quarta-feira, 3 de novembro de 2021
Lá atrás, bem no início, já se falava que morreriam muitas pessoas, porque há um vírus aí, novo, relativamente conhecido, que corroía de modo ainda não muito bem claro aos médicos e cientistas o organismo humano, debilitando-o. seriamente Lá atrás. Um fato: o vírus não distingue sua posição política - embora os cuidados sejam maiores dependendo da posição econômica. Ainda assim, afeta a todos. Ponto dois: o vírus foi criado ou não em laboratório? Nesse sentido, não mudaria em nada fosse ou não, porque a necessidade de enfrentar o vírus viria de qualquer forma: não é abrindo o peito e dizer que ele é uma manipulação para poder econômico etc., que salvariam vidas. Terceiro, todos sabemos quem são as pessoas que pregam literalmente o contrário do que a ciência propõe. Não vou pontuar aqui. Apenas sei agora quem é o verdadeiro mal da Terra e em nome de quem pregam. Não que o pregador primeiro mentiu. Quem mente e manipula são os pregadores de hoje. É triste, porque nós, brasileiros, assim como os EUA ano passado, fomos jogados à sorte de quem simplesmente nega, porque acha que o vírus é inventado, que é uma guerra, que é um jogo de interesse econômico. Como se tudo isso fosse de fato importante para cuidar do Brasil, ou simplesmente ter cautelas diante do desconhecido. Fomos jogados à sorte, como massa de teste, como rebanho sem cuidado claro de quem deveria estar no comando da vida humana aqui no Brasil, para cuidar de nós, brasileiros. Mais ainda constrangedor são pessoas que não enxergam o óbvio, não veem o que está acontecendo, porque preferem aqueles vídeos e áudios de fácil compreensão disseminados por whatsapp, e eles têm por verdade uma manipulação fantasiosa, de pessoas mentalmente perturbadas, doentes, que fazem em vídeos e em áudios histórias de manipulação, que se assemelham à livros de ficção científica.
quinta-feira, 21 de outubro de 2021
amor suave
Amor, suave, beije-me ternamente
Com aquela doçura dos primeiros
Momentos descobertos.
O beijo que nos ama, entrega-nos
Ao delírio alucinate do que fomos.
Sempre seremos.
Beija-nos o amor que sentimos,
E agora a saudade longa aperta
O fururo incerto.
Certo é o calor do sonho altivo,
E vivo e amado e eterno e lindo.
Nosso presente.
- Flavio Notaroberto -
terça-feira, 18 de maio de 2021
poema
sexta-feira, 14 de maio de 2021
sonhar e amar
domingo, 2 de maio de 2021
poema leda
sábado, 6 de março de 2021
Beatriz e Fátima
- Minha mãe disse para eu vir para escola, porque era para eu comer. É verdade, professora?
Sentada na cadeira, cara invertida, de pouquíssimos amigos, a professora Fátima usava máscara preta. A aluna em seguida meteu os olhos por entre os braços cruzados na carteira para chorar bem silenciosamente. Fátima ouviu e quase respondeu que estavam na escola "para todo mundo morrer de Covid!", de tão indignada pela desfaçatez e desumanidade de ter de ir trabalhar no pior momento. Ainda mais ela que já foi infectada. A sala vazia. Dos quase vinte e poucos alunos, somente oito presentes, espalhados, e todos em profundo silêncio, de máscara, obedientes. Ao menos fossem sempre quietos assim, pensou Fátima, dar aulas não seria doentio. A aluna insistia com os olhos entre os seus dois braços, chorando bem suavemente. Ela estava triste por algo, que ainda não incomodava a professora; esconder o olhar vermelho de tristeza era uma forma de sinalizar que não queria estar triste. Uma criança de onze anos entende ainda pouco de emoções humanas, nem procura entender para acomodar o que não é possível deixar de sentir. Apenas sente.
- Sim, disse a professora Fátima, vocês estão todos aqui para comer!, e Beatriz escondeu mais ainda a cabeça, agora incluindo suas orelhas.
