quinta-feira, 30 de julho de 2015

Pimenta e Queijo e Vinho Tinto

Pimenta e Queijo e Vinho Tinto

Parece que a dor do abandono (quem nunca?) é a essência da separação para a parte mais fraca e mais frágil de uma relação - aprendi na relação com a minha filha que eu sou a parte mais forte e, por este motivo, tenho que ceder mais facilmente. O mais forte tem que ceder.

Quem mais fala da dor é porque mais abandonado se sente, mais dor carrega, e sofre, e agoniza, e se desespera solitariamente. Adoro o termo abando. Meu coração se compadece e sinto vontade de adotar todos os abandonados. Tenho coração de mãe.

Sou ainda lembrado persistentemente, porque escrevo, de que retomo alguns aspectos de minha separação em meus textos quando escrevo. Sou lembrado que há recalques não ainda solucionados justamente porque escrevo. Aliás, recalque é um ato falho do inconsciente. E recalques valem apenas para os adultos. Raramente crianças e adolescentes tem recalques: eles tem medo, temor, susto. Por isto nós adultos somos o lado maia forte das relações com eles.

Adoro a dúvida. Mas não suporto a indecisão. Quem gosta de indecisão? Eu gosto da dúvida porque alimenta a reflexão. Amo refletir. Saboreio a reflexão como daquelas balas azedinhas que vem do Japão e que doem nos lados das boca, em cima da mandíbula. Estão sentido aquela dorzinha agora? Caso afirmativo, são os neurônios-espelho.

Discordo dos recalques porque escrevo. Mas alimento as dúvidas porque me separei e aí vem as reflexões. A separação - feito tudo que é novo na idade madura - foi que me deu sentimentos novo, mas previsíveis e calculados, que eu não tive de forma tão intensa até então. Tive e tenho de escrever a respeito. Recalque? Há artista recalcado? Quem não teme a arte é porque sabe que a vida passa. O passado confirma esta verdade. O resto é vaidade e alienação.

Não virei escritor após me separar. Já o era, antes mesmo de namorar, e o escritor adormeceu por uma década. Quando escrevia eu já fazia de outras experiências minha visão, sensação, abstração, assimilação de palavras de reflexão. Oras, uso das minhas experiências para entender algo que vale para muitos. Sempre há um coração querendo entender-se.

Digo, para fechar agora, que cada qual com seu alimento emocional para fazer a sua sopa ou o seu cozido. Mais tempero. Menos tempero. Eu adoro pimenta e tenho uma tese relativa à pimenta que demonstra maturidade com a sua vida corporal: quem ama pimenta tem o corpo livre  de constrangimentos e sem recalques. Enfim, nossa modernidade ajuda a escrever porque ajuda a ter mais leitores. Aos meus leitores, comam pimenta com queijo e vinho tinto. Vão amar a experiência...

quarta-feira, 29 de julho de 2015

O Casal Sem-Vergonha

Um casal realmente sem vergonha? Nada a ver com sexo! Isto é egoísmo, que cansa, me destroi, que faz no futuro as pessoas apenas ficarem e pegarem o resto do ser humano.

Para ser um casal sem vergonha, cmece pensando em dar entrada em um apartamento na planta para os dois pagarem juntos. Como o casal é sem-vergonha, pode ser de apenas um dormitório no início. Deixe para o de dois dormitórios quando tiverem filhos.

Certamente o casal sem-vergonha já conseguiu um carro para ambos saírem sem depender de ônibus e metrô, e ambos estão na faculdade, terminando, ou já formados. Casal sem-vergonha toma as decisões rapidamente.

A porta aberta do banheiro para o casal sem-vergonha é o ensaio para viverem juntos felizes: casados ou não. Melhor casados. Bem melhor casados. Claro que deve levar em consideração a separação um dia. O casal sem-vergonha é maduro, tanto na união quanto na separação.
Sei que é tão bonito ficar juntos para sempre. Mas há coisas que são para sempre como a lua e o sol, as pirâmides do Egito, as feijoadas aos sábados e às quartas-feiras e a fragilidade das pessoas que buscam e não encontram. Mas num casal as coisas não são para sempre.

O casal sem-vergonha radical é prodígio também. Casa logo em meses. Tem filhos precocemente. Moram juntos. São inocentemente abusados e fazem das dificuldades histórias verdadeiras, cheias de fé com pitadas de medos e receios. O mínimo da o casal é rotina e o limite sua realidade. Os dias, por sua vez, são mais verídicos e honestos e sinceros. Casal sem-vergonha vive de viver todos os dias junto.

A inteligência é a aliada mais preciosa do casal sem-vergonha. Gasta pouca energia na superfície da vida e do pensamento. Fala muito e não fofoca quase nada. Comenta a vida do mundo alheio com certa profundidade. Assim, o que é fofoca vira análise e justifica os minutos.

Mas o casal sem vergonha prefere o filme, o teatro, os livros e muita coisa ligada à cultura. Passatempo precioso. Casal que é sem-vergonha respeita a si mesmo porque seu pensamento comum é viver bem e feliz um com o outro.

O tempo, que deveria deixar o casal mais sem-vergonha ainda, é o maior inimigo do casal sem-vergonha. O tempo amadurece a inteligência. Ou um deles amadurece. O tempo existe e com ele a realidade de que as coisas mudam, inevitavelmente. O casal sem-vergonha, que muda com o tempo, deixa sem perceber a sem-vergonhice. O tempo deixa ambos mais sérios. A inteligência lapida o bruto. A sem-vergonhice que os unia vai substituindo aos poucos aquilo que os separa: a seriedade, o maior respeito da distância, a formalidade da taça de vinho em relação ao copo de requeijão, do jantar fino sem propósito em relação à lasagna congelada, da conta da balada livre em relação ao almoço por quilo contato no shopping.

O casalbera sem-vergonha porque compartilhava tudo. Mas quando cresce a vida financeira, vira uk casal cheio de pudor. O pudor mata a intimidade e o gozo. Mata o abuso. Sem a vergonha necessária, a vergonha moral ganha vida. A vergonha moral limita. A vergonha moral afasta. A vergonha moral esfria. A vergonha moral separa. O casal envergonhado não se aguenta e se apartam. São auto-suficientes em suas vergonhas. Independentes. Vão então, separados, atrás de outras possíveis sem vergonhices. Mas já é tarde. Seu tempo passou. As gerações vem. Porque o tempo é o senhor de tudo. Sem ou com vergonha. O bom mesmo é manter sempre a sem vergonhice, na riqueza ou na pobreza.

terça-feira, 28 de julho de 2015

Amores que passam

Olha esta foto acima. Honestamente. É triste, mas é por aí mesmo. Ainda mais quando a pessoa acha que ela era feliz sozinha, e apesar de você, não era a sua infelicidade, sua entrega, sua dedicação e seu sacrifício que a/o deixava feliz e livre. Paciência. A alienação da felicidade tira das pessoas o senso crítico do sacrifício pessoal de alguém. O belo da vida de quem ama e sabe o sacrifício, porém, são os amores que surgem sempre enquanto outros amores passam e pouca saudade deixam. Seja um apenas amor que chega, ou outros tantos que chegam. Há pessoas que nasceram para serem amadas. Sinto-me amado por uma razão bem simples: eu sei amar; sei cuidar; sei entender; sei acolher; sei que da vida nada levamos senão as boas memórias. Quem cuida sempre será lembrado. Quem cuida sempre será amado. Quem ama sempre irá querer ser cuidado. Eu amo e eu sou amado. Que nosso amores passados sejam passados! Que nossos amores presentes sejam a nossa verdade de nosso futuro próximo! E que nunca esvaziemos o outro achando que somos completos sozinhos: o destino da ingratidão será o arrependimento, quando não a solidão de ter uma companhia que não nos preenche em nossos momentos...

