona nossas emoções e este o foco da vida. Ontem mesmo, uma conhecida me perguntou pelo whats: "Flávio, o q vc acha da alexitimia, da ausência de emoções? O q a neurociência diz sobre isso?" Eu não sabia o que era alexitimia. Fui ao dicionátio e achei "uma desordem psicológica caracterizada pela incapacidade de identificar e descrever emoções; significa literalmente 'sem palavras para a emoção'." Resumidamente, eu foquei no "ausência de emoções". Há duas formas básicas de não termos mais fortes emoções. A primeira é através da depressão, um distúbio neural que anestesia as emoções e faz nossas memórias e lembranças perderem significados e associações, como comer diferentes comidas sem sabor algum. A grosso modo, o depressivo olha para fotos suas de criança e vive uma dor estranha. Ele sabe racionalmente que é ele nas fotos, mas não significa emocionalmente nada. Além das fotos, podem ser lugares, pessoas, músicas, momentos etc. Esta é uma forma cruel de viver nossa pouca existência, motivo pelo qual o suicídio é uma triste alternativa e um desesperado alívio. A outra forma de "ausência de emoções" vem de algo bem diferente da depressão. As emoções não estão ausentes, nem anestesiadas. Elas apenas estão controladas, pelo fato de tanto vivê-las e analisá-las. Nossa mente racional pega nossas experiências em lutos, angústias, tristezas, melancolias, euforias, felicidade, timidez, introspecção, ódio, raiva e mágoa, desprezo, rejeição, humilhação e todas as diferentes formas de emoções, que já sentimos, e cria um controle inibitório quase que natural. Se tanto sentir, nem ligamos mais. Pessoas que passam por guerra ou abuso, e mesmo assim não se traumatizam, é porque conseguiram, por meio da mente racional, entender a existência e o poder da emoção vivida. A palavra resiliência traduz esta última definição de ausência de emoção. A emoção, então, não está ausente, mas faz parte da vida sem perturbar quem sente. De volta ao meu filho. Ouvi-lo dizer "nostalgia" de um lugar, e ele com doze anos, me rasgou liricamente a alma e me deixou com leve melancolia. Aquela minha família de antes: esposa, três filhos, passeios, jantares, filmes e viagens não existe mais no momento presente dele, mas os lugares ainda evocam fortes emoções daqueles momentos de família, em que ele tinha seis, sete anos. A partir de então, foram outras memórias de pais separados. Eu sempre tive cuidado com as memórias que poderia construir na mente de meus filhos depois de separado, e buscava amenizar qualquer possível potencial para trauma. Raramente temos 100% de sucesso naquilo que não depende apenas de nós. Por outro lado, conversando com meus filhos hoje, eu vejo que há uma autoconsciência implantada em cada um deles, e a autoconsciência é primeira condição de conhecer nossas emoção e nosso corpo, e nosso papel na sociedade, e como as pessoas nos veem e como as vezes. Sobre isso, existe a "teoria da mente", que aliás, já falei com cada um deles a respeito. Está aí algo que vale a pena dar uma pesquisa no Google. Porque "teoria da mente" é tentar olhar para a própria mente através das intenções das pessoas. Se virmos alguém abrindo a porta da geladeira, deduzimos que irá pegar algo. Esta dedução é a "teoria da mente", ou seja, concluir o que o outro pretende ou não fazer. Daniel abriu seu coração a um pai sensível sem ter pensado que eu faria de uma única palavra um profunda reflexão íntima e pessoal. Claro que doeu em mim aquele sentimento nostálgico em uma criança de doze anos. Dá vontade de chorar e pedir perdão a ele. Por outro lado, a vida é um caldeirão de emoções, e quanto mais vivemos, mais nos sentimos incorporados em nós mesmos, e saber que sentimos emoções nos ajuda a amar a arte, e na essência a arte é materialização do belo racional por meio das mais profundas emoções, motivo porque eu escrevo arte e amo, amo muito, e amar nos ajuda a sentir...

- flavio notaroberto

sexta-feira, 1 de novembro de 2019

A Mendiga no Terminal

A mendiga no Terminal

No Terminal Rodoviário do Tietê, a mendiga passou na minha frente com duas sacolas e trapos, andando apressadamente. Para ser mais preciso, foi do Desembarque pouco movimentado numa quinta-feira à noite. Ela tinha a altivez dos dominadores, que fazem do mundo um palco lúdico de avanços e recuos, até o cenário ideal para dominar. Eu me intimidei no olhar introspectivo da solidão triste de esperar a paz que não sentia. A mendiga não era introspectiva. Nem licença ela pediu. Tão somente foi para a sua reunião de negócio, que equivaleria a um contrato fechado com o peso da sua assinatura e as glórias do poder. Ela estava atrasada para ele, e eu pensei no recalque que a imaginação da arte representa em contraste com a realidade da doce esquizofrenia dela, e que fosse uma leve e espetacular esquizofrenia! Quem não é esquizofrênico diante das dúvidas e incertezas que plantam em nossas mentes na sociedade cheia de segundas intenções e recalques? Está ou não me traindo? Devo ou não aceitar? Vale a pena? Vale? O que tem de importante para falar comigo? Por que quer falar comigo mais tarde? E o “eu preciso de falar algo depois”? Por que foi um "sim" seco? Por que apenas "não"? Recortes e recortes profundos de tortuosas dúvidas, que nos consomem tempo de vida e higiene emocional, traduzidos no que queremos ser e no que somos na vida que segue. A mendiga seguia sem a par algum pelas ideias de um outro esquizofrênico nas palavras, que fantasiava a fantasia real dela, que ela tinha ao olhar de quem a via com outros olhos. Os meus eram o da dor. O dela, o da liberdade. Possivelmente o desejo seu de desembarcar de dentro de sua mente o imaginado real de pessoa séria, ocupada, cidadã de bem, com personagens e lugares reais na mente viva era a minha imaginação do que poderia ser, mas não deveria. Uma sacola pesada no braço direito, outra no esquerdo, passos curtos acelerados. Quem corre, teme. Quem acelera, faz porque pode. Ela podia e pôde tudo. Colocou nas minhas reginas internas uma cena de breves segundos em um enredo atemporal. A mendiga olhava soberba para cima. Não nariz tão empinado, porque o exagero é um amigo da insanidade. Nem desviava o olhar para os lados, pela mesma razão do pouco caso a quem não a notasse. Os holofotes da alma não se comparam ao que o sol diz ao que somos aqui e agora. O sol existe por existir. Os olhos da mendiga é uma luz miraculosa de um universo que olha para si mesmo com as poeiras de um início que não sabemos por quê, nem quando, nem nada. A mendiga, porém, é vida, e vida em abundância como havia sido de todas as rainhas e reis de outrora e vindouros, e farrapos artistas. O nariz e o olhar iam na medida da dona, que avançou ainda para a escada rolante, acima, e deixou quem tivesse sensibilidade para ver parado, silencioso, agradecido, a desilusão da existência sem sentido algum. Ela deixou inveja da certeza de quem vive seu próprio mundo com autonomia, sem recorrer às esquizofrenias artísticas, sendo que a arte é o último refúgio dos que sentem que podem ser algo, mas são pouco, porque meras ferramentas de quem vive daquela mesma poeira estrelar intensamente. Ela, a mendiga, vive a arte real de ser e não inventar. Sua criação do mito de si própria. A imaginação melancólica da arte apenas mimetiza o poder limitado da intuição, que tem vida inconsciente cheia de segundas intenções e associações. A mendiga no terminal...

- flavio notaroberto -

domingo, 25 de agosto de 2019

À Fernanda Young

À Fernanda Young (1970 - 2019)

Só ouvi e senti
A dura verdade que nos espera.
Não ela a nós,
Mas nós a ela,
E mal sei do sol e da noite
Cruel e sincera.

Nunca a li, mas agora senti
Aquela desconcertante pergunta
Misteriosa e fria,
"Que mais vale da vida?"
Crise existencial sem sorte
E ela vem repentina, a Morte.

