sábado, 31 de dezembro de 2016

Para 2017 e para a Vida

Para 2017 e para a vida

Sinto que o ciclo de minha separação consensual, em abril de 2014, tenha definitivamente se fechado nesse fim de ano. Ou seja, três anos. Três anos que não foram meus. Foram de minha separação. Foi um tempo relativamente curto para que a necessidade das mentes envolvidas pudessem adaptar-se a outros estímulos humanos. Existe o hábito. Existem as expectativas imediatas que esperamos. Acordar ao lado de alguém todos os dias, por exemplo. Vamos chamar essa expectativas imediatas de presentes. São nossos presentes. Separar causa sofrimento porque exige que mudemos nossos presentes. Não mais acordamos ao lado da pessoa. Felicidade é a harmonia entre os presentes e o queremos.

Foi conversando esses dias com uma amiga jovem, a Luana, que me perguntou se eu estava de amores com uma outra jovem, a Juliana, por quem nutro enorme carinho, que me deu o insight do ciclo da separação que se fechou. Três anos e mudanças enormes, tanto emocional quanto materialmente. Uma separação deveria ser um tchau, certo? Resolvida em minutos. Mas aonde enfiamos os presentes de nossa realidade? O certo seria cada qual enfiar goela abaixo e esperar a digestão. Enfim, três anos.

Antes de concluir meu pensamento para o Feliz Ano 2017, nesse mesmo papo com essa minha jovem amiga, a Luana, exteriorizei que minha vida amorosa estará praticamente fechada até meus cinquenta anos. Assim que me separei, iniciei amar uma jovem. Ela me amou também. Com ela idealizamos planos. Por vários motivos, e depois de quase um ano e meio, nos distanciamos. Há o carinho e ainda algumas promessas. Disse a ela que possivelmente eu iria deixar um rastro enorme de emoções fortes no coração de muitas mulheres, caso eu me envolvesse mais ainda. Ela até sorriu e disse "você se acha, hein?" O tempo me deu razão. Eu sei o tipo de presente que compartilho com as pessoas. Depois de tantos conflitos emocionais com diferentes vidas, cansei de sofrer e de fazer sofrer. Ajustei-me internamente. Determinei meus presentes. Nos próximos sete anos, até 2024, desejo para mim mesmo a liberdade de viver a minha vida pessoal - sem egoísmo - com meus objetivos que não meus e de mais ninguém. Depois, quem sabe, a partir dos cinquenta anos, o destino não me encontre alguém para dividir presentes e sermos felizes sem pretensão compartilhando nossos objetivos.

Enfim, chego à minha mensagem de Feliz 2017! O tempo é o fator de tudo. Três anos foi o ciclo de minha separação. Sete anos serão a decisão de viver sem relacionamentos amoros sérios. Sem dizer outros tantos ciclos de vida na vida de muitos, em pós graduação, graduação, escrever um livro, superar uma doença, um trauma etc. Em 2017, realizar-se-ão muitos pequenos projetos e desejos, algumas frustrações, poucos projetos ambiciosos. Meu desejo, portanto, a todos os amigos é pensar em ciclos não de apenas um ano, 2017, 2018, 2019, 2020. Meu desejo é que entenda que a partir do momento em que um "ciclo" tem início, ele terá um tempo. Se absorvermos a nova realidade, admitindo-a, não serão evitadas as dores, mas a dores serão parte dos presentes.

Desejo a todos amigos Feliz 2017 porque é a ele que me refiro agora, mas desejo a todos paciência para crescer emocional, financeira, intelectual e espiritualmente pelo tempo necessário que seja. Já foi dito e repito: a vida é um presente, uma dádiva, um dom. O passado aprendizagem e o futuro expectativas. Olha só a minha expectativa para os próximos sete anos!

Fuga à Fantasia

Tudo o que se escreve, quando as pessoas tem algum interesse em nós, seja edificante ou destrutivo, é um passo para a fuga à fantasia. Meu conselho? Fantasie! Liberte! Vagueie a imaginação. Crie os delírios e as esquizofrenias da alma. Suspenda de vez a razão neste momento. O bom dos sonhos delirantes é que eles traduzem a real fragilidade de nossas almas em nosso inconsciente. Deixar solta a alma então edifica verdades... Para fechar o ciclo, porém, volte-se em seu próprio pensamento de onde vem o que queremos. O quanto escondido não está lá em nossas fantasias, que são nossas verdades inquietantes, que o corpo largado na cama, ou no sofá, ou cercado de pessoas onde quer que esteja oprime e fantasia no outro em quem temos algum interesse pessoal. Para sintetizar: no fundo, temos interesse em nós mesmos, e queremos apenas nos encontrar fora de nós mesmos. Deliremos! Fantasiemos! Há males que realmente vem para o bem, porque o bem sempre será bem para os de bem...

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Romeu e Julieta

Dei uma palestrinha há muito tempo cujo título foi "Amor e Morte em Romeu e Julieta". A palestra foi um sucesso. Havia oito pessoas presentes - contando comigo e um amigo. Vesti-me a caráter. Uma roupa tipicamente shakesperiana.

Reli esses dias Romeu e Julieta, a peça. Terminei ontem. Já havia lido umas três vezes quando mais jovem. Nessa última, eu "descobri" mais do que amor e morte em seu forte enredo. O olhar de um crítico literário raramente definha. Ele se expande como o ar na bexiga inestourável! Descobri um tema interessante no enredo dos jovens de Verona: Pensamento Complexo e Pensamento Dialético.

Pensamento Complexo é uma forma nova e atual de enxergar a realidade que nos cerca. Pensamento Dialético é mais antigo (coisa de duzentos anos) e portanto muito mais conhecido. E são formas de Pensamento que se complementam.

Pensar dialeticamente é pensar sobre a maioria dos aspectos possíveis de algo. Exemplo? Ser contra a pena de morte, ou a favor da liberação da maconha, ou contra as cotas, ou a favor da demarcação de terras indígenas. Compreende? Quem se posiciona radicalmente contra ou a favor tem suas razões não-dialéticas. Para quem pensa dialeticamente, ele constrói seu pensamento com dois olhares. Um sobre os argumentos favoráveis e outro sobre os contrários, de modo que quem tem um pensamento dialético sobre algo, geralmente tem uma visão mais ampla e realista da realidade. São os filósofos e poetas.

O Pensamento Complexo eu acho mais bonito - pensamento científico. O resumo do Pensamento Complexo é pensar tudo ou quase tudo de algo. Os exemplos são infinitos. Imagine um ovo. Em três minutos se faz um ovo frito (e o próprio ato de fritar um ovo é de infinitas complexidades: o óleo, o fogo, a frigideira, o fósforo, o sal - sem contar que cada um desses ítens tem sua própria "complexidade"). De volta ao ovo, imagine que para ele virar ovo, a galinha levou dias para formá-lo e a natureza levou dezenas de milhares de anos para formá-lo. Em três minutos, ele vira "ovo frito". Entender todo processo é a complexidade.

O Pensamento Complexo é assim. Não existe a favor ou contra. Existe algo e vamos descobrindo a maioria das coisas que fez desse algo o que ele é para nós. O Pensamento Complexo invade nossa mente constantemente sem que saibamos. A propaganda nos envolve em nossos desejos e vontades. Sem que saibamos, ela usa o conceito de Pensamento Complexo para nos influenciar. Parte do desejo que temos, ou constrói em nós um desejo. A propaganda analisa nossas fraquezas e dá brilho nelas. Imaginamos uma luz própria, quando é só uma lamparina bem vagabunda, que se apaga quando consumimos a mercadoria e voltamos à escuridão parcial.

Sou diálético, por isso. Uma mente dialética tem luz própria. Uma mente complexa, além de ter luz própria, analisa todas as outras luzes de todos os fenômenos possíveis. Ora, um marketeiro é assim. Um cientista. Só que ele não revela. Ele esconde. Diferentemente de um dialético que revela poética e filosofocamente.

Incrivelmente Romeu e Julieta tem tudo isso! Do Pensamento Dialético ao Pensamento Complexo. Leia um pequeno trecho adaptado em que o Frei Lourenço repreende Romeu que chorava porque foi expulso de Verona e iria ficar longe da Julieta:

"Está viva tua Julieta, por quem te achas quase no ponto de morrer. Estás com sorte. Tebaldo quis matar-te; Teobaldo morreu. A lei se mostra tua amiga, a pena de morte virou exílio: outra sorte. Sobre suas costas um fardo de bênçãos te caiu. Com seus problemas te vem caindo sempre a felicidade;"

Praticamente Romeu e Julieta é construído em forma de explicação por meio de Pensamento Dialético e Pensamento Complexo. Claro que os temas centrais, Amor e Morte, são o recheio. Como disse meu filho do meio ser o recheio entre os irmãos, provocando os outros dois, sugerindo que era mais importante do que os demais. O recheio é sempre mais importante em muitos casos.

domingo, 25 de dezembro de 2016

Namorou, casou

Lendo (na verdade relendo) "Romeu e Julieta", tenho a coragem agora de falar algo que pertece exclusivamente aos jovens. Refiro-me à adolescência (dos 13 aos 19 anos), que é a coragem de arriscar sem medo e colocar a vontade presente na frente da sua própria vida futura. Lembrando, Julieta, 13 anos, e Romeu, entre 16 e 17 anos, morrem tragicamente no final da peça cometendo suicídio. Em nome do amor. Jovens tem essa força trágica. Jovens até os 19 anos. Depois, o enredo muda demais. Na casa dos vinte anos, não pega mais essa ilusão. Imagina então nos trinta, ainda que o medo da solidão da solteirice nos acorda junto com o despertador! Nos quarenta nem falo. Somos idosos aos quarenta anos. Temos mais passado que futuro. A verdade que pode machucar muito o coração de tantas mulheres e até de alguns homens é que se não casarmos com aquele amor da adolescência, dificilmente seremos inocentes para acreditar nessa natureza de amor mais uma vez e anular nossa vida, ou o que nos resta para viver. O tempo passa. O que fazer então? Como administrar o equilíbrio entre a ausência de inocência depois da adolescência com o desejo de uma alma amante permanente que seja nosso desejo e que esteja em sincronia, em harmonia, em empatia com o nome que damos ao amor? Não sei. Mas sei que devemos fazer o que todos fazemos sempre! Tentarrmos. Tentarmos. E tentarmos. Agora aqui reside o ponto delicado. De tanto tentar, as imagens que podemos construir em nossa cabeça é uma silenciosa autodestruição emocional de não dar certo. Erro fatal! Deu certo no tempo que deu certo. Eu imagino um namoro de um dia, ou de algumas horas como um casamento. Houve início e houve fim. Entre uma coisa e outra, foi feito o possível dentro do que o tempo permitiu. Se uma noite, cinema, jantar, sexo. Se um fim de semana, Campos do Jordão, hotel, sexo, restaurante, cerveja, chocolate, hotel, sexo, café da manhã, passeios, almoço, jantar, fundue de chocolate etc. Esses são os pequenos exemplos. Claro que em um casamento de anos, há outras conquistas que nem preciso citar para não prolongar. Oras! Desde que houve cumplicidade, houve um casamento, ou não é? Sei que não é aquele idealizado. Mas toda idealização veio de fora. Da cabeça da mãe, da família, da sociedade. Foi projetada na cabeça. Romeu e Julieta casaram-se no outro dia após se conhecerem. Casamento escondido e proibido. Compreende? E morreram em seguida. Na verdade, cometeram suicídio em reviravoltas doidas. Namorar por algumas horas, dias ou meses é estar casado no tempo que é permitido. Romeu e Julieta tiveram um final blau-blau e ponto final na peça. Terminou? Vida que segue. Entre um amor novo e o velho que virou ex-, o que pode apenas diferenciar é o tempo. Horas, dias, meses, anos. Ou - como idealizado - uma vida inteira. Sei que todos idealizamos. Eu também já.