A professora não levantou da cadeira, em momento algum, desde que havia entrado, há uns quinze minutos. Mexia em papeis e olhava as mensagens no grupo de professores, com a palavra de ordem Greve Já! O dia , por sua vez, até que feliz, alegre, sorridente com sol, vento fresco, nuvens brancas; o barulho era pouco, bem pouco, para uma cidade como São Paulo, para o bairro como Cidade Tiradentes, no extremo leste da zona leste. Tudo praticamente fechado, mas escolas não! O dia lá fora livre, e a professora presa naquela sala, oito alunos, servindo de quase babá, com risco para ela, sua família, dos alunos e seus familiares.
- O que foi, Beatriz? Por que chora aí?
A menina levantou parte do olhar, abaixou um pouco a máscara e em poucas palavras repetiu:
- Minha mãe falou que eu tinha que vir para a escola para comer.
Enfiou de novo o olhar perdido de sua inocência entre os braços, um pouco mais conformada.
- Por que para comer? - quis saber Fátima.
- Minha mãe só disse que eu tinha que vir para escola para comer, respondeu a menina, sem tirar a cabeça dos braços, e o som saindo abafado.
Mensagens no grupo dos professores pipocavam em protestos Greve Já!. Fátima lia e se alimentava daquelas convicções. A presença da Beatriz, uma aluna tão boa, dedicada, simples, humilde, olhar e sorriso sempre meigos e acolhedores, não faltava, que fazia lição, prestava atenção, participava cheia de respeito, aquela presença de Beatriz foi diminuindo o incômodo de Fátima de estar lá. Talvez porque as lágrimas de Beatriz não eram mais escondidas. O nariz não se aguentava e falavam por si. A professora deixou de lado o celular. Deu um panorama na sala de aula, naquela diante dela. Oito alunos, em silêncio, esperando o que fosse para esperar.
- Quem a mãe mandou para escola para comer?
Todos levantaram a mão, como se fosse parte da aula e obrigação a verdade.
"Para comer", sussurrou Fátima.
Aos poucos, sentimentos se sobrepõem a sentimentos, e o sentido de focar na sua revolta obscurece sua indignação, aplacando sua raiva e protesto. A fome tem pressa. O mal da humanidade é não sentir a fome emocional do outro, porque as pessoas sentem emoções e fome. A Beatriz na frente dela, o Guilherme lá no canto esquerdo. Na frente do Guilherme, o Matheus, e na frente dele a Paula; do outro lado da sala, Antônio, Débora, de cabeça baixa. No meio o Fábio e a Cinthia. Ela conhecia todos por nome, e mais ainda, conhecia parte da vida familiar de seus alunos, e daqueles em especial. O padrão entre eles seria mesmo a fome, que existe presente e triste, muito, muito, muito triste.
- Bem, levantou a professora, livro na mão, pedindo a todos para abrirem o caderno para atividades. Copiem com caneta azul, e iniciou um conteúdo aleatório de geografia.
Por um movimento mágico, Beatriz ergueu a cabeça, limpou o nariz escorrendo com ambos os braços. Ficou feliz internamente. O vermelhidão dos olhos se desfez em instantes. Uma luz de felicidade acendeu na sua mente. Ela abriu o caderno, separou a caneta e com tanto brilho no olhar começou a copiar da lousa cada palavra, com das maiores verdades existenciais. Beatriz era inocente, como todas as crianças ali, mas o que ela queria dizer em outras palavras seria a gratidão.
- Ah - disse a professora Fátima, conforme copiava, se a mãe de vocês falar para vocês virem para a escola para comer, falem para ela que ela está totalmente errada! Escola é para aprender, e isso que vamos fazer todos os dias. Vocês vêm para a escola para aprender!
Ninguém viu, mas Fátima, agora de costas, permaneceu assim por muitos e muitos minutos, copiando na louca - um hábito que ela não tinha -, simplesmente porque chorava a cada palavra na lousa, redescobrindo o que seria o amor nos pequenos gestos. Os alunos lá para comer, e ela sabia disso. A pandemia, por sua vez, exigia alguns sacrifícios. Fátima percebeu através da inocência de Beatriz e de todos aqueles oito alunos presentes, qual seria seu efetivo papel na pandemia. Por fim, Fátima saiu do grupo dos professores, que somente falavam em Greve Já! para mentalmente segurar firme a mão daqueles oito alunos e dizer "estamos juntos daqui para frente!". Fátima segue ainda aquilo que acha ser seu destino: acolher com conhecimento o coração de Beatriz e todos os demais.
flavio notaroberto