Querida jovem escritora,
Que de nome só conhecia,
- Não me escondo e fraco sou -
Que parte desta parte do mundo,
E mudo estou, sem nada
Senão ao ar o porquê deste dia.

Ao menos sinto e ao sentir
Entrego-me à vida presente
- Ilusão de quem ama e vive -
Porque ainda aqui estou
Nestes versos passageiros.

Jovem e tão cheia de vida
Passada em palavras a limpo.
Jovem no que dói em mim
E nos outros que vêm e vão.
Eu descanso no que não sou,
E o descanso vem, bem, sem, nem, tem.

Jovem e nos versos algo eternamente jovem...

- flavio notaroberto

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Conto

Ontem, as coincidências da vida me fizeram almoçar no Galeto's no Shopping Pátio Paulista acompanhado com uma pessoa tão importante para mim, e, de quebra, outra coincidência, me fez dar uma singela lembrança a ela.

Sempre quis ter este momento com ela e das vezes que tivemos, eu nunca havia ficado satisfeito. Das vezes que saímos, eu nunca gostava do ambiente, porque para mim, ela merecia muito mais. Muito mais mesmo. Fiquei no Almanara, fila de espera de meia hora, e ela por mensagem:

"Logo estou aí."

De repente, ela aparece. Sorrimos e nos beijamos no rosto. Eu agradeci. Resolvemos deixar o Almanara e ir ao Galeto's. Fomos em dois minutos falando amenidades do tipo: vim da faculdade, fui resolver algo no banco etc. Por fim entramos. Ela saboreou uma picanha ao ponto com arroz branco e uma salada. Tomamos dois chopps Heineken. Conversamos muito.

Na entrada, porém, reparei que ela estava de chinelos havaianas. Calça branca porque estuda fisioterapia. Eu nada disse na hora. Me confessou depois que gosta de ir de chinelo para a faculdade. Depois coloca o sapato no trabalho.

Resumindo: estas cenas me tocam. Me tocam tanto que eu falei para ela ao longo da quase uma hora de almoço:

- Eu reparei que você está de chinelo quando entrou e veio almoçar com a maior naturalidade, de quem entrava na areia da praia, somente faltando o mar. Sabe, jamais perca esta humildade, esta doce simplicidade, que você tem. A gente tende a ficar mais orgulhoso quando mais velho, mas não permita.

Eu acho bem isto. O tempo tende a deixar  as pessoas ou mais egoístas ou mais altruístas, ou mais humildes ou mais arrogantes. São as circunstâncias, mas também as escolhas. Por que negar nossas origens com o passar dos anos? Por que anular as memórias que nos forjaram no passado? Por que se perder em um novo mundo que nunca fora nosso? A alma interna jamais pode ser deslocada da sua essência, porque se assim o fizer, a gente se perde numa grande confusão.

Eu preciso dizer que, apesar das complexidas do ser humano, amo tanto esta minha vontade de crer nesta simplicidade de estar feliz internamente. Em paz com os homens. Em paz com a vida. Não estou compartilhando minha paz, estou compartilhando os chinelos de dedo. Na praia ou em qualquer lugar.

(Conto 2015)

quinta-feira, 13 de junho de 2019

Poema O SORRISO DELA

O Sorriso Dela

Me encantei com o sorriso dela,
E o que ela tem para mim?
Um jeito gostoso, sincero,
Jovial, alegre, faceiro,
E não me resta senão só sonhar.

Queria - e quero algum dia -
Poder em seus olhos brincar
De dizer os sorrisos de amores,
Já que posso - amarga é a vida -
Um dia crer em ser feliz.

Que palavras eu escolherei
Sem que cause o efeito oposto,
Já que gosto da arte perfeita
Sem mistérios e jogos ingratos
Ser feliz no amor na poesia.

Ela não acredita em mim,
Por mais que eu não diga palavras
Mentirosas do sorriso dela,
Que me encanta sempre ao seu lado,
Sei que puro, amante, estou.

Que belo sorriso o dela,
Tão sofrido, indeciso, inseguro,
Logo foi ao poeta encantar,
Que canta sedento de amor
E poder em seus olhos brincar.

Me encantei com o sorriso dela.

quarta-feira, 5 de junho de 2019

Poema

Pessoa Maravilhosa

Ela via e não via,
Seu canto dos lábios,
A alegria, o riso,
O riso explosivo,
Cadente, atuante,
Seu amor que sentia,
Em nós, acolhidos.
Faltava cantar,
E cantava sorrindo,
Que o belo da vida
Passa pela dor
De ter e de ser
O fora da curva
Da ausência sentida
Na imaginação,
Doente e sombria.
A dor contagia?
Onde mora emoção?
Quem disse que a dor
Não tem seus mistérios?
A dor é uma fonte,
Um eterno horizonte,
Que fere e agride
E ensina a pensar.
A dor se confunde
À ausência de amor,
Porque ambas tecem
Suas melancolias,
Mas ela enaltece o sorriso do amor
E desata o nó da imaginação,
Que oprime, angustia
As mentes perdidas,
Perdidas em si mesmas.
Seu lindo sorriso
Acolhe e acalma.
Ela tem esta alma,
De doce alegria
Em nós, acollhida.
Ela vê e não vê,
E só falta cantar
O amor de encanto;
Cante a poesia
Seus voos etéreos,
Seus longos mistérios,
Parece ironia, mas vale o amor.
Ela sabe e reconta
Com seus cantos e encontos
Dos lábios sorrindo,
Largos e lindos,
No encanto sorriso,
Que só falta cantar.
Que pessoa maravilhosa!
Maravilhosa!

(flavio notaroberto)

domingo, 12 de maio de 2019

Acolher emoções

De tudo aquilo que a ideia de amar me proporciona, eu devolvo como resposta o cuidado, e com muito cuidado. Já cito António Damásio, português neurocientista, falante fluente de seis idiomas, e autor de alguns livros fascinantes sobre o papel das emoções na coordenação, supervisão e gerenciamento completo de nossa mente e vida social, pessoal, familiar, profissional e afetiva. Amar puramente é semelhante às emoções em nós. Quem ama, cuida do emocional da pessoa amada. Um desejo, um sonho, uma vontade, um momento a só ela mesma, ou totalmente livre com amigos, viagens, realizações, e tudo isso são emoções. Imagino agora, com a minha fértil cabeça de escritor, que ainda vai escrever outras tantas diversas histórias em papel, e sabe quão difícil é para o próprio emocional escrever, eu imagino uma alma, ainda mais a alma que amamos, sendo acolhida em suas diferentes partes, delicadamente, e deixadas a repousar nesta certeza do cuidado de quem ama. É um sonho. Mas quem ama sem vaidade, vive o outro sem pertubação, sem opressão, sem repressão. A idade nos ajuda a acomodar dúvidas e incertezas. Desde jovem eu tive espírito velho. Hoje sinto minha mente em sintonia com minha idade, a idade que nada representa, senão uma referência para fins práticos sociais, apenas. Lembro-me dos Racionais, e Mano Brown dizendo "tenho uma alma velha!", e à época ele tinha 27 anos. Essencialmente sou grato e feliz. Porque me satisfaz passar por esta existência, - por que todos passam, tantos passaram e outros virão -, me satisfaz passar por esta existência e ter escrito meus livros, ter meus filhos, ensinar meus alunos, e buscar o coração pronto para saber acolher. Digo que nesta área do amor, logo em seguida à minha separação em 2014, depois de 15 anos casado, conheci mulheres. E não sabia ainda o que era ser solteiro, e extendia o cuidado que é essencia em mim a todas a pessoas em um toque íntimo, e houve um rastro de experiências fortes, que me abalaram no meu próprio emocional, dilacerando-o, extenuando-o. Decidi, então, recolher-me por três anos, e mais silenciar no contato do que acolher incondicionalmente. Por fim, purifiquei-me. Como uma fonte milagrosa, mas cuja corrente é pequena, e a água que escorre apenas tocava parte dos pés, e tive que deitar no seu espelho d'água todos os dias, girando o corpo de um lado a outro. Era um pouco de purificação por dia, em constante contato com outras relações toxicas. Pude então meditar calmamente e fazer do tempo uma terapia sem nenhuma pressa. Este ano, pude me restabecer após este período sabático. Não digo de autoconsciência, ou busca de autoconsciência. Um filósofo, que também sou, sabe que a consciência e sua irmã prima mais sofisticada, a autoconsciência, existem como ilusão. Tudo o que sabemos neste momento dentro de nós é reflexo de tudo o que experimentamos, e de como reagimos a estas experiências. Sempre tive autoconsciência, e sempre consegui governar a mim mesmo, até nos períodos mais críticos. E hoje mergulho no maravilhoso mundo das emoções, de cabeça. Seja como escritor, seja como leitor profícuo do assunto. Posso acolher com mais cuidado ainda as emoções alheias e transformá-las em aliadas para nosso bem-estar. Indico a leitura do livro "O Erro de Descartes", de António Damásio. Eu o tenho em PDF, caso alguém possa lê-lo digitalmente. Vão tão surpreendentes as primeiras páginas, que uma luz interior se acende e praticamente transforma nossas reações imediatamente. E no fundo é isso: como reagimos a tudo o que acontece conosco. Sem exceção alguma. Damos respostas constantes ao mundo. Saber mais sobre nossas emoções e suas funções como gerentes e coordenadoras de nós mesmos, nos dá segundos preciosos para não nos intoxicarmos, e isso vale muito. Nossa sociedade esta muito tóxica emocionalmente, os sensitivos precisamos purificar, e sobre purificação da alma, eu adoro ouvir Padre Fábio de Melo.

