quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

À Tamara

À Tamara

Aos olhos, do coração contente!
Ternuras, doces e encantos.
Beijos pueris, leves, soltos,
Do amor, que a linda vida sente.
Que alma, Tamara, apaixonada!
As dores seguem lado ao lado.
Fossem elas sem teu cuidado?
Sem cor, amor, sabor, sem nada.
Que alma, Tamara, apaixonante.
Sorriso teu toca e enternece.
A flor no ermo campo floresce,
O tempo marca cada instante.
Saber a emoção, a alegria
Do ventre: nossa maior riqueza!
Formosa és tu por natureza,
Lágrimas há, sem elas, sem vida.
Eu não escolho outro momento,
Senão o Sempre, que amo tanto.
Quero para sempre teu encanto,
Que encanta e traz contentamento.
A mãe que surge ao nosso Deus,
E foi Deus, que o milagre opera.
Sei que o coração a Ele entrega,
Os nossos, os deles, meus, teus.
Deus restaura a vida que padece
Eu amaria falar de amor a ti,
Mas teu amor vem do sentir
Quem amas, por quem agradeces.
A mãe que és da filha que tens,
A mãe que tens da filha que és.
Curvado em oração, Vossos pés,
Deus cura teus maiores bens.
Mereces o mais belo verso,
Teus lábios, tez, corpo delgado.
Dizer em ti o admirado,
Exaltar o uno, universo.
Sorris sempre que a dor esvai,
Ao toque de cada ser amado.
Meu coração segue encantado.
Amar amando, amada vais,
Doce Tamara.

terça-feira, 25 de dezembro de 2018

Lendo (na verdade relendo) "Romeu e Julieta", tenho a coragem agora de falar algo que pertece exclusivamente aos jovens. Refiro-me à adolescência (dos 13 aos 19 anos), que é a coragem de arriscar sem medo e colocar a vontade presente na frente da sua própria vida futura. Lembrando, Julieta, 13 anos, e Romeu, entre 16 e 17 anos, morrem tragicamente no final da peça cometendo suicídio. Em nome do amor. Jovens tem essa força trágica. Jovens até os 19 anos. Depois, o enredo muda demais. Na casa dos vinte anos, não pega mais essa ilusão. Imagina então nos trinta, ainda que o medo da solidão da solteirice nos acorda junto com o despertador! Nos quarenta nem falo. Somos idosos aos quarenta anos. Temos mais passado que futuro. A verdade que pode machucar muito o coração de tantas mulheres e até de alguns homens é que se não casarmos com aquele amor da adolescência, dificilmente seremos inocentes para acreditar nessa natureza de amor mais uma vez e anular nossa vida, ou o que nos resta para viver. O tempo passa. O que fazer então? Como administrar o equilíbrio entre a ausência de inocência depois da adolescência com o desejo de uma alma amante permanente que seja nosso desejo e que esteja em sincronia, em harmonia, em empatia com o nome que damos ao amor? Não sei. Mas sei que devemos fazer o que todos fazemos sempre! Tentarrmos. Tentarmos. E tentarmos. Agora aqui reside o ponto delicado. De tanto tentar, as imagens que podemos construir em nossa cabeça é uma silenciosa autodestruição emocional de não dar certo. Erro fatal! Deu certo no tempo que deu certo. Eu imagino um namoro de um dia, ou de algumas horas como um casamento. Houve início e houve fim. Entre uma coisa e outra, foi feito o possível dentro do que o tempo permitiu. Se uma noite, cinema, jantar, sexo. Se um fim de semana, Campos do Jordão, hotel, sexo, restaurante, cerveja, chocolate, hotel, sexo, café da manhã, passeios, almoço, jantar, fundue de chocolate etc. Esses são os pequenos exemplos. Claro que em um casamento de anos, há outras conquistas que nem preciso citar para não prolongar. Oras! Desde que houve cumplicidade, houve um casamento, ou não é? Sei que não é aquele idealizado. Mas toda idealização veio de fora. Da cabeça da mãe, da família, da sociedade. Foi projetada na cabeça. Romeu e Julieta casaram-se no outro dia após se conhecerem. Casamento escondido e proibido. Compreende? E morreram em seguida. Na verdade, cometeram suicídio em reviravoltas doidas. Namorar por algumas horas, dias ou meses é estar casado no tempo que é permitido. Romeu e Julieta tiveram um final blau-blau e ponto final na peça. Terminou? Vida que segue. Entre um amor novo e o velho que virou ex-, o que pode apenas diferenciar é o tempo. Horas, dias, meses, anos. Ou - como idealizado - uma vida inteira. Sei que todos idealizamos. Eu também já.