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Sabe aquele "Ok" irritante da resposta?

Pe. Fabio de Melo diz que aquilo que mais cansa a gente é ter de explicar sempre. Por outro lado, somente tem de se explicar quem, no mínimo, se expõe conscientemente, né?

Quero sugerir o famoso "Ok" das  irritantes respostas, como se por trás dele resumisse um singelo e afetuoso "obrigado", "combinado", "fico agradecido" etc., e não o sadismo da torturar psicológica.

Para isto vou usar uns trechos de um belíssimo artigo que li chamado "O Silêncio como Tortura", e acho que ele vai à alma dos "Oks" como despreso e, por isto, desnecessário até.

Olha este trecho:

"O silêncio é uma das armas mais poderosas que se pode empregar contra o outro; expressão de falso vitimismo, (...) porque confina seu adversário em estado de constante incerteza emotiva."

A ponte do diálogo foi derrubada. A relação está dentro de um conflito. O silêncio passar a ser a tortura de uma das partes. Mas nem sempre é assim. Por vezes, perdemos o assunto e não temos mais o que falar, o que é natural. Se jogarmos limpo, nossa sinceridade do silêncio acaba deixando nossa fraqueza acolhedora. Eu mesmo, inúmeras vezes, já disse: "eu não sei o que falar", ou "eu estou sem assunto". Usei meu silêncio a favor da minha impotência comunicativa. Ganhei méritos.

É covardia e espírito pequeno o silêncio como tortura que, através do silêncio, cria incertezas emotivas. Aliás, ainda mais quando o outro percebe a infantilidade do ridículo.

Outro trecho:

"Nas dinâmicas de casal a resposta do masculino muitas vezes é inadequada, pueril, tola. São poucos os homens que evoluem integrando seu componente feminino (...). Em sentido psicológico deve tornar-se sempre feminino (...): muitos homens também são vítimas do silêncio feminino sádico e culpabilizante."

O silêncio da mulher é interpretado pelo homem como infantilidade ou dor arquivada e reprimida. O silêncio do homem é interpretado como tortura e desamor pela mulher que sofre angústias.

A mulher que usa o famoso "ok" quer mostrar seu comportamento masculino de tortura para chegar à alma do homem? Tiro errado! Quando muito, apenas masculinizará a relação e construirá mais argumentos de distanciamento. Ok representa ok, no universo masculino.

Homem algum entra em banheiro público reparando os detalhes. Seu olhar é seu propósito direto. Não existe olhar para lado algum. Uma linha reta machista e viril. O simples "ok" feminino é um simples "estou criando barbas, aumentando minha testosterona, aversão a banhos diários e cremes". Não funciona como tortura psicológica o "ok" feminino. Irrita pela infantilidade apenas.

Último trecho:

"...é impossível não se comunicar. Consequentemente, também, o siléncio é uma forma de comunicação, uma forma diferente como as mensagens duplas, as comunicações oblíquas, por negação etc. A sua característica é, porém, de serem indecifráveis e deixarem o recebedor das mensagens em estado de incerteza."

O cuidado com o sentimento alheio pertence a uma categoria bem especial de seres humanos. Minha irmã, separada, me disse que a maior tortura para a mulher separada é ver o ex-marido bem. O contrário também é verdadeiro. Por isto o cuidado com o sentimento das pessoas é algo raro. Querer ver o outro sofrer alivia as dores da ausência e da separação. Quantos "ok" não resumiram um "sofra!"? Daí entra o cuidado. Em minha memória recente, falo "ok" para amigos com certa frequência. Amigos, homens, claro. Jamais o silêncio para uma mulher, porque eu não sou adepto à tortura. Melhor um posicionamento claro, ainda que machuque do que deixar a dor da dúvida, que agoniza. A dúvida para o homem acaba virando sexo e bebida; a dúvida para as mulheres potencializa doenças, porque o primeiro extravaza e a segunda somatiza assustadoramente.

O silêncio como tortura é sadismo. Um sádico é um doente. Precisa de orientação para entender que este mal volta para si em algum momento. O "ok" como tortura é feio, frio, falta de humanidade. Ninguém muda a dor interna rapidamente espalhando "ok" para sofrerem. Nem por isto tem de provocar dores. É pouco. Bem pouco para si. Que a comunicação seja sempre a mais plena possível.

Apresentação

Flavio e seus Contos Suaves

Um amigo me convidou para escrever o texto de apresentação de sua obra, um livro de contos, chamado Contos Suaves. Apesar da aparente frieza com que dou essa notícia, eu aceitei o convite como se aceita o filho do outro para amadrinhar… feliz, maaaaas, com o peso da responsabilidade.

Li a obra e sou fã do jeitinho que ele escreve. Além disso, conheço o Flavio há 20 anos (sim, desde quando eu era pré-adolescente) e pude acompanhar algumas dificílimas etapas de sua vida de perto, outras vezes de longe, mas sempre em uma torcida íntima de que as coisas dessem sempre certo pra ele.

O Flavio, que eu conheci como Chico lá nos idos dos anos 90, chegou a minha vida como amigo do meu irmão, que eu imediatamente roubei pra mim. Sim, ele tinha muito mais afinidade comigo, pois eu lia romances e escrevia poesias, do que com o pragmático e matemático e exato do meu irmão. Por ele ser barbudo, encardido, libertário, anarquista e, além de tudo, ser doce e escrever poesias como eu (além de saber recitá-las, o que eu nunca soube fazer e acho o máximo), me apaixonei por ele com todo meu coração.

Ele não quis me namorar e acabamos nos tornando amigos. Mais do que isso, iniciamos uma troca de correspondências que durou anos, cartas e cartas e cartas e cartas escritas a mão (não tinha internet!), longuíssimas e que falavam sobre tudo, sobre poesia, romances, dica de livros, lições de casa (ele indicando leitura para mim, pois ele era mais velho), amizade e amor.

Então, aos poucos, nos afastamos um do outro. Talvez porque eu tenha entrado na faculdade e feito novos amigos… ou porque meu namorado à época não encarava com bons olhos essa “ardente” troca de correspondências que não cessava… ou porque ele tenha se casado também… hoje é difícil identificar quando e porque rompemos a comunicação por meio das cartas.

Depois de um tempo, quando eu conversava com ele pela internet, sentia que ele havia perdido um pouco aquele papo apaixonante sobre literatura e só falava de Deus Deus Deus Deus. Sim, parece que ele abraçou uma religião e em todo diálogo nosso ele queria sempre “pregar” e isso me cansava.

Eu acompanhei de longe sua vida, ele se formou em Letras, é professor, casou-se com a Priscila, uma garota incrível, tiveram três filhos lindos (Sofia, Pedro e Daniel) e, agora, vai editar um livro… e me convida para o batismo.

Voltando ao início do texto, confesso que aceitei como se aceita um “trabalho”, um contrato a fazer. Mas quando eu comecei a escrever, um filme se passou em minha cabeça desde o dia em que eu o conheci e, depois de tantos anos, ele me concedeu essa honra sem tamanho.