Bom fim de domingo! Bom início de semana!

(flavio notaroberto)

domingo, 5 de maio de 2019

Amar e Trair - Educação Emocinal

Para que o amor puro aconteça, me parece necessária boa dose de inocência e de pureza, ao mesmo tempo. Veja que falo de um amor primordial, que vem antes, bem antes de qualquer malícia e desconfiança. Basicamente, quando o amor surge em nós, ele esvazia nossa individualidade. Quanto mais a pessoa amada cresce em amor em nossa mente, menos somos para nós mesmos. É bonito e inevitável que seja desta maneira. Particularmente, eu creio neste amor puro. Hoje li que, do ponto de vista neurológico, o amor romântico é uma dependência, como qualquer outra "dependência". Somente quem já sofreu por amor romântico sabe o estado em que sua vida se encontra. Um estado completamente passivo, dependente das ações do outro, da vida do outro, do comando do outro. Este amor romântico existe e, diferentemente do amor puro e inocente, despersonaliza a pessoa amante. O amor romântico, sua ideia e concepção, virou moda ao longo dos anos 1800. O amor, mesmo assim, é uma força Universal antiga, assim como a morte, e seus mistérios. Os dois temas universais que fazem dos seres humanos algo peculiar. O amor junta as pessoas; a morte as separa. Quando há morte por amor, existe o maior dos paradoxos justificado somente pela mente doente. Matar ou matar-se por causa do amor não tem sentido do ponto de vista da lógica da pureza, da inocência, quando tudo começa. Já senti amor romântico na minha adolescência. Hoje creio no amor puro e inocente, de acolher, querer bem, cuidar da vida emocional do outro, mesmo porque somos sentimentos e vivemos nas emoções. Para mim, o amor é sacrificial, e ele tem grande representatividade em muitos corações. Os cristãos - e eu sou cristão - sabe do sacrifício de Cristo para purificar a humanidade. Esta reflexão é humana, não religiosa. Mas sacrificar-se é amar incondicionalmente. Ao amar e ser amado, não podemos tirar a liberdade de ninguém, e não ver podada nossa liberdade. Nossas experiências ao longo do tempo tiram de nós aquela pureza inocente da vida. Muitos de nós estamos corrompidos pela filosofia da dor e do sofrimento, pela reflexão do dia a dia, pela abstração em habita nossos pensamentos e as necessidades de sobrevivência. Por isso damos valor à liberdade, quando um dia a perdemos. Saber ser livre para não mais perder a liberdade. Tirar de nós a liberdade é um tipo de traição. Trair é quebrar expectativas de confiança em diversos graus. Algumas traições nem damos bola. Outras mexem demais. Quem não se sentiu traído ou traída por alguém certamente tinha zero de expectativa de confiança. Todos sabemos que há gradações de traição, digamos algo de 1 a 100. A mais alta é ligada a amizades e relacionamentos amorosos. O comprometimento com o outro subentende que as mentes ou os corpos se pertençam em confiança. Desejos de traição devem ser reprimidos, embora o ideal seria não haver outro desejo fora um do outro. A insegurança por sua vez ilude e machuca todos os envolvidos. Mas há traições sutis e fortes que não são consideradas "traições". Podar o sonho de alguém é trair; dificultar projeto de vida,  uma meta, um caminho que a pessoa pretende seguir é traição que no futuro o outro alegará: "parou porque quis", "desistiu porque quis", "não foi porque não quis", "resolveu fazer isso ou aquilo porque escoheu". É uma traição quase que imperceptível colocar impedimentos para que o outro cresce seja no trabalho ou na vida amorosa. Ou seja, transfere para o outro a ausência de suas conquistas e não pela interfência do outro. Indico um livro fabuloso que analisa Amar e Trair, do psicanalista Aldo Coratenuto. O tema é exatamente este. Somente somos traídos por quem de fato amamos e só traímos quem nos ama, e então somos mergulados no dilema mais essencialmente humano que é perdoar e sacrificar-se. Em um mundo cujas ideias estão muito simples, vale algumas reflexões às vezes mais estimulantes, porque vivemos bombardeados por emoções todos os dias. Precisamos de um bom preparo para saber lidar com elas. Causa alívio. Indico um livro chamado Poesia Ingênua e Sentimental, de Schiller. E tudo aquilo que alivia nosso emocional, vale a pena ter ao lado. Exatamente tudo.

Bom dia! Bom domingo!

(flavio notaroberto)

quinta-feira, 25 de abril de 2019

Janaína quer ser Feliz

Imaginei um conto, uma narrativa, uma história sobre uma mulher que, depois de altos e baixos emocionais na adolescência, passou a acreditar que não mereceria a felicidade, e evitar quando percebe a felicidade rondando suas emoções. Pensei em chamar personagem Janaína. Não sei por quê. O nome me ocorreu repentinamente. "Janaína acreditava que não merecia tanto a felicidade, sobretudo no amor." Ser feliz é uma acomodação e harmonia entre alguns fatores na mente. O passado, o presente e o futuro fazem parte destes fatores. A aceitação do que somos e fomos com os traumas e tudo, e possivelmente seremos. Saber que somos sentimentos e sensações, e que as emoções a todo momento acontecem porque vivemos a vida e estamos vivos. Ser feliz também tem a ver com o que chamamos desejos. Desejar e conquistar soa felicidade - ainda que fugaz. Desejar e não realizar gera algo frustrante, e este incômodo, algo infeliz. Janaína não acreditava que algo feliz, um amor feliz, pudesse fazer parte de sua presente vida. Juras de amor ela evitava, e vez ou outra apareciam os homens apaixonados. Ela fugia. Elogios, ela pulverizava em segundos. Qualquer insinuação de brilhos amorosos nos olhos de uma outra pessoa, Janaína fazia cara de abobada, desentendida e mudava constrangedoramente de assunto, de alhos para bugalhos. Dava dó das esperanças dos homens. Mas era Janaína. E Janaína viveu. Amores apareceram e desapareceram. Janaína viveu sua vida e nunca permitiu. Ela se apaixonou, verdade, antes dos 30 anos. Que paixão avassaladora saboreou! Se apaixonou profundamente. Como achava que não merecia a felicidade, achava também que ela seria motivo de angústia e aborrecimento a quem ela amasse. Desistiu. Jamais deixou transparecer seu desejo. Ela até teve uma vida feliz. Gostava de sexo. Era fácil para ela. Saía e bebia. Conquistou suas pequenas vitórias, como o belíssimo e funcional apartamento nos Jardins e trocava para um carro zero todo ano. Uma a duas viagens por ano também, para a Ásia ou Europa ou África. Ela amava a Índia. Era uma titia amada pelos cinco sobrinhos e duas sobrinhas. Nem quando adoeceu, caiu enferma, câncer no ovário, quis aborrecer quem quer que fosse. Fez todo tratamento sozinha aos 36 anos. Curou-se em dois anos. E se dedicou então aos esportes nos anos seguintes. A vida do corpo exige movimento. As incertezas da morte já não era mistério. Venceu-a temporariamente. Chegou aos 50 anos linda e sarada. Turbinou os seios. Esticou a pele do rosto. Fez um belo lance nos dentes e os lábios ficaram mais grossos. Atingiu os 60 anos com a sedução dos 30 balzaquiana. "Que coroa gostosa nas baladas!". E propostas sempre ignoradas. Não merecia ser feliz. Aos 67 anos ela se aposentou definitivamente. Diretora de uma rede de material de construção. Vendeu o apartamento. Pegou suas economias. Ações no Ibovespa e poupança. E sacou o FGTS, nunca mexido em quase 50 anos de trabalho! Uau! Comprou a passagem só de ida para a Índia. Hoje está lá, agora, vivendo o que ela chama de doce velhice e feliz. E se esta história é verdade ou não, eu não sei. Uma história que apenas imaginei. Porque imaginar também é vida.

