De tudo aquilo que a ideia de amar me proporciona, eu devolvo como resposta o cuidado, e com muito cuidado. Já cito António Damásio, português neurocientista, falante fluente de seis idiomas, e autor de alguns livros fascinantes sobre o papel das emoções na coordenação, supervisão e gerenciamento completo de nossa mente e vida social, pessoal, familiar, profissional e afetiva. Amar puramente é semelhante às emoções em nós. Quem ama, cuida do emocional da pessoa amada. Um desejo, um sonho, uma vontade, um momento a só ela mesma, ou totalmente livre com amigos, viagens, realizações, e tudo isso são emoções. Imagino agora, com a minha fértil cabeça de escritor, que ainda vai escrever outras tantas diversas histórias em papel, e sabe quão difícil é para o próprio emocional escrever, eu imagino uma alma, ainda mais a alma que amamos, sendo acolhida em suas diferentes partes, delicadamente, e deixadas a repousar nesta certeza do cuidado de quem ama. É um sonho. Mas quem ama sem vaidade, vive o outro sem pertubação, sem opressão, sem repressão. A idade nos ajuda a acomodar dúvidas e incertezas. Desde jovem eu tive espírito velho. Hoje sinto minha mente em sintonia com minha idade, a idade que nada representa, senão uma referência para fins práticos sociais, apenas. Lembro-me dos Racionais, e Mano Brown dizendo "tenho uma alma velha!", e à época ele tinha 27 anos. Essencialmente sou grato e feliz. Porque me satisfaz passar por esta existência, - por que todos passam, tantos passaram e outros virão -, me satisfaz passar por esta existência e ter escrito meus livros, ter meus filhos, ensinar meus alunos, e buscar o coração pronto para saber acolher. Digo que nesta área do amor, logo em seguida à minha separação em 2014, depois de 15 anos casado, conheci mulheres. E não sabia ainda o que era ser solteiro, e extendia o cuidado que é essencia em mim a todas a pessoas em um toque íntimo, e houve um rastro de experiências fortes, que me abalaram no meu próprio emocional, dilacerando-o, extenuando-o. Decidi, então, recolher-me por três anos, e mais silenciar no contato do que acolher incondicionalmente. Por fim, purifiquei-me. Como uma fonte milagrosa, mas cuja corrente é pequena, e a água que escorre apenas tocava parte dos pés, e tive que deitar no seu espelho d'água todos os dias, girando o corpo de um lado a outro. Era um pouco de purificação por dia, em constante contato com outras relações toxicas. Pude então meditar calmamente e fazer do tempo uma terapia sem nenhuma pressa. Este ano, pude me restabecer após este período sabático. Não digo de autoconsciência, ou busca de autoconsciência. Um filósofo, que também sou, sabe que a consciência e sua irmã prima mais sofisticada, a autoconsciência, existem como ilusão. Tudo o que sabemos neste momento dentro de nós é reflexo de tudo o que experimentamos, e de como reagimos a estas experiências. Sempre tive autoconsciência, e sempre consegui governar a mim mesmo, até nos períodos mais críticos. E hoje mergulho no maravilhoso mundo das emoções, de cabeça. Seja como escritor, seja como leitor profícuo do assunto. Posso acolher com mais cuidado ainda as emoções alheias e transformá-las em aliadas para nosso bem-estar. Indico a leitura do livro "O Erro de Descartes", de António Damásio. Eu o tenho em PDF, caso alguém possa lê-lo digitalmente. Vão tão surpreendentes as primeiras páginas, que uma luz interior se acende e praticamente transforma nossas reações imediatamente. E no fundo é isso: como reagimos a tudo o que acontece conosco. Sem exceção alguma. Damos respostas constantes ao mundo. Saber mais sobre nossas emoções e suas funções como gerentes e coordenadoras de nós mesmos, nos dá segundos preciosos para não nos intoxicarmos, e isso vale muito. Nossa sociedade esta muito tóxica emocionalmente, os sensitivos precisamos purificar, e sobre purificação da alma, eu adoro ouvir Padre Fábio de Melo.
Bom fim de domingo! Bom início de semana!
(flavio notaroberto)