Honrada, porém, cheia de medos pelo tamanho da responsabilidade, optei em fazer daquele jeito de sempre: deixei meu coração escrever (depois arrumei pontos e vírgulas e mecanismos de coesão e afins).  E o texto ficou incrível, porque ele é incrível, o livro dele é incrível, nossa história teve um peso assertivo muito importante em nossas vidas e, mesmo depois de tantos anos, fluiu como fluia as cartas manuscritas de anos atrás.

Este post é uma singela homenagem ao Flavio Notaroberto, este professor vencedor da vida, que edita seu primeiro livro, Contos Suaves, com a apresentação de Renata, sua amiga, que copio abaixo. E à amizade, sempre provando que tempo e distância são duas coisas… simplesmente coisas que em nada interfere quando o sentimento é de verdade.

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Apresentação

É fácil enxergar suavidade em um tecido macio, no desmanchar das nuvens, no sabor adocicado de uma sobremesa de frutas ou no toque do pé em uma areia macia. Está ao alcance de qualquer um perceber a suavidade nessas coisas. O desafio, entretanto, está na percepção do que vai além das aparências, dos sentidos e do óbvio. Os que conseguem conquistá-la não se tornam melhores ou piores do que ninguém, mas se tornam diferentes.

Quando eu conheci o Flavio há quase 20 anos, ele me encantou por enxergar além da casca de todas as coisas. Sua aparência grosseira, encardida, seu perfil militante e revolucionário típico de homens brutos nunca disfarçaram, pelo menos para mim, a suavidade da sua alma.

Naquela época, tive o prazer e a satisfação, quando eu era apenas uma adolescente arredia, de trocar correspondências sobre literatura e filosofia com o autor desses lindos Contos que vocês estão a prestes a degustar e, ao longo dos anos, pude perceber a lapidação de um escritor impecável e absolutamente sensível a sua realidade como morador da periferia de São Paulo.

Está presente em seus Contos o realismo puro e irretocável, próprio de alguém que viveu na pele todas as dificuldades de se morar no extremo da zona leste de São Paulo e conseguiu extrair a suavidade e a beleza que estão presentes na luta cotidiana dessa numerosa população abandonada por todas as iniciativas de desenvolvimento social e de infra estrutura que presenciamos há décadas em nossa cidade.

Os Contos trazem histórias que permeiam várias regiões da cidade de São Paulo, desde os extremos das periferias até as zonas centrais mais abastadas. O autor trabalha os contrastes com maestria, fazendo-nos exergar em personagens que, à primeira vista, julgaríamos opostos, um pouco de nós mesmos.

A riqueza desta obra está na riqueza da formação pessoal do autor. Não digo de estudos, pois acredito que a nobreza da boa literatura transcende os bancos acadêmicos. Mas sim, mesmo tendo o autor excelente formação em uma das instituições mais prestigiadas no país, reside nas experiências cotidianas, no baú de boas leituras realizadas ao longo da vida, na conversa com os mais velhos, que já viveram tanto, e com os mais jovens, que anseiam tanto em viver. Também está no tal do olhar além da casca, matéria em que nosso professor Flavio é hors concours!

Contos Suaves tem a responsabilidade de cumprir duas importantes tarefas na vida do autor: a primeira, a de servir como presente aos seus alunos, amigos e familiares que o acompanharam durante sua trajetória, que foi dura, e o livro representa uma graça que o autor retorna a essas pessoas, como um “muito obrigado”, mesmo. E a segunda, entendo como uma recompensa, mas não algo que tenha vindo pronto por seu merecimento, que é notório, mas algo que ele mesmo construiu, como se todos os dias ele pincelasse sobre uma tela branca sua história, às vezes com raiva, outras com amor, ora derrotado, ora vitorioso, e hoje estivesse admirando a obra de arte, fruto de tanto trabalho, suor, dedicação, perseverança, fé e determinação.

O lugar comum desses adjetivos é inevitável, pois estamos falando, sim, de uma pessoa comum, com o pequeno diferencial de enxergar palavras em tudo, nas coisas, lugares, pessoas… e convergi-las para histórias que nos enchem os olhos.

É isso que diferencia os escritores dos leitores: os leitores por meio das palavras apreendem histórias e personagens e, por isso, têm sede de leitura. Os escritores, ao contrário, extraem das pessoas e coisas as palavras que viram histórias, contos, romances e novelas e, por isso, são têm sede de realidade. E a beleza do ato da leitura é justamente o encontro dessas peças fundamentais para o desenvolvimento de qualquer cultura popular.

Sendo assim, caro leitor, a seguir terá início esta fecunda relação entre autor e leitor que alimenta e dá continuidade à arte da literatura ao longo dos séculos. Neste momento, você e o querido autor Flavio, de mãos dadas, dão vida e movimento à história da literatura nacional, que se fez e se faz, com pessoas que lêem e escrevem. Apesar da profundidade que envolve o tema, o resumo é simples assim.

Deixo-os agora com a leitura de Contos Suaves, uma obra delicada, apesar de realista, que consagra essa habilidade do autor de enxergar suavidade nas asperezas do cotidiano e transformá-las em belíssimos textos, com personagens que podem representar a mim, ou a você, ou alguém que você conheça. Os contos são intensos porque nos aproximam da história e dos personagens de uma maneira arrebatadora e, na mesma medida, com uma suavidade incrível.