quarta-feira, 20 de março de 2019

Mara Espera Amiga (poema)

Mara Espera Amiga

Foi uma noite perdida,
Quase que esquecida.
Mara olhava o céu,
Olhava com a mente florida.
Vivia no campo cercada,
Curto aos olhos da vida.
Sem espaço aberto - planícies -,
Mas morros, escarpas infindas,
Mara feliz só vivia,
À sombra que do sol surgia.

Cobria as flores amigas,
E Mara sorria perdida,
Como a noite da luz infinita.
Que belos os toques suaves,
Que ventos leves sentiam
As flores, amores, sabores,
E Mara liberta vivia!
É Zéferos, o poeta diziam
Seus versos a poesia.
À noite, negra e amiga,
Aos olhos de Mara sabia,
Que amores moram no tempo,
Que o tempo tudo cabia.
Que o tempo espera a vida.
Sem ela, sem vida esperança.
Que seriam da noite perdida.

Mara cresceu com o tempo,
E a noite vinha amiga,
Hoje, sem morros e escarpas,
Mais curtos espaços da vida.
Do prédio, olhar da sacada,
Os olhos na noite perdiam
Aquela quase lembrança
De Mara da noite esquecida.
Esperança, olhar de criança,
Que mora, habita a alma,
De Mara, de Clara, de Sara,
De todas mulheres amadas.
Sensiveis ao bem da paixão,
Que esperam silenciadas
Ao sabor do sentir a alegria
Daquela criança amada,
Também sonhadora do tempo,
Passado e lá no futuro.
Mara espera com amor,
E nada lhe tira o encanto
Da noite esperança sem dor,
Esperança, que faz tanto
Bem quem crer no amor.
Feliz, Mara espera vivida.

Mentira - poema

Mentira

Minta para mim,
E faça dos seus segredos minha penúria.
Meus castelhos foram fantasias?
É que cada aliecerce foram palavras suas,
Que hoje as vejo duras, afiadas, cortantes,
E na alma brincam animadas à luz de minhas tristezas.
Minta sempre para mim, porque a verdade, silenciada, não machuca se a mentira tem mais beleza.
Da mentira se fazem amores impossíveis de serem cridos.
Eu cri, e não por inocência, já que hoje não rio, e levo apenas certezas de estar respirando algo intragável como a minha própria existência.
Minta, minta, sempre, reine na mentira.
Ela pode até ser o bem que a verdade não aguenta.
Deixar de saber para não sofrer,
E sofrer em dobro ao saber, o que era segredo da verdade.
Eu menti para mim ao crer em não verdades suas e ainda me iludo, porque a ilusão caminha com a certeza da vida.
Quero hoje, na verdade, a ilusão, e queria aquela mentira como verdade eterna.
A morte para quem fica é da mesma natureza para as palavras sem lastro com a verdade.
Eu acreditei.
Sofro hoje.
Creio nesto sofrimento, porque sei que é verdade, ainda que eu queira sonho daqueles bem mentirosos como do amor eterno.
Mas não foi por falta de aviso, já que o poeta nos ensina que todo amor é eterno enquanto dura.
Já a mentira e eterna sempre.
Minta sempre.

(Flávio Notaroberto)

sexta-feira, 15 de março de 2019

Estou Grávida

Desafio Literário - Narrativas Curtas
(autor: flavio notaroberto)

Personagens: Caio e Keli
Lugar: praia
Sentimentos: amor, paz e liberdade

- Estou grávida.
E não disse em voz. Foi em pensamento dividido, entre o infinito do olhar e o sol.
- Que foi?
- O sol.
- Vem p'ra a sombra.
- Estou grávida.
E, novamente, voz interna, tão silenciona quanto o mar, plano, pleno, sem idas e vindas das águas. Antes as ondas quebrassem, e estrondos, e turbulentas, e agitadas, no coração agora perturbado de um sentimento superior à coragem de maculá-lo.
- Amo esta paz e esta liberdade.
- Qual?
- De ser o mar sem dono, sem olhos internos, sem prisão, sem medo de nada que possa destruí-lo quando furioso.
- O mar?
- E o amor também.
- Estou grávida.
E não tinha coragem de materializar sua verdade interna, ainda pequena, ainda guardada, ainda silenciosa, mas sua.
- Eu amo o mar como está, Keli. Vou mergulhar. Vem comigo?
- Não, pode ir.
- Vem p'ra sombra.
- Estou bem.
- Caio!
Keli não gritou. Mexeu os lábios voltados ao sol, vendo-o mergulhar. Mas o ventre ao sol, as mãos sobre ele, e sentia um amor hipnotizado. Não tinha coragem de dizer. Por que não? Caio ama a liberdade, e quer maior prisão do que o olhar da vida egoísta gerada em si mesma do ato de amor permitido entre duas vidas que se amam? Ela, a outra vida, vinha silenciosa. Assim, meio mar interno, que abriga a origem, meio consciência de sentir sua maternidade. As dúvidas eram dela, da liberdade perdida, da paz interrompida, do amor transcedente, que agora insistia dentro dela. Não desgrudava as mãos do ventre agora amado.
- Sabe o que eu estive pensando lá no mar, Keli?
- O quê, Caio
- Quero ser pai.
Keli silenciou. Em seguida, chorou. Depois compulsivamente. Levantou-se. Foi para o mar, que tudo responde a este mistério de gerar.
- Sério?, perguntou com um largo sorriso.
Foi o amor mais ainda compartilhado. Por mais liberto que fosse, Caio também chorou, e de felicidade. E lá mesmo no mar, silenciosa e apaixonadamente, celebraram em íntimo amor a vida, sagrada e milagrosamente compartilhada.





















quinta-feira, 14 de março de 2019

O Consultório

Desafio Literário - Narrativas Curtas
(autor: flavio notaroberto)