sábado, 24 de dezembro de 2016

Natal 2016

Causa emoção, né? É o Natal. Uma vibração mais ou menos coletiva em que mais ou menos amigos, parentes, conhecidos e desconhecidos entram em uma sincronia gostosa a respeito da vida compartilhada. Isso é bom. Não apenas pelos presentes! Pelos ausentes também! Neste momento, embora meus filhos estejam ausentes (meu segundo Natal que passarei distante deles), minhas emoções estão em equilíbrio paternal - minha essência está em sintonia com a deles, eu acredito. Assim comigo, assim com milhões Causa emoção, certo? Ser o que somos, mas o que gostaríamos de ter sido, não o somos. Ter o que temos, mas o que gostaríamos de ter tido não o temos. Estar com quem estamos, mas com quem gostaríamos de estar nesse momento não estamos. Assim comigo, assim com milhões. Causa emoção, não causa? A mesa, pequena que seja, grande que seja, farta que seja, humilde que seja, agressivamente rica que seja, miseravelmente vazia que seja. São momentos únicos de cada um, na mesma sintonia, na mesma vibração, na mesma sincronicidade humana, que nos torna mais humanos ao olhar um para o outro, dentro de nossos olhos. Nem é questão de Feliz Natal! É a emoção. Assim comigo, assim com milhões. Causa emoção! Há as lembranças em forma de presentes. Presentes dos mais diversos e marcantes e divertidos. Alguns belissimamente exageram (de causar inveja!) o emocional. Vários pedidos de compromisso, noivado e casamento potencializam o emocional para sempre nesse Natal - o sempre humano até quando termina. Existe o Primo Rico do Natal que é o Ano Novo onde os pedidos são infinitamente maiores, mas não são presentes como os de Natal. São renovações. Uma coisa ao lado da outra. Se no Natal há o nascimento, no Ano Novo há a renovação. Uma simbologia ironicamente bonita para nós. Quantas vezes não renascemos e quantas vezes não nos renovamos! Sobretudo na marra! Na necessidade! Na absoluta falta de opção. Precisamos renascer, precisamos nos renovar. Sem alternativa! Às vezes simultaneamente. E causa emoção. Causa muita emoção aquela categoria de sentimento traduzida profundamente por saudades. Saudades fortes, rasgando a alma. Choraremos no Natal e ninguém saberá. Ontem chorei. Fora Deus, ninguém saberá a tradução de minhas lágrimas, que tem a ver com saudade e amor. Oh, união arrebatadora! Chorar por saudade e amor! Os Feliz Natal! de hoje, de ontem e os próximos não escaparão da emoção tão necessária para nosso espelho interno. Sentimos e seremos sentidos. Saudades de Natal. Saudades nossas. Exclusivamente nossas. Para mim, minha fé em Jesus Cristo é sagrada e não a profano. Eu oro em minha alma em joelhos. Natal para mim é também Jesus. Não importa de quem. Importa para mim porque Deus tem sido misericordioso com minhas falhas, rabugices e abnegações. Coração aberto para amar quem me busca. Dois dos ensinamentos que aprendi com Jesus quando dizem "misericórdia quero e não sacrifício" e "amar ao próximo como a ti mesmo". Tento exercer o Natal ao longo de minha vida. Dentro do possível, que Jesus Cristo seja a Luz em todos os corações hoje. Para quem crê e para quem não crê. Eu já descri. Hoje creio. Por isso persisto. Por isso amo. Por isso até me sacrifico. Por isso sou positivo. Coisa minha. Coisa também de Natal. Coisa de milhões e milhões. Em sincrocidade muitp forte.

À minha querida amiga Thaís Patriota

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Tenho um filho com você

- Um filho. Quando quiser eu tenho um filho com você.
- Como assim?
- Pensa comigo apenas e viva, meu anjo. Viva a vida. Tenha suas escolhas para ter seus erros e acertos. Há delícias nos erros e há decepções em acertos.
- Sim.
- Já errei demais. Poucos arrependimentos. Verdade que mais acertei. Não por sorte, ou por ser mais esperto, ou inteligente. Errei porque foi medroso. O medo nos faz acertar muito mais. Quer saber de algo?
- O quê?
- Não erro com você! Nunca errei
- Como assim?
- Você não tem vontade de nos fazer errar.
- Entendi.
- Com você eu não erro. Eu acerto. Viva a sua vida, meu anjo. Ame. Namorar. Case. Sempre feliz. Tente tudo o que você sente no coração que deve tentar. Seu coração é apaixonante e apaixonado. Você percebe as dores dos homens e das mulheres. Nesse sentido eu sei que você gostaria muito de estar lá para ser útil a quem sofre, chora, isola-se. Nem é questão de querer ser Deus na terra. A humanidade dorme com você na sua solidão, acolhendo-as. Você pode estar sozinha em alguns momentos. Sabe, porém, que a paz a acompanha. Quem ama e agradece por amar, chora em segredo sem importurnar-se com a dor. Não! Você não tem segredo. Tem cuidado. Você ama cuidar.
- Obrigada.
- Sou feliz. Deus me proporcionou minhas relíquias porque Deus sabe que sou medroso naquilo que amo incondicionalmente, e me ajudou a acertar. Por mim mesmo, não sei.
- Sim.
- Obrigado, meu anjo.
- Não sei o que dizer.
- Estarei aqui. Só quero que saiba. Do meu jeito. Sendo possível, sendo viável, sendo a vida favorável, você será uma mãe incrível, independemente do pai. Compreende?
- Sim. Obrigada.

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Quando Perdemos a Capacidade de Amar

Quando perdemos a capacidade de amar, não implica necessariamente falta de vontade de amar, ou mesmo de insensibidade de frieza e indiferença ao próximo. Somente não conseguimos realizar aquela ideia de amor com facilidade. Não iludo quem quer que seja. Quero amar, mas creio ter perdido a capacidade. Amar coloca em perigo a liberdade recíproca. Destruindo inclusive as ilusões e expectativas recíprocas. Começo a suspeitar que tenho perdido a capacidade de amar em nome de minha liberdade e falta de ilusão. Faço uma ressalva, claro. Perdi a capacidade de amar e de querer ser amado também. Porque ser amado é uma permissão que damos a uma vontade alheia a nós que nos quer. Não amo e não permito que me amem. Cabe a nós alimentar ou simplesmente estancar qualquer fonte que nutre o amor por nós. Temos de ter enorme desprendimento. Sem alimento, o amor nos amando enfraquece, definha e morre. Claro que eu temi estar entrando em depressão. Estive refletindo bastante nos últimos meses sobre esta hipótese. O que estaria acontecendo com meus sentimentos? O fato de não estar conseguindo amar implicaria eu não conseguir amar a mim mesmo? Ou estou desaprendendo os sentimentos, ficando apático e indiferente a eles? Essa possibilidade é real na vida humana, a apatia. Não é falta de felicidade, nem de tristeza. Ainda que  tanto a apatia quanto a felicidade possam ser reais. Assustadoramente reais. Depressão é apatia aos próprios sentimentos incapazes de existir em nós como antes. Voltar a ter depressão é quase que impossível à luz do meu tempo de vida atual e da autoconsciência da vida que tive, que tenho e que pretendo ter. Todo cuidado é pouco. Sofri depressão por quatro anos quando adolescente e início da minha maturidade. Não sabia o que aquilo era claramente. Nem eu, nem familiares e amigos. Terminaram-me tachando problemático, desajustado, antissocial. O tempo foi o senhor de tudo. O tempo esteve no controle. Particularmente, aprendi a amar a Deus nessa época. Superei o desconhecido. Dominei o desconhecido. Por temor que eu tenha, sofri demais para permitir sofrer novamente. Minha falta de capacidade de amar não vem de depressão, nem de melancolia, nem de tristeza, nem de apatia. Estou fugindo do amor por medo de sofrer o desprezo? Pouco provavelmente. Acho que não me preocupo mais com o que pensam de mim. Quero dizer, adoro viagens emocionais, expondo-me a muitas delas. Desde que sejam novas e sinceras. Refiro-me, por exemplo, se for convidado, a uma roda de fogo, com batuques e movimentos corporais. Vou. Batuco. E até danço. Fecho o ciclo sem ser mais ou menos do que eu era, senão nova experiência. Um dos grandes desconfortos na alma de quem escreve é não querer transmitir o que não agrega a quem lê. Inclusive o radicalismo poético de um recado simples, feito "eu amo você" pode ser mal interpretado. Se eu amar, certamente a pessoa quererá exclusividade emocional se ela me amar. Claro que não é bem assim. Por isso mesmo não me engano ao criticar a minha falta de capacidade de amar. Não é bem não amar. É desistir de continuar amando assim que o coração acelera e a mente começa a não se esquecer. Respiro e controlo-me. Exclusividade a mim mesmo é algo que quero. Não desejo roubar pessoa alguma dela mesma. Recolher-se em si mesmo tem um preço. E para pagar essa fatura de independência emocional estou relativamente bilionário. São os anos de muita vida emocional.

Não Posso Esperar das Pessoas

Não posso esperar das pessoas o que eu espero de mim. Por isso mesmo, se eu governasse o mundo tenho certeza que não declararia guerra jamais; por isso mesmo, se eu governasse o mundo não persegueria meus perseguidores; eu os toleraria, daria a eles voz para se manifestarem, daria o direiro deles desejarem guerra, mas não permitiria a guerra em momento algum. Se eu governasse o mundo nada de preconceitos a minorias algumas. Nem às frágeis, nem a minorias poderosas, que existem, chamadas de elite. Se eu governasse o mundo, o mundo seria um lugar bom para se morrer. Se eu governasse o mundo, não haveria paz. Haveria tolerância e proteção a todos. Posso julgar por mim se eu governasse o mundo. Julgo por mim se eu governasse o mundo. Todos saberiam ser mortais e teríamos tantas coisas boas para aproveitar nesse mundo que destruição humana alguma seria justificável se eu governasse o mundo. Não seria um mundo de amor. Seria um mundo com muitas disputas. Todas elas para curtir a própria vida. Música. Esporte. Estudos. Tenho certeza absoluta que se eu governasse o mundo, jamais haveria refugiados, escravidão, tráfico de órgãos, golpes. Julgo exclusivamente por mim se eu governasse o mundo. Mas eu governo em partes apenas a minha própria vida e minhas vontades. Por isso sei os valores que eu tenho nesse mundo.

Será que serei amada por alguém?

"Será que algum dia na vida eu saberei o que é ser amada por alguém?"

