domingo, 12 de maio de 2019

Acolher emoções

De tudo aquilo que a ideia de amar me proporciona, eu devolvo como resposta o cuidado, e com muito cuidado. Já cito António Damásio, português neurocientista, falante fluente de seis idiomas, e autor de alguns livros fascinantes sobre o papel das emoções na coordenação, supervisão e gerenciamento completo de nossa mente e vida social, pessoal, familiar, profissional e afetiva. Amar puramente é semelhante às emoções em nós. Quem ama, cuida do emocional da pessoa amada. Um desejo, um sonho, uma vontade, um momento a só ela mesma, ou totalmente livre com amigos, viagens, realizações, e tudo isso são emoções. Imagino agora, com a minha fértil cabeça de escritor, que ainda vai escrever outras tantas diversas histórias em papel, e sabe quão difícil é para o próprio emocional escrever, eu imagino uma alma, ainda mais a alma que amamos, sendo acolhida em suas diferentes partes, delicadamente, e deixadas a repousar nesta certeza do cuidado de quem ama. É um sonho. Mas quem ama sem vaidade, vive o outro sem pertubação, sem opressão, sem repressão. A idade nos ajuda a acomodar dúvidas e incertezas. Desde jovem eu tive espírito velho. Hoje sinto minha mente em sintonia com minha idade, a idade que nada representa, senão uma referência para fins práticos sociais, apenas. Lembro-me dos Racionais, e Mano Brown dizendo "tenho uma alma velha!", e à época ele tinha 27 anos. Essencialmente sou grato e feliz. Porque me satisfaz passar por esta existência, - por que todos passam, tantos passaram e outros virão -, me satisfaz passar por esta existência e ter escrito meus livros, ter meus filhos, ensinar meus alunos, e buscar o coração pronto para saber acolher. Digo que nesta área do amor, logo em seguida à minha separação em 2014, depois de 15 anos casado, conheci mulheres. E não sabia ainda o que era ser solteiro, e extendia o cuidado que é essencia em mim a todas a pessoas em um toque íntimo, e houve um rastro de experiências fortes, que me abalaram no meu próprio emocional, dilacerando-o, extenuando-o. Decidi, então, recolher-me por três anos, e mais silenciar no contato do que acolher incondicionalmente. Por fim, purifiquei-me. Como uma fonte milagrosa, mas cuja corrente é pequena, e a água que escorre apenas tocava parte dos pés, e tive que deitar no seu espelho d'água todos os dias, girando o corpo de um lado a outro. Era um pouco de purificação por dia, em constante contato com outras relações toxicas. Pude então meditar calmamente e fazer do tempo uma terapia sem nenhuma pressa. Este ano, pude me restabecer após este período sabático. Não digo de autoconsciência, ou busca de autoconsciência. Um filósofo, que também sou, sabe que a consciência e sua irmã prima mais sofisticada, a autoconsciência, existem como ilusão. Tudo o que sabemos neste momento dentro de nós é reflexo de tudo o que experimentamos, e de como reagimos a estas experiências. Sempre tive autoconsciência, e sempre consegui governar a mim mesmo, até nos períodos mais críticos. E hoje mergulho no maravilhoso mundo das emoções, de cabeça. Seja como escritor, seja como leitor profícuo do assunto. Posso acolher com mais cuidado ainda as emoções alheias e transformá-las em aliadas para nosso bem-estar. Indico a leitura do livro "O Erro de Descartes", de António Damásio. Eu o tenho em PDF, caso alguém possa lê-lo digitalmente. Vão tão surpreendentes as primeiras páginas, que uma luz interior se acende e praticamente transforma nossas reações imediatamente. E no fundo é isso: como reagimos a tudo o que acontece conosco. Sem exceção alguma. Damos respostas constantes ao mundo. Saber mais sobre nossas emoções e suas funções como gerentes e coordenadoras de nós mesmos, nos dá segundos preciosos para não nos intoxicarmos, e isso vale muito. Nossa sociedade esta muito tóxica emocionalmente, os sensitivos precisamos purificar, e sobre purificação da alma, eu adoro ouvir Padre Fábio de Melo.

Bom fim de domingo! Bom início de semana!