Personagens: Lucas e Amanda.
Sentimento: amor, raiva, alegria.
Local: consultório
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- Não entendo bem, doutora.
Amanda já entendia. As pernas cruzadas, com postura, um pequeno caderno em uma mão, caneta verde na outra.
- Por que escreve com a verde?
- Perdi a azul.
- Mas semana passada era verde, e na outra, e na outra.
- Perdi faz tempo.
- Vu trazer uma para a senhora. Azul.
- Obrigada.
- Posso ver seu caderno?
- Este, em minhas mãos? Olha só, disse, apontando de longe. Ele tem a idade de quando nós começamos...
Lucas ameaçou extender a mão. Intimidou-se. Recuou. Faltavam dez minutos.
- Eu vivo uma ilusão, doutora?
- Tecnicamente, é complicado definir psicologicamente o que é realidade e ilusão. Mesmo assim, estamos em alguma realidade, Lucas.
- Posso amar e sentir raiva da mesma pessoa ao mesmo tempo?
- Pode.
- Não é uma ilusão amar e sentir raiva de uma mesma pessoa?
- Não digo ilusão. É um paradoxo.
- Defina paradoxo.
- Uma verdade que parece mentira.
- Eu amo e sinto raiva da mesma pessoa.
- Raiva ou ódio?
- Raiva, doutora. Ódio não combina com amor.
- Então você pode ter raiva por amar alguém que não corresponde ao seu amor, Lucas? É isso?
- Sim.
- Tem raiva mais dela ou do seu sentimento?
- Do meu sentimento.
- E quem sente seu sentimento?
- Eu, né?
- Então a raiva é por você mesmo?
- Talvez. Mas me sinto melhor transferindo a culpa.
- Autoconsciência é o início das descobertas mais significativas sobre nós mesmos. A autoconsciência nos liberda da escravidão do amor, da raiva, do ódio, da busca sem critérios da ideia de felicidade.
- Eu sei. Mas deve machucar muito a autoconsciência.
- Machuca. Ela apenas liberta.
- Acabou a seção, doutora.
- Mais um passo para a alegria?
- Sim, um passo mais longe da tristeza.
- Este caderno será seu depois.
- Obrigado.



















JOANA E ZION

Desafio Literário - Narrativas Curtas
(autor: flavio notaroberto)

Personagens: Joana e Zion
Sentimento: reflexão, caridade, alegria
Local: África

O jogo acontecia no mês de março, terra batida. Fazia sol já tarde. A queda no gol fraturou o braço esquerdo.
- Nem doi, nem doi, nem doi, disse em sotaque português, o menino José.
Doía do seu modo. Saiu da terra seca e do sol artido, xingando nomes na sua língua africana. Foi para baixo da árvore, braço recolhido, imóvel, e um tronco longo, embaixo dela. Ele se sentou. A pele escura, pouco suor, o pó tomando-o, como enfeite da sua particular sina. Percebeu inchar o braço. Ficou lá, gemendo internamente. O jogo quase na frente dele, gritaria, correria, alegria.
"Joana e Zion". Curioso, molhou o dedo com cuspe. Passou-o sob o tronco caído. Aos poucos, com mais cuspe e mais dedo, os nomes se abriam nitidamente impressos no troco, "Joana e Zion". Teimou mais, e um coração imperfeito cercava Joana e Zion. Embaixo, uma data, ou melhor, um mês e ano, "março/1919"
- Olha a bola!
Bateu no tronco. Ele chutou de volta. Doze garotos no sol. Um na sombra. Dois nomes no tronco. Um coração. Uma data. O ano de hoje era 2019. Março de 2019. José, nascido em Maputo, em 2007, lançou os olhos da imaginação para os 100 anos atrás de Joana e Zion. Ele jogava no gol, porque não gostava de futebol. Preferia os livros e a escola. Olhar perdido em si. O tronco foi levado para casa. Com dificuldade, claro. Lavou-o e achou verniz para o belo do olhar. Envernizou-o por inteiro. Joana e Zion, o coração, a data destacados. Na pobre casa, um enfeite simbólico em um canto do casebre.
- Um dia serei escritor, disse em preces duas semanas depois, com o braço ainda inchado, e o amor entre Joana e Zion será descoberto pelo mundo em um lindo romance negro, com as seguintes palavras iniciais, guardadas hoje no pensamento:

"Sob a sombra de um Baobá, à silenciosa dor de um olhar inocente, nos perdidos recantos da periferia de Maputo, em Moçambique, o pó dos amados ainda persistiam na eterna juventude dos amores, e foi em 1919, que Joana e Zion..."

Família Subasio (conto)

Aceitando o desafio
Nomes :Juvenal e Gilvanete
Lugar :Assis -Italia
Sentimentos:amor ,companherismo e otimismo

"O vento prenunciava chuva. Juvenal foi à cisterna pegar água para o cozido. "Logo chove.", lembrou a mãe em italino forte. O menino viu os pássaros fugindo. Jorrou a água na jarra de barro. Antes de entrar, um grito estridente de bom dia. Era a pequena Gilvanete, seus escorridos cabelos dourados, verdes olhos penetrantes e sorriso ainda tímido. Juvenal sorri de volta. À tarde, se encontram sob o extenso vinhedo do avô de Gilvanete. Ela se lembrou, como fazia sempre, das juras de amor e casamento, quando ambos tinham sete anos. Juvenal sorriu. As lágrimas vieram três anos depois, quando da guerra. A cidade de Assis estava longe dos conflitos, mas ele foi recrutado para defender o Dulce e a pátria. Gilvanete, sob o pequeno vinhedo agora abundante, olhos marejados, forçando o sorriso, pega na mão de Juvenal. "Vamos ao Subasio." Não era o momento de desesperança. Ele a acompanhou, em silêncio, porque lágrimas internas. Lembraram Francisco, e sentenciaram juras de amor eterno, eterno cuidado. Juvenal foi. Gilvanete ficou. A cidade de Assis teve pouco reflexo da guerra senão seus homens em risco e mulheres solteiras. Ela, aliás, colhia escuras uvas quando prensentiu. Largou ao chão as uvas, verteu renovadas lágrimas de alegria, correu. Era Juvenal de volta, olho ferido, sem faixa. Abraçou-o, beijou-o. Em seguida foram ao Monte Subasio, lentamente. Era a promessa paga. No mesmo dia deram-se em matrimônio e decidiram a vida compartilhada. Vieram para o Brasil e tiveram sua primeira filha em 1947, chamada Francisca, e adotaram o nome familiar Subasio em todos os cinco filhos posteriores. Esta a origem da família Sibasio no Brasil."

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Se propomos algo, imaginamos.

A gente propõe e Deus dispõe. Minha irmã sempre lembra este slogan quando o que se gostaria que fosse, não aconteceu. Mas somente propõe quem deseja, claro; quem sonha, imagina, quer, busca, anseia, acredita, tenta, arrisca, caminha, o que implica movimento. Manter o mesmo ritmo limitado é o natural do ser humano tribal e primitivo. Somos, de certa forma, programados para atuar no limite de nossos movimentos. Não temos asas para voar; não temos barbatanas para nadar; não temos a velocidade de um guepardo. Verdade que não somos lesmas, nem bicho preguiça, nem aqueles insetos cuja existência dura algumas horas neste mundo. Se nosso tempo de vida não é o que nossa mortalidade nos lega, existem anos e anos abertos a possibilidades, ainda mais para alguns. Mesmo assim, a vida dentro de um perímetro seguro, como ir até o riacho, até a plantação, até as crias de animais, dentro de um pequeno círculo, já daria nossa existência peculiar por anos e anos, uma vida inteira, sem reflexões, sem desespero, sem introspecção, sem tédio. Houve um momento da História de nossa espécie em que o mundo exterior foi refletido no mundo interior, e este mundo interior construiu uma miríade de representações, e em cada uma delas a mente botou seu domínio racional e com o passar de milhares de anos foi desconstruindo aqueles todos em partes de sentido cada vez menores. A árvore inteira ganhou explicação da fotossíntese à raiz; a montanha deixou de ser morada de deuses para fornecer minérios e, depois, ferro; o corpo humano passou de construção de Deus, do barro, para existência sensitiva e perceptiva dos filósofos, até decompor naquilo que de fato somos: sistema nervoso, e neurônios estimulados e inibidos o tempo todo. Bem, estamos por aqui. Queremos estímulos quando propomos algo, mas Deus nos inibe, quando ele dispõe. Falo por meio de fé como analogia de que nem tudo o que queremos, nós teremos. Lei incompreensível às crianças, mas também a jovens e adultos mimados e alienados. Ao mesmo tempo, nossa mente abriga quase tudo  na imaginação, e vem ela para ampliar mais ainda o mistério de estar em um lugar e em todos ao mesmo tempo. Se propomos algo, imaginamos. Morada de sonhos e esperanças, a gratidão poderia ser comparada a um deus na imaginação. Aquilo que não conseguimos ter ou alcançar, deveríamos a um ato de gratidão, porque se queremos, está já aí o que somos: sonhos, vontades e representações, e quem gosta de filosofia já entendeu a inspiração de Mundo como Vontade e Representação. Somos um mundo, cheio de vontade e representações.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Venero poema

Amanhece e diz por si mesmo,
Nas horas distantes, caladas,
Meu só coração - cuja amada -
Delira de amor e de medo.