domingo, 26 de julho de 2015

My Single Immortal Beloved: Declaração de Amor

My Single Immortal Beloved: Declaração de Amor

Por um momento pensei em você. Em todas as nossas cartas por tantos meses contínuos. Mas antes de prosseguir estas palavras, persitem em minha mente as suas palavras outrora recentes: "tentar reviver tempos quando éramos adolescentes." Por mais que possa ser fácil e óbvio enxergar uma meia idade, como a minha, o ridículo de reviver o que teve a sensação de momentos erredios, me cativa demais. Eu gosto tanto de sentir-me existencialmente vivo a ponto de não sentir falta alguma dos versos do Fernando Pessoa niilista. Eu revivo meu passado com o mesmo primeiro beijo adolescente que nunca dei em você. Nunca nos beijamos. Se passado, nostálgico; se futuro, sonhador; se presente, ridículo. Tenho saudades deste ridículo adolescente, e não por falta de presente intenso e nem ausência de perspectiva futura. Meus livros, meus filhos, minha separação, meus anos de casado, meu futuro mestrado e doutorado, meu próximo livro, minha vontade de resgatar as lacunas de tantas leituras, que tudo vive belamente intenso no meu olhar de agradecimento que tenho por você. Obrigado. Ainda sobra muito espaço de você dentro de mim. Estes dias, você mesma esteve em minha mente. Saudade gostosa. De agradecimento por você um dia ter segurado as minhas mãos, no meu quarto, em 1998, lendo uma carta para mim, tão íntima, tão cheia de amor, de palavras para as quais eu não estava preparado. Eu nunca estive preparado para você. Sonhava sim com você, e me entreguei ao meu destino de ser usado por quem precisava de mim. Eu até sonho acordado em tocar um dia meus lábios nos seus, mas seria egoísmo infantil e pura ingenuidade. Tocar suas mãos com a ternura que eu senti você tocar as minhas, naquele dia. Está em minha memória seus olhos trêmulos. Olhavam. Com uma decisão que tomava cheia de indecisão do que fazia. Eu vivia perdido. Tinha acabado de voltar do dentista. Você já havia seduzido a minha mãe, que se encantou com você, impressionantemente. Nunca - engraçado - eu a beijei. De certo, amaria ter feito. Nem tudo são memórias reais, porém. Algumas são estas memórias imaginadas tão reais a um esquizofrênico em seus delírios. Quero afirmar para mim mesmo que ainda tenho potencial para ser um escritor numa sociedade que pouco lê, e este escritor um dia poderá agradecer você, minha primeira leitora, quando não havia nada senão cartas. Eu sei que você torce por mim e talvez até deslizariam algumas lágrimas, testemunhando de longe algum sucesso. Claro que dependendo de seu grau de sensibilidade na época ou de ausência da sua razão e ocupações. São marcas. Minha marca em você é nosso passado que se toca. Sua marca em mim. As nossas marcas foram bonitas. Ah, creio que a vida tem sido boa para mim. Separei-me e deixei apartamento (verdade que não quitado), um carro (não quitado, mas terminei quitando), pensão generosa para meus padrões e tudo o que um homem que ama a dignidade da vida e os filhos que tem poderia deixar: a mãe deles está muito bem: formada pela USP, viagens para a Europa, Chile, EUA, várias pós, um excelente emprego e ainda jovial para qualquer amante de bom gosto e cultura. Sinto-me homem mais completo e realizado, ainda que o máximo sempre será o mínimo para a ingratidão. Saber, por outro lado, que você está em algum lugar e bem, me faz muito feliz também. Queria tanto que você lesse. Lesse estas palavras. Poder dizer que sim. Li. Confesso que eu a amei também outrora. Porém, tive medo. Medo de limitar o seu atual amplo mundo. Tenho em mim estes sacrifícios pessoais. Tenho medo de prejudicar quem amo, quem me ama ou me amou. Tenho tanto medo que elevo sempre meus olhos ao céu prostrado de joelhos na terra, pedindo para nunca deixar de amar e agradecer os amores que passaram em minha vida. Você foi um grande amor que passou por mim sem um único beijo. Creia. Não foi por outro motivo, senão por respeito ao que eu era, ao que você era, ao que você me representava e a enorme covardia de minha parte. Você está em meu coração, ainda, que totalmente ausente no espaço que não temos juntos. Quero ter uma vaidade pessoal de um dia dedicar um livro a você. Vaidade apenas. Você quem me apresentou aos filmes "Minha Amada Imortal" e "Nunca te vi, Sempre te Amei", bem como a "Sonata ao Luar", de Beethoven. Por mim, nunca falarei seu nome aqui, nem alí, nem acolá. Saiba que o tato apaixonado de sua mão, a voz daquela carta, o tremor suave de seus olhos semi-apaixonados me arrebatam ainda agora. Eu amei você também. Do fundo de meu coração. Ainda verdadeiro. Seja de meu coração adolescente ou do homem de meia idade. Obrigado, My Single Immortal Beloved. Nunca mais te vi, mas sempre te amarei com este nosso carinho recíproco...

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Saudades do quê?

Bem no finalzinho do sonho. A pessoa estava com ar triste. Primeiro deitada próxima a uma porta. Término de festa na casa de uma tia. Vejo-a e me aproximo dela. Ela se levanta sem perceber-me. Chego por trás. Cutuco-a. Ela me olha espantada.

- Posso te dar uma abraço?

Ela consente e aceita e me abraça fortemente por segundos. Em seguida, olhos fechados, eu falo em lágrimas:

- Que saudades!

Ainda abraçados, ela pergunta, com os olhos fechados:

- Saudades do que?

- De quando a gente era feliz, quando éramos bem mais simples.

Sem suportar a emoção, ela desata a chorar copiosanente. Soluçando, confirma:

- Verdade.

Então ambos desabam emocionadamente em fortes lágrimas, abraçando-se cada vez mais firmes um no outro, e eu desperto do sonho, com a sensação de lágrimas reais escorrendo nos cantos dos olhos e a respiração ofegante do pranto. Sonhos catárticos. Aliás, ontem falei como fazem falta aqueles momentos tão iniciais de todas as nossas vidas. Sim, felicidade.

terça-feira, 21 de julho de 2015

Vaidade é Fortaleza dos Fracos

Vaidade é Fortaleza dos Fracos

Há textos que exigem releituras; há textos técnicos - jurídicos etc. - que exigem preparos; há textos que exigem experiências de vida das mais variadas; há textos que exigem simplesmente anos de vida, ou envelhecimento. Fato é que os textos exigem leitores e os leitores são complexos.

Existem leitores que precisam de textos para expandirem-se. Eu sou assim. Um dos diferenciais na vida contemporânea das pessoas é o acesso às ideias que os textos transmitem: livros, fotos e frases, crônicas e polêmicas. O leitor cresce internamente, desaprende ou aprende algo, justifica os prós e contras da sua própria vida.

O escritor tem a tarefa mais complicada. Ele é julgado o leitor da própria alma, e dentro de sua alma habitam as suas fraquezas, frustrações, decepções, recalques, repressões, atos falhos, limites, angústias, solidão, carência, amargura, desamor, ausências, ausências e ausências... Tudo dentro de sua alma introspectiva.

Já disse que o charme do escritor está em não desmentir o engano? Já disse que a principal virtude do escritor é expandir toda especulação e dúvida a respeito das leituras de seus textos? Inclusive quando ele justifica que é limitado. Mas ele sabe escrever seus limites e alimenta mais ainda...

O objetivo de quem escreve é ser lido. Fora isto, nada mais existe. Nem elogios, nem palmas, nem admiração, nem concordância valem tanto quanto ser lido. O leitor discorda e o faz porque discorda do texto e não do autor. Ótima desculpa para continuar a escrever.

As palavras escolhidas num texto poderiam ser outras. E agradar. É verdade. Quem as escolhe é o escritor. Verdade. Por outro lado, as palavras são do texto. Ao ler ou reler, do modo do leitor, o leitor reescreve também, por isto discorda, critica. Ora, a vaidade é algo feio. Escritor não pode ter vaidade. Fazer as unhas, arrumar cabelo, passar batom, maquiar-se, perfumar-se é vaidade. Para ficar feio? Lógico que não. Mas sabemos que tudo isto é vaidade. E que vaidade é algo feio. Vaidade é a fortaleza dos fracos, por nunca se sentir suficiente com aquilo que é na essência. Tudo é vaidade. Inclisive expandir. Tudo é vaidade.

quarta-feira, 15 de julho de 2015

"Quero que todas as suas ex-namoradas queimem no fogo do.."

"Quero que todas as suas ex-namoradas queimem no fogo do...". Eu li na foto e logo meus olhos ficaram inquietos e perplexos. Imaginei que a menina que postou tomou um pé na bunda e já praguejava; depois imaginei que ela namora e desejava isto para as ex-namoradas dele, o que é pior. Coisa mesmo de adolescente imaturo.

Jamais alguém apagará as histórias e memórias dos amores que tivemos em nossas vidas; nem apagará as mulheres ou homens com quem fizemos sexo; nem apagará os carinhos na boca, no corpo que trocamos; nem os mimos em forma de presentes que demos e ganhamos; nem os momentos de felicidades e tristezas que passamos ao lado de alguém.