domingo, 23 de dezembro de 2018

Há quem chore pela ausência; há quem chore por solidão; há quem chore por insegurança; há quem chore pela distância. Há choro de medo; há choro de raiva; há choro de saudades, muitas saudades; há choros ao ler ou ver ou sentir ou ouvir ou comer algo que mexe naquele canto escondido de nossa memória de alguma emoção indelével - imortal em nós. Há centenas ou milhares de razões para as lágrimas. E Jesus chorou três vezes, narra a Bíblia. Jesus chorou. Três vezes. A Bíblia narra. Deve ter sorrido em algum momento. A Bíblia não fala. Deve ter sorrido, talvez, pela felicidade do próximo, por exemplo, da do Jairo quando (a Bíblia narra) sua filha foi ressuscitada por Jesus. E, para terminar, vale a pergunta: que tipo de sorriso seria este de contentamento pela felicidade do outro? O sorriso do choro? Exato. Sorrir por fora; chorar por dentro. E 99% de meus choros por fora são de agradecimentos por dentro. Hoje chorei. Sou sensível demais. São meus neurônios-espelho. Ah, como diz Mano Brwon, "Diz que homem não chora. Tá bom, falou. Não vai pra grupo, irmão. Aí, Jesus chorou."

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Treinar

Treinar musculação com 44 anos é um desafio peculiar. Se você coloca intensidade, as articulação pedem arrego. É natural. Até os músculos mandam a mensagem de "calma aí", e o repouso é o tripo do normal. Treinar musculação, porém, é uma atividade que não pretendo parar mais. Eu apenas lamento de não ter tido aquele ânimo e incentivo de praticar antes. Eu tentava, mas não era prioridade. Eu sei que temos tempo apenas para as nossas prioridades. Meus filhos são minhas prioridades, meus estudos, leituras, livros que escrevo. Tentar vida acadêmica, trabalho são minhas prioridades. Temos tempo apenas para as nossas prioridades, que são aquilo que vêm primeiro. Eu sempre relembro que temos ciclos. Viver uma boa vida tem a ver com a consciência de nossos ciclos, ou apegar-se conscientemente ou inconscientemente a um deles apenas. Há pessoas que possuem um, dois, três ciclos, e passam sua existência. Outras administram vários ciclos e sabem dos limites de cada um, dos desafios, das recompensas e frustrações. Treinar é prioridade para mim. Pode ser um escape. E como é um escape pessoal causa a solitude, ou a solidão. Nem uma, nem outra. É ocupar o tempo em ciclos. E claro saúde, corpo sarado e inteligência em grande estilo são impactantes.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Muito Amor

Que gosto tem os afetos de seus momentos, se fossem nossos,
Eu me pergunto.
As respostas, imaginadas, tenho-as aos montes.
Nenhuma, porém, me dá o gosto humano da sensação divina de saber.
Ao seu lado, o que nós seríamos?
Sonho e especulo, e mais eu amo sua ideia em mim sublime, de a desejar.
Não posso saber e não sei.
Mas a amo, porque você me inspira.
Sou inspirado pelo amor.
É bonito, lindo, meu.
Aonde quer que eu vá, eu a levaria.
Se me você traz boas razões, delas me alegrarei e grato manifesto sua ausência em corpo, mas em mim, em espírito, alma e amor.
Muito amor.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Rafael e Larissa

Rafael e Larissa: fatalidade

Na praia de Copacabana a água do mar batia na areia, ou melhor, deslizava na beirada suavemente. Um par de olhos, perdido dentro de si, estava quieto, observando o sol que, do outro lado do mar, descia vagarosamente. Um papel de sorvete de distraia-se com o balançar das águas. Um par de pés se fixava na areia. Perto, uma bola de voleibol caia de um lado para o outro, aos gritos, uivos, suor, risos e muita sensualidade. Era sexta-feira. Uma sexta-feira vaga, de muito calor, muita paz e um pouco de solidão na alma de Rafael.

