quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

À Tamara

À Tamara

Aos olhos, do coração contente!
Ternuras, doces e encantos.
Beijos pueris, leves, soltos,
Do amor, que a linda vida sente.
Que alma, Tamara, apaixonada!
As dores seguem lado ao lado.
Fossem elas sem teu cuidado?
Sem cor, amor, sabor, sem nada.
Que alma, Tamara, apaixonante.
Sorriso teu toca e enternece.
A flor no ermo campo floresce,
O tempo marca cada instante.
Saber a emoção, a alegria
Do ventre: nossa maior riqueza!
Formosa és tu por natureza,
Lágrimas há, sem elas, sem vida.
Eu não escolho outro momento,
Senão o Sempre, que amo tanto.
Quero para sempre teu encanto,
Que encanta e traz contentamento.
A mãe que surge ao nosso Deus,
E foi Deus, que o milagre opera.
Sei que o coração a Ele entrega,
Os nossos, os deles, meus, teus.
Deus restaura a vida que padece
Eu amaria falar de amor a ti,
Mas teu amor vem do sentir
Quem amas, por quem agradeces.
A mãe que és da filha que tens,
A mãe que tens da filha que és.
Curvado em oração, Vossos pés,
Deus cura teus maiores bens.
Mereces o mais belo verso,
Teus lábios, tez, corpo delgado.
Dizer em ti o admirado,
Exaltar o uno, universo.
Sorris sempre que a dor esvai,
Ao toque de cada ser amado.
Meu coração segue encantado.
Amar amando, amada vais,
Doce Tamara.

terça-feira, 25 de dezembro de 2018

Lendo (na verdade relendo) "Romeu e Julieta", tenho a coragem agora de falar algo que pertece exclusivamente aos jovens. Refiro-me à adolescência (dos 13 aos 19 anos), que é a coragem de arriscar sem medo e colocar a vontade presente na frente da sua própria vida futura. Lembrando, Julieta, 13 anos, e Romeu, entre 16 e 17 anos, morrem tragicamente no final da peça cometendo suicídio. Em nome do amor. Jovens tem essa força trágica. Jovens até os 19 anos. Depois, o enredo muda demais. Na casa dos vinte anos, não pega mais essa ilusão. Imagina então nos trinta, ainda que o medo da solidão da solteirice nos acorda junto com o despertador! Nos quarenta nem falo. Somos idosos aos quarenta anos. Temos mais passado que futuro. A verdade que pode machucar muito o coração de tantas mulheres e até de alguns homens é que se não casarmos com aquele amor da adolescência, dificilmente seremos inocentes para acreditar nessa natureza de amor mais uma vez e anular nossa vida, ou o que nos resta para viver. O tempo passa. O que fazer então? Como administrar o equilíbrio entre a ausência de inocência depois da adolescência com o desejo de uma alma amante permanente que seja nosso desejo e que esteja em sincronia, em harmonia, em empatia com o nome que damos ao amor? Não sei. Mas sei que devemos fazer o que todos fazemos sempre! Tentarrmos. Tentarmos. E tentarmos. Agora aqui reside o ponto delicado. De tanto tentar, as imagens que podemos construir em nossa cabeça é uma silenciosa autodestruição emocional de não dar certo. Erro fatal! Deu certo no tempo que deu certo. Eu imagino um namoro de um dia, ou de algumas horas como um casamento. Houve início e houve fim. Entre uma coisa e outra, foi feito o possível dentro do que o tempo permitiu. Se uma noite, cinema, jantar, sexo. Se um fim de semana, Campos do Jordão, hotel, sexo, restaurante, cerveja, chocolate, hotel, sexo, café da manhã, passeios, almoço, jantar, fundue de chocolate etc. Esses são os pequenos exemplos. Claro que em um casamento de anos, há outras conquistas que nem preciso citar para não prolongar. Oras! Desde que houve cumplicidade, houve um casamento, ou não é? Sei que não é aquele idealizado. Mas toda idealização veio de fora. Da cabeça da mãe, da família, da sociedade. Foi projetada na cabeça. Romeu e Julieta casaram-se no outro dia após se conhecerem. Casamento escondido e proibido. Compreende? E morreram em seguida. Na verdade, cometeram suicídio em reviravoltas doidas. Namorar por algumas horas, dias ou meses é estar casado no tempo que é permitido. Romeu e Julieta tiveram um final blau-blau e ponto final na peça. Terminou? Vida que segue. Entre um amor novo e o velho que virou ex-, o que pode apenas diferenciar é o tempo. Horas, dias, meses, anos. Ou - como idealizado - uma vida inteira. Sei que todos idealizamos. Eu também já.

