terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Sozinha

"Eu me sentir sozinha."

Essas as palavras de uma mulher que perdeu o marido há três anos. Ela falou bem pausadamente, prolongando o som, bem mais do que o normal, para cada vogal. "Eu me senti sozinha." Tocou instantaneamente meus sentidos. Verbalizei a essência de minhas percepções. Sentir-se sozinho. Já escrevi diversos textos sobre solidão, no sentido de sentir-se sozinho. Já escrevi sobre estar só, que pode ser uma real opção, sem solidão. Me questiono se o querer estar só não possa ser orgulho de estar só e justificar a solidão. Sempre parece mais verdadeiras as verdades que demonstram a fraqueza. Eu me lembro que achava o mundo triste, e as pessoas igualmente tristes, sem espaço para felicidade. Todos éramos tristes. Não havia felicidade. Julgava o mundo e as pessoas por mim. É normal. Somos mais fracos do que fortes. Aceitamos com mais facilidade a fraqueza e os sentimentos que a descrevem. Solidão e estar só entram nesse rol. Sentir-se só é estar fraco. Viver só é fraqueza. Solidão é fraqueza. Qualquer tentativa que saia dessa realidade é de não aceitar presença da solidão, do estar só. Sim. A mulher teve a perda e entrou no luto. O que é viver? É morrer? Bate solidão a morte. Por mais romântica que possa transparecer algumas por sacrifício, é duro descobrir estando vivo e ser e não ser de Hamlet. Vejo que a ânsia por parceiros e parceiras consome muitp de nossos pensamentos. Consome o meu. Mas isso apenas. Consome sem mais outra consequência. Entra nas perdas em que todo trabalho possui. Resíduo emocional. No final da reportagem da mulher que havia perdido o marido, ela havia superado a perda. Estava praticando esportes. Noiva. E a vida sem aparente solidão. Digo aparente porque a pior sensação de estar só é ao estar acompanhado. Acho que isso traduz bem minha opção.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Uma amiga

Uma amiga se separou na mesma época que eu - três anos atrás. Hoje ela está termiando a faculdade, e assim como eu praticamente a poeira abaixada daqueles momentos cheio de ventanias. À época, conversávamos muito. Fazia parte de algo que, cada qual com os problemas, compartilhado. Ontem, curiosamente, depois de meses, batemos um papo pelo whats. Viver no mato e no mar a 160km de SP dá preguiça. Uma preguiça saudável de não dirigir. Conversamos e falamos de como as coisas estão. Mais uma vez concluí que tempo para adequar nossas emoções é tudo. No meu caso, tive que deixar tudo, e ainda de deixar tudo, ficar sem absolutamente nada, para que pudesse viver o mínimo de paz, e confusão alguma mais séria recaísse sobre meus filho. A vida se abre para nossos jovens. Se o diálogo e o bom senso não fizerem parte de ambos, e ambos desejarem guerra, quem perde é a parte mais fraca. Não há dúvida que a parte mais fraca são os filhos. Do mundo nada se leva, ainda que se deixa muita coisa, escolhi deixar a paz para meus filhos não testeminharem brigas entre pais, e cada vez mais tinha que ficar do jeito que hoje estou. Sem dor em minha auto-estima alguma, ainda que familiares protestem pelo fato de renunciar vida financeira, vida emocional, vida social pelo mar e pelo mato - e projeto no início. Mas não queria falar só sobre isso. Isso veio apenas. Nesse papo com minha amiga, ela me disse bem claramente:

"Essa coisa de mulher solteira é muito ruim. Os homens são machistas demais. Tudo é motivo para sair e trepar. Eu não ando afim disso. Olha, eu conheci caras que se demonstraram ser escrotos."