Rafael veio de sua casa, há poucos metros da praia. Caminhou pensando. Trazia entre as mãos um livro. Na verdade, um rascunho, cuidadosamente manuscrito. Cerca de duzentas páginas. Pensava no título. Ficou parado vendo o pôr-do-sol que de certa forma o inspirava. Trazia o mundo para seu interior, mas se perdia num prazer somente seu de tentar encontrar o que procurava. Arriscava um pensamento: “O que pode ser...?” Nada. Vez ou outra tirava da areia um dos pés afundados à beira mar e mexia de um lado a outro, quando a água vinha... Limpava-o. “Água pura e leve...”, pensava. Depois levantava a cabeça e mirava os olhos para o finito. Respirava toda calmaria do ambiente. Estava só. “O sol também”, refletiu. E a lua, ele poderia dizer, mas não disse. Era uma pessoa feliz.

Ia voltar para casa, pensando em reler seu texto e lá descobrir um título. Sabia que essa procura em breve estaria desfeita. Rafael tinha um jeito particular de solucionar seus problemas. Esperava. Não apenas porque era a única solução e sempre a melhor delas. Mas porque seu trabalho intelectual exigia paciência. Esperava... Esperava e pensava. Olhou pela última vez para o mar e agradeceu sua solidão feliz... Quando virou para ir embora, sem ver de onde veio o aviso, ouve um “Cuidado!”. Foi o tempo de receber uma bolada no nariz. Tombou lentamente no chão a poucos metros do mar.