A pergunta foi feita para mim e me deixou por segundos sem saber o que fazer. Ela entrou como um drama shakesperiano. Eu não poderia dizer que sim, que ela seria amada por alguém. Ela perguntou sem olhar para meus olhos. O nosso contexto, porém, era que da parte dela eu declasse um amor inexistente e em seguida a beijasse na boca. Porém, nunca passou pela minha cabeça ficar, beijar, namorar ou mesmo amar essa jovem. À época, fazíamos USP juntos. Ela no mestrado e eu ainda formando. Ela me dava carona até um certo trecho e depois eu pegava o ônibus. Fomos assim por semanas e semanas. Sem eu perceber (eu era ainda ingênuo) cresceu no coração dela amor por mim. Fui vítima de minha própria gentileza, de minha sincera atenção, de minha natural preocupação  ao querer ser querido como amigo. Sempre fui comunicador. Ou melhor, sempre fui falante, a ponto de algumas meninas falarem "pare de falar e beija logo!". Não muitas. Umas três. Ela me traumatizou. Deveria ter ido a um psicólogo dias depois para aprender a entender que eu não tenho nada a ver com o sentimento alheio, sem ter culpa alguma, sem alimentar nada. Não tenho culpa de amar e não ser amado, e nem de ser amado e não amar. E nem de amar, ser amado e mesmo assim deixar quieto. Nem eu, nem ninguém. Como não fui a um psicólogo, nunca saiu de minha mente a preocupação se ela seria um dia amada por algum homem. Mas sim. Ela foi amada. Casou-se. Depois de um tempo perdi contato total. Nem havia tantos motivos para termos mantido contato. Mas perdi contato propositalmente. Um dos respeitos que levo muito seriamente em minha vida é quando uma pessoa com quem converso bastante, tenho amizade forte,  é solteira e começa a namorar. Tenho a elegância de respeitar o novo momento dela. Gentilmente me distancio. Muitos e muitos casos de amigas com quem eu tinha papo dos mais diversos e até confidenciais, ao saber que ela estava namorando ou mesmo evitava conversar, eu alegremente respeitava. Todos temos nossos momentos. Todos queremos saber o que é ser amado ou amada. Não é legal poluir a felicidade das pessoas. Falando em felicidade, demora - e meus jovens devem me ouvir! -, demora ser feliz. O tempo nos fará felizes. Porque antes entendemos a felicidade algo compartilhado e vem  em parte do outro. Somente no outro que aprendemos a ter sentimentos. Raiva. Vaidade. Arrogância. Fúria. Compaixão. Amor. Solidão. Paixão. Sem o outro, nada sentiríamos. Onde entra o tempo na demora para ser feliz? Sentir, sentir, sentir, sentir e sentir por anos e anos e anos. De tanto sentir, aprender que os sentimentos que achamos eternos e profundos, são infelizmente rasos e cíclicos. O que eu acho mais importante agora? É não desiludir e convidar a sentir intensamente as dores e as felicidades. Não ouça os mais velhos como eu. Sinta apenas. Não ouça não. Sentir é tudo. Se lá naquela pergunta inicial fosse-me perguntado hoje eu responderia "claro que será amada sim!" Tendo certeza ou não da resposta. Sou otimista. Por isso persisto. Quero sentir ainda. Convido também a sentir. Ao menos fica em nós a sensação cíclica que parece eterna. Mas não o é. A eternidade vem das criancas. Um paradoxo fácil de compreender pelos filósofos.

Temos Empatia

Será que somos, as pessoas, mais iguais do que diferentes? Ou contrariamente somos mais diferentes do que iguais? Antes de refletir, digo que foi o acaso. Um acaso que não me agrade a rima -ente de diferente e contrariamente. Pensei em mudar. O gasto de energia seria maior do que eu pretendo. E sobre nossa diferença ou semelhança, eu e todos os psicólogos sabemos que somos muito mais semelhantes. Temos empatia.

Primeiro que somos altamente previsíveis. A propaganda fala por si mesma ao entrar na mente da massa. Um pensamento único em milhares ou milhões de pessoas. As tragédias coletivas trazem um pensamento único de comoção. O feito de superação traz o pensamento único de esperança. A humanidade é igual. A fome crônica traz o pensamento único de injustiça. Os desvios dos padrões quase insignificantes que nos diferenciam.

Vi pela manhã um ser com um microfone, palco cheio, muita luz, um telão central enorme, três telões menores ao lado, e todos reproduzindo a mesma imagem. Era um palestrante. As pessoas, no afã de serem diferentes, pagam caro para crerem serem únicas e especiais, quando são iguais. São iguais até no propósito de não desejarem ouvir verdades desconcertantes. Sendo nossas experiências sensações, a ilusão cabe muito bem em sensações de experiências únicas. Eu acho injusto fazer todos se sentirem reis, que é uma sensação praticamente única na vida de um ser humano. Ser rei.

O tempo que se gasta para a especialidade tem sido encurtado. Quem diz não sou eu. Há um estudo bem bacana a respeito. Os gênios são aos milhares diante dos bilhões de seres humanos. Na arte de modo geral. Mas na ciência e no esporte também. Assimilamos bem mais rapidamente porque os treinos foram incrivelmente aprimorados. Imagine só o ato de ler. Bilhões sabem ler. Número imensamente proporcional dos que sabiam há cem anos.

Nossa academia de ginástica, nossas festas, nossas conquistas acadêmicas e profissionais, nossas viagens e nossos relacionamentos amorosos. Temos tudo isso em comum. Inclusive nossas angústias, nossas doenças psicológicas, nossos atos falhos querendo ser felizes onde somos ainda tristes.

Sua dor é a minha dor. Sua felicidade é a minha felicidade. Sua fraqueza é a minha fraqueza. Sua dúvida é a minha dúvida. Sua necessidade é a minha necessidade. Temos de certo modo apenas momentos diferentes. Ao final, somado tudo, há empate. Um empate técnico. Alguns podem até refletir sobre e colocar em palavras. Ou, quando fazem muito, leem as palavras concordando ou discordando. E não importa para um ou para outro. Ambos titubeiam. Ambos são indecisos. Ambos levam a vida. Cada qual contribui da sua forma para reconhecer um ao outro.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Capacidade de amar

Quando perdemos a capacidade de amar, não implica falta de amor no próprio coração, ou mesmo de insensibidade psicopática de desprezo ao próximo. Apenas não conseguimos realizar aquela ideia de amor. E não iludo quem quer que seja. Porque meu amar é "a liberdade do que fazer com a minha vida é minha". Sem ilusões e expectativas recíprocas. Começo a suspeitar que tenho perdido a capacidade de amar por isso. Faço uma ressalva. Perdi a capacidade de amar e de querer ser amado. Porque ser amado é uma permissão que damos a uma vontade alheia a nós que nos quer. Cabe a nós alimentar ou simplesmente estancar qualquer fonte que nutre o amor por nós. Temos de ter enorme desprendimento. Sem alimento, o amor nos amando enfraquece, definha e morre. Claro que eu temi estar entrando em depressão. Estive refletindo bastante nos últimos meses. O que estava acontecendo com meus sentimentos? O fato de não estar conseguindo amar implica eu não consrguir amar a mim mesmo? Ou estou desaprendendo os sentimentos, ficando apático e indiferente a eles? Essa possibilidade é real na vida humana. Não sentimento felicidade, nem ao menos tristeza. Pode ser real. Assustadoramente real. Porém, quase que impossível para mim à luz do meu tempo de vida e autoconsciência da vida que tive, que tenho e que pretendo ter. Já sofri depressão por quatro anos quando adolescente e início da minha maturidade. Não sabia o que era claramente. Nem eu, nem familiares e amigos. Terminaram-me tachando problemático, desajustado, antissocial. O tempo foi o senhor de tudo. O tempo esteve no controle. Particularmente, aprendi a amar a Deus nessa época. Superei o desconhecido. Dominei o desconhecido. Por temor que eu tenha, sofri demais para permitir sofrimento novamente. Minha falta de capacidade de amar não vem de depressão, nem de melancolia, nem de tristeza, nem de apatia. Estou então fugindo do amor por medo de sofrer o desprezo? Pouco provavelmente. Acho que não me preocupo com o que pensam de mim mais. Quero dizer, adoro viagens emocionais e exponho-me a muitas delas. Desde que sejam novas e sinceras. Refiro-me, por exemplo, se for convidado, a uma roda de fogo, com batuques e movimentos corporais. Vou. Batuco. E até danço. Fecho o ciclo sem ser mais ou menos do que eu era, senão nova experiência. Uma dos grandes desconfortos na alma de quem escreve é não querer transmitir o que não agrega a quem lê. Inclusive o radicalismo poético de um recado. Se eu amar, certamente a pessoa quererá exclusividade emocional. Claro que não é bem assim. Por isso mesmo não me engano ao criticar a minha falta de capacidade de amar. Não bem não amar. É desistir de continuar amando assim que o coração acelera e a mente começ a não se esquecer. Respiro e auto controlo-me. Exclusividade a mim mesmo é algo que quero. Não desejo roubar pessoa alguma dela mesma.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Experiência

Experiência pessoal que pode valer para algumas outras experiências. Foi numa diálogo com uma amiga sobre um tema diário que de alguma forma consome parte de nosso tempo e de nossa energia. Tempo e energia é aquilo de que precisamos. E paz! Depois que me separei em abril de 2014, eu tive alguns estresses em relacionamentos que não desejaria ter tido. Os estresses foram no conflito entre eu justamente o que eu tinha a oferecer e àquilo que pessoa tinha a me oferecer. Muitas vezes o desequilíbrio causa enormes desconfortos e sentimentos deprimentes a ambos. Falo em termos do que eu entendo de cuidado, preocupação e abnegação, que deixam as pessoas incrivelmente apaixonantes. Não creio em brigas, por exemplo. Não creio em desentendimentos. Não creio em birras e afrontas. Não creio em ciúmes. Não creio em competição explícita, nem implícita. Não creio em vantagens, apelos, nem em chantagens. Mas creio em momentos irônicos quando são exclusivamente para fazer rir. Sou muito irônico. Amo, aliás. Minha crença ainda é fazer todas as pessoas melhores do que elas já eram. Ainda mais se houver consentimento de cumplicidade. Afinal, qual é a essência ao relacionar-se com alguém? Não é ser cúmplice? Meu jeito. Nem sei se consigo, na verdade, deixar as pessoas melhores. Eu apenas quero. Tenho meus vícios e as pessoas têm os delas. Honestamente - tirando meus filho - meus quinze anos de casamento, em particular, me estagnou muito, sobretudo minha vida intelectual e profissional. Não viajei para uma pós no exterior. Não expandi-me como antes o fazia - publiquei meu livro só em 2013, e já tinha o livro escrito desde 2000! Nem mestrado fiz ainda. Nos últimos três anos de meu casamento, era eu fazendo comida, lavando louça e limpando casa. Justo? Justamente aquilo que eu não queria para a pessoa com quem fiquei casado, e presenciei limpando casa, passando roupa, fazendo comida. Não. Havia casado com alguém para ser do lar. Literalmente coloquei-a para estudar, fazer faculdade, fazer três pós, fazer algumas viagens internacionais etc. Ganhei ingratidão em troca. Melhor ingratidão do que a sensação de destruição. (Eu sei a importância do que eu quero sentir). Embora eu ganhasse bem, ainda que eu trabalhava formalmente 5 horas por dia, eu era acusado de ter tempo para poder cuidar da casa. Essencialmente, por meio de chantagens emocionais, eu cedia sabendo que estava tudo acabado. Não havia estudado para virar do lar. Era somente uma questão de tempo a separação. Hoje, com 42 anos, eu preciso tentar sair do estado atual em que me encontro, que é delicado porque todo recomeço do zero é uma incognita. Não me sinto mal. Minha forma positiva de transmitir otimismo e esperança. Por isso procuro não me enfiar em relacionamentos. Quero meu tempo, minha energia bem. Dou das mais variadas desculpas. Da falta de grana à falta de tempo. Pretendentes existem e na essência, muito legais, inteligentes etc., mas não posso exigir abnegação e compreensão na totalidade de meu delicado momento. Não vou ter muita paciência em um relacionamento em que o stress não seja evitado, e seja valorizado. Antes eu tinha, caso fosse necessário ter paciencia acima do limite o normal. Hoje não tenho mais. Eu não posso criar mais pequenos traumas em minha vida emocional, atualmente bem delicada. Veja que tenho até autocontrole para me autoanalisar sem inventar diagnósticos delirantes. Tenho minha paz para oferecer. E acho que é até muito intensa a minha paz. Profunda, aliás. Na verdade é das poucas coisas que sei que tenho para oferecer às pessoas. Ter a autoconsciência de que em qualquer momento que eu fique com uma pessoa, ela experienciará otimismo, verdades, cumplicidade, poesia, correção de pensamento, muita reflexao e muita compreensão. Em outras palavras, minha paz. O espírito humano somente sabe o que é paz depois que quase se perdeu em uma guerra emocional. Se já há alguém dando paz a você, encontre nisso amor e admiração. Valorize. É vaidade querer se feliz com opressão. Vaidade e egoísmo. Nós, brasileiros, não somos educados a respeitar verdadeiramente o outro - ainda que soframos por causa do outro. Oras, respeitar o outro é apoiar os projetos dele ou dela. O mínimo que podemos fazer é trazer-lhe paz.