Minha primeira resposta foi "se a mulher não for ninfomaníaca..." Ela concordou. Mesmo assim, ela não se arrependeu da separação. Ainda sai para tomar cerveja com o pai dos seus filhos, mas cada um no seu canto. Acho isso bacana. E entro agora na reflexão. O que nos agride. Uma vez uma jovem me disse claramente "você é igual a todos os homens; se não consegue sexo, fica de birra!". Senti-me um dos escrotos, machistas, so querendo trepar (não gosto desses termos!). Claro que me senti mais do que humilhado. E claro que falei para ela "desculpe-me, mas você está me julgando pelo tipo de homem que você está acostumada a sair!". Claro que ela ficou mais p. da vida ainda. Não é para menos. Lembrei (já com vontade de bloquear) que depois de 15 anos de casado, três de solteiro, 42 anos, opções das mais diversas e outros detalhes como escritor etc., eu vou me preocupar a sair com uma pessoa pensando em sexo? Não! Não funciona assim. Energia emocional  em minha idade é algo sério. Já saí com mulheres que nem beijei em função da energia que senti! Hoje prefiro passar um quadro aterrorizante sobre minha vida porque cansa o mesmo padrão de interesse: culto, inteligente, encantador, educado, acolhedor etc. Sim. Se aparecer uma mulher realmente culta, educada, acolhedora, encantadora, leitora, sensível e apaixonate, eu até topo. Mas essa mulher já está com alguém bacana ao lado. Se não está, é porque sabe quem é e protege sua liberdade. Eu compreendo essa minha amiga. São fase de vida. Nesse mesmo papo eu disse:

"Cheguei ao ponto de minha vida aonde quero estar. Vejo que minhas energias são muito voltadas para a educação e bem-estar dos meus filhos, ainda que eu esteja distante."

Claro que o medo governa todos que temem o próprio medo. Medo da solidão. Medo da ausência. Medo de sofrer. Medo de não compartilhar momentos com quem ama, ou ao menos uma pessoa que esteja ao seu lado. Medo de carência. Quase todos os medos vêm da carência, a disfunção entre o desejar e não ter.

sábado, 21 de janeiro de 2017

Certa idade

Depois de uma certa idade, acho que os mais vacinados contra a carência compartilhamos um medo em comum. Conhecer pessoas que não exatamente vivem o que a primeira impressão aparenta e o que falam. Risco perigoso, que inquieta a alma, com um alerta de cautela a todo momento. As aparências enganam. A boca que fala engana. Os olhos, os lábios, o jeito. Somente não engana quem não quer enganar. A idade não pode mais nos permitir cair no engano. Ainda mais quando sabemos quem somos e o que podemos proporcionar ao compartilhar momentos. Autoconsciência deveria ser um gatilho natural. Incrivelmente não é a regra. Da mesma forma não é a regra a sinceridade inicial. Um primeiro encontro é um jogo paradoxal de esconde-esconde infantil próprio dos jovens. Abrir quem somos pode assustar. Complicado é quando abrir quem somos encanta o outro, que que se surpreende. Falo por mim. Nem mais me importa a arrogância. Autonomia emocional não comunga com a arrogância, que é para os fracos, que precisam se econder de algo. Uma pessoa que tem compromisso com a sinceridade pega facinho os recalques das mentiras - pequenas ou grandes. Deixar alguém à vontade para falar pode causar três movimentos. Interesse. Desinteresse. Indiferença. Vamos chamar isso de honestidade. Ainda que sem o outro saber. A frustração machuca mais do que o desinteresse. Creia! Não dou mais abertura a esperanças. Gostaria de amizades. Mas não creio em amizades entre homens e mulheres em que haja alguma dependência emocional, algum vazio a ser preenchido, algum hiato. As pessoas criam expectativas. O ciúes corre solto. Faz parte. Tenho uma amigona, daquelas que eu seria filho dela e ela seria minha filha, e ambos seriam bem cuidados, sendo que ambos têm seus filhos e são grandes pai e mãe para seus respectivos filhos. Essa uma amiga. Uma amizade que dá certo. E sempre dará certo...