“Me desculpe.”
Rafael levantou os olhos sem ver claramente. Ainda meio tonto pela força da bola e pela areia que entrou nos seus olhos. Não foi nada. E se ergueu mais preocupado com os papéis que se espalharam um pouco pela areia. Nenhum ficou molhado. A jovem recolheu outros tantos que estavam mais longe.
“Está bem?”, perguntou agora menos preocupada.
“Sim, claro!”, atentando mais cuidadosamente para a jovem diante de si, e o que viu não lhe desagradou nada, nem mesmo o sangue que em seguida lhe escorreu do nariz.
“Oh, começou a sangrar seu nariz...”
Ela disse e retirou sua camiseta onde escondia seu biquíni.
“Não, não precisa”, disse Rafael, levando as mãos ao nariz, erguendo-o.
Ela fez que não ouviu e insistiu.
A partida de voleibol havia recomeçado. Larissa ficou atendendo o ferido. Rafael estava sem jeito, desconcertado. Os papéis estavam com Larissa. “Olha a bola!”, passando desta vez bem perto sem atingir nenhum deles.
Entreolharam-se e riram um sorriso gostoso.
“Melhor a gente sair daqui”, sugeriu Larissa.
“É...”, respondeu Rafael.
Rafael tentava andar com a camisa de Larissa no nariz, cabeça erguida e sorriso amarelo. Via seu texto nas mãos da jovem e agradeceu por ela ter pegado antes que fosse para a água do mar. Larissa retribuiu sorrindo seus dentes brancos. Imagina. Aproveitou e disse seu nome. Rafael estendeu a mão. “Prazer, Rafael”. Se afastaram uns dez, vinte metros. “Olha a bola!” Larissa olhou e achou graça. Pegou a bola que desta vez veio fraca e devolveu-a para o jogo.
“Ela está te perseguindo.”
“Talvez porque nunca fui amigo dela.”
Larissa sorriu novamente.
Rafael lentamente se caminhou à beira do mar. Larissa o acompanhou. Tirou as mãos do nariz e abaixou a cabeça. A água estava morna, boa para um mergulho. Molhou um pouco a nuca e depois limpou o rosto. Em seguida, tirou a camisa e foi entrando na água. Jogou mais água na cabeça e os cabelos desta vez ficaram molhados. “Como a água está quente”, disse Rafael a alguns metros. Mergulhou.
“Você está bem agora?”, perguntou Larissa olhando-o no centro de seu rosto, depois que ele saiu da água.
  “Estou, estou... Obrigado. Pode voltar a seu jogo... E novamente, obrigado pela atenção e cuidado.”
A jovem achou-o gracioso. Ele respondia a ela evitando mira-la diretamente. E se ele reparasse bem, veria que suas feições eram sublimes. Larissa possuía um cabelo longo, liso e escuro. Um pouco embaraçado por causa do vento do litoral que não o deixava quieto. Sua pele era branca e macia. Os olhos um tanto largos e redondos, combinando com a boca média e lábios grossos. Larissa tinha um nariz levemente redondo e pequeno. Todo seu semblante era uma harmonia, dentro de um gracioso corpo de quase um metro e setenta e sete com 59 quilos. Rafael descobria-a aos poucos e produzia a imaginação com o olhar viril. Larissa sentiu o homem aflorar nos jeitos de Rafael e silenciou, consentindo amigavelmente.
“O que você faz?”, perguntou Larissa.
“Sou escritor...”, respondeu meio sem graça pela profissão.
“Que legal!”
“É...”
“O que escreve?”
“Gosto de escrever histórias, mas ainda não tenho nada publicado... Não sou famoso, nem nada disso...”
“Esses papéis em minhas mãos são um livro?”, perguntou mostrando nos olhos muita curiosidade.
“É um livro de contos... Histórias curtas sobre a vida, sobre o que a gente faz no dia-a-dia do nosso mundo... Eu estava aqui buscando um título para esse livro...”
“Estava? Já encontrou um?”
“Não! Não! Ainda não achei nenhum...” disse com um largo sorriso nos lábios.
“E são historias sobre o quê?”
“Não sei bem dizer. Quando escrevo, eu me esqueço de que sou eu mesmo quem cria. Escrevo sobre aquilo que está fora de mim. Penso muito nas pessoas, nos sofrimentos, nas angústias, nas incertezas. E...”
Larissa ouvia atenta.
“... está ali, escrevendo, criando, compondo, desenhando no papel palavras para as pessoas que vão ler me ajuda a superar todo sentimento de confusão que o mundo traz pra gente. E as palavras surgem de um espanto, um pasmo, um momento espiritual difícil de descrever porque é somente a consciência que existe solitariamente. É até interessante porque os amigos que lêem meus textos me falam ‘Mas isso não aconteceu com você!’ Eles dizem isso como se fosse necessário a gente viver as coisas para poder falar delas...”
Larissa ouvia e começava a ter gosto de como Rafael dizia as palavras. Ela não era acostumada a este tipo de conversa. Embora falasse três idiomas e tivesse conhecido o mundo em muitas viagens, nunca perdeu muito tempo com a boca de um escritor. Ela já havia tido a oportunidade de conversar com muitos. Rafael parecia diferente. Sentia sinceridade, beleza, suavidade. Nunca viu com bons olhos o mundo da literatura, dos livros, dos escritores. Era modelo internacional e lia o que lhe convinha. Gostava de estar livre quando tinha um tempo para si. Ainda que houvesse um chato de um paparazzo ao seu pé. Nem ligava. Não era famosíssima de estar nas revistas semanais, ou na boca dos programas de fofocas. Não. Apenas bem requisitada na profissão o que lhe rendia bons dividendos. Com seus dezenove anos queria viver intensamente a vida e o mundo da badalação, o fashion world, o produto que era e que tinha se transformado. As palavras não eram imagens.
“Você mora no Rio?”, interrompeu Larissa as palavras de Rafael.
“Sim, desde que nasci. Carioca da gema. E você?”
“Eu sou do sul, Santa Catarina. Mas venho para o Rio muitas vezes. Sou modelo.”
Rafael mordeu os lábios ao ouvir esta palavra.
“Puxa! Parabéns! Nunca conversei com uma modelo de verdade.”
Larissa sorriu e o chamou para tomar um suco no quiosque ao lado. Nem se lembrava mais do vôlei e ele nem do livro. Foram e juntos conversaram sobre tudo. Larissa do universo da aparência que conhecia; Rafael do mundo verossímil que criava.
“Vero... quê?
Trocaram muitos sentimentos pelo olhar. E o tempo precioso para o deleite dela e para a inspiração dele foi esquecido. Estava entardecendo e a temperatura estava quente em Copacabana.
“Vou para o sul hoje à noite. Com esta crise nos aeroportos vou de ônibus.”, disse a certa altura Larissa.
Rafael nada respondeu. Concordou com a cabeça e lembrou o que estava acontecendo no Rio, incêndio de ônibus, atentados, muita agitação no fim de ano. Poderia ir com você para o sul, sugeriu, sorrindo, brincando, ruborando-se. Queria prolongar a conversa. Sentiu, porém, que tinha falado tudo quanto podia para um sujeito tímido como era. Disse que precisava ir embora. Inventou uma desculpa qualquer. Despediram-se pouco depois, trocando emails.
A noite que entrava estava quente e continuaria quente como nunca antes. A vida continuaria. O fim de ano para o escritor e para a modelo seria inesquecível. E a dor da família dele e dela estaria estampada nas manchetes dos jornais ao longo dos dias pelo desespero dos disparos de balas perdidas que atingiriam os dois assim que ambos se levantaram: manchando o manuscrito de Rafael de sangue e encurtando o pouco da vida da modelo tão sorridente. Fatalidade.