A vida traz a magia da lembrança. Por isto, desejar que as memórias de um novo amor sejam "queimadas no fogo do..." é ser infantil, imaturo, cansativo. Ele ou ela não terão boas lembranças com você. E nem você terá boas lembranças se assim for o desejo da pessoa com quem você está namorando.

Todo ciúme, toda insegurança, toda dependência, tem um único benefício: amadurecer para virarmos homens e mulheres de verdade e com responsabilidades. Aprender a suportar estes sentimentos é aprender a viver melhor. Ciúme, insegurança e dependência emocionais são sentimentos que precisam ser controlados. Seja numa auto-consciência, com o tempo, ou seja com um bom psicólogo, também com o tempo.

Mandar todas as ex-namoradas ou ex-namorados para o inferno é um ato que parece até engraçado no momento. Porém, a graça de hoje, este riso sarcástico, em pouco tempo vai mostrar a verdade do ciúme, da insegurança e da dependência que se escondiam atrás da mentira do riso. Não há graça alguma na mentira. Mentir para si mesmo é pior coisa para um ser adulto porque coisa de criança boba que não cabe ser mais a partir da adolescência...

O que passou fez tanto de você quanto do seu futuro ou presente amor memórias importantes para ambos. Eu, que sou super ciumento, controlo com tanta facilidade meu ciúme, que pareço um indiferente. Meu ciúme me ajudou a crescer e controlar outras inseguranças e dependências. Inclusive a carência.

O seu ex ou a sua ex certamente já tiveram alguns parceiros depois da separação, justamente porque você também já os teve; sua atual ou seu atual namorado possivelmente já tiveram alguns ou vários romances antes de você, como você; e os futuros relacionamento de ambos virão com todas estas memórias importantes para ambos. Em resumo: vida que segue. O importante é sempre o atual. Mesmo porque, dar valor ao que se passou na vida do atual ou da atual em termos amorosos é roubar o seu presente e as memórias que ambos devem construir agora. Boas memórias e mais ricas do que as anteriores se possíveis. Isto é maturidade. Ninguém quer comportamento criança enchendo o saco num corpo e idade de maturidade. Homem e Mulher.

Não Falei de Poesia

Isto porque eu ainda não escrevi poesia.

O que tem de diferente? Sensibilidade. Sensação que nos descontrola, tira o momento presente, os olhos voltam-se para a beleza interna no toque do encanto que seduz e aprisiona.

Se a beleza pode surgir de palavras, que dirá então do toque real, do carinho real, do aconchego real!

Isto porque eu ainda não escrevi poesia.

A poesia é a beleza; onde há o belo, lá habita nossa moradia. Precisamos morar no belo.

"Traduza minha alma para que eu possa viver melhor", e vem alguns versos em poesia.

"Descomplica minha confusão."

"Acenda algumas velas, ou lâmpadas. Sinto tanta escuridão."

"Sofrerei esta ausência eterna de sempre ser metade?"

As pessoas sofrem, e vivem, e adoecem, e acostumam-se, e a poesia da arte pode ser o diferente.

Amar uma ilusão. Amar um sonho. Amar uma carência. Amar uma ilusão que sonha a sua carência.

Isto porque eu ainda não escrevi poesia.

As pessoas fazem tudo o que todos fazem: acordam, andam, voltam de onde foram, ficam um pouco ou muito, renovam-se a cada garfada do almoço, clasmocitam... e o poeta vê beleza em tudo, porque em tudo há sentimentos que gritam uma tradução, uma compreensão, uma encantamento.

"Eu vivo."

Aliás, isto porque ainda não falei de poesia.

Nasci, no entanto, poeta com centenas de poemas. Fortes. Sensíveis. Tocantes. Que arrependimento humano me dá saber que se perderam, meus poemas, quando eu falava de poesia. Recomeçar um dia por vez.

Os anos são meses, os meses semanas, as semanas dias, os dias horas, e as horas minutos e segundos, onde estamos neste exato momento respirando tantas dúvidas...

A vida nos mostra que somente os anos temos para tudo, para curar dores e aprender a solidão, temos que passar pelos segundos para chegar aos anos. Os segundos machucam demais. Os anos justificam. Eu entendo porque eu ainda não falei de poesia. Falarei de poesia e tantas outras coisas. Os anos falarão muito.

terça-feira, 14 de julho de 2015

Se tem saudades, tente falar

Saudade é diferente de querer ter ou ficar ou voltar com alguém. A confusão se estabelece aí. Ter saudades é porque suas memórias resgatam tempos bons. Neste momento de saudade, apenas falar um pouco com a pessoa seria suficiente. Trocar um pouco. Dizer mais; ouvir menos; ou vice-versa. Gosto das despedidas demoradas. É uma despedida. Não dá mais. Não deu mais. Não dará mais. Acabou e o que existiu é tudo o que teremos. Claro que é compreensível uma das partes querer ferir, machucar, magoar, deixar cicatrizes. Ela não quer se despedir, na verdade. Uma saudade linda se mata com uma dor quase insuportável. Entre um casal, quem machuca é quem quer matar as saudades porque sofre com elas. Quem agradece os bons momentos que teve, faz da saudade uma eterna despedida, ou uma despedida prolongada em que o adeus vem em gotas pequenas, e algumas  evaporam de tão miudinhas. Sabe a lágrima da saudade solitária? Estou falando das separações, óbvio. Ninguém começa algo para ter um fim. Mas os começos terão algum fim. O fim que nos faz maiores. Desde que não se mate o que existe de memórias e momentos, seremos maiores. Sou a favor de ter parceria com a dor, mas não com o sofrimento, com a mágoa, a ferida, o rancor. Se tem saudades, tente só falar. É bom quando ambos admitem que tem saudades, embora não haja mais possibilidade alguma de presente nem futuro. É justo, bonito, honesto. Se tem saudades, somente fale e ore para que o outro compreenda: são apenas saudades, nada mais.

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Eu Não Sei Quando...

Eu nao sei quando, mas as pessoas aparecem em nossas vidas. As que aparecem e pouco ficam, são os transeuntes, os pedestres. Elas são para nós; nós somos para elas. O contato é o acaso e como acaso o encontro fica. Não será sonho nem lembrança. Será esquecimento. Como o botão que desliga a luz que nos agrada, mas preferimos o escuro.

Algumas pessoas chegam e ficam um pouco. Teimosamente ficamos também. As memórias, porém, serão mais as das dúvidas. Alguma coisa une ambos, e este algo pode ser trivialidades como as que estão nesta pequena e aleatória lista:

A) beleza
B) inteligência
C) estabilidade financeira
D) bom humor
E) bom gosto
F) viagens
G) sexo
H) carência
I) medo da solidão e outros medos

Lista aleatória, à toa, sem critério, sem nada lógico senão experiência e intuição. Muito pouco, porém. As pessoas entram. Permanacem. Bagunçam um pouco nosso interior e bagunçamos o dela. As dúvidas surgem aos cântaros e as dúvidas preferimos. Serão outras memórias. Estas dúvidas. Ambos partem.