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Que Droga

- Que droga, Maria. Quer apanhar na cara, quer? O que é isso no prato?
- Não, Mené. Quero não. Apanhei demais ontem. Queimou um pouco.
- Mereceu, sua porca. Mas a surra vai ser bem dada que não queimará por dias a carne não.
- Queimou porque o machucado das suas mãos doia.
- Qual o quê, mulher de merda! Pega a pinga lá, pega. Que desgraça!
- Bebe mais não, Mané. Bebe mais não. Te peço, homem, bebe não.

domingo, 1 de janeiro de 2017

A Gente se Desacostuma

A Gente de Desacostuma

A gente se desacostuma. Aos poucos a gente se desacostuma de ser e ter. Um pouquinho por dia e todos os dias, de tanto se desacostumar, a gente pode refletir quanto tempo perdido. Se o tempo foi perdido é porque pouca coisa ou nada fez a gente ser mais. Periga quando faz a gente ser menos. A gente se desacostuma de ter vida social tipicamente de rua. A gente se desacostuma da vida virtual. A gente se desacostuma a gostar de ler, aprender, estudar. A gente se desacostuma ao trabalho e a um relacionamento, porque passam a ser necessários e apenas isso. O primeiro se perde o prazer e o segundo o amor. A gente se desacostuma de assistir a filmes, a seriados, a torcer pelo time do coração. A gente se desacostuma a celebrar aniversário e a sair com amigos para molecagem. A gente se desacostuma a jogar bola, a fazer compras no mercado, a cuidar do cabelo, das unhas, da maquiagem. A gente inclusive se desacostuma do Facebook, Whatsapp, Instagram. A gente se desacostuma a comer bem, a mexer o corpo, a dormir bem, a acordar com sono de quem somente quer dormir mais. A gente se desacostuma a dizer eu amo você. A gente se desacostuma a ouvir que amam a gente. A gente se desacostuma a sentir-se engajado, coletivo, desejado para se sentir deslocado, solitário, indesejado. A gente se desacostuma a viver um dia após o outro. A gente se desacostuma às ambições. A gente se desacostuma ao que poderíamos ser e não somos. A gente se desacostuma a ser quem as pessoas querem que a gente seja. Se o costume faz da gente algo simples, o descostume faz da gente algo complexo, porque a gente deixa de ter e ser o que a gente tinha e era. O descostume é bom. Quando a gente se desacostuma, a vida começa. A gente se liberdade e manda muita gente e situações caçar coquinho. O descostume é mais feliz do que o costume. A gente expande a vida. Essa que nos deram.

Uma Nota de Otimismo

Uma nota de otimismo

Sou otimista. Creio na vida. Meu bom gosto me agrada. Já vivi privações aterrorizantes em 2005 e nos últimos meses - contrário à abundância material por anos - retornei à privação no segundo semestre de 2016, mas dessa vez sem desespero. Aceitei como uma circunstância.

Creio, por intuição e porque o Brasil é muito rico, que 2017 será um ciclo promissor de crescimento econômico. Se o governo vende cautela é para ganhar mais méritos. Tenho minhas razões para não acreditar nos políticos, que nos governam e da Elite que tem o poder econômico. Mesmo assim, a revolta popular dá medo em ambos: nos políticos e na Elite.

Cresceremos. Atingiremos metas. Estudaremos. Viajaremos. Entraremos em normalização social, política e econômica. As pessoas nutrirão otimismo e esse otimismo contagiará os pequenos, médios e grandes empresários. O Temer, o Judiário, o Congresso entrarão num grande acordo para não haver colapso maior do que o que vivemos, onde todos perderam. Inclusive quem não tem nada a perder.

Sem o mesmo blablablá do otimismo esperançoso e vago, que o início nos envolve de esperança em tudo que iniciamos, esse ano de 2017 será melhor a todos com os deleites e percalços naturais da vida. Um tempo muito melhor de conquistas e realizações. Aquela coisa. Desde que o Aécio perdeu a Eleição Presidencial em 2014, a meta era tirar a Dilma de qualquer jeito. O ciclo para tirá-la foi de quase dois anos e a qualquer custo. Agora o panorama é outro. Meta atingida, quem tirou a Dilma (merecendo ou não) sabe que a resposta deve ser positiva. Sem dizer que o Henrique Meirelles - Ministro da Economia - é o homem mais forte do Brasil para esse processo. E ele sabe disso. Vamos todos crescer em 2017. Nós mercemos!