quinta-feira, 29 de novembro de 2018

1 Reis 8:39

REIS-1 8:39

O ano era 1995. Eu estudava na USP, zona oeste, mas morava no extremo da zona leste. Eram duas horas entre ônibus e metrô, ida-volta. Lembro-me que cruzava a Paulista na Consolação dentro do ônibus. Eu olhava pela janela e naquele momento eu chorei. Não creio que alguém reparava. Eu chorei porque não tinha vontade alguma de voltar para casa. Eu saía do meu mundo de estudos para ir ao que eu chamava "pequeno inferno" na minha vida. Morávamos apenas meu pai, meu irmão e eu. A casa um lixo. Uma imundície. Era uma mistura de todos os odores desagradáveis possíveis. Eu vinha da Cidade Universitária, cruzava a Av. Paulista, ia para o Itaim Paulista para viver tortura emocional que eu chamava "casa". Então uma cena ocorreu ao destempero e desespero de minha imaginação. Ao chegar em casa, eu iria gritar pelos nomes de meu pai e irmão. Como eu morava na frente da Av Marechal Tito, assim que eles aparecessem ao portão, eu iria atirar-me na frente de um carro, gritando "é isso o que vocês querem de mim" e morrer em paz. Assim daria fim para mim e deixaria algum remorso neles, porque eu apenas queria estudar e para isso precisava de paz, que não existia. As lágrimas no ônibus me aliviaram um pouco até em casa. Desci no ponto e fui andando lentamente. Muito lentamente. Não queria chegar em casa. Mas os caminhos têm fim. Entrei e lá vinha a sensação de mal-estar. Cruzar SP inteira para viver naquele estado precário. Eu queria ter forças para mudar, mas conhecia pouco de mim mesmo. Era fraco e frágil. Tudo sujo. Pia, chão, fogão banheiro. Uma nojeira. Casa velha. Meu pai e meu irmão dormiam quando entrei. Mais angustiado, fui para algo que eu chamava de quarto. Sentei numa poltrona velha. A vontade de sumir deste mundo, voltava à minha mente. Eu só queria paz externa para estudar. À época ainda continuava ateu - mas sem tanta convicção. Mesmo assim eu tinha uma Bíblia entre meus livros. Diante de mim a minha modesta estante. Olhei para ela e pedi alguma ajuda divida. Qualquer sinal. Voltei meus olhos para a minha estante e o primeiro livro que vi entre as dezenas foi a Bíblia. Joguei com Deus, desafiei Deus, clamei ajuda. Falei sussurrando: "me dê um sinal, uma luz, qualquer coisa para entender meu pai, meu irmão, e a minha situação neste mundo", e abri aleatoriamente a Bíblia nas seguintes palavras:

"Ouve tu então nos céus, assento da tua habitação, e perdoa, e age, e dá a cada um conforme a todos os seus caminhos, e segundo vires o seu coração, porque só tu conheces o coração de todos os filhos dos homens." 1 Reis 8:39

Diante deste tal arrebatamento, não acreditava no que lia, mas eu estava lá, lendo e não podia negar o que lia. Senti pela primeira vez Deus falando diretamente para mim e comigo. Pela segunda vez naquela noite eu chorei. Então passei a compreender melhor meu pai, meu irmão e meu destino neste mundo. Meu pai e meu irmão à época podiam não me compreender, mas eu os compreendia, e não devia julgá-los nos seus defeitos e no que eles eram para mim. Teria que viver e me superar, porque para isso serve a compreensão. Para perdoar os erros das pessoas e seus limites. Primeiro porque eu também tenho os meus erros e limites; segundo porque eu os compreendia naquilo que eles eram. Eu só não desejava para mim. Desde então - há 23 anos - estes versículos habitam em mim quando tenho que tomar uma decisão. Se eu tenho mais consciência do que a outra pessoa, não adianta julgar e acusar. Tenho que escolher o que é menos pior a todos, e geralmente quem tem mais consciência, tem que aprender a ceder. Desde o início Jesus tinha consciência de seu destino, e em momento algum ele contrariou a si e ao Pai. Aliás, somente fui converter-me a Jesus Cristo em 2005. E se me perguntam a que igreja eu frequento hoje, eu não sei responder. Sei qual Deus falou comigo naquele dia. Sei a que Cristo adorar. Sei que ninguém vai ao