sábado, 21 de abril de 2018

Relacionamento bom

Relacionamento bom é não crescer, não amadurecer, manter-se no limitar da inocência em que a crença na verdade e pureza do outro supera a malícia da experiência vivida dos adultos. Não crescer passa a ser e "eterna inocência", como nos lembra Fernando Pessoa, em O Guardador do Rebanhos. Mesmo assim, amadurecer para alguns é inevitável. Raros são os que passam uma vida toda puros por dentro. Ainda mais nesta sociedade cheia de relacionamentos, no sentido "relativo", em que cada pequena parte vai encostando em uma outra, com um infinito efeito dominó. Basicamente, sou pai e filho ao mesmo tempo. Depois sou professor. Depois sou escritor. Somente neste pequeno cenário do que eu sou, me faço em quatro coisas distintas, sendo que me relaciono com algumas centenas de seres humanos diretamente, e algumas milhares de pessoas indiretamente. Ter autoconsciência do que somos, neste sentido, é nosso relacionamento humano, nosso relativismo, nosso amadurecimento, nossa perda da inocência, e creio que para tal sermos ser adultos.

quarta-feira, 18 de abril de 2018

Diálogo

Diálogo Pai-Filho

- Filho, tem lido?
- Estou na pág 71.
- Que dá hora! Está assimilando os conceitos, as ideias?
- Como assim conceitos? Conceito não é uma ideia aceita?
- Ideia é mais amplo que conceito. Por exemplo. Maçã é uma idea, mas para ter um conceito de maçã tem que saber gosto, cor, tamanho, para que serve etc. O movimento do conhecimento (qualquer conhecimento) é "apreensão" → "conceito" → "ideia". A apreensão é tudo aquilo que você "sente" com os cinco sentidos do corpo; então esses conceitos se unem para forma uma ideia do objeto.
- Não é contrário?
- Da ideia forma o conceito? Não. Quem fez este esquema foi o filosofo Immanuel Kant.
- É porque se você tem uma ideia e com isso cria-se um conceito?
- Pode ser também, mas eu vejo que do conceito se cria uma ideia. Mas analisando bem, você tem razao: parece ser das ideias se criam os conceitos (mas Kant fala diferente). Vou estudar mais a respeito..
- Ah, entendi. Conceitos são rascunhos de pensamentos estudados, e ideias são esses pensamentos sendo formulados em um foco.
- Você leu isso em algum lugar ou tirou de sua cabeça?
- Eu juntei o que você falou e reformulei
- Está perfeito. É isso aí. Te amo, filho.
- Também te amo

quarta-feira, 4 de abril de 2018

The tell-tale brain

So we now have three types of map-to-map resonance going on in the early hominin brain: visual-auditory mapping (bouba-kiki); mapping between auditory and visual sensory maps, and motor vocalization maps in Broca's area; and mapping between Broca's area and motor areas controlling manual gestures.

The Tell-Tale Brain

O inesperado faz o verso

Não acho que a simplicidade faz o verso. Para mim o inesperado faz o verso. O único poeta que toca minha alma com a simplicidade do verso é Manuel Bandeira. É que o lemos uma vez e o poema diz algo simples, e na segunda algo não tão simples se nos avulta e revela o inesperado. A solidão estava lá sem percebermos aparentemente. A morte, a felicidade, a simplicidade, o sofrimento, o amor, a liberdade, a prisão, o preconceito, a opressão, a hipocrisia. Enumero assim solto sem pausar os temas que me veem em minha mente sobre o que os versos de Manuel Bandeira me trazem na simplicidade aparente dos seus versos. Fora ele, prefiro Camões, Bocagem, poetas românticos, poemas neoclassicistas. Algo simbolista me agrada, também um pouco de modernismo e o hermetismo de nosso concretismo. Mas na essência, Manuel Bandeira e versos impactantes e inesperados. Um gosto somente. Não do que eu consiga fazer ao escrever. Falo do que me agrada a alma ao ler.