Em palavras soltas, sonhando,
Renovo esperança no dia,
Que a noite por mim me perdia,
Da insônia, em mim delirando.

Saudade, ter nunca falado,
Saudade, que alma aperta
Saber deste amor que me cerca,
Etéreo, distante, sagrado.

Dela, sempre dela, o cortejo
De ver, mas não olvida a paixão,
Eu a amo, que doce ilusão!,
Que sinto, venero, desejo.








Mulheres Maduras

Por algumas razões, tenho preferido (e certamente irei preferir) mulheres maduras. Aqui restrinjo a idade e o modo de pensar. Há mulheres que pela idade mais velha deveriam corresponder à maturidade natural. Há mulheres com pouca idade cuja maturidade assusta positivamente. Essas são um perigo para homens maduros. As jovens eu descarto. Elas têm a vida pela frente. Por mais madura que sejam, não me sinto bem em roubar-lhes os anos. Já tive os meus. Os próximos anos que me restam serão exclusivamente meus. Posso compartilhar. Mas não darei meu tempo  para mais ninguém. Não quero perder meu tempo, não é justo, portanto, iludir a juventude com minha maturidade e elas perderem o tempo delas. Descarto e logo sou descartado. Uma mulher madura, indo para a casa dos quarenta anos, ou já nela, mãe, que gosta de ler, de filmes, de conversar, entende o bom humor irônico leve, pensa a realidade dentro e fora, não se precipita em querer ter razão e nem se fragiliza diante do equívoco, tem pequenos bons gostos acolhedores. Enfim, essa a lógica de uma mulher madura, não somente na visão de mundo, como também na idade. Claro que tem a doçura que atrai. Atrai como um encanto. Até as primeiras palavras. Não estou nem um pouco preocupado com somente doçuras. Gosto apenas de idealizar. Refletir a respeito para não entrar em contradição e deixar-me seduzir pelo que eu no fundo não quero. Uma mulher madura é tudo de bom para um homem chato e exigente, que sabe botar vírgula naquilo que escreve.

Descarregue

Descarregue de sua vida todos os pesos que não dizem mais respeito a você. Purifique-se. Aceite-se. Claro que este recado não vale para nossos jovens. Quem precisa de puxão de orelha são nossos velhos, em envelhecimento. Para ser duro. É patético querer disputar o mesmo espaço com nossos jovens. Porque também é dado ao envelhecimento outras oportunidades. Mas a realidade é que não nos preparamos para elas. Então carregamos pesos que deveriam já ser descarregados há algum tempo. E olha que a força emocional que me faz aos poucos perder a sensibilidade e abrir a ferida de muitas pessoas foi o fato de transformar um terreno abandonado em um jardim. Pedra por pedra, mato por mato, pá, enxada, carrinho de mão, grama, podas e aos poucos um novo sentido para o olhar e para a vida. Não perdi em nada o que posso fazer com a minha mente, e ganhei no espírito a marca da transformação diária do caos para a harmonia. Purifique-se desfazendo-se do tóxico; descontamine-se do veneno; durma e paz com a sensação sublime que seu corpo lhe pertence e que o espírito que lhe habita é construção sua. Infelizmente, nem quem tem olhos para ler e ouvidos para ouvir apreenderão. Envelhecemos pensando na jovialidade e não na morte. Sabe o que é triste? Morremos. Viva sua existência antes.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Amor e Alma

A ela entrego meus pensamentos.
Ela, que vive a liberdade.
De livre espírito:
Amor e alma.

Não disse a ela meus momentos,
Ela, que me lembra saudade,
Minha, dos meus versos:
Amor e alma.

A ela, somente a ela, encantamentos,
Sorrisos alegremente pueris,
Meiga e doce inocência:
Amor e alma.




quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Amor, amar o mar seu olhar (poema)

amor, amar o mar, seu olhar

Quando disse a mim mesmo
Que viver em mim bastaria,
Como podia, como sabia?
O amor surge.
E surgiu suave como brisa.
O toque sereno do olhar dela,
Repentino, jamais esquecido,
Se houve partida um dia, foi um dia.
Um único inquieto dia.
Apenas p'ra desaforo da alma,
Que ama, acalma e clama.
Quero mergunhar intensamente,
Porque os frutos belos,
Ricas palavras dançantes.
Eu a amo, sem querer razão.
Um beijo vem e vai na solidão
Da ideia agora persistente.
Feliz estou e não reconheço
Mais leda sensação para sorrir.
Um dia, em mim caberia,
E não sabia, jamais podia
Sonhar que o bem maior amor,
Por mim desprezado,
Embeleza termos e melodias.
Tudo mais traz sentido.
Da rosa ao sol, do andar ao luar.
Amor, tenho sentido.
Amor, amar o mar, o seu olhar.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Não posso negar o amor

Quando não disse a você que eu a amava, perdoo-me por jamais querer deixar de sonhar com este dia, que não existiu. Falo por negativas, mas afirmo o amor. Não posso negar a mim mesmo. Ele existe para você.

domingo, 3 de fevereiro de 2019

Poema Que um Dia

Que um Dia

Que um dia meus lábios possam os seus conhecer,
E na curva apaixonada de cada sensação dizer ao momento
Os doces olhares da gratidão de estar ao seu lado.
Eu a chamarei meu amor, que me resgata a vida,
Que me acolhe em seus braços,
Que não mais sentirei outros abraços,
Senão os seus.
É inocência gostar ledamente,
Que os anos crueis apagam o desejo
E aplacam o inefável ardor de amar.
Que um dia meus lábios possam conhecer os seus e juntos sorrir a alegria de ser e estar
Um ao lado do outro...

O Choro é Livre

O choror é livre. Mas o choro sempre diz algo. Agora aqui no ônibus, voltando para Arujá, uma pessoa percebeu que perdeu o cartão e, sem saber o que fazer, começou a chorar, sentada a um banco de mim. Ao meu lado um jovem, que entrou com ela, procurava desesperado o cartão na carteira. Nada. Olhei para ele e ofereci-me para pagar. Ele aceitou. Dei 20 reais. Falei para dizer à mulher que ele havia achado na carteira. Mostrou-lhe a nota. 3la pegou e enxugou as lágrimas. Parecido com a resposta positiva da cura de uma doença. Tipo alívio. Não dou para bom samaritano. Nem para ninguém. Eu apenas gosto de escrever as crônicas do dia-a-dia. Minha longa vida atigiu algo como o zênite das reflexões que envolvem os mistérios da compreensâo humana. Não me seduzo por nada que não seja o bom, o belo, o puro, o simples, a verdade, a arte, o sincero, o amável, a humildade. Em tudo neste meu atual momento. Do amor ao conhecimento. Onde não há o bem, eu não me sinto presente. Não foi em vão quebrar o carro hoje cedo e vir de ônibus, o que não tira de mim a dor de cabeça de arrulá-lo amanhã.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

A Certeza é um Pássaro

Entre encontros e desencontros, a certeza é um pássaro que voa livremente. Não houvesse a certeza de dias melhores, o que seria do tempo? Uma entidade invisível que maltrataria homeopaticamente. Nem tempo, nem pássaro. A certeza é que podemos viver e bem. Bem e de bem com a vida, com o ar, com as pessoas, com a água que bebemos. Ontem conheci uma pessoa muito bacana, do Paraguai. Ela está conhecendo o Brasil. Conheci pontos capitais de sua intimidade. Ela se julgou tímida. Imagina! Muito comunicativa. E não sei nada de castelhano. Porém, comunicamo-nos muito bem. Música. Cerveja. Pequena pizza. Rock. MPB. O mar. A areia da praia. Primeiro e provavelmente último encontro. Meu respeito pelas mulheres me leva os curtos momentos como eternos. Exagero à parte, uma Lua de Mel - ainda que nada aconteça, senão o prazer da companhia. As pessoas não sabem e também não compreendem bem. Algo exclusivo. Reparo em tudo. Não revelo na hora. São leituras rápidas, inconscientes, impressionistas. Depois organizo tudo em palavras. Olha como funciona. Hoje não pude ir vê-la novamente. Amanhã eu também não poderei. Ela retorna para o Uruguai na terça. Nada mais justo se me considerar um homem que transmite o encanto para seus objetivos escusos. Não vai ler que meu espírito presente era de quem foi total e não partes. É que as ausências dominam as presenças. Mais ou menos assim. Presença é obrigação. Ausência é pouco caso. Eu apenas especulo. O todo foi perfeito. Até o momento em que perdi a chave do carro. Retornamos para ver se estava onde bebemos e comemos. Estava. Ela me perguntou se eu não fiquei preocupado.