Algumas chegam mais intensas. Chegam e assustadoramente entram. Uma mão dupla. Ambos se misturam como um namoro escondido dos pais na frente do portão de casa através de troca de carinhos verbais e olhares meigos. Uma doçura que liberta o outro dentro de nós e nos aprisionamos. Queremos esta prisão para sempre. Só que temos muitas chaves fora de nós. Aos poucos somos abertos por outras preocupações. Outras responsabilidades. Nosso coração arrebatado, preso e refém, tem que ceder espaço a outras coisas e vidas como trabalho, família, estudos. Foi uma doce ilusão. Choramos para dentro. Termina aos poucos. As saudades serão fortes, porque uma vez preso um forte sentimento dentro de nós, nunca mais será liberto. O sentimento fica, até quando tivermos nossas memórias. Ambos vão e vivem mais reflexivos.

Algumas pessoas chegam sem permissão alguma. Completam-nos. Nós as completamos. Gostam do que nós gostamos. Riem das mesmas piadas e os filmes, e livros, e passeios, e parques, e sabores e licores. Ritmos que sobem e descem. Os problemas nunca são memórias, porque não são discutidos. A construção de memórias são somente doçuras do carinho e do cuidado e do amor. Estas possivelmente ficam para sempre...

Eu não sei quando, mas uma hora as pessoas aparecem e antes de se complerem, as memórias vão sendo construídas. O que passou, no entanto, passou. Não é uma questão de sofrer. São apenas memórias boas de quem não nos completa mais. Memórias ruins não existem. O que existem são pessoas ruins.

Eu não sei quando, mas quem nos completa verdadeiramente aparecerá. Saberemos logo nas primeiras palavras...

(Texto para a minha amiga Erika Ana; eu esperei seu tema e ainda estou esperando)

domingo, 12 de julho de 2015

Ser Mentiroso

Li um artigo sobre ser verdadeiro (link abaixo). Posso às vezes não falar o que penso, mas penso que mentir cansa mais do que falar a verdade, ou ser verdadeiro. E realmente o mundo está tão mentiroso, muito mentiroso; as pessoas estão mentirosas, muito mentirosas, porque tem metas para cumprir, tem dinheiro para ganhar, tem desejos para realizar, tem a solidão para suprir. As verdades parecem tão superficiais a ponto de verdades simples e sem rodeios - como aquelas de um pequeno texto, um gesto, uma atenção - parecerem até mentiras muito bem argumentadas. Quem sabe falar bem e escrever é ainda mais desafiado pela mentira do que acolhido pela sinceridade. Cansa, verdade. Um filósofo, um escritor, um pensando não se dá bem com mentiras não. A enorme maioria são verdades. Pode parecer alguma intenção escondida. Mas tem não. Um escritor ama deixar a dúvida na cabeça dos leitores. Mas ele é cheio de certezas. Basta pensar na contradição. Para se descobrir quando algo é verdadeiro ou não, existe uma tática muito simples chamada "contradição". Nisto eu me saio muito bem. Não eu sendo contraditório; mas percebendo as contradições. Mentalmente, quando sinto mentira, eu falo "espera aí!" para mim mesmo e penso na contradição sem que as pessoas saibam. Inclusive, posso até ser um bom professor e escritor porque não sou contraditório e nem incoerente. Senão seria vendedor, advogado, político, até tenho perfil para ser diretor de empresa e gerente de banco: profissões que exigem certo cinismo. Sou professor e sou escritor, né? Eu me auto-entitulei escritor. Mas aí é arte e fantasia e engano. Os personagens de meus livros falam por mim e por nós. Tem que ler Contos Suaves para entender a densidade do escritor.

http://chalita.com.br/index.php/o-escritor/textos/item/2000-%E2%80%A8a-verdade-e-as-miopias.html

sexta-feira, 10 de julho de 2015

A Melhor Parte

A melhor parte de mim vive fora de mim. O livro. O mar. O sol. O vento. A vida. Cada belezinha da vida, uma sensação. Quem vê poesia, agradece. Quem vê tristeza e solidão, chora. A melhor parte de mim vive fora de mim. Agradeço por não me fazer um refém e prisioneiro dos medos e fraquezas humanos. Meu melhor de mim vive fora de mim. Para poucos.

A Arte é Descondicionar

É comum. A história "Lágrimas" de meu livro. É ler e chorar. Após o choro, a inevitável projeção em mim. Nossa, professor! Como o senhor sofreu! Ou, sua mãe está bem, professor? O olhar de pena e comiseração atinge mesmo minha alma. Mesmo assim, eu não facilito. Alimento esta ideia. Para ver no que dá.

Nossa, professor, como sua vida foi triste. Eu abaixo a cabeça. Olhar de piedade. Nutro mais um pouco a dor projetada. Falo que faz parte da vida. Você tão alegre e feliz! Nem imaginava! Eu abraço a pessoa, agradecendo pelo carinho. Ela me abraça. Olha nos meus olhos. Pergunta de minha mãe. Eu falo que está bem.

- Bem? Mas sua mãe não...?

- Não.

- Aquela história não é de sua vida?

- Não.

- Não é pessoal?

- Não.

- Mas como pode! Parece tão real.

- Mas é real.

- História de alguém?

- Não.

Surpresa, a pessoa fica confusa. Questiona os demais textos, as demais histórias. Nenhuma auto-biográfico. Imaginação? Exatamente. Como é possível? O olhar. Saber olhar. Colocar-se na vida do outro e imaginar. Projetar sentimentos, situações, contextos, desejos, projeções, causas e efeitos, tudo dentro do drama humano. Ah, drama em grego quer dizer "ação", nada a ver com tragédia. O ser humano em ação não tem tanto segredo.

O russo Pavlov foi o pioneiro ao estudar o condicionamento do comportamento nos animais. O escritor entra aí. Narra aquilo que é previsível no comportamento humano e narra as superações e frustrações. O escritor e os artistas ensinam a olhar. A causa e o efeito. Tudo é uma questão de olhar com disciplina. Ver, enxergar, olhar, compreender, assimilar, saber. Mais ou menos nesta ordem. O resto é repetição, como fez Pavlov no "papel do condicionamento na psicologia do comportamento (reflexo condicionado)". A arte é descondicionar.

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Fazer Rir

Escrevo quase nada para fazer rir. Deveria tentar mais. As pessoas querem rir. Assim como no sexo, o riso desperta tanto a vida para o êxtase que quem faz rir acaba recebendo sexo quase de graça. E minha tese é que o sexo do riso recebido é o melhor de todos. Um comediante daria um melhor testemunho a respeito desta intuição.

Dias destes falei em sala de aula de como a medicina está pouco evasiva sobre nós. Cortes são raros. Exames bem mais delicados. Logo, logo não vai ter graça o exame de próstata. Já é possível examinar sem o toque. Mas muitos homens querem sentir o toque lá. Negam, mas querem. Não fiz ainda o exame. Se me conheço, nem o farei. Não pela desonra do toque e pelo machismo. Pelo esquecimento. Homem se preocupa tão pouco com a própria saúde que acha a gripe uma doença em fase terminal.

Eu faço rir muito trabalhando. Trabalhando não. Dando aulas. Sim. É comum confundir dar aulas com trabalhar. Um professor ouve sempre se apenas dá aulas, se não faz maia nada. Entendo que o salário é baixo por isto o "apenas dá aulas". Particularmente, sei lá o que acontece, eu inicio a aula relativamente sério e acabo fazendo rir. Gargalhar até. Pretendo ser o mais didático possível. Não abuso tanto da sorte. O riso, porém, vem lá com facilidade. Lembro, porém, que tenho as mais puras intenções de somente ensinar. O rir é um prêmio, como o sexo.