(flavio notaroberto)

domingo, 5 de maio de 2019

Amar e Trair - Educação Emocinal

Para que o amor puro aconteça, me parece necessária boa dose de inocência e de pureza, ao mesmo tempo. Veja que falo de um amor primordial, que vem antes, bem antes de qualquer malícia e desconfiança. Basicamente, quando o amor surge em nós, ele esvazia nossa individualidade. Quanto mais a pessoa amada cresce em amor em nossa mente, menos somos para nós mesmos. É bonito e inevitável que seja desta maneira. Particularmente, eu creio neste amor puro. Hoje li que, do ponto de vista neurológico, o amor romântico é uma dependência, como qualquer outra "dependência". Somente quem já sofreu por amor romântico sabe o estado em que sua vida se encontra. Um estado completamente passivo, dependente das ações do outro, da vida do outro, do comando do outro. Este amor romântico existe e, diferentemente do amor puro e inocente, despersonaliza a pessoa amante. O amor romântico, sua ideia e concepção, virou moda ao longo dos anos 1800. O amor, mesmo assim, é uma força Universal antiga, assim como a morte, e seus mistérios. Os dois temas universais que fazem dos seres humanos algo peculiar. O amor junta as pessoas; a morte as separa. Quando há morte por amor, existe o maior dos paradoxos justificado somente pela mente doente. Matar ou matar-se por causa do amor não tem sentido do ponto de vista da lógica da pureza, da inocência, quando tudo começa. Já senti amor romântico na minha adolescência. Hoje creio no amor puro e inocente, de acolher, querer bem, cuidar da vida emocional do outro, mesmo porque somos sentimentos e vivemos nas emoções. Para mim, o amor é sacrificial, e ele tem grande representatividade em muitos corações. Os cristãos - e eu sou cristão - sabe do sacrifício de Cristo para purificar a humanidade. Esta reflexão é humana, não religiosa. Mas sacrificar-se é amar incondicionalmente. Ao amar e ser amado, não podemos tirar a liberdade de ninguém, e não ver podada nossa liberdade. Nossas experiências ao longo do tempo tiram de nós aquela pureza inocente da vida. Muitos de nós estamos corrompidos pela filosofia da dor e do sofrimento, pela reflexão do dia a dia, pela abstração em habita nossos pensamentos e as necessidades de sobrevivência. Por isso damos valor à liberdade, quando um dia a perdemos. Saber ser livre para não mais perder a liberdade. Tirar de nós a liberdade é um tipo de traição. Trair é quebrar expectativas de confiança em diversos graus. Algumas traições nem damos bola. Outras mexem demais. Quem não se sentiu traído ou traída por alguém certamente tinha zero de expectativa de confiança. Todos sabemos que há gradações de traição, digamos algo de 1 a 100. A mais alta é ligada a amizades e relacionamentos amorosos. O comprometimento com o outro subentende que as mentes ou os corpos se pertençam em confiança. Desejos de traição devem ser reprimidos, embora o ideal seria não haver outro desejo fora um do outro. A insegurança por sua vez ilude e machuca todos os envolvidos. Mas há traições sutis e fortes que não são consideradas "traições". Podar o sonho de alguém é trair; dificultar projeto de vida,  uma meta, um caminho que a pessoa pretende seguir é traição que no futuro o outro alegará: "parou porque quis", "desistiu porque quis", "não foi porque não quis", "resolveu fazer isso ou aquilo porque escoheu". É uma traição quase que imperceptível colocar impedimentos para que o outro cresce seja no trabalho ou na vida amorosa. Ou seja, transfere para o outro a ausência de suas conquistas e não pela interfência do outro. Indico um livro fabuloso que analisa Amar e Trair, do psicanalista Aldo Coratenuto. O tema é exatamente este. Somente somos traídos por quem de fato amamos e só traímos quem nos ama, e então somos mergulados no dilema mais essencialmente humano que é perdoar e sacrificar-se. Em um mundo cujas ideias estão muito simples, vale algumas reflexões às vezes mais estimulantes, porque vivemos bombardeados por emoções todos os dias. Precisamos de um bom preparo para saber lidar com elas. Causa alívio. Indico um livro chamado Poesia Ingênua e Sentimental, de Schiller. E tudo aquilo que alivia nosso emocional, vale a pena ter ao lado. Exatamente tudo.

Bom dia! Bom domingo!

(flavio notaroberto)