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Diálogo

Diálogo 1

- Então realmente amor é um jogo? Eu acho que é uma escolha. Nem acho que o "amor aconteça também" (para nome de filme, o conceito serve). Não é nada  absurdo quando você permita que aconteça.

- Ponto fraco: aquilo que nos faz apaixonarmo-nos por alguém. Não há total impenetrabilidade. Todos tempos um ponto por onde entrar. Compreende?

- Entendo. Depois me faço compreender melhor. Mas, há de convir que descobrir o ponto fraco de alguém, pode ser usado não com a boa finalidade.

- Oras. Sera?

- Sim, há muita gente tentando provar que pode! Digamos que psicopatas do amor está cheio!  O que eu quis dizer é que parece um jogo usar as fraquezas do outro para penetrar no mundo do outro. Claro que quando se trata de uma conquista concreta, de alguém que realmente sabe o que quer, talvez seja válido. Achei interessante seu modo de colocar isso, porque muita gente usa isso apenas como um desafio: penetrar no mundo do outro, mas depois não saber o que faz lá dentro. Só problematizei seu ponto de vista!

Diálogo 2

- Não acho possível saber exatamente o que nos captura, nos enlaça. Podemos até dizer "Ah, eu não resisto a isso ou àquilo", mas acredito que na real, não sabemos.É um "psiu de luz".

- Pode ser. Mas seria mesmo esse "psiu". Exatamente. Esse "psiu".

- Ah, acho que é assim. Somos apenas capturados por algo.

- E quando nos traduzem esse algo, se for reciproco, as coisas caminham.

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Schopenhauer

NECESSIDADE DOS ATOS DA VONTADE

Que a vontade como tal seja livre, deriva do fato de que, tal como  consideramos a vontade, ela é a
coisa em si, a substância do fenômeno.

Este (fenômeno), como sabemos, é inteiramente submisso ao princípio de razão nas suas QUATRO categorias:

1 - Identidade: Maçã é maçã.
2 - Não contradição: Maçã é maçã e não pode ser ventilador)
3 - Terceiro Excluído: ou você está livre ou não está...ou você está amando ou não está.
4 – Causalidade: tudo o que existe e  acontece origina-se de alguma causa, ou seja, deve existir uma razão para sua explicação.)

...e como sabemos também que "ser necessário" é idêntico a "ser efeito duma causa dada", que as duas noções são recíprocas, dai resulta que tudo o que pertence ao fenômeno (da vontade), a
saber, tudo o que é objeto para o sujeito cognoscente (pensante) como indivíduo, constitui a causa por uma parte e, por outra, o efeito, que permanece determinado necessariamente nesta última
qualidade e de nenhum modo pode ser diverso daquilo que é. (Ou seja, a vontade é a vontade; não pode ser outra coisa e ela tem uma causa e um efeito: causa: o ser humano; efeito: realizar a vontade).

Tudo quanto a natureza compreende, o conjunto dos seus fenômenos, é absolutamente
necessário e a necessidade de cada parte, de cada fenômeno, de cada acontecimento pode ser demonstrada em qualquer caso, desde que se possa encontrar a causa de que dependem como
duma conseqüência. (qual a causa de a flor nascer?, qual a causa da água evaporar?).

Isto não oferece exceçôes e resulta da autoridade ilimitada do princípio de razão. Por outro lado, o mundo, em todos os seus fenômenos, é objetividade da vontade, a qual, não sendo ela própria nem fenômeno, nem representação, nem objeto, mas a coisa em si, não está submetida ao princípio de razão que é a forma de qualquer objeto: não é, portanto, o efeito duma causa, não é, por conseguinte, necessária; isto quer dizer que é livre. (A vontade é a maior liberdade possível).

O conceito de LIBERDADE é, portanto, um conceito NEGATIVO, porque contém, unicamente, a negação da necessidade, isto é, a negação da relação de efeito para causa, segundo o princípio de razão. (Ter vontade é ter liberdade; querer ser livre é querer satisfazer a sua vontade). Encontramos aqui, bem pronunciado, o nivelamento dum grande contraste, a união da LIBERDADE com a NECESSIDADE, de que tanto se tem falado nos últimos tempos e sobre o que nada se tem dito, que eu saiba, de claro e de sensato.

Qualquer coisa, como fenômeno, como objeto, é absolutamente necessária: em si, essa é a vontade inteiramente e eternamente livre (ter necessidade é a liberdade de nossa vontade). O fenômeno, o objeto, é necessária e imutavelmente determinado na concatenação (união) das causas e efeitos, que não admite interrupção de sorte
alguma. Mas a existência em geral deste objeto (vontade) e o seu modo de existir, isto é, a Idéia (da vontade) que se manifesta nele, ou, por outras palavras, o seu caráter, é fenômeno imediato da vontade! Esta sendo livre, esse objeto poderia, efetivamente, não existir, ou ser outro, original e essencialmente; mas nesse caso, também toda a cadeia, de que é circular, e a qual é também fenômeno da vontade, seria de todo diferente; mas, uma vez realizada (a vontade), esse objeto tomou na série de causas ou efeitos um lugar necessariamente fixado e já não pode ser outro, como não pode trocar, nem sair da série, nem desaparecer.

O homem é, como qualquer outra parte da natureza, objetividade da vontade; por conseguinte, o que acabamos de dizer aplica-se, igualmente, a ele. Como qualquer coisa na natureza tem as suas forças e as suas qualidades que contra uma ação determinada reagem duma determinada maneira, e constituem o ‘seu caráter', assim também o homem tem um caráter, em virtude do qual os motivos (seus motivos pessoais) lhe provocam os atos de necessidade. E por meio destes atos que se manifesta o seu caráter empírico (prático), que
revela a seu turno o caráter inteligível (incompreensível), a vontade em si, de que ele é o fenômeno determinado (o homem pode ter suas próprias vontades).

Mas o homem é o fenômeno mais perfeito da vontade: a sua conservação exigia que fosse assistido por uma inteligência de tal sorte desenvolvida que fosse capaz de elevar-se até ao ponto de tornar-se, na representação, uma repetição adequada da essência do mundo; esta repetição, este espelho que reflete o mundo é a concepção das Idéias (nas votades): apreendemo-lo no livro terceiro. A vontade no homem pode, portanto, chegar ao pleno conhecimento de si: pode conhecer clara e inteiramente a sua própria essência tal qual se reflete no mundo."

(Livro O Mundo Como Vontade e Representação, do filósofo alemão Arthur Schopenhauer - 1788-1860)

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Vejo o mar

Na praia de Boiçucanga. Vejo o mar ali, e o vento me afaga a temperança. A pele acalma-se suavemente pelas ondas e águas trêmulas incansáveis. Não é o pôr-do-sol ainda. Nem o amanhecer. Pergunto à minha reflexão em meu ermo existencial: o que são estas sensações, que sinto na pele, na consciência, no olhar? Sem resposta, a vida silencia-me a alma e me faz respirar profundamente. Lá, não longe de mim - estou na areia - vejo um barco feito pelas mãos dos homens. Ele sobre o mar, que foi feito pelas mãos de Deus. Eu não creio em acasos. E, por instantes, minha alma em conflito acalma-se. A arte me acalma. Busco na tarefa da escrita a eternização deste momento. E com uma fé exageradamente agradecida, deixo a vida sorrir para o mar, sorrir para os morros que me cercam, sorrir para o sol e para o vento. Por fim evoco Deus, criador de tudo isto para quem crê. E criador de mim mesmo, que creio, que sou passageiro neste mundo, mas aos olhos da eternidade, um milagre, semelhantemente a tudo e a todos que me cercam. E agradeço. Muito obrigado. Muito obrigado. Ser grato é o caminho para a paz interior.

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Crítica

"Perguntei para mamãe o que era a morte e ela me respondeu que era a vida na sua mais bela forma..."
                                       Contos Suaves - Flavio Notaroberto.

   Esse conto me fez lembrar de uma outra historia, uma menina aos 11 anos de idade, sua mãe muito doente, veio a falecer. Sem muito conhecimento sobre a vida e o que havia acontecido diante todo aquele sofrimento, se fechou para o mundo.
   Sem sentir o que queria realmente sentir, talvez por falta de conhecimento, preferiu simplesmente acreditar que a dor não lhe seria bem vinda, deixando e tentando simplesmente não deixar doer naquele momento, pois sabia que deveria ser forte.
    O problema é que a vida passou muito rápido, e dos 11 aos 24 muitas coisas havia lhe acontecido, era forte e sorria tentando não evidenciar que suas lembranças havia parado na época em que sua mãe vieste a falecer.
Se tornou madura em muitos aspectos e em outros era ainda uma criança rebelde e mimada, esqueceu-se da vida, não se permitiu sonhar, entrou em guerra consigo mesma, desacreditou da família, e muitas vezes de Deus e aos 24 para os 25 anos acreditou em superação.
  Nessa época ela despertou o conhecimento do Luto, permitiu sentir a dor que até então tinha guardado para si, caiu, chegou ao fundo do poço, pediu a Deus ajuda e buscou então poder sobre si mesma.
  O poder sobre si mesma era a pior fase, naquela situação os sentimentos era dominar-se a si mesma e entendeu que DESISTIR era, de certa forma, morrer em vida.
  Por anos ela havia falecido dentro de si mesma, sonhos era somente para quem estava vivo.
   Um dia ao observar um Girassol, perguntou para sim mesma, e se eu vivesse? Tivesse sonhos, metas? Acredito que minha mãe iria ficar orgulhosa.
  E foi ao pensar nesse momento que admirava o girassol, e lendo um verdadeiro conto suave  lhe disse, pela manhã: A vida na sua mais bela forma é permitir que os fatos acontece e que ela não teria poder sobre tudo, nem de si mesma.
  Permitir (se permitir) é a palavra chave, foi então que houve dentro de si um sentimento e o inicio de uma superação.
                         "A morte em vida"

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Trecho Miguelito

"Ouvindo, surpreso, encantado, apaixonado, antes de o padre Miguel fazer qualquer comentário, Mariana concluiu:

─ Esta é minha visão do que as pessoas entendem por fé: eu não tenho filosofia: tenho sentidos. Semântica são meus sentidos que traduzo através do meu corpo, que capta o mundo e o transforma em pensamentos.

Padre Miguel então sorriu com a alma, com os lábios. Foi de contentamento, não menos eufórico. Mariana voltou para cama. Devolveu-lhe parte do lençol. Ficaram agora abraçados, em silêncio. Fazia calor. O toque do abraço tem a dimensão de aquecer todo relacionamento. Ficaram abraçados por minutos. Silêncio. Religiosamente respeitado. Padre Miguel sem voz para expressar. Gostou de despertar desta forma. Sexo rapidinho para lubrificar o corpo. Momento de expansão para ter a certeza de que a alma existe. Silenciou até quando pôde. Seriamente quis fazer do silêncio o agradecimento. No início da tarde, ele tinha que ir à escola do Miguelito para uma reunião com o professor Zazen. Antes, ele diz a ela:

─ O filósofo medieval católico Santo Agostinho, você o conhece?

─ Só ouvi falar, respondeu sonolenta, que na verdade era letargia de felicidade.