O inesperado faz o verso

Não acho que a simplicidade faz o verso. Para mim o inesperado faz o verso. O único poeta que toca minha alma com a simplicidade do verso é Manuel Bandeira. É que lemos uma vez o poema e na segunda algo não tão simples se nos revela. A solidão estava lá sem percebermos aparentemente. A morte, a felicidade, a simplicidade, o sofrimento, o amor, a liberdade, a prisão, o preconceito, a opressão, a hipocrisia. Enumero assim solto sem pausar os temas que veem em minha mente sobre o que os versos de Manuel Bandeira me trazem na simplicidade aparente dos seus versos. Fora ele, prefiro Camões, Bocagem, poetas românticos, poemas neoclassicistas. Algo simbolista me agrada, também um pouco de modernismo e o hermetismo de nosso concretismo. Mas na essência, Manuel Bandeira e versos impactantrs e inesperados. Um gosto somente. Não do que eu consigp fazer ao escrever. Do que me agrada a alma ao ler.

Cansaço

Não tenho mais vontade de compartilhar meu olhar por aqui. O externo, nem o interno. Não sei se por uma vaidade reversa. O Facebook anda muito imundo. Tenho a arte algo sagrado, assim como meus três rebentos, assim como Deus. Quem explica racionalmente o que é o amor não sabe bem o que é amar. Como o prazer do sexo, como a depressão, como ser criança, como saber envelhecer. A palavra experiência nos define, define cada um de nós. Diante da vida, pouca, ou nada nos sobra, a não ser a experiência. A fé e a arte são experiências essencialmente transcedentes, ou seja, vão além de nossa realidade imediata. Além desta imundície que se tornou Facebook. Poucos se salvam. Eu não me salvo. Mas tento salvar relíquias. As relíquias são o sagrado. O sagrado não se aprende só com a experiência. Transcende-se.

domingo, 1 de abril de 2018

Renascer

Boa Páscoa. Se for para renascer, que seja! Deixar de ser é um processo contante na vida humana, e poucos percebem. Quem percebe aguenta os dias com mais sensação boa. Sobre sentir, no sentido de captar o mundo com os sentidos, parte de nossa felicidade está na harmonia do tato, do paladar, da audição, do olfato e da visão. Visão e audição são sentidos que nos distanciam das pessoas. Podemos ver e ouvir longe, muito longe delas. Já os demais três, é necessário a aproximação, o contato realmente físico. A maior ilusão vem do ver e do ouvir. A certeza vem do tocar, cheirar, degustar. Ter consciência nos fragmenta. Ao invés de nos deixar mais compactados e certo, a consciência nos divide em momentos para cada coisa, e eu acho esta coisa de sabedoria. Eu tenho consciência dos meus sentidos e dos sentidos dos outros, portanto, não posso alegar ingenuidade diante dos exageros. Assim, tornamo-nos humanos, cada vez mais humanos. Verdade que o vinho existe para confundir o que sentimos. E quanta confusão! Para o bem e para o mal. Voltando ao nosso renascimento constante, o verdadeiro ponto, que legitima nosso renascimento, é usar nossos sentidos de modo renovado. Um eterno olhar inocente diante da novidade do mundo. Para renascer, então, temos que viajar, seja real ou imaginário. Mas viajar sem confundir os sentidos, como o vinho nos faz. Viajar embarcando nos meios que conduzem nosso corpo para distantes lugares, e aí cito avião, navio, trem, ônibus. No meu caso, viajo muito na imaginação, e talvez seja a falha que amigos e parentes me cobram. Mas meus sentidos já estão acomodados e em harmonia. Renascer é usar os sentidos sempre de modo a criar uma nova e boa sensação para o cérebro. Um novo amor que se encaixa em nossas vidas é um renascimento. Um empreendimento novo é um renascimento. Um filho que vem, um país para onde se muda, um curso que se começa, um jardim que se planta, um ódio que se perdoa. Eu creio que superando a barreira dos limites dos sentidos de apenas sentir, renovando-os, dá para passar uma existência renascendo sempre. Não temos longevidade de existência. Temos momento de existência. Ao final, colocaremos no que sobrar de nós -nossa consciência - aquela história que fomos, e nossos renascimentos. Nos últimos quatro anos, tive de renovar-me anualmente, e tem sido duplamente divertido e melancólico. É uma boa dupla esta, porque posso chamá-la de extrovertido e introvertido