domingo, 23 de dezembro de 2018

Há quem chore pela ausência; há quem chore por solidão; há quem chore por insegurança; há quem chore pela distância. Há choro de medo; há choro de raiva; há choro de saudades, muitas saudades; há choros ao ler ou ver ou sentir ou ouvir ou comer algo que mexe naquele canto escondido de nossa memória de alguma emoção indelével - imortal em nós. Há centenas ou milhares de razões para as lágrimas. E Jesus chorou três vezes, narra a Bíblia. Jesus chorou. Três vezes. A Bíblia narra. Deve ter sorrido em algum momento. A Bíblia não fala. Deve ter sorrido, talvez, pela felicidade do próximo, por exemplo, da do Jairo quando (a Bíblia narra) sua filha foi ressuscitada por Jesus. E, para terminar, vale a pergunta: que tipo de sorriso seria este de contentamento pela felicidade do outro? O sorriso do choro? Exato. Sorrir por fora; chorar por dentro. E 99% de meus choros por fora são de agradecimentos por dentro. Hoje chorei. Sou sensível demais. São meus neurônios-espelho. Ah, como diz Mano Brwon, "Diz que homem não chora. Tá bom, falou. Não vai pra grupo, irmão. Aí, Jesus chorou."

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Treinar

Treinar musculação com 44 anos é um desafio peculiar. Se você coloca intensidade, as articulação pedem arrego. É natural. Até os músculos mandam a mensagem de "calma aí", e o repouso é o tripo do normal. Treinar musculação, porém, é uma atividade que não pretendo parar mais. Eu apenas lamento de não ter tido aquele ânimo e incentivo de praticar antes. Eu tentava, mas não era prioridade. Eu sei que temos tempo apenas para as nossas prioridades. Meus filhos são minhas prioridades, meus estudos, leituras, livros que escrevo. Tentar vida acadêmica, trabalho são minhas prioridades. Temos tempo apenas para as nossas prioridades, que são aquilo que vêm primeiro. Eu sempre relembro que temos ciclos. Viver uma boa vida tem a ver com a consciência de nossos ciclos, ou apegar-se conscientemente ou inconscientemente a um deles apenas. Há pessoas que possuem um, dois, três ciclos, e passam sua existência. Outras administram vários ciclos e sabem dos limites de cada um, dos desafios, das recompensas e frustrações. Treinar é prioridade para mim. Pode ser um escape. E como é um escape pessoal causa a solitude, ou a solidão. Nem uma, nem outra. É ocupar o tempo em ciclos. E claro saúde, corpo sarado e inteligência em grande estilo são impactantes.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Muito Amor

Que gosto tem os afetos de seus momentos, se fossem nossos,
Eu me pergunto.
As respostas, imaginadas, tenho-as aos montes.
Nenhuma, porém, me dá o gosto humano da sensação divina de saber.
Ao seu lado, o que nós seríamos?
Sonho e especulo, e mais eu amo sua ideia em mim sublime, de a desejar.
Não posso saber e não sei.
Mas a amo, porque você me inspira.
Sou inspirado pelo amor.
É bonito, lindo, meu.
Aonde quer que eu vá, eu a levaria.
Se me você traz boas razões, delas me alegrarei e grato manifesto sua ausência em corpo, mas em mim, em espírito, alma e amor.
Muito amor.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Rafael e Larissa

Rafael e Larissa: fatalidade

Na praia de Copacabana a água do mar batia na areia, ou melhor, deslizava na beirada suavemente. Um par de olhos, perdido dentro de si, estava quieto, observando o sol que, do outro lado do mar, descia vagarosamente. Um papel de sorvete de distraia-se com o balançar das águas. Um par de pés se fixava na areia. Perto, uma bola de voleibol caia de um lado para o outro, aos gritos, uivos, suor, risos e muita sensualidade. Era sexta-feira. Uma sexta-feira vaga, de muito calor, muita paz e um pouco de solidão na alma de Rafael.