Padre Miguel buscou de memória sua definição de Deus, escrita por Santo Agostino nas Confissões. Foi a pedra angular que o fez abandonar a futura carreira de médico.  Arrebatador para ele e para a sua depressão.

Mais sisudo, ele não se ergueu da cama. Nem tirou o lençol. Mariana aos seus braços, protegida emocionalmente das guerras dos homens. Ele vasculhou, de memória, os trechos de Confissões, de Santo Agostinho até descobrir a parte que lhe interessava. Não exagerou na dicção nem na retórica, nem na oratória. Foi mesmo com a simplicidade de quem está agradecido por ter alguém tão especial quanto a Mariana ao lado.

─ Presta atenção.

─ Fala.

Ele falou como se fumasse um cigarro e dava pausas para longas tragadas. A verdade, no entanto, era que ele segurava as lágrimas. Deixou escapar algumas, entre uma linha e outra. Relembrar era um filme pessoal que marcou dores, dividiu almas, fez de sua vida o que podia para não sair dela pelas portas do fundo e da solidão e da escuridão. Fosse entregue à dor, aquele momento na cama, aos braços de Mariana, não existiria. Não quis imaginar esta possibilidade, e foi citando as Confissões:

"Que eu amo, quando Vos amo? Não amo a formosura corporal, nem a glória temporal, nem a claridade da luz, tão amiga destes meus olhos, nem as doces melodias das canções de todo gênero, nem o suave cheiro das flores, dos perfumes ou dos aromas, nem o maná ou o mel, nem os membros tão flexíveis aos abraços da carne. Nada disto amo, quando amo o meu Deus. E, contudo, amo uma luz, uma voz, um perfume, um alimento e um abraço, quando amo o meu Deus. Luz, voz, perfume e abraço do homem interior, onde brilha para a minha alma uma luz que nenhum espaço contem, onde ressoa uma voz que o tempo não arrebata, onde se exala um perfume que o vento não esparge, onde se saboreia uma comida que a sofreguidão não diminui, onde se sente um contato que a saciedade não desfaz. Eis o que amo, quando amo meu Deus."


─ Interessante, disse ela. Continuo não crendo em Deus.

Ele sorria e se antecipou.

─ E eu continuo amando você, Mariana.

E tocaram os lábios com carinho e ternura. Era manhã despretensiosa.
Literária e filosoficamente, silenciaram agarrando-se. Nenhum contraditório supera as obrigações do dia-a-dia e eram quase dez horas da manhã. Padre Miguel tinha que ir à escola. Estava bom. Muito bom ainda amar desta forma."

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Jovens

Aos jovens deveria ser dado todo o monopólio dos sentimentos encantadores de descoberta; aos adultos a confraria de todas as sensações permitidas e vividas em que os sentimentos renovados passassem bem superficialmente como coisa nostálgica, sem a importância que o sofrimento e o deleite dariam a eles. Nós, homens e mulheres adultos, não somos uma casa sem moradia, ou melhor, não somos uma casa abandonada e baldia. Nossa memória faz o papel dos quadros nas paredes, dos livros na estante, dos filmes abandonados na prateleira, dos ambientes dispostos e mobiliados. Olhar para dentro de si, quando adulto, são paisagens descobertas sem espanto, sem assomo, sem assombro. São nossas próprias paisagens fugitivas e furtivas. Reviver sentimentos depois de adulto, claro, que é válido. Um 'novo' amor? Não sei, porém, se adequada esta disputa com a juventude. A juventude sabe que a dor da separação é eterna, que o amor correspondido é sublime, que nada neste mundo é mais importante do que os prazeres da liberdade e da própria vontade realizada. A pouca experiência dos jovens faz a novidade certa e única. Meus irmãos que consagram seu tempo à vida com a experiência de décadas passadas, como eu, eu os convoco à reflexão noturna ou quase diurna do Horário de Verão, com uma hora temporariamente roubada de nós. Deixemos aos jovens as reais descobertas do que já somos. Sofremos porque 'viver é sofrer', nos sugere o filósofo. Para os jovens sofrer é viver sem a mínima noção do porvir. Não há melhor compreensão do que somos, senão viver é sofrer. As décadas nos envolvem da cabeça aos pés inùmeros sentimentos contraditórios, e isto é sofrer. Nada sobra em nossa confusão sem paz. A não ser nossas memórias. Eu gosto de pensar assim: aos jovens suas vidas entregues às experiências; a nós as experiências como sinal de vida. Somos lá um tanto jovial, mas para que mesmo? Querer aprisionar o quê e com quem? Ser livre é seguir. Os jovens, sem saber, estão se prendendo para descobrirem algo que os adultos amam ter: a real liberdade. Terminou depois dos 30? Sorria. Definitivamente não somos mais jovens.

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Diálogo

- Deixa perguntar. Esta coleção de livros é para você?
- Sim, senhor.
- Tá bom. Quero que leia aquele livro de 1100 páginas. Aí eu deixo você pedir o que quiser (e eu vejo se posso).
- Estou na metade dele, mas eu estou lendo várias coisas ao mesmo tempo. Mas vou acabar mesmo! É bem dinâmico o enredo.
- Me fala o que gostaria de ter assim que terminar de lê-lo
- Não sei. Dinheiro.
- Filha.
- O quê?
- Dinheiro é importante. Mas ele deve ter alguma finalidade.
- Economizar e quando eu ver algo que gosto... eu o uso.
- Se você me disser que prefere ter a liberdade de escolher, eu entendo.
- Ok (:.
- 200,00 reais? Pode ser?
- Sim, pode. Mas se bem que ano que vem tem um festival. Vou pensar.
- Isso. Pensa e eu posso me planejar.
- Ok. Eu ia pedir de aniversário, na verdade.
- Quanto fica?
- Dois dias, 460,00.
- Quando você tem que comprar? Já está à venda?
- Já. E tem até o ano que vem.
- Em troca você termina aquele livro de 1100 páginas...
- Ok, mas aí não vai ser meu presente, né?
- Tá bom. O que eu quero é que você leia e simultaneamente curta a vida cheia de palavras para traduzir estas sensações todas. Bem, é isto.- Oks. Comecei Memórias Póstumas de Bras Cubas.
- UAU!
- O quê?
- Memórias Póstumas é para os fortes. Bem-vinda a um dos pilares da literatura universal. Um livro como este equivale a centenas de outros tantos. Se tiver qualquer dificuldade em qualquer ponto, me fale. Meu mestrado é sobre um livro de Machado de Assis. E li muitos livros a respeito. Inclusive grande parte da obra de Machado.
- Pode deixar.
- Ótimo. Eu iria dar umas dicas, mas acho que primeiro você tem de ter a sua leitura pessoal, sem interferência.
- Sem dicas.
- Eu sei.

domingo, 21 de agosto de 2016

Liberdade

"Quem criou sua própria realidade?" Muito raramente uma pessoa, que acompanha meus textos, me traz pontualmente uma questão. E ontem foi "quem criou sua realidade?", assim como está na foto.

Imagino esta pergunta, diante desta minha amiga, e o que a fez pensar sobre ela, e o que a pergunta em si a fez pensar sobre si mesma. "Quem criou sua realidade?"

Existe a história da Esfinge que parece algo semelhante ao desafio de quem somos, o que as coisas são e todo enigma em tudo em nossas vidas. Acalmar-se nos enigmas da vida demanda muita meditação, paz interior e sabedoria, porque a Esfinge - como qualquer Esfinge - era um monstro que devorava quem não sabia responder o enigma proposto por ela. Perguntas como "quem criou sua realidade?" são enigmas de fases de nossas vidas dos monstros dentro de nós mesmos querendo nos devorar, de dentro para fora, caso fiquemos sem respostas. Esta minha amiga deve ter sentido o poder assombroso da Esfinge dentro dela mesma, da mesma forma que eu mesmo o sinto, e creio que tantos outros sentem. E quem criou a minha realidade será a minha possível resposta para o meu próprio enigma, e preciso filosofar para a minha resposta. E, claro, de um modo um pouco poético.

Temos uma realidade inicial em nossas vidas. São os instintos. Forças biológicas que fazem as espécies sobreviverem e se perpetuarem. Dos filhores de pássaros aos de tartarugas marinhas, a sobrevivência inicial é o oculto obedecido cegamente pelo indivíduo. A pequena tartaruga vai para a água e o passarinho não sei para onde, mas vai para o ar.

Após os instintos, temos os sentidos, que são os cinco (olfato, tato, odor, audição, visão). Olhando para nós, humanos, no espelho de nossas memórias depois de envelhecidas, sabemos que os sentidos constroem o primeiro passo do frio, do azedo, do ruído, do opaco, da lavanda, para a grande maioria das espécies.

Após os sentidos, entramos no universo própria e essencialmente humano, "demasiadamente humano", e criamos os conceitos: do frio em oposição ao calor, do azedo em oposição ao salgado, da lavanda em oposição ao Bleu de Chanel.

Por fim, em nosso cérebro, os conceitos geram ideias e as ideias dentro de nossas cabeças geram a nossa realidade, ou as nossas realidades vividas e imaginadas. "Quem criou a sua realidade?" Parte da resposta está claramente dentro de nós mesmos. E esta resposta somente tem validade e existência diante de outra parte: qual a outra realidade fora de nós mesmos que nos cria sem que nos demos conta de que ela existia?

A pergunta agora é um pouco diferente. Alguém me perguntou: "Quem criou a sua realidade?", e dentro de mim meus instintos, meus sentidos, meus conceitos e ideias formaram parte da minha realidade. A outra questão que formulo é uma auto-reflexão: "Quem criou a minha realidade?" Eu pergunto a mim mesmo e espero as respostas agora fora de mim. Meus pai e minha mãe? A família onde nasci? A casa, rua, bairro e cidade onde morei? O idioma que aprendi a falar? As situações que eu vivi e as que eu deixei de viver? Os riscos a que me submeti e os riscos que evitei? As escolas onde estudei e os amigos e desafetos que tive? As oportunidades que não tive, mas criei, e as oportunidades que eu tive e as rejeitei? As palavras que mais ouvi do que falei, ou as falas que mais fiz do que escutei? As regras que obedeci e as punições injustas que levei? As injustiças que eu inconsciente ou conscientemente cometi e mesmo assim persisti acreditando que o errado não era eu? Os milhares de sims e nãos que recebi e dei? E dezenas de milhares de detalhes que não estavam em mim, justamente porque neste mundo raramente vivemos sozinho e que fazemos parte da totalidade do que somos e incrivelmente desconhecemos em nome do esquecimento. Por mais lágrimas que temos ou sorrisos que damos, os mais verdadeiros sempre são os presentes neste momento. Todo sofrimento e alegria é presente.

"Quem criou sua realidade?" e "quem criou minha realidade?" são movimentos que se complementam para uma resposta mais clara: nossos instintos, sentidos, ideias somentos a todas experiências sociais fora da gente com outras pessoas e meios. Se temos uma realidade, temos duas verdades sobre ela que nos fazem mais conscientes das forças internas que nos governam e das forças externas a que somos submetidos... e se pensa que a resposta terminou, uma última palavra vem em seguida.

Não importa. Definitivamente não importa muito quem criou a minha realidade, o que criou a minha realidade, onde, por quê e como. Importa muito o que somos e principalmente a consciência do que efetivamente queremos ser. Sou escritor por insistência; hoje sou produtor cultural pelas circunstâncias; sou professor pelo acaso; sou pai por amor; sou filho de inúmeras facetas: da rebeldia ao orgulho. Não importa quem criou minha realidade. Importa a consciência "dialética" que tenho dela. Importa sim qual realidade queremos criar em nossas vidas a partir do momento em que temos consciência de que temos uma vida real, "desconhecidamente real". As perguntas surgirão como monstros em forma de dúvidas para nos destruir, certo? Inclusive perguntas na boca das pessoas: "por quê?", "para quê?", "qual necessidade?", "você acha que vai conseguir?", "acha que é fácil?". Estes monstros.

