segunda-feira, 23 de julho de 2018

Desacelerar

Todos precisamos desacelerar os pensamentos. Pensamentos acelerados são ansiedade. Ansiedade é desejar acontecer rapidamente. Na vida, não aprendemos na escola que ser rápido é contra tudo o que se parece natural. Precisamos de tempo. Todas as coisas tem seu tempo determinado, nos ensina a Bíblia. Desacelerar o pensamento é aceitar o tempo das coisas. Acabei de assistir a um filme francês, chamado Uma Casa à Beira Mar. Resumo à parte, é destes filmes que aprendemos a ter paciência, a esperar, a suspender a ansiedade, a desacelerar os pensamentos. Gosto de filmes assim, assim como eu gosto de animação, assim como eu gosto de filmes da Marvel. Eu tenho uma tesa que gostamos da companhia mais do que do que fazemos com alguém. Vejo filme da Marvel e animação com meus filhos. E como eu gosto de minha companhia também, sozinho, vou a estes circuitos alternativos para filmes que nos obriga esperar a evolução do enredo. Este filme quw acabei de ver tem um enredo bonitinho. Os temas são relativamente intensos, ainda que clichês. A fotografia vale já a presença. Saí satisfeito e pensando como è bacana. Ontem vi A Formiga e a Vespa, da Marvel. Muita ação, piadas bobas e boas, bastante física quântica e a continuação indireta de Vingadores. Também saí satisfeito. É nosso cérebro em ação no mundo. Ao fim, tudo se resume a este detalhe, ou seja, nosso cérebro desfrutando sua existência. Estamos aí. Vamos desfrutar e olhar para nós, neste mundo que nos cerca.

sábado, 21 de julho de 2018

Machismo, Feminismo (conto)