Rafael veio de sua casa, há poucos metros da praia. Caminhou pensando. Trazia entre as mãos um livro. Na verdade, um rascunho, cuidadosamente manuscrito. Cerca de duzentas páginas. Pensava no título. Ficou parado vendo o pôr-do-sol que de certa forma o inspirava. Trazia o mundo para seu interior, mas se perdia num prazer somente seu de tentar encontrar o que procurava. Arriscava um pensamento: “O que pode ser...?” Nada. Vez ou outra tirava da areia um dos pés afundados à beira mar e mexia de um lado a outro, quando a água vinha... Limpava-o. “Água pura e leve...”, pensava. Depois levantava a cabeça e mirava os olhos para o finito. Respirava toda calmaria do ambiente. Estava só. “O sol também”, refletiu. E a lua, ele poderia dizer, mas não disse. Era uma pessoa feliz.

Ia voltar para casa, pensando em reler seu texto e lá descobrir um título. Sabia que essa procura em breve estaria desfeita. Rafael tinha um jeito particular de solucionar seus problemas. Esperava. Não apenas porque era a única solução e sempre a melhor delas. Mas porque seu trabalho intelectual exigia paciência. Esperava... Esperava e pensava. Olhou pela última vez para o mar e agradeceu sua solidão feliz... Quando virou para ir embora, sem ver de onde veio o aviso, ouve um “Cuidado!”. Foi o tempo de receber uma bolada no nariz. Tombou lentamente no chão a poucos metros do mar.