Hoje é fácil encontrar uma resposta consciente que valha o preço da mudança. Temos mais facilmente consciência de que a vida caminha e que praticamente tudo caminha junto. Caminhamos juntos no mesmo tempo, ainda que em espaços diferentes. Todas as vidas fazem parte de algo chamado eternidade, por menor que seja para o infinito a porção de cada um de nós nele. Existimos. Sou otimista em não desistir e procurar fazer. Fazer de nossas vidas a realidade que queremos para nós. Talvez uma realidade incompleta porque dependemos de outras pessoas que amamos, mas que devem ficar na realidade delas para que possamos criar parte da nossa. Podemos ter uma vida a mais completa possível ao depender de nós mesmos. E como término, indico a leitura dos versos do poema Tabacaria, de Fernando Pessoa em que alguns versos dizem assim:

"Estou hoje perplexo como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro."

Creio na vida que cabe na arte. E que a arte tem mais realidade do que imaginamos...

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Diálogo

- Você acha mesmo que o ser humano, depois que tem experiências como eu as tive em um relacionamento de prisão, ele sentirá falta de outro relacionamento de prisão?

- Pensei em responser um monte de coisas.

- Pois é. Mas você sabe a minha resposta.

- Sei. E porque você está me perguntando isso, se você sabe que eu já sei sua resposta?

- Porque eu queria que já soubesse que eu sei que você sabe a minha resposta.

- Vá se lascar...

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Diálogo

Ela: Me declarei para ele novamente. E farei quantas vezes preciso for.

Eu: Sim. Eu ate sinto seu amor, sabia?

Ela: Você é muito sensitivo

Eu: Sou sim.

Ela: E eu sou uma eterna apaixonada por ele.

Eu: Já passei por cada situação!

Ela: Tentei por diversas vezes esquecer... Mas não consegui.

Eu: Deixa rolar. Só não deixe de viver, sair, ganhar seu dinheiro, viajar, ter amigos e flertar...

Ela: Sim...

Eu: Faz parte este sofrimento, desde que introspectivo para valorizar aquilo que você pode realmente ter.

Ela: Não deixo não. Tem razão

Eu: Sim. E não deixe de chorar, lamentar com as amigas e às vezes beber por não ser correspondida como gostaria...

Ela: Pouquíssimas pessoas sabem desse sentimento.

Eu: Então ele é sagrado para você

Ela: Ele é. E eu tenho zelo dele. Ninguém sente por mim o que ele me mostrou sentir. E o que até hoje eu sinto que ele sente.

Eu: Ele te ama?

Ela: Sinto que sim. Por tudo o que já aconteceu.

Eu: E estão juntos?

Ela: Não. Mas o coração sim. O olhar sim. A preocupação. A paciência.

Eu: Paradoxal, né?

sábado, 16 de julho de 2016

A Liberdade e a Solidão

Tudo já foi pensando. Tudo já foi escrito. Nem tudo já foi lido e pesquisado. Mas tudo já foi criado e estamos por enquanto por aqui neste mundo. Fazer o quê? Viver a vida com as angústias e delícias. Nas fases dos anos que a vida nos proporciona. Em todas elas o prazer é a estrela guia, o trio elétrico a ser seguida. Nem sempre realizado. Aliás, um poema do poeta Manuel Bandeira diz que "tudo é um milagre". O poema é bem simples e o final é demais de conclusivo. Fala da morte e não gosto falar da morte se podemos falar de amor e de esperança e de senhor. Para que concluir a vida para baixo? Estimular a liberdade nos outros é não esquecer de sua própria liberdade. Assim vale para os mais pequenos comportamentos humanos. Nunca reparou que o covarde e o negativo não querem outra coisa das pessoas senão a covardia e a negatividade? Na minha separação - faz tempo que não falo dela -, conturbada depois que eu saí de casa, disse à minha filha que uma das razões de eu ter me separado era poder viver e retomar minha vida sufocada.
- Filha, papai não fez mestrado, não fez doutorado, somente publicou o primeiro livro aos 39 anos e praticamente parou de ler e se anulou. Eu eu lia mais de oito horas por dia antes de casar-me.
Ela bem sincera se posicionou:
- Pai, eu não tenho nada a ver com as frustrações pessoais da sua vida. Não são minhas.
Não me ofendi. Gostei de ela ter opinião. Espero que ela mantenha e  tenha a coragem de se posicionar também diante de quem não brigaria com ela por este motivo. Pois bem. Aos 42 anos reviver projetos como fossem a alegria da descoberta da liberdade natural e cultural, artística, com os pés no chão é muito estimulante. Nada de deixar a vida levar, a não ser que este seja o propósito da escolha da pessoa. Sei de todos os limites. É que liberdade causa dores. Tem de saber se suportará. Porque a liberdade é o caminha da plena solidão. Já tenho sim minha parte e me sinto bem com ela...


Diálogo

Ela: Gratidão por compartilhar. Gostei desta parte "Somos início, principalmente. Fim? Claro, a partir de um certo momento, recomeços já cheios de histórias."

Eu: Exato. E você está em recomeço cheia de histórias?

Ela: Sim. Todos os dias, eu acredito ser um recomeço! Sempre podemos acordar e fazer diferente.

Eu: Amém. Mas há os recomeços de fato. Sabe quando decidimos ou somos obrigados? Tipo, desemprego, separação, falecimento de alguém etc. Aí os recomeços são parte de continuar ou desistir...

Ela: Sim.

sexta-feira, 24 de junho de 2016

Cirurgia da Virgindade

Cirurgia que promete trazer a virgindade. Não sei se masculina ou feminina. Provavelmente fenimina. E sobre isto tive uma experiência interessante. Eu me relacionei com uma jovem. Linda, inteligente, apaixonante. A idade foi um fator para mim. Vinte e um anos de diferença. Ela teve um relacionamento acho que por quatro ou cinco anos. Eu no meu momento delicado, pós separação, vivia muito confuso e atrapalhado. Mesmo assim, foi muito bacana. Bacana e verdadeiramente verdadeiro. Certa vez eu pergunto a ela:

- Sobre a pessoa com quem se relacionou por tanto tempo, quando você acha que o deixou de amar.

Estávamos dentro do meu carro. Iria deixá-la no metrô. Ela me olhou e me disse:

- Eu acho que não sabia o que era amar antes...

Marejaram seus olhos. Ela abriu a porta do carro. Saiu às pressas, ainda que eu insistisse para não ir. Confesso que meus sentimentos ficaram confusos, e falo como quem agradece poder entender algo muito pessoal. Entendi que tirar a vingindade de alguém representa muito pouco. E me explico. Porque naquele momento trouxe para mim uma responsabilidade muito grande. De certa forma, ela aprendeu as delícias e tormentos de amar através de mim. Um homem que tira a virgindade emocional de uma mulher e vice-versa não tem operação que resolva. Prometi a mim mesmo tomar o máximo possível de cuidado com ela. Afinal, temos uma geração de diferença. Eu poderia ser o pai dela, da mesma forma que o Michel Temer poderia ser o avô da Marcela Temer. Tratei meu relacionamento con ela com o cuidado que era possível. Errei muitas vezes. Mas creio que ela sabe que jamais abusaria do amor, ainda mais do amor tão virginal, tão casto, tão imaculado que estava surgindo para, como disse, as delícias e dores da vida. Quando aprendemos a amar, definitivamente entendemos que jamais teremos psicopatia, na essência técnica do que significa psicopata: frio, insensível, indiferente, calculista, egocentrista...

domingo, 19 de junho de 2016

Poema

A Noite e Clara

Era noite ainda.
Clara disse,
Olhar solto,
Era tímida,
Que amar,
Assim de dia,
Sua vida vivida
Muito mais ela a
Prolongaria.

Clara sorriu.
A timidez coloria.
Buscou no chão
A tal solidão
Que sentia.
Clara, timidamente,
Chorou seu sorriso
E gritou no silêncio:
"Sempre amaria!"
Dor passageira.
Uma hora, sim!
Sim, qualquer hora,
Ela, a dor, em lugar,
Em lugar algum
Desvaneceria.

Sua felicidade,
Clara, claro, clarearia.
O dia veria da noite
Sombria. Clara iria.
Era a noite posta
Ao vento posta
Os uivos sons...
Sombrios, noite fria.

"Clara, clareou o dia!"
O dia lhe sorria.
Confusão do amor.
Que amor haveria?
Era a voz da alegria.
Cantou Catão o amor.
"Nosso dia clareou!"
O amor uniu
A solidão de Clara
E de Catão o desespero.
"Volta para mim!"
Não podia, poderia.
E vivem amantes
Feitos ares fugazes
Paixão de dia e noite.
Paixão eterna
De noite e dia.
Eternamente dia.

Poema

O Ar Vazio

Anjo da minha alma.
Anjo da minha vida.
Saem tão soltas as palavras.
Do espanto, do susto.
Por um momento não sei.
Não sei onde termina.
E estendo meus braços
Para alcançar os seus;
Elevo-os ao ar e no ar ficam, suspensos.
Indo, buscando, mas o vazio frenético.
No vazio repousam agitados.
Permanecem intocados.
Dá-se lhe qualquer nome
Que um dia traduziria o inalcansável.
Anjo da minha alma.
Anjo da minha vida.
Marcas são o que ferem a luz do ar que me sublima.
Então o ar em si termina.
Termina como no breu a vida.
Os braços se recolhem.
Vivos.
Presos na ilusão do vazio.
Vida, a viva no toque da eternidade.
A rima, uma rima, qualquer rima.
Saudade, saudade, saudade.
Meu recanto, meu encanto, meu canto.
O ar vazio.

Flavio Notaroberto

domingo, 29 de maio de 2016

Sensível

Não é que a mulher não aceite um homem mais insensível. É que a sensibilidade cria empatia e a empatia vicia porque há cuidado. Que querenos? Como, então, deixar de lado a sensibilidade para ser mais um que passou na vida de uma sem memória afetiva? Imagino a possibilidade de um curto período ser uma vida toda, cheia de agradecimento ao fim. Conhece-se; vislumbra-se; ama-se; agradece-se; despede-se. Como um fim de casamento de longos anos, de uma vida inteira. Claro que falo egoisticamente. Eu que sempre cri em relacionamento estável, ou sinto a estabilidade nos momentos juntos. E o retorno à solidão quando no primiro adeus. Cada qual tem lá a sensibilidade, seja no objeto, seja na palavra, seja inclusive no olhar silencioso. Escrevi algo que a arte potencializa sentimentos. Não sensações. Mas sentimentos. E sentimento potencializado é uma força apenas cujas consequências deveriam ser o momento em que se vive. Já me apaixonei por minutos. É uma vida tão verdeira refletida no ritmo que respiramos. Ponto de ônibus tem muito disto. Foi amado e amada até linha chegar. Ao passar da catraca, separação. Ainda mais se apertado no desconforto. Sim. Existe aperto cheio de conforto sobre o qual não falarei. A imaginação resolve por si mesmo os espíritos já provados. Bem, domingo, dia do início da semana. Dia real da preguiça. Esquece segunda-feira. Esta última é do renovo e do desespero. Somente quem sabe ou já soube a dor de viver sem sentido (dos meus 18 aos 22) compreende a real segunda-feira. Hoje eu a amo. Porque superamos toda dor quando o amor nos habita. E falando em habitar, permita que habite momentos em seu coração. Ainda mais quando cheio de emoções e experiências.

