domingo, 25 de fevereiro de 2018

À Lica

"Um dia falei de meu amor a ela,
Não em lágrimas, eu me contive.
Nem dou nomes ao horror que tive,
De sofrer tanto, alma vaga,
Dilacerada, refém, perdida.
Ela nada fez, porque nada soube,
Sem saber do mal de quem ama
Solitário em sua própria angústia,
De nem traduzir o caos em palavras,
E o tempo perdido do absoluto vazio,
Que eu me via ao espelho, madrugada.
Minha alma aflita, desnorteada.
Não mais sentirei e nunca mais senti.
O amor partiu-me e parti sem nada.
Se um dia morri em vida no amor,
Foi o amor morto que me fez sorrir,
Voltar a sorrir pelos campos e flores,
Céu, morros, ventos e mar infindo.
Dei-me a sofrer então o permitido,
Sem mágoa, rancor e odiado ódio,
Que o primeiro entristece a alma,
Que o segundo vinga a discórdia,
Que o terceiro mata a vida abandonada.
Por amar já fiz loucuras abertas,
Vergonhas fora da razão pueril.
Ela sabe que amei, tonto que era,
Ela vive parte em meu coração.
Tenho aqui comigo a foto dela.
Que gostoso na segurança
Das memórias daqueles tormentos,
Reviver de longe os sofrimentos.
Memórias sobrepõem-se a memórias.
E o que busco acho apenas na ideia.
Amar hoje tornou-se sério negócio,
E sofrer não mais pede a minha alma.
Trocar a vida passada gloriosa,
De quem de amor morreu uma vez
E vivo retornou das cinzas espantosas,
Não vale se o presente não for a rosa
Bela, linda, formosa, delicada
Para resguardar minha doce poesia.
Digo em versos, soltos, sem rima,
Digo sempre e quero eternamente.
Lia muito, meu amor, lia constante.
Cada verso era uma luz ausente.
Lia claro os contornos escuros
Cada vez seus lábios sorridentes.
Li hoje seus olhos sempre belos,
Calientes, belos, brilho intenso.
Se a ponta do passado trago agora
É que agora sinto meu presente
E os anos que tantos se passaram
Me animam em forma de presente
Um dia poder, sozinho, ter amado-a.
Sem nunca seus lábios ter beijado.
Assim, obrigado, inspirado... amante.

(Flavio Notaroberto)

sábado, 24 de fevereiro de 2018

Poema Não Mais

Não Mais

Não mais aquele encardido cheiro
Amargo do dessabor insosso.
Lágrimas escorriam, deslisavam
Verdades, e traziam palavras soltas
A um mar particular de engodos.

Tive ilusões, e tive internas fúrias
Dos beijos, dos braços e abraços,
Pernas soltas, envoltas, cruzadas,
Ao ar bêbadas, sacudidas, trêmulas
Tudo passou ao sonho de nada.

A esperança única envergonhou-me.
A condição mortal sem eternidade.
Foi o tempo, do meu, nosso tempo
Perdido, que, se resta algo, saudade
Evaporou-se logo, longe, remoto.

Vivo melhor assim, castigando a dor
Que não sei sentir em mim deveras.
A ausência perene, como se nunca,
Nem nada, nem palavras, lágrimas
Cruzadas, porque em mim, só em mim.

Vivo o que me faz sempre amado.
No meu mundo próprio abandonado.
Quem ama a si, ama a parte boa
Da vida que esvai sombria e calada.
Nunca, morte em vida, porém, desistida.











domingo, 11 de fevereiro de 2018

Ramachandran

"This boundary between seeing and imagining has always proved ilusive in neurology. Perhaps synesthesia would help resolve the distiction between them."

V. S. Ramachandran