“Me desculpe.”
Rafael levantou os olhos sem ver claramente. Ainda meio tonto pela força da bola e pela areia que entrou nos seus olhos. Não foi nada. E se ergueu mais preocupado com os papéis que se espalharam um pouco pela areia. Nenhum ficou molhado. A jovem recolheu outros tantos que estavam mais longe.
“Está bem?”, perguntou agora menos preocupada.
“Sim, claro!”, atentando mais cuidadosamente para a jovem diante de si, e o que viu não lhe desagradou nada, nem mesmo o sangue que em seguida lhe escorreu do nariz.
“Oh, começou a sangrar seu nariz...”
Ela disse e retirou sua camiseta onde escondia seu biquíni.
“Não, não precisa”, disse Rafael, levando as mãos ao nariz, erguendo-o.
Ela fez que não ouviu e insistiu.
A partida de voleibol havia recomeçado. Larissa ficou atendendo o ferido. Rafael estava sem jeito, desconcertado. Os papéis estavam com Larissa. “Olha a bola!”, passando desta vez bem perto sem atingir nenhum deles.
Entreolharam-se e riram um sorriso gostoso.
“Melhor a gente sair daqui”, sugeriu Larissa.
“É...”, respondeu Rafael.
Rafael tentava andar com a camisa de Larissa no nariz, cabeça erguida e sorriso amarelo. Via seu texto nas mãos da jovem e agradeceu por ela ter pegado antes que fosse para a água do mar. Larissa retribuiu sorrindo seus dentes brancos. Imagina. Aproveitou e disse seu nome. Rafael estendeu a mão. “Prazer, Rafael”. Se afastaram uns dez, vinte metros. “Olha a bola!” Larissa olhou e achou graça. Pegou a bola que desta vez veio fraca e devolveu-a para o jogo.
“Ela está te perseguindo.”
“Talvez porque nunca fui amigo dela.”
Larissa sorriu novamente.
Rafael lentamente se caminhou à beira do mar. Larissa o acompanhou. Tirou as mãos do nariz e abaixou a cabeça. A água estava morna, boa para um mergulho. Molhou um pouco a nuca e depois limpou o rosto. Em seguida, tirou a camisa e foi entrando na água. Jogou mais água na cabeça e os cabelos desta vez ficaram molhados. “Como a água está quente”, disse Rafael a alguns metros. Mergulhou.
“Você está bem agora?”, perguntou Larissa olhando-o no centro de seu rosto, depois que ele saiu da água.
  “Estou, estou... Obrigado. Pode voltar a seu jogo... E novamente, obrigado pela atenção e cuidado.”
A jovem achou-o gracioso. Ele respondia a ela evitando mira-la diretamente. E se ele reparasse bem, veria que suas feições eram sublimes. Larissa possuía um cabelo longo, liso e escuro. Um pouco embaraçado por causa do vento do litoral que não o deixava quieto. Sua pele era branca e macia. Os olhos um tanto largos e redondos, combinando com a boca média e lábios grossos. Larissa tinha um nariz levemente redondo e pequeno. Todo seu semblante era uma harmonia, dentro de um gracioso corpo de quase um metro e setenta e sete com 59 quilos. Rafael descobria-a aos poucos e produzia a imaginação com o olhar viril. Larissa sentiu o homem aflorar nos jeitos de Rafael e silenciou, consentindo amigavelmente.
“O que você faz?”, perguntou Larissa.
“Sou escritor...”, respondeu meio sem graça pela profissão.
“Que legal!”
“É...”
“O que escreve?”
“Gosto de escrever histórias, mas ainda não tenho nada publicado... Não sou famoso, nem nada disso...”
“Esses papéis em minhas mãos são um livro?”, perguntou mostrando nos olhos muita curiosidade.
“É um livro de contos... Histórias curtas sobre a vida, sobre o que a gente faz no dia-a-dia do nosso mundo... Eu estava aqui buscando um título para esse livro...”
“Estava? Já encontrou um?”
“Não! Não! Ainda não achei nenhum...” disse com um largo sorriso nos lábios.
“E são historias sobre o quê?”
“Não sei bem dizer. Quando escrevo, eu me esqueço de que sou eu mesmo quem cria. Escrevo sobre aquilo que está fora de mim. Penso muito nas pessoas, nos sofrimentos, nas angústias, nas incertezas. E...”
Larissa ouvia atenta.
“... está ali, escrevendo, criando, compondo, desenhando no papel palavras para as pessoas que vão ler me ajuda a superar todo sentimento de confusão que o mundo traz pra gente. E as palavras surgem de um espanto, um pasmo, um momento espiritual difícil de descrever porque é somente a consciência que existe solitariamente. É até interessante porque os amigos que lêem meus textos me falam ‘Mas isso não aconteceu com você!’ Eles dizem isso como se fosse necessário a gente viver as coisas para poder falar delas...”
Larissa ouvia e começava a ter gosto de como Rafael dizia as palavras. Ela não era acostumada a este tipo de conversa. Embora falasse três idiomas e tivesse conhecido o mundo em muitas viagens, nunca perdeu muito tempo com a boca de um escritor. Ela já havia tido a oportunidade de conversar com muitos. Rafael parecia diferente. Sentia sinceridade, beleza, suavidade. Nunca viu com bons olhos o mundo da literatura, dos livros, dos escritores. Era modelo internacional e lia o que lhe convinha. Gostava de estar livre quando tinha um tempo para si. Ainda que houvesse um chato de um paparazzo ao seu pé. Nem ligava. Não era famosíssima de estar nas revistas semanais, ou na boca dos programas de fofocas. Não. Apenas bem requisitada na profissão o que lhe rendia bons dividendos. Com seus dezenove anos queria viver intensamente a vida e o mundo da badalação, o fashion world, o produto que era e que tinha se transformado. As palavras não eram imagens.
“Você mora no Rio?”, interrompeu Larissa as palavras de Rafael.
“Sim, desde que nasci. Carioca da gema. E você?”
“Eu sou do sul, Santa Catarina. Mas venho para o Rio muitas vezes. Sou modelo.”
Rafael mordeu os lábios ao ouvir esta palavra.
“Puxa! Parabéns! Nunca conversei com uma modelo de verdade.”
Larissa sorriu e o chamou para tomar um suco no quiosque ao lado. Nem se lembrava mais do vôlei e ele nem do livro. Foram e juntos conversaram sobre tudo. Larissa do universo da aparência que conhecia; Rafael do mundo verossímil que criava.
“Vero... quê?
Trocaram muitos sentimentos pelo olhar. E o tempo precioso para o deleite dela e para a inspiração dele foi esquecido. Estava entardecendo e a temperatura estava quente em Copacabana.
“Vou para o sul hoje à noite. Com esta crise nos aeroportos vou de ônibus.”, disse a certa altura Larissa.
Rafael nada respondeu. Concordou com a cabeça e lembrou o que estava acontecendo no Rio, incêndio de ônibus, atentados, muita agitação no fim de ano. Poderia ir com você para o sul, sugeriu, sorrindo, brincando, ruborando-se. Queria prolongar a conversa. Sentiu, porém, que tinha falado tudo quanto podia para um sujeito tímido como era. Disse que precisava ir embora. Inventou uma desculpa qualquer. Despediram-se pouco depois, trocando emails.
A noite que entrava estava quente e continuaria quente como nunca antes. A vida continuaria. O fim de ano para o escritor e para a modelo seria inesquecível. E a dor da família dele e dela estaria estampada nas manchetes dos jornais ao longo dos dias pelo desespero dos disparos de balas perdidas que atingiriam os dois assim que ambos se levantaram: manchando o manuscrito de Rafael de sangue e encurtando o pouco da vida da modelo tão sorridente. Fatalidade.