quinta-feira, 28 de abril de 2016

Sofrer

O sofrer faz parte até onde você quer, quando você aprende a respeitar os seus próprios limites, impondo se já não é mais sofrimento, pois de tal modo já está tudo determinado por você. Eu definiria como martirizar-se , e acredito que não seja nenhum pouco maduro.
Maduro é estabelecer tal limite e seguir aquilo que foi imposto. Logo haverá outro caminho. Maduro é manter o foco e os pensamentos livres para encontrar outro caminho caso seu foco seja deturpado. Maduro é Restabelece as prioridades arbitrárias em meio a caos manter a calma e redirecionar o foco.
Quem continua no sofrimento só está mostrando o quanto tem medo de seguir em frente. E permanecem no sofrimento, porque agora o medo é de ser feliz.

domingo, 17 de abril de 2016

Minha Musa na Praia

Na praia, ao sol, sozinho, sobre a cadeira, sob a sombra, com o livro Esaú e Jacó às mão, em leitura reflexiva. Começo a admirar uma mulher que curiosamente já havia visto meses atrás. Mesma praia. Mesmo local. Da outra vez - creio em janeiro -, eu a busquei muitas vezes com o olhar, porém, um tanto distante. Ela está em família: muitas crianças e adultos. Ela tem dois filhos pelo que senti, e provavelmente não casada, mas sim solteira. Vou acreditar nisto. Quanto aos segredos de seu coração, eu poderia conhecer trocando algumas palavras, que pode ou não acontecer. Seria incomum. Geralmente buscar alguém tão próximo e distante causa um medo justificável. Ela tem ares de quem vive na casa dos trinta anos. Caso tenha seus quarenta ou mesmo seus vinte, peço perdão e culpo a beleza feminina e seus adornos artificias que roubam anos do senhor tempo ou acrescentam. Idade é uma perspectiva. Digo que é uma menina que tem em si todas as possibilidades de seduzir os jovens, emanorar-se dos homens de trinta e encantar os quarentões como eu, que já incluo os cinquentões e sessentões. Já os setentões têm outra natureza sobre a qual deixo para o bom ou o mau da velhice de cada um.

Esta minha musa - eu a chamarei de musa só pelo estilo fino de escrever poeticamente - traz a saúde nos belos músculos cuidados com boa dose saudável de exercícios. Os músculos, seja nas costas, no abdômen, nas coxas e panturrilhas, me intimidam pela minha grande barriga. O brilho de um bronzeado belíssimo já imprime uma cor docemente estimulante ao visual de quem a vê, pelos músculos, pela cor, pela pele. O cabelo preso, uns óculos escuros, um chapéu de aba dizem ao sol e ao vento que nem tudo o que queremos podemos ter de uma mulher com vontade própria. Liricamente, nem a brisa do mar, nem a luz que nos queima terão acesso à sua face, aos seus olhos, aos seus cacheados. A combinação entre a água do mar, as ondas que vêm e quebram à sua cintura, o som de vozes abafadas pela natureza e seu corpo inspira quem vai além da luxúria. Eu a olho e a desejo como homem, mas quero sentir toda poeticidade, por isto escrevo. E neste ponto que eu entro e viro uma incognita.

Palavras buscam palavras para momentos singulares de emoções. As perguntas raramente antecedem os fatos emocionais. Geralmente os porquês vêm depois do convívio, e as dúvidas, incertezas, angústias roubam nossos sonos e pensamentos. Incrivelmente, hoje nos anos dos meus 40, eu antecipo as perguntas das possíveis dúvidas e faço da vondade do meu coração parte do que me basta sem a necessidade de realizar minha vontade de modo precipitado, estabanado e encantador. Sedução e encanto é fazer do outro um objeto apaixonado pelas memórias ouvidas, vistas, sentidas. Apenas memórias.

Gosto demais de inspirações poéticas e emocionais como despertadas por esta minha musa. Bem alguns meses não sentia tal liberdade ao escrever. A prisão de um escritor está na sua pouca produtividade, seja por cautela, seja por sentimentos reprimidos e opressores. Não escrevia desta forma e conteúdo pelas três coisas. Sinto-me livre agora para escrever. Há discórdias e dessabores aos tantos. Há dúvidas roubando presentes e passados. Há dores criando doenças e esfriando o amor. Fico imaginando eu poder pegar este texto e mandar para ela e dizer:

- Escrevi pensando em você aqui na praia.

O perigo também será duplo. O maior é ela chamar a polícia e os parentes para me espancar por assédio e temor pela sua liberdade de ser livre e bela e interessante sem ser inspiracão de vagabundo algum com ares de poeta. Ela está com os filhos e um mundarel de parentes, e, vê-se, família com certa unidade. Sem dizer da especulação mais saudável para mim de ser solteira. A outra hipótese - a menos provável, porém a mais temida e pior - é este texto ser acolhido com curiosidade e despertar encanto e sedução em sua alma. A curiosidade desconstruirá todo assédio, todo medo, todo receio, todo temor, toda covardia que roubam sonhos, presentes e futuros. Ela se interessará por mim e eu por ela e viveremos momentos intensos de felicidade compartilhada. Claro que não vou apresentar este texto a ela. Somente a quem possa ler com meio sorriso de imaginação nos lábios da alma. Existe uma outra possibilidade de minha vontade ser algo pessoal, e tudo aquilo que projetei em fantasias desmoronar à troca de algumas palavras com ela. Sou muito chato. Eu projeto ideias. Nem todos compreendem que ideias existem para algo interno. Ideias não são fatos. E o fato é que ela há muito saiu da água e, ainda sobre a cadeira e sob a sombra, me concentro exclusivamente no que escrevo. E vale dizer: mulher quando apaixonada anseia exclusividade, do contrário sua ideia de amor dissolve-se no ar por meio de discussões e opressões. Não. Um escritor deixa tanto as discussões quanto as opressões para seus personagens. Quando muito o que qualquer escritor quer é fazer isto: sentir na imaginação para escrever a outras imaginações...

Flavio Notaroberto

Coração das Pessoas

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Persistir na verdade. A verdade para mim é o que é próximo de fazer o que é correto. Há verdades universais que não nos pertencem, muito embora nós a percebamos com a razão, com o pensamento que nosso cérebro constroi magistralmente.

A inteligência é o exercício diário de nossos pensamentos relacionando tudo o que for possível para pensarmos cada vez mais e mais inteligentes ficarmos.

Devo admitir. Neste exato momento, sinto-me aliviado. Os últimos dias foram daqueles que nos ajudam a valorizar nossos momentos de paz.

Eu disse dias atrás que muito de nossa paz vem do outro, porque o outro tem este poder de acabar nosso sossego e raramente nos deixar em paz. Sei lá o que acontece. Mas o que acontece é quase isto: poder respirar tão calmamente que os segundos passam a equilaver a horas, tamanho o desprendimento do tempo; tão lentamente respiramos que o tempo congela e sabemos o que é agradecer e respirar em paz.

Por este motivo a chave - escrevi no início - é persistir. Persistir na verdade. Contra ela, você somente será caluniado, difamado, desrespeitado e mais nada. Você está na verdade. A verdade tem começo, meio e fim. Somente. Já a mentira...

Adoro poder palestrar a respeito disto. Adoro poder levar um pouco de reflexão às pessoas e aos jovens, sejam em aulas ou palestras ou nos meus textos.

Quando queremos mudar o mundo externo é óbvio que queremos ter poder, mandar e subjulgar os outros; quando nossas atitudes ajudam a mudar pessoas individualnente, nosso muito interno tem auto-confiança suficiente para saber o que quer e a que caminho ir. Ir ao coração das pessoas. Que elas descubram seu mundo interno para o expandir cada vez mais...

quarta-feira, 13 de abril de 2016

Diálogos

A: Bom dia.

B: Bom dia!

A: Beijos e beijos ontem em 10 mim. Mas acho que voltamos simmmm!

A: Gostoso isto. Olha. Como disse, para uma mulher intensa conquistar o coração de quem ama e é amada, tem que "abrir-se toda, sem permitir o coração duro."

B: Extamente. Perfeito. E foi assim. Não fiz nada. Só acolhi o ❤ e aceitei o caminho.

A: Que bom. As mulheres se encantam no convívio e se apaixonam. Antes eu dava espaço e oportunidade para prolongar o relacionamento. Minha experiência demonstrou que não durava muito. Sou terno de um lado, e muito exigente de outro. Exemplo: não tenho paciência para discussão que acho incompatível com certa idade: ciúmes, busca de atenção exagerada, chantagem de qualquer natureza etc. Por isto, as mulheres pecavam justamente neste encantamento. Elas se perdiam diante dele. E se envolviam nele. Mas mantinham o coração duro, cheio de verdades próprias como escondendo a fragilidade, e cheio de certezas que foram construídas em outros contextos fora do meu. Maturidade e certa doçura vem ao colocar de lado esta dureza que afasta as pessas que se amam. Creio que tem de ceder os dois. Sobretudo a mulher. Nem sei se é machismo de minha parte, ou a convicção de que uma mulher tem mais poder de compreensão do que o homem. Nós amamos uma mulher e por isto somos cobrados pela sociedade a proteção a ela, caso ela nos corresponda. Uma mulher ama um homem e a cobrança social tem outra natureza. Por este motivo, se uma mulher consegue deixar o coração leve no relacionamento e a alma superiormente compreensiva, acho que ajudará a dar certo a vida emocional para ambos. No meu caso, o que observei com as mulheres em minha vida, ao invés de permitirem a doçura e responderem positivamente, me cobravam algo que eu não esperava e nem tinha como dar. Nem quero detalhar o quê. Fato é que um homem espera de uma mulher compreensão assim como ela espera dele. Oras, se somos adolescentes, temos nossos valores dos anos de vida que temos; se somos já experimentados em tantas dores e delícias, não dá para descartar este tempo de vida e ponderar. Ceder é para os dois. Amolecer o coração meigo é para as mulheres como acolhessem filhos ou bichinho de estimação.

As Trocas nos Jardins

Quer ser mais uma rosa querida? Meu jardim é amplo. Há espaço confortável. Prometo regar com muito cuidado. Todas as plantas. Todas as rosas. O sol e a terra, porém, são exclusividade minha. Levo água para o jardim. Coração? Trancado. E com preguiça de abrir. O mundo do lado de fora está muito confuso para a simplicidade com que escolho as palavras mais complexas possíveis que dizem as coisas mais triviais possíveis. Seja rosa se lhe apraz uma pequena porção do jardim. Não seja chave de portas. Seja uma vida em comunhão com outras, sem a pretensão de abrir o que quer que seja do objeto que não precisamos ser. A chave abre portas; a rosa dialoga com o meio onde está. Coração metaforicamente trancado. Jardim florido, sempre para mais uma rosa querida. Seja rosa. Sejamos jardins. Posso ser uma erva largada em qualquer acolhedor jardim. Me importa as trocas nos jardins. Apenas nos jardins.

sábado, 9 de abril de 2016

Entre em Minha Vida

Entre em minha vida, meu anjo.
Entre em minha vida.
Eu a acolho bem.
Se for de poesia melhor ainda.

Meu único bem que me faz algo bem são os poemas que vêm.
Poemas com o olhar.
Verá meu silêncio em a amar.
Eu não sei o que entregar.
Não sei bem como falar.
Sei que posso alma com alma.
Minha alma com sua alma.
Não sei explicar.
Caso saiba, não o quero.
Tenho medo da ilusão.
Não de me iludir.
Não mais.
De iludir os sonhos perdidos.

Entre em minha vida, meu anjo.
Posso a ajudar.
Ajuda de quem escreve e descreve e transcreve, inscreve a palavra que a quer para seu bem se bem eu for em você.

