"Eu me sentir sozinha."
Essas as palavras de uma mulher que perdeu o marido há três anos. Ela falou bem pausadamente, prolongando o som, bem mais do que o normal, para cada vogal. "Eu me senti sozinha." Tocou instantaneamente meus sentidos. Verbalizei a essência de minhas percepções. Sentir-se sozinho. Já escrevi diversos textos sobre solidão, no sentido de sentir-se sozinho. Já escrevi sobre estar só, que pode ser uma real opção, sem solidão. Me questiono se o querer estar só não possa ser orgulho de estar só e justificar a solidão. Sempre parece mais verdadeiras as verdades que demonstram a fraqueza. Eu me lembro que achava o mundo triste, e as pessoas igualmente tristes, sem espaço para felicidade. Todos éramos tristes. Não havia felicidade. Julgava o mundo e as pessoas por mim. É normal. Somos mais fracos do que fortes. Aceitamos com mais facilidade a fraqueza e os sentimentos que a descrevem. Solidão e estar só entram nesse rol. Sentir-se só é estar fraco. Viver só é fraqueza. Solidão é fraqueza. Qualquer tentativa que saia dessa realidade é de não aceitar presença da solidão, do estar só. Sim. A mulher teve a perda e entrou no luto. O que é viver? É morrer? Bate solidão a morte. Por mais romântica que possa transparecer algumas por sacrifício, é duro descobrir estando vivo e ser e não ser de Hamlet. Vejo que a ânsia por parceiros e parceiras consome muitp de nossos pensamentos. Consome o meu. Mas isso apenas. Consome sem mais outra consequência. Entra nas perdas em que todo trabalho possui. Resíduo emocional. No final da reportagem da mulher que havia perdido o marido, ela havia superado a perda. Estava praticando esportes. Noiva. E a vida sem aparente solidão. Digo aparente porque a pior sensação de estar só é ao estar acompanhado. Acho que isso traduz bem minha opção.