Igor Marques tem 15 anos e foi um aluno meu ano passado, em Juquehy. Ele sempre teve muita dificuldade e suas redações era das piores possíveis. (Abaixo algumas palavras escritas por ele ainda agora). Antes uma reflexão. Tenho por mim que em três, quatro, cinco anos é possível dar uma reviravolta na educação pública brasileira. A Coreia do Sul fez em 20 anos esta revolução. Bem, posso falar da nossa responsabilidade dos professores de Língua Portuguesa, que é a minha área. Adotei o método bem objetivo nas minhas aulas que "eu preciso formar leitores e nossa meta será esta até o fim do ano". Fui bem objetivo assim com os alunos. Eu ensino gramática (e até que relativamente bem), mas eu falo para os alunos "meu objetivo é fazer de cada um de vocês leitores plenos e não alfabetizados sem capacidade de analisar o que lê." Claro que para ser leitor, tenho que ler, eles têm que ler, todos temos que ler. Ano passado, nos 9° anos, eu li muito com eles. Dentre os textos, contos do Machado de Assis e inclusive boa parte do romance de Machado, Memórias Póstumas de Brás Cubas - fora as dezenas de outros textos que eu levava (os 9° anos têm uma maturidade bacana para ler, por exemplo, algo sobre psicanálise etc.). O fato é que o Igor Marques, com toda dificuldade dele, (eu fiquei sabendo que ele sempre foi ruim na escola, mas mesmo assim, educado e esforçado), ele somente precisava daquele pequeno empurrão cognitivo para ajudar a estruturar seus pensamentos e o que preencheria seus objetivos pessoais na educação. Neste sentido que creio fielmente que, em no máximo cinco anos, um outro país educacional teríamos, com alunos mais focados, mais desacelerados, sabendo do que quer - ainda que queiram ficar longe dos livros. O problema é que nosso sistema educacional não prepara para o livro, não temos a cultura do livro - a não ser iniciativas pessoais e pequenos projetos voltados à leitura. Eu dei aulas para 90 alunos e 1 pegou paixão pela leitura e talvez tenha se tornado uma pessoa que ajude nossa sociedade em multiplicador de conhecimento. É pouco. Mas mesmo assim, já em algo, ou alguém que carregaria o estigma do quase incapaz para uma formação educacional plena. Bem, abaixo as poucas palavras que ele trocou comigo e pede minha orientação para a sua vontade de estudar no exterior:
"Professor, sabe, eu tou com umas ideias de fazer uma Universidade fora do Brasil, sabe? Eu penso assim: antes eu não conseguia fazer uma redação adequada, e hoje eu tenho as melhores notas em textos de todo o gênero... Não gostava de ler um livro, e hoje em dia não consigo viver sem ler... Não conseguia entender nenhuma conta de matemática e hoje já corrijo as provas."
Bem, desenrolamos uma conversa e assim que abri uma turma de inglês em minha escolhinha de inglês aqui em Cambury eu vou dar uma bolsa para ele. Estas superações alheias são emocionantes, assim como eu creio que nós, professores, somos apenas instrumentos, meios, pontes para eles atingirem o destino que eles querem para as suas vidas.
Prof. Flavio