Exercitarei mais o humor nos meus textos. Quem lê Contos Suaves e me conhece como professor, se assusta. "Onde está aquele professor engraçado nestas histórias?" Geralmente eu tenho isto como elogio. Faço cara de agradecimento. Abraço a pessoa. E mudo de assunto. Meu novo livro Miguelito: Memórias terá muito humor. Em alguns momentos, dará para rir muito. Fazer rir é sem dúvida a arte mais difícil. De um modo simples: o riso é a surpresa positiva que liberta nossa alegria reprimida. Alegria de viver é somente contentamento.

Aos poucos. Fazer rir. Deixar alegre. Alma leve. Felicidade ampla. Contentamento de viver. Aos poucos vou aprendendo a escrever o humor cujo interesse é somente dar aulas.

Meus Dois Mil Livros

Um dos orgulhos que eu mais tinha há alguns anos eram todos os meus livros. Uma biblioteca particular com cerca de dois mil títulos. Tinha êxtase quando algum conhecido entrava em casa e reparava nos livros, olhando os títulos. Eu não era obcecado por eles. Tinha cuidado, como tenho com as coisas que amo e pessoas que eu quero bem. Mas era tudo separado por temas. Sociologia. Filosofia. Literatura. Psicologia. Eu conhecia a posição praticamente de todos eles. Certa vez liguei para casa atrás de um título e orientei a minha ex-esposa. Do tipo: está na terceira prateleira, do lado esquerdo, um dos últimos livros, a capa é assim, a cor assada etc. Sem dizer as longas horas de leitura totalmente solitário e bem produtivo.

Me doi as pessoas lerem pouco, ainda que gostariam de ler mais. Não saber muito de livros deve ser bem esquisito. Mas mesmo assim as pessoas gostam de cultura e de pessoas cultas. Há um charme no ar eclético que a leitura e a cultura trazem. Poder transitar entre o culto e o vulgar, entre o sério e o hilário, entre o sisudo e o leve é para poucos. Minha certeza a respeito da importância da cultura é tão grande que me tranquilizo em relação ao caminho do bom relacionamento. Apenas o bom relaciomento, sem interesse algum senão bons momentos.

Falei de meus livros sem nostalgia. Acho que ter lido muito fez a função mais libertadora dos meus livros. Eu li. Amadureci. Conheci. Aprendi. E me "liberti". Exatamente: eu me liberti. Quando aprendemos, os erros são poéticos. A poesia é arte e a arte me fascina. Meus livros? Agradecimentos.

Amor pelos Filhos

Meu amor pelos meus filhos é tão grande que não dá para entender quem não ama tanto. E amo tanto meus filhos que eu os deixei com a mãe deles por uma razão tão simples que a própria mãe deles não entende: minha vida pertence a eles. Sempre quis ser pai. Como pai, em uma sociedade em que a mãe sempre tem razão, eu aceito. Aceito, desde que eles estejam bem. Sei que a mãe deles os trata bem acima de tudo. Sofia. Pedro. Daniel. Eu os amo acima de tudo e abaixo de Deus.

quarta-feira, 8 de julho de 2015

A Alma não Sofre só na Solidão

Não me lembro da última vez, ou mesmo se houve última vez, em que gratuitamente escondi o que não era para ser escondido. Há coisas que devemos esconder. Dinheiro de quem não paga, não trabalha e ainda consome; ideias de quem não pensa, mas adora usar as pessoas; .
Sempre deixo claro minha vida. Sou reservado nos meus caprichos, mas aberto na minha essência. Veja bem. Escrevo. A coerência gramatical dos meus textos serve-me como coerência intelectual dos meus pensamentos. Conheceu um pouco de mim, conheceu tudo. A partir daí ou lapidamos ou nada de invasão evasiva.

Venha sobre todos nós a presença que liberta; venha sobre nós desde o toque paralizante ao sorriso do olhar apaixonado de nossas paixões distantes. Uma paixão distante hiberna em nosso inconsciente, bem possivelmente como repressão ao medo. Despir-se dos medos. A alma não sofre só na solidão. O medo faz a alma sofrer muito mais. Gosto da expressão "não demore onde não houver amor". Concluo com um pouco de charme: "faça do amor o bem maior para demorar-se em uma vida, ainda que com medo". Creio que somos ciclos. Somos início, principalmente. Fim? Não creio em fim. Creio em recomeços. Claro, a partir de um certo momento, recomeços já cheios de histórias. Minha essência vive disto.

Des-

Eu gosto muito do prefixo "des-" que vem antes das palavras como "des-ânimo", "des-encanto", "des-cortinar" etc. Além de sonoro, o sentido de dizer o contrário me agrada, como "desdizer".

Imagine então palavras como desalmado, desfalecido, desunião, descolorido. Sem desesquecer ou desnegar que a linha popular usa de forma belíssima um "desvaziar", "desamar", "descomprar", "desasnar". Certa vez vi e ouvi dentro do ônibus:

- Começa a entrar gente a partir de agora. Agora vai desvaziar muito.

Sim. Desvaziar para dizer que iria encher. Não saiu de minha memória este "desvaziar". Isto foi há anos, quando eu ia à USP, época em 1996. Eu estudava Linguística, além de Alemão, Literatura, Língua Portugesa. Tudo envolvia linguagem. Prestar atenção às falas das pessoas, por isto, era meu desasno na prática (ah, "desasnar" é deixar de ser asno, burro).

Gosto mesmo da palavra desânimo, que literalmente significa "sem alma". Ânimo vem de animus do latim cujo sentido é vida, é alma. Por curiosidade, o psiquiatra Karl Gustav Jung criou os ternos "anima" e "animus" que psicologicamente representa a essência feminina e a essência masculina respectivamente. Conclui ele que todos temos em maior ou menos grau estas essências dentro de nós: todos os homens têm um pouco de anima; e todas as mulheres têm um pouco de animus.

Como sou chato, eu sou chato com a palavra "desapego". Ela vem de uma ação concreta que é "pegar" e virou uma ação 100% emocional: desapegar. Não podemos dizer concretamente "desapegar-se de algo", como "eu me desapeguei de um copo de água." É comum por isto a expressão "praticar o desapego". Eu acho feia esta expressão porque sou chato. E todo chato deve ser evitado. Deve ser desapegado.

Desver. Desescrever. Desassistir. Desdesenhar. Despoetizar. Desapaixonar-se. Desir. Desficar. Desbonitar. Quando ficar feio, desbonitar também serve. Desbonitou. Para o belo surgir de novo, reinventar para não desesquerer. Não desistir. E pegar para si.

terça-feira, 7 de julho de 2015

O Belo com que me Identifico

Eu gosto. Quando gosto, gosto de mostrar que gosto. Não sou de meio termo. O meio termo é a indecisão pessoal e o vacilo de viver. Acho perda de tempo a indecisão, o vacilo. Andar perdido vale somente para a linda virtude da juventude, da adolescência, porque o adolescente sofre dentro de si. Deve sofrer. Senão, não cresce, não amadurece.

A confusão entre o querer e o não querer impede os belos momentos que existem para serem vividos. Eu amo os belos momentos. Eu aprendi a importância da certeza do "claro que sim!" um dia, que aos poucos virou dúvida, e da dúvida a completa negação. Eu não nego. Sou prático. Eu gosto e falo que gosto.