Machismo, Feminismo

Seria bacana se as mulheres dos 30, dos 40 não quisessem manter a juventude das de 20. Alfredo, então, me explicava porque escolhia as de 20. Ao menos era a sua razão entre um machismo e outro, entre um esnobe e outro, entre tantos preconceitos sem graça. Eu tentava argumentar, mas ele era meu cliente. Tinha que tratar bem. Tinha que tratar muito bem, que era somente tolerar, sorrir, concordar e resolver as buchas judiciais familiares dele. Eu não precisaria atender tantas audiências se houvesse mais um Alfredo mulherengo em meu escritório de advocacia. Meu padrão de vida daria até um salto maior. Já me perguntei se eu era hipócrita fora da profissão. Minha mãe se assustou. Minha esposa disse que dinheiro não tem escrúpulo e eu trabalhava.
- Um ator, entende? Somente um ator, Fábio.
Meus filhos somente sabiam de andar pela casa. Um casal. Um casal de gêmeos. Quatro anos. Quatro anos cada. Ninguém perdoa quando falo. "Se são gêmeos, têm que ter a mesma idade!" Me divirto. Me divertia com Alfredo e suas teses românticas ordinárias.
- Eu falo para elas "se você não der para mim, um dia você vai se arrapender."
- Que horror, era o comentário da minha esposa quando repetia literalmente Alfredo. Mas este cara é um canalha.
- E eu falo para elas "mulher quer ser fodida."
- Mas é um escroto.
Era Alfredo com suas teses machistas e Soraia com seus xingamentos indignada. Eu sei que me abria a ela. Geralmente antes de dormir ou fazendo o jantar. Não falava nada dos rolos de Alfredo. Somente seu machismo.
- E o pior é que ele tem razão. Homem é um bicho, dizia meu avô.
Soraia me perdoava, assim eu me sentia mais leve. Eu tinha que sorrir, ainda que sem concordar.
- Fabião, tem que pedir para ir pegar a cerveja depois do sexo. "Vai lá. Pega pra mim. Tô mandando." Elas se levantam e vão!, e ria.
Admito que era engraçado o jeito de Alfredo falar. Eu tenho a consciência em paz que discordava de tudo o que ele falava sobre as mulheres.
- E é bom mesmo discordar, lembrava a minha esposa.
- O pior é quando a mina se apaixona. É até bonitinha, legalzinha, mas aí tem que ignorar por um tempo. Ela vai ficar puta e aquelas coisas de mulher...
- E fica mesmo!, Soraia concordava.
Em minha mente Alfredo era a tese e Soraia a antítese. No fundo nenhum dos dois representava o machismo e o feminismo. Digamos que ambos tinham o espírito do machismo e do feminismo sem defender bandeira alguma. Alfredo pegou a última das esposas dele na cama de seu apartamento no Itaim. Olhou para os dois, continuem. Sorriu no canto das lábios. Antes gravou um filme. Então pediu o dirvórcio.
- Eu vou arrancar sua alma, seu desgraçado, a esposa gritou, enquanto ele batia a porta tranquilamente.
- Para mim a mulher pode tudo, entendeu, Fábio? Quer dar para quem quiser, ela que se dane. Ninguém é de ninguém.
- E não é mesmo, complementava Soraia. Mas não pense você que eu permito você fazer o que quiser.
Ela falava com tom de ameaça. Eu levava na brincadeira.
- Faça o que quiser. Somente não me venha com lágrimas, porque aí quebra as minhas pernas. Lágrimas de mulher é o meu fim, Fabião. Sou obrigado a mimar. Lembra da Rosana?
Fiz que sim com a cabeça.
- Sério?, perguntou a Soraia para mim deitada na cama. Ele ainda deixou o carro e aceitou uma pensão vitalícia?
- Se chorar eu perco o rumo. Entrego a alma. Rosana soube chorar na frente do juiz. Mereceu pelo papel.
Ela foi a terceira mulher de Alfredo. Está se separando da sexta. Eu já indiquei psicólogas para ele.
- Terapia é coisa de viado, Fabião.
- Este Alfredo tem problemas, Fábio.
Há quinze anos resolvo suas pendências na Vara da Família. Foi o acaso. No seu primeiro caso, seu advogado não pôde ir. Ele estava lá na Vara da Família. Me contratou aleatoriamente.  Eu tinha tirado a OAB recente. Foi cômico. Era apenas concordar com tudo.
- Médico vascular? Dono de hospital? O cara é rico?
Eu estava noivo da Soraia. Ganhei tanta grana com Alfredo que nos casamos em três anos. Viajamos o mundo ao longo de oito anos. Então decidimos ter filhos.
- Ela tem dezenove anos, Fábio. Vou casar de novo.
- Ele tem 40?
Dois meses depois se casaram. Eu e a Soraia fomos padrinhos. Os gêmeos entregaram os aneis.
- A vida é bem curta, Fabião.
- Mas ele vai aproveitando, né?
Com esta ele ficou quase sete anos. Tempo suficiente para ela se graduar em medicina. Depois pediu a separação. Disse que não precisava de pensão. Queria somente fazer residência no hospital dele.
- Como não dá para ser feliz? É só levar de boa, relaxar. Ouvir xingamento, ser canalha para elas e bonzinho na socidade que está tudo certo. Ela me usou. Se formou em medicina. Agora me deu outras oportunidades. Tenho ainda mais uns vinte anos de vai e volta, Fabião.
- Canalha é mesmo. Não tem jeito.
Tanto não teve jeito que quem se apaixonou por ele foi a Soraia. E o filha da puta correspondeu. Mas tudo bem. Eu fui sendo preparado que ninguém é de ninguém. Mas que ambos foram canalhas, foram sim. Ainda mais para mim.

quinta-feira, 19 de julho de 2018

Poema

Poema

Desde aquela noite fria
Que, trêmulos, nossos lábios se tocaram,
Noite alguma suspiraria tanta saudade
Quanto a perda da minha inocência.

Éramos crianças sonhadoras,
Dançando quadrinha,
Pulando fogueira iaiá,
Pulando fogueira ioió.
Eu sonhei quando segurei sua pouca mão.
Procurávamos na sorte do olhar
A voz de felicidade sentida.
Na roda feita e desfeita,
O bailado dos chapéus voantes
E das marias-chiquinhas.
Seu olhar sorriu para mim.
Acreditei com toda força de minha ilusão.

Não sei o tempo para você que não mais tive como antes.
A perda da inocência do amor foi estranha.
Refém fiquei.
Quase me perdi.
Nasceu em nossos corações algo estranho de sempre querer?

Eu perdi a inocência, minha doce morena.
Como o homem que com o suor do rosto come o próprio pão da terra.

Eu a quis por fim e você a mim alí.
A noite fria de julho pouco durou no momento.
Aprendi a amar sem a ter e sofri.
Recompensa das emoções.
Desde aquela passageira noite fria que não mais sinto essa vida uma passagem.

Saudades. A passagem dessa vida é de muitas saudades.
Desde aquela noite fria.