terça-feira, 24 de outubro de 2017

Fillsofia 1

Filosofia para Iniciantes 1

Saber a seguinte sequência: Sócrates, Platão e Aristóteles, ajuda muito para entender  Fiolosofia Ocidental. Os três são gregos, e viveram 400 anos antes de Cristo. Quando Sócrates tinha 70 anos, Platão tinha 20. E quando Platão tinha 60 anos, Aristóteles tinha 20. Eu estou aproximando as idades. Somente para entender que o mais velho é Sócrates. O mais novo Aristóteles. E que havia uns 40 anos de diferença entre os três. Aprender a filosofia de Sócrates é ler o que Platão escreveu, e explico. Platão escreveu diálogos. Literalmente diálogos. Como uma peça de teatro. O personagem principal era Sócrates. Em todos os diálogos Sócrates está presente, e ele mais pergunta do que responde. Aliás, essa forma de fazer perguntas constantes para saber aprender sobre um assunto por meio de diálogo é o que chamamos de "dialética". A expressã "dialética socrática" surgiu por causa dos diálogos de Platão, também conhecidos como "diálogos socráticos". Resumindo.

*A sequência do mais velho para o mais jovem é Sócrates, Platão, Aristóteles.
*Platão escreveu somente diálogos, como se fosse um teatro.
*O personagem que aparece em todos os diálogos é Sócrates.
*Sócrates mais perguntava do que respondia.
*Esse forma de perguntar é conhecida como "dialética".
*E Diálogos de Platão ou Diálogos Socráticos são as mesmas coisas.

Amanhã falarei sobre o O Diálogo da Alma (Fédon), de Platão. É o que eu mais gosto.

domingo, 22 de outubro de 2017

Mudança

Há uma cena do filme 'Embalos de Sábado à Noite' em que o personagem do John Travolta pede desculpas à sua mãe pelo filho arrogante que ele tem sido. A mãe reage inesperadamente, com indignação. "Imagina, meu filho! O que é isso? Você tem sido um ótimo filho!" Ele explica que sabe que não, mas que tem amadurecido. Quem assistiu ao filme, irá se lembrar. Bem, incrivelmente o amadurecento faz as pessoas terem autoconsciência do que elas eram e de como elas se comportavam. Não fosse assim, elas não amadureceriam. No filme, ele fala para a mãe que quer mudar, quer ser diferente, quer ser menos arrogante, parar de usar as pessoas, ser mais maduro etc. Acho que no fim da cena, ela oferece mais um pedaço de bolo para ele. Ele aceita.

Indo comprar pão agora à tarde, veio-me à cabeça esta cena. Lembrei-me de mim mesmo quando eu amadureci. Eu tive autoconsciência de meu papel nesse mundo aos dezessete anos. Faz tempo. Desde então, perdi parte da inocência. Entrei em depressão no ano seguinte, porque a realidade cruel passou a ser implacável em mim, como é a quem abre os olhos e não tem preparo emocional para absorver tanta realidade. Vivi quatro longos anos depressivo. Estes anos ao mesmo tempo existiram e não existiram para mim. Bem, ter autoconsciência é algo que traz tristeza. Tanto que no filme eu acho ser uma das cenas mais tristes, e para a mãe dele também.

Reconhecer-se amaduro exige forte atitude de humildade. Inclusive causa espanto nas pessoas.
Particularmente, uma pessoa arrogante sendo humilde incomoda minha interpretação da personalidade humana. Deve ter incomodado também a mãe do personagem do filme.

Nos últimos tempos, eu tive essa experiência de querer ser algo que não me pertence, ou melhor, nunca me pertenceu. Não sou da vida balada, de festa, de exageros, de êxtases. Sempre fui recluso, introspectivo, interessado em viver minhas sensações e emoções particulares dentro de minha mente reflexiva, sem me poluir emocionalmente. Sou mais sério do que minha vontade de querer ser livre. Aliás, sou livre para não querer ser o que não gosto de ser. Ainda mais agora. Gosto dessa coisa simples entre escrever e ler, ouvir música clássica e assistir a filmes e documentários que refletem a existência. Creio que tem a ver com as minhas aulas e com as minhas escritas.

É um processo inicial de desintoxicação emocional deixar de lado o que não se deseja mais. Nada grande coisa, porém. Algumas coisas valeram à pena. Ser menos do que eu me sentia, valeu-me a experiência. Tornei-me admirador de Kant. Aliás, sinto-me filósofo a partir do momento em que entendi Crítica da Razão Pura - em meados de 2016. Desde então, o sentir teve uma dimensão muito significativa para mim. A neurologia atual tem me mostrado em meus estudl sobre ela que nosso cérebro é dividido em diversas partes e cada qual dessas partes altamente especializadas. Usamos a totalidade de nosso cérebro. Eu uni a filosofia kantiana, que é o início da verdadeira metafísica, com os estudos neurológicos e nossa apreensão nesse mundo, e para ser mais específico, as nossas qualia. Foi bem libertador.