Ser prático não é ser apenas direto. Crer e intuir vale bastante na praticidade da vida. Ser prático requer muita certeza. Me causa tanta tranquilidade poder ter um tempo com alguém para sentir. Acho que tantas aulas lapidou em mim este sentir. Aprendi a olhar as expressões. Eu vejo. Eu interajo. Eu sinto. A partir daí minhas certezas...

Fernando Pessoa, o poeta português, foi o poeta das sensações. A sua obra poética pode ser resumida entre o sentir e o ser. Abstraindo a razão, o que sobra é o que sentimos. Verdadeiramente. Eu sinto. Diferentemente de Fernando Pessoa, meu sentir não é uma crise existencial adolescente. Eu gosto de sentir o mundo para expandir sentimentos e minhas sensações. Nada demais, no entanto. Somente porque eu gosto. Quando eu gosto, eu gosto.

Ah, gostei. Muito. Nada demais. Nada mirabolante. Um gostar por sentir. Querer sentir. As sensações boas devem permanecer. Se é bom é belo. E todo belo deve ficar. O belo por fora enjoa o belo por dentro. O belo da alma nos traz paz profunda. Paz: ausência completa de conflito e dúvidas. O belo interior: um dos belos que busco, valorizo, com que me identifico.

A Opção que Chegou

Viajar sozinho para mim é um universo literário. Além de ouvir música na rádio, eu vou fazendo poemas mentalmente. Poemas e pequenos textos reflexivos. Tudo mentalmente. Eu sei que eu vou esquecer tudo. Faz parte da mente literária. As palavras brotam como sensações. Lembro, por isto, a minha idade com orgulho. Cabe bem a um homem de 41 anos, com três filhos que os amo muito, divorciado - depois de 16 anos -, dois livros publicados, sentir que a vida vale à pena porque a palavra vem viva e cheia de experiência. O que esperar mais senão a harmonia da gratidão entre os problemas para resolver porque sou útil e o acolhimento? Na estrada, dirigindo, quando algo me agrada, eu gravo no celular. Ontem eu gravei. Não queria esquecer-me. "Eu não sou a sua primeira opção, mas eu sou a sua opção que chegou." Nunca mais pessoa alguma será mais a minha primeira opção. Será a opção que chegou. Olha que lindo. Ser escolhido e escolher. Eu não quero ser a primeira opção. Quero ser a opção que chegou. Acolher. Dar. Receber. Viver. Sorrir. Agradecer.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Sou Escritor

Sou escritor como quem vê o espírito humano algo delicado que precisa olhar para si. Minha fama como escritor ainda está nas dezenas de pessoas que gostam do que escrevo. Pouca fama, mas com muito sucesso, um sucesso pessoal de persistir ver, enxergar, sentir, traduzir. Algumas mágoas tenho neste meu caminho, que nunca vão virar rancor porque foram fraquezas e não maldades. A dor da maldade gera rancor; a dor da fraqueza, a mágoa. Fico feliz com algum reconhecimento. Eu não iludo nem fantasio. Deixo bem solto o que digo. Já não são meus textos aos olhos do leitor. Como meus filhos não são mais meus aos olhos deles mesmos. Abaixo, obrigado Thainá Zamperlim.

"Impressionante o quanto seus textos falam ao meu coração, o que sinto. Pare de ler meus pensamentos. Parabéns pelo trabalho mais uma vez!"

domingo, 5 de julho de 2015

Seu sorriso sincero

O seu sorriso sincero, eu o amo. O sorriso é, na verdade, a superfície. O contorno que engana tanto os lábios quanto os olhos de quem vê. Seu sorriso sincero não engana.

Verdade que a água limpa tudo; verdade que a lágrima borra a pálpebra; verdade que o beijo desmanchado é a finalidade do primeiro encontro, porque é romântico sentir o batom desaparecendo nas almas que se buscam. As almas podem estar nos olhos, mas são sentidas lá nos lábios.

Por que os contornos nos lábios, nos olhos? Somente para marcar os limites. Como o sorriso. Sorrir marca alguns limites. Sorrir vive no superfícial de todos os momentos. Eu amo seu sorriso sincero. Ele traduz que você é sincera no contorno da superfície do mundo.

Fui inspirado por um  específico sorriso sincero que vem tanto de fotos quanto pessoalmente. Eu amo seu sorriso sincero. Você me parece verdadeira em seus contornos. Mantenha-o.

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Fazer o Bem é Coisa Rara

Fazer o bem é coisa rara. Ainda mais para quem plantou aquela semente e testemunha - ainda que distante - frutos. Falo de simplicidade. Falo sem holofotes.

Me lembro de uma pessoa. Não nos conhecíamos bem e combinamos sair. Não importa quanto tempo estou na presença de alguém. A minha entrega fará parte daquele momento. Não passa outro sentimento senão ser o que eu sempre fui. Não é uma maneira para ganhar algo em troca. Mesmo porque, eu não penso na troca. As pessoas dão o que tem, dão o que são, e pior, dão somente o que sobra. Pensar na troca poderia machucar tanto a mim quanto a ela. Perguntei:

- Me fala algo que você gostaria de fazer e há muito não faz.

Ela deu suas razões dizendo que qualquer coisa. Mesmo assim esperei. Esperei alguns dias insistindo na mesma sugestão.

Um momento, ela me disse "praia". Sem entrar em detalhes. Fomos à praia. Chovia até. Tenho minhas razões tão íntimas que falar sobre seria macular o sagrado. Lembro-me de apenas ir à noite ambos com o pé na areia. Ela passar os pés na água fria, chinelo na mão. Foi para mim uma linda e simples cena. Eu falo de simplicidade. Ela me fez um bem. Neste caso, houve troca.

Quando vejo fotos dela na praia, é inevitável não refletir naquilo que me traz belas e boas e simples e verdadeiras lembranças. Não poucas vezes sou mal interpretado - e isto me irrita por dentro - quando meu jeito bate na porta de algum coração. O mundo anda mal. Fazer o bem é coisa rara. As pessoas viraram, na grande maioria, posse do que possuem. Elas querem a posse do que possuímos.

Mesmo assim, temos um jeito pessoal. Meu jeito, seu jeito, nosso jeito. Cada um dá o que tem. Se amor, amor. Se interesse, interesse. Se vazio, vazio. Do contrário, vai fazer o mal. Por dentro eu dou um sorriso amarelo. Perdemos momentos de ser apenas porque ainda cremos no ter sempre. Passarei por este mundo querendo ser minhas histórias. Se for para ter, que seja através de minhas histórias e minha boas memórias. Como esta. Praia. Na chuva. No frio.

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Sentimento Alheio

Ter de se preocupar com o sentimento alheio desgasta demais. Admiro e condeno quem simplesmente fala "é um problema de cada um!"

Para cuidar de um sentimento alheio você tem de se comportar com mais necessidade que o outro, mais temor que o outro, mais fragilidade que o outro, mais estupidez e dependência e burrice que o outro. Sendo justamente o contrário disto tudo. Cansa. Como fossem pai ou mãe que aturam a imaturidade e ingratidão de um filho cheio de problemas pessoais.

Acho que os anos deveriam ser mais frios para nossos sentimentos. Quando os anos, porém, os madurecem, não deixar e nem fazer sofrer viram virtude, e quem se desgasta é quem não quer que o outro se desgaste. Há tantas fórmulas simples.

O mais simples seria: não é da minha conta. Tem que viver e deixar cada qual se virar com seus próprios sentimentos. E neste último ponto, todos unanimemente concordam!