- Eu não. Tinha que pensar na solução. A única solução seria achar um chaveiro nesse horário.

O nome disso é relativa paz. Sim. Disse para ela que a preocupação excessiva dela não focava na solução. Era uma energia gasta desnecessariamente. Desnecessariamente. Os jovens podem gastar energia desnecessariamente. A reposição é imediata. Nós, já velhos, somos um músculo caduco. Às vezes nem glicose na veia serve. O tempo precisa ser bem mais vagaroso. Inclusive andei como um passeio para procurar a chave. Deu certo. Teria dado certo de outra forma. Mas eu gastei menos energia. Espero que a minha paraguaia leve o que houve de positivo caso não nos vejamos mais. Encontros e desencontros.

sábado, 26 de janeiro de 2019

Mar em Brumadinho

Que vem de lá,
Olha o mar,
O mar no lar,
De lá o mar.
Não era o mar.
De lá não ar,
Na lama o lar,
Sem respirar.
Não era o mar,
Na lama há.
Só lá buscar,
Desenterrar.
Não há salvar,
Só soterrar,
Só terra há,
Só há o mar.
Não verde há.
Vermelho ar.
Vermelho o mar
Não era o mar.
Só terra há.
Só lama há.
Não há mais lar.
Este o lar,
Só soterrar,
Agora há,
Não era o mar,
Só lama há.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Anima poema

Anima

Tiro de mim todo olhar oculto.
Vivo o tempo livre da insônia,
E desconheço o lado mau da vida.
Rosas e flores, a natureza, o Sol.
Quer luz mais vista neste palco?
Vejo apenas a pureza do riso
Sincero da inocência, minha e sua,
Que a razão corroi destemida.
Se penso, me protejo covarde.
Se canto o poeta, são impulsos.
Se prefiro o amor à tristeza,
Prefiro a vida, que expande.
Não tenho mais segredos.
Amo a dor humana, que existe.
A dor da gratidão e esperança
De fazer de meu otimismo
Meu legado discreto, de meu legado
Do amor da paixão que me anima.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Felicidade na Gratidão

A Felicidade abraçou a Vida e geraram um lindo sorriso, chamando-lhe Gratidão.
"Não machuca refletir tanto sobre mim?", perguntou a Vida.
"Não precisa saber da vida para existir - lembrou a Felicidade. Veja o Sol que sentimos, que existe; as Estrelas que nos cobrem, que existem; a Natureza que nos acolhe, que existe; o Mar e o Vento que nos cantam, que existem. Existem sem saber. Não há, porém, Felicidade em nada do que vivemos, ouvimos e sentimos."
"Onde há Felicidade?"
"Nela, na Gratidão, porque ela vem da vida, que existe."
A Vida perguntou se ela mesma, a Vida, fazia parte do mundo, que existe.
"De tudo. Você, Vida, faz parte de tudo."
"Posso viver comigo e sorrir?"
"Deve viver sorrindo."
"Não serei esquisita?"
"Desde que a Gratidão a acompanhe."
A Vida refletia.
"Tivemos a Gratidão para o mundo. Viver feliz é andar agradecido?"
"Exatamente."
"E o amor?"
"Amar profundamente é Sacrifício, e sobre ele somente quem ama profundamente poderia dizer. Sou Felicidade, e existo nas pessoas. Tudo que sei do Amor e do Sacrifício diz pouco, porque me sinto pequeno, um sopro, diante deles.
"Eu sou um sopro."
"Um sopro eterno."
"Um sopro grato."
"A felicidade existe..."
"Na gratidão."

quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

A paz compartilhada

Amar, que coisa linda!
Que beleza!
Mas não me importa amar por amar.
Já tantas experiências vividas e lidas,
E o amor tocando, fazendo e refazendo a humanidade.
Ontem escrevi que apenas voltarei a namorar uma mulher para quem terei prazer em cozinhar.
Idealizo o tempero, o prato, a bebida e os talheres.
Sei que dogão de Osasco é maravilhoso.
Sei que comer no Dom é bom.
Minha paciência quase me faz tornar-me monge porque não tenho pressa.
Aspirar, respirar, viver a intensidade emocional em capricho.
Eu falo de amor porque não me faz mais feliz amar por amar.
Sim, cozinhar, e sorrir juntos a gratidão da paz compartilhada,
Mim e ela...

quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Me Humanizei na Escola Pública

Fiquei praticamente três anos de minha vida, de 2016 a 2019, numa situação de resignação, abnegação e conformidade. Sem dizer dos dois anos anteriores, de 2014 e 2015, numa loucura de uma separação que me deixou sem nada (é claro que se a outra parte der a versão dela, a vítima se inverte; graças a Deus que a meu favor existem o passaporte dela e os carimbos das viagens internacionais que ela conheceu sozinha, e também a declaração do meu Imposto de Renda, desde 2009 até 2015, que vai chocar as mentes). Mas foco nos três últimos anos, período que tive que ficar com a minha mãe e cuidar do emocional dela. Havia saído do emprego em abril/2016 e, sem ter onde morar, fui para o litoral, onde minha mãe ainda mora. Fazia mestrado na PUC, que é meu sonho ainda a ser realizado (desde 2002 eu tento!), e tive de parar porque acabei investindo alta grana em um projeto, com meu irmão, que em agosto/2016, infelizmente, caiu doente e nos deixou no início de 2017. Me lembro que não poucas pessoas diziam para mim "que foi Deus que me mandou para o litoral para cuidar de minha mãe", já antecipando a fatalidade, ainda mais naquela circunstância. Lá não fiquei à toa. Dei dois anos de aulas na Prefeitura de São Sebastião, por processo seletivo, e que, aliás, paga muito bem, e foi uma experiência e tanto. Esta passagem na escola pública me deu a esperança de que, se todos nós, diretores, coordenadores, professores levarmos com mais seriedade a Educação, em três anos revolucionaríamos o Brasil para um bem-estar de livre iniciativa e competitividade igual a países como Coreia do Sul e mesmo Chile. Consegui tocar e talvez transformar a vida de vários alunos neste pouco contato, abrir a mente deles, educar o emocional, trazer para a realidade, amadurecer de acordo com o tempo de vida de cada um, da realidade social e familiar também, e claro ler muito, ensinar gramática, fazer escrever um texto por semana, inspirar na leitura de livros. Eu me tornei um professor muito mais humano para mim mesmo ao perceber que meus problemas eram pequenos diante dos desabafos que alguns vinham compartilhar depois de uma aula sobre Guimarães Rosa e o conto A Terceira Margem do Rio (para o 7° ano!), que mexeu com a memória emocional deles. Não vou relatar agora nenhum. Mas ultrapassa duas dezenas. Eu escrevendo agora ameaço marejar meus olhos, deitados na tela, só ao lembrar cada relato emocionante. Está aí um livro que um dia eu certamente pretendo escrever. Um relato expontâneo dos alunos sobre os mais variados temas importantes a eles. Eu tenho em mim que professor precisa ensinar conteúdo. Eu creio no conteúdo e eu ensino conteúdo. Por uma razão talvez artística, ou por ser natural a mim e à minha retórica, o conteúdo, que ensino, envolve na vida emocional dos alunos. Exemplo simples. Orações subordinadas são pensamentos complexos. Falar "Eu gosto de viajar. Eu guardo dinheiro para viajar." são orações simples. Já a subordinada "Eu gosto de viajar, razão pela qual eu guardo dinheiro", o uso do conectivo "razão pela qual" é bem mais sofisticado. Como eu ligo isso às emoções? Dizendo que quanto mais sofisticado um pensamento, mais madura é a pessoa, e que na idade deles, eles têm que usar pensamentos mais complexos na língua portuguesa porque serão muito mais acolhidos, respeitados e admirados. Isso à parte, agradeço a Deus pela paz e equíbrio que Ele me menteve, ainda mais nos momentos mais angustiantes, porque me sentia também fora de meu contato real e longe daquilo que eu sinto ser meu destino. Ainda tive o privilégio de publicar um romance por conta própria, que me ajudou muito. Se vivemos de experiências, compartilhar um pouco da nossa, enriquece uma ou outra pessoa, que precisa de uma palavra motivadora do tipo "não estamos sós nas angústias e dúvidas". Eu não estive só. Deus, meus filhos, meus projetos, meus livros e meus alunos. Este meu humilde destino. Ser professor para professar sempre...