Entre em minha vida, meu anjo.
Os beijos podem ser mais dos mesmos.
Os abraços toques viciados.
Os carinhos sobras do que sou.
A entrega uma vida só compartilhada.
A idade corrompe quase tudo.

Entre em minha vida, meu anjo.
Ainda assim eu insisto.
Amo a palavra amor mas amar para mim é não-apego, é não-carência, é não-dependência, é não-prisão, é não-não.
Mexeu comigo ainda que amigos.
Mexeu muito comigo.
Não tenho o medo de pensar em mim.
Penso em você com o cuidado que o não-eu merece.
Creia em você.
Comece a sentir um quê de emoção.

Entre em minha vida, meu anjo.

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Uma Hora o Amor Acontece (conto)

Ela veio até mim na distração de minha solidão. Eu estava deitado em casa. Na cama pequena. Distraído, cheio de pensamentos e ideias soltas. Início de noite. Fazia calor como da vez em que sentamos e bebemos e conversamos. Ela começou a surgir entre sorrisos e olhares. O cabelo preto e longo, num corpo pequeno, fino, elegante. A imaginação passou a palavras soltas, sem som. As palavras eram as imagens de sua boca sorrindo. Cenas e mais cenas desconexas cuja lógica era meu anseio de pensar nela, mesmo porque nosso contato limitou-se a meia dúzia de falas pessoais e a apenas um momento de aproximação, lado a lado, sentados, claramente com ardor por toques, que gerou olhares diferentes de minha zona de conforto racional e iniciei a amar. Pude humanizar-me. Ela amadureceu mais ainda a mulher que se escondia no jeito pueril e inocente e solto das meninas-mulheres exigentes de um amor maduro e acolhedor. Não um amor para sempre. Mas um amor para si até quando durar.

No boteco, em um roda de cerveja, mais duas pessoas, ideias desde filosóficas, políticas, alternando seriedade e comicidade. Sei fazer rir. Sei fazer pensar. Sei fazer apaixonar-se. As horas evaporaram-se. As palavras jogadas à mesa, engolidas na bebida e mastigadas com batata frita fizeram o tempo passar como as pétalas das rosas colombianas, que caem, ainda que das mais belas. Compreende meu particular grau de contentamento naquele momento de amar? Depois eu a levei para casa. No caminho deixei de ser menos obtuso. Quando a sós ultrapassei um limite que toda mulher exige que o homem, a quem ela tem curiosidade, ultrapasse para que o recuo parta dela e assim diminui o fogo, o pó turvo da emoção volta à forma inerte e incólume, a água fria imprópria para consumo desacelera o rítmo cardíaco e os papeis do homem e da mulher no jogo de conquista ficam claramente desenhados: eu avanço, ela recua, até o momento em que ela cede e a mim é permitido sentir seu beijo e sua vontade de saber como é minha intimidade. Antes sussurrei em seu ouvido algo que mantenho no devido segredo para minhas próprias neuroses. Ela retribuiu com um sorriso que aqueceu a minha alma; me despertou prazeres; me fez reaprender mais fortemente aquele troço esquisito do amor que sobe e desce. Momentos de uma felicidade expansiva. Depois, certezas de uma felicidade reprimida. Acho natural o movimento no jogo do amor a expansão e a retração. Inflamos na felicidade; retraímos jogados à solidão.

Não posso dar detalhes dos caminhos por onde fui com ela, dos bairros por onde passei com ela, das cervejas que tomamos, das circunstâncias em que nos conhecemos, das ideias dos poucos conhecidos em comum que compartilhamos, do que ela faz da vida e da vida que eu vejo em sua intimidade. Mais vale a certeza da dúvida na arte ao dar existência às impressões na alma do que fragilizar-se na construção do seu castelo de areia sentimental para ser bombardeado com chuvas de invejas. Nem todos vêem beleza nos amores. Amar uma mulher para um homem é um ato individual, respeitado por quem sabe realmente amar. Deve ser semelhante a todos. Quem não sabe amar e nem sofrer acusa os amantes de fracos idiotas alienados prontos para arder em vão. A arte é uma arma e tanto. Imagino quem possui apenas sentimentos sendo obrigado a conviver com eles sem escape. Escrevo. A natureza de quem escreve é a certeza da primeira impressão de quem lê. Está aí meu conforto e meu sossego. O quadro que se olha internamente lendo uma história de amor são raízes ocultas da leitura de suas próprias vivências. Eu olhei para ela e disse:

- Não fosse a circunstância da sua vida, eu amaria namorar você.

Ela sorriu. Quase me convidou para um beijo. Não fosse o boteco onde estávamos... A coragem de beijar pode vir em um boteco. Mas quando o meio é a favor do beijo, explora-se mais o todo da troca emocional. Sem dúvida. Penso, por este motivo, que, de alguma forma, ela considerou como um elogio minhas palavras "amaria namorar você", porque foi apaixonante a harmonia do olhar receptivo dela, dos lábios chamativos, do silencioso laço que as nossas almas nos buscavam. Existem elogios que se faz exclusivamente no desejo e na vontade. Se eu materializei meu desejo, ao menos ela sorriu para a minha vontade com aqueles modos que uma mulher, na sua intuição própria sem palavras, sabe muito bem onde mete os pés. Sem dizer que sentir-se amada, ou desejada, ou querida por quem filtra muito bem as palavras que escolhe assemelha-se aos achados daqueles diamantes preciosos. Fui ourives e ela um bem valioso, uma pedra rara, uma relíquia emocional.

- O amor acontece, eu escrevi a ela semanas ou dias depois deste encontro.

Neste momento houve silêncio absoluto. Não nas palavras. Continuamos a nos corresponder normalmente. Ocorreu que o vazio moldou os contornos do "invisível" no que ela escrevia para mim. Quando uma, entre duas pessoas, a conversa gira em torno do clima quente ou frio na cidade de São Paulo há duas possibilidades: primeiro a aproximação; segundo o distanciamento. Tanto em uma como em outra situação o espírito oculto aparece, o espírito "invisível". Geralmente ele é capaz de entrar em nosso ser. Dizer as intenções. Fazer-nos reapreender. Convencer-nos de permanecer ou sair. No meu caso, eu saí. Saí porque no fundo a vontade dela era que eu permanecesse. Há realidades que são mais sensíveis do que nossas verdades. Em seguida, voltaram minhas palavras a ela "não fosse as circuntâncias de sua vida, eu namoraria você." Não a namorei. Mas eu a enamorei.

Ainda me peguei refletindo e escrevendo sem os detalhes da alma plena. Antes de dizer que o amor acontece, escrevi algo pensando nela. Benefício da arte, como disse, que veio assim:

Alguma vez o amor já terminou em seu coração? Provavelmente não. O que ocorre é que amores aparecem aos montes e se sobrepõem. Ainda mais amores espirituais em que a alma gosta demais da presença daquela outra alma. E não tem idade nem beleza. Há vontade de estar junto e ser lembrado constantemente para não ser esquecido. Uma foto. Um áudio. Uma canção. Um verso. Uma palavra. Admito, como alma aberta, que meu coração vive agora de um incipiente amor, sem que nossas almas se comuniquem com ternura e afeto, ainda que se busquem. Parece que não há atropelo entre nós. Nem sei quanto tempo durará. Porém, ele, este amor, me parece tão meigo. Eu tenho para dar o que ela quer receber; eu quero dar o que eu tenho; e ela quer receber de mim o que eu tenho. Um vício positivo. Uma comunhão. Parece sim uma troca. Eu gosto deste sentimento de troca. Gosto de sentir, aliás, coisas boas. Há momentos que saber os atalhos da alma causa um amor mais arrebatador do que a beleza e a fortuna da riqueza material. Somos humanos. Carentes de essências para viver acolhidos em nós mesmos. Podemos comprar o mundo e olhar e ter as perfeições mais lindíssimas. Quem, no entanto, aguenta a solidão na escuridão de um quarto sem uma troca de essência? Neste momento, considera-se a essência, e é neste momento também que as almas tem valor. É bom gostar. Sentimento que se renova e nos renova. Eu estou gostando, por hora, de uma simples ideia que entendo amor. Uma ideia em minha alma. E sei que está gostando de mim. Faz parte. A vida caminha assim. Desde que haja bontade reciprocamente, eu creio que seja válido o sentimento.

Fez sucesso entre quem lê o que escrevo. Falei para ela. Ela o leu. Refletiu a respeito. Expliquei o contexto. Senti mais uma vez aquela invisibilidade comum a quem ama e não pode nem dizer, nem crer, nem admitir, senão reprimir. Tomei a minha coragem frágil e lhe revelei:

- O amor acontece.

Em seguida pedi algumas desculpas tamanho o cuidado que temos de ter ao entrar pelas portas dos fundos na vida das pessoas quando começamos a amar. Amar é um convite para ser e estar presente nas mais íntimas trocas que a dependência emocional gera nos amados. Não acho lamentável depender emocionalmente de alguém. Acho lamentável transformar o amor não correspondido em ódio eterno, que é a dor mais cruel se quem ama, suportável apenas pelo movimento de vingança que gera a maior das calamidades na raça humana. Como eu enfrento o ódio do amor não correspondido? Não meu ódio, porque não o tenho. O ódio de quem o tem. Bem, eu escrevo e distancio-me. O tempo ajuda a pessoa rancorosa a misturar outros ódios e amores na sua alma. Amores e ódios compartilhados aplacam a doença de quem não controla bem sua vontade de escravizar o outro nos seus desejos, e o sentimento de rejeição que o amor não correspondido gera.

- Eu compreendi, disse ela, e complementou com generalidades daqueles vazios, fazendo-me crer que "amar é normal" e "não existe o que se desculpar."

Compreendi a invisibilidade muito mais latente. Era de certa forma amado e eu amava. Mas a tal das forças invisíveis repulsavam nossas almas neste momento quase mudas, senão sussurros e murmúrios íntimos de quem não tem muito o que fazer. Fiz-me como sempre dos momentos em que vivo e ela continuou vivendo seus próprios momentos. A distância das ideias começaram a ser diferentes, os recortes dos assuntos do tempo, da política, da economia, da vida real do Estado de Direito minaram aquele campo fértil cheio de vida e amor esperando as flores, em um conjunto maravilhoso de flora pintado com o pincel de nossos corações, com tintas de nossas expansivas emoções. No campo aberto do futuro amor correspondido, botamos muita ideologia, ruas agitadas e avenidas largas, poucas praças repletas de concreto, nenhum parque, e milhares de prédios burocráticos onde cada emoção passou a ser dividida por dezenas de andares e cada andar em centenas de repartições e cada repartição um chefe calculista fiscalizando a existência dos subalternos que gerenciava cada emoção dividida. Assim, a ternura não teve mais acesso ao carinho; o encanto deixou de lado o acolhimento; a sedução era vigiada exclusivamente pelo chefe mais ignóbil de todos os chefes. Os sentimentos reprimidos fizeram-se uma cidade consumida pelo consumo e o único bem que circulava era o interesse pelo dinheiro. O amor ficou lá, dividido em milhares de pedaços, no último andar de cada prédio. Ainda que se chegasse a um deles, era uma parte pequena, que por viver sem as outras partes, preferia assim, manter-se sozinho, na espera da solidão que visitava a todos diariamente, a todos os sentimentos com a mesma intensidade de solidão em cada um. Sem o amor, sentimento algum tem vida própria. Esquisito. Mas fiel à realidade de quem ama.

Na distração quando ela veio até mim em imagens entre sorrisos, encantos, seducação, carinhos e toques imaginados, na noite quente, eu vi que o amor acontece mesmo e da forma mais distraída possível. Gosto de amar. Amar expande. Andar amando alguém é preferível ao ódio vingativo. Uma hora o mesmo amor acontece. Uma hora acontece amar e ser correspondido. Uma hora o amor acontece.