Não dá para fingir que não existe em mim o que existe. Posso emagrecer, cortar o cabelo, tornar-me atleta, curtir passeios etc., mas o conhecimento do que eu sei não sairia de mim. Uma vez que foi conquistado por mim através de muita leitura e dedicação. A voz interna em mim é barulhenta. Ela silencia minha voz exterior. Tal como a autoconsciência do personagem do filme, é bom saber quem de fato você é e o que quer ser. Ambas as coisas eu sei. Estava tentando curtir sensações relativamente normais, e foi engraçado e divertido. Eu ria mais do que sentia contentamento. Rir e ter contentamento possuem pouca coisa em comum. O riso é nosso pior inimigo em todos os sentidos. Disse isso aos meus alunos, porque estamos lendo 'Memórias Póstumas de Brás Cubas', e este Brás Cubas nos faz rir muito como rimos da coitada Eugênia, o coxa flor da moita. Contentamento vem para mim da reflexão e do conhecimento. Gasta-se mais energia. Justamente o que nos mantem alertas e vivos.

As palavras contrárias

"...afastar-se de uma imagem concreta ou ideal que não nos pertence, para procurar uma modalidade de vida totalmente independente."
(aldo carotenuto)
As palavras acima são contrárias em relação aos relacionamentos humanos em sociedade mais complexa, semelhantes a que eu e você vivemos hoje. Podemos falar de liberdade, mas desejamos "uma vida totalmente independente" muito da boca para fora. Ao menos digo pelo eu percebo. Eu tenho hoje um vida totalmente independente no que diz respeito aos meus relacionamentos. Não trocaria minha liberdade - essa sensação de poder ir e vir sem falar para ninguém para onde e de onde - por ninguém. Nem cito mais que pelos meus filho sim, eu trocaria. Mas não falo por ser pai. Falo de ser livre. Hoje joguei bola. Li um artigo. Fiz um frango cozido. A roupa bate na máquina. Deitei para ler. Tiro uma soneca daqui a pouco. À noite vou correr um pouco. Ainda me sobra tempo para escrever sem ter de cuidar o que digo para não gerar mal-estar. Faço meus passeios, dou algumas escapadas, sou muito pouco comprometido, ainda que atencioso e carinhoso. Talvez por isso meu perfil seja de namorar. Até propus namorar livremente. Não é relacionamento aberto, nem nada de libertinagem. É algo como "não tenho tempo, nem disposição para seus problemas, e não levo os meus para você". O máximo que posso fazer seria ouvir, dar opinião, aconselhar, orientar o que eu acho, o que faria, o que valeria para mim. Imagine o que é "uma imagem concreta ou ideal, mas que não nos pertece", como escrevi no início. A autoconsciência de saber o que não nos pertence concreta e idealisticamente não é a regra. As pessoas não seguem seus reais sonhos. Seguem suas dependências emocionais. Assimilamos desejos de fora para dentro pelas mídias e mercadorias, que conduzem nossas vidas. É tão verdade que uma pessoa que fale bem, que seja culta, envolvente e que facilmente seduza os desejos que achamos nossos, ela mudam nossos desejos com facilidade. Nem tudo o que escrevo vale para todos. Acho que vale para poucos e poucas. Nem o que lemos pode valer para nós. Ou porque não compreendemos, ou porque não sabemos o que queremos. Mesmo assim, nós resumimos o que queremos na expressão "ser feliz". Descobri a paz interior e a felicidade quando voltei a ter nada, e não querendo ter nada. Depois que percebi que nada tinha e senti na mente humana a sensação de não poder fazer nada, a não ser existir simplesmente, afundei-me no puro existir. Era eu comigo mesmo, tendo de viver, querendo viver, não querendo nada a não ser a autossuficiência de meu quarto, minha cama, meu banheiro, meu sofá e livros e escritos. Em resumo, uma vida totalmente independente. Uma amiga minha me diz que meu interior desesperadamente quer alguém, e que a autossuficiência que prego é uma dor querendo alívio. Ela teria razão se não tivesse me casado aos 24 anos e ter me separado aos 40, e ter vivido um matrinônio de 15 anos, que me deu picos de felicidade e meus três amados filhos. Três anos depois de separado, jogar bola, ler, estudar, realizar meus projetos pessoais, não dar satisfação de onde e com quem está, sentir-se livre - ainda que sozinho, retomar meus estudos, são valores que caem bem a uma meia vida de existência autoconsciente daquilo que diz respeito a mim.