Desperto

Bom dia, minha flor,
Que surge com ternura.
Cativa o coração,
Esperançosamente.
Nos versos de Manuel Bandeira,
Desperto e refrigero minha alma.
Nossas almas.
Bom dia, minha flor.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Poema Recados

Poema Recados

A Ele

Antes de querer entrar na vida dela, veja se sua neura ciumenta e possessiva e seu instinto predador-pegar-todas já estão curados, porque não ela não tem culpa de você continuar um bosta.

A Ela

Antes de querer entrar na vida dele, veja se suas neuroses e traumas estão controlados, porque ninguém tem obrigação de ser terapeuta em relacionamentos e aguentar esquizofrenia quando era para ser só uma seção de cinema.

A Mim

Antes de querer julgar a vida de qualquer pessoa, veja se as palavras não estão iludindo você mesmo, porque na fantasia cabe tudo, ainda mais autoenganos e inconveniências.

sábado, 12 de janeiro de 2019

Entrego

As loucuras que antes eram a vida, hoje entrego-as aos meus filhos.
Se a descoberta do encantamento renovava meus olhares, entrego-a às crianças.
Se caminho lento, posto os pés em firme chão pavimentado, entrego a caminhada aos jovens.
Nada do que faço, faço por glória própria de ser mais do que sou.
Entrego o que acho que lhes pertece, porque o tempo é amigo de quem o entende.
Tenho dúvidas do amor, porque ele sempre revigora o pensamento e a vontade.
Não deixarei de amar enquanto der por mim o que é a entrega.
Ando amando lentamente na encantada loucura do meu olhar pavimentado pelo que faço, sem glória senão ser o que sou.
Entrego meu amor sincero, respeitosamente sincero.

domingo, 6 de janeiro de 2019

Sorte da Paixão


Como pode em um coração
Tão sofrido, experiente,
Sofrer na hora presente
A força de uma paixão?

Vivia a vida entregue
Aos meus soltos devaneios,
Dizia, e ninguém negue!,
Me bastava por inteiro.

Quis, porém, brincar comigo
O amor da inocência,
Fazer dela o abrigo
Preencher com sua presença.

Que modéstia a ilusão,
Ter-me pensado audaz.
Sonho hoje esta paixão
Da sorte que ela me traz.

A Flor

A FLOR

A flor não desperta para mim.
Nem me fala nada - livre e bela -,
Se eu falo a ela "eu sou assim",
Silencia ela - o jeito dela.

Não é má a bela que floresce.
Ela é flor, seu jeito sorridente.
Faz do belo o sol que amanhece
Esperança à Terra reluzente.

A luz que do alto contagia,
As flores de hoje e do passado,
Esta flor alegra o meu dia,
Por ser bela e eu apaixonado.

(flavio notaroberto)

sábado, 5 de janeiro de 2019

Não Ilusões


A vontade, que me devolve
Meus doces sonhos perfeitos,
É meu amor que envolve
As alegrias do teu jeito.

És flor, rosa que seja,
Dura o quanto cabe à luz,
A lágrima que me corteja,
Minha noite me conduz.

Não preciso outra vontade,
Senão ternura e encanto.
Não preciso outra saudade,
Senão sonhar este canto.

Qual seja um dia saber
De instantes, recordações.
De um dia não esquecer
Que não vivi ilusões.

- flavio notaroberto -

sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

Fazê-la Feliz

- Você me faz feliz, por favor? Estou desesperada!
Eu fiquei mudo.
- Por que não é feliz? - perguntei
Ela me abraçou. Não chorava. Colocou a cabeça no meu ombro esquerdo, e eu a acolhi, fazendo um cafuné em sua nuca.
- Me faz feliz?
Ela insistia.
Permaneceu o tempo que quis presa em mim. Não passava nada em minha cabeça, a não ser silenciar. Esperaria o tempo que fosse.
- Você vai me fazer feliz?
Apertava-me as costas. Eu gostei do abraço. Me incomodava somente a questão. Ela havia sofrido demais. Éramos amigos desde criança. De repente, pediu para ver-me. Sorriu para mim. Eu sorri para ela. A pergunta pareceu-me brincadeira. Ela me abraçou. Havia tentado o mundo atrás da felicidade, mas padeceu. Ela somente queria viver. Eu era apaixonado.
- Quero.
- Está bem.
- Não amo você. Somente quero ser feliz.
- Eu amo você e sou feliz. Vou fazer você feliz.
Vivemos juntos oito anos. Ela foi extremamente feliz ao lado meu lado, tão feliz que descobriu seu próprio caminho da felicidade. Um dia me abraçou profundamente dizendo que iria partir, que não mais voltaria. Desta vez ela chorou. Eu nada disse e nunca mais a vi, porque ela desapareceu, feliz.

(flavio notaroberto)

quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Poema Reluzente

Queria dizer teu nome

Queria dizer teu nome ao mundo,
Dizer meus mais ternos sentimentos.
Queria saber de meu amor eterno,
Das singelas juras apaixonadas.
Queria exagerar em meu grito
Abafado teu olhar, teu sorriso.
Não hei de olvidar os lábios teus,
Teus lábios, que detêm o brilho,
Que para mim acalantam,
Que cantam em mim segredos.
Não tenho medo, amor, não o tenho.
Se te quero e não te busco com ardor,
confio na pureza do belo enredo,
Meu amor, meu mais vero amor.
Tu, somente tu, entregues a ti mesma
Me causa enorme bem na alma.
Tu, meu amor, desperta a boa sensação,
Que me benfazeja a alegria de viver.
Como saem simples versos e canções
A ti, por tanto querer, a ti como ideia.
Passam os tempos e eu os amo,
Eu os amo também, acolhedores.
Colhem dores, amores, flores,
Eu te acolho juntamente, aqui.
Mais do que amar a ti profundamente,
Amo em mim teu ser simples,
Meigo, vivente, luzente a mim.











terça-feira, 1 de janeiro de 2019

Meu amor cresce

Meu amor cresce, meu anjo.
Amar me deixa livre.
Se não a tenho, eu sonho alto.
Nas núvens da imaginação,
Ouço sons, e danço,
Danço o baile da alma amante,
E sinto seus lábios,
Sorriso, olhar, movimento.
É você, meu anjo, meu gosto,
Que gosto tanto, e amo.
Meu amor cresce a cada dia,
De dia, de noite e cresço.
À poesia não me falta você,
Que quero assim, em mim,
Amada, querida, linda
Por tudo que a luz ilumina,
Dentro de minhas sensações.
Meu amor é o que de mais grato,
Nos dizeres da paixão, me provoca
A paz que sinto em você.
Meu amor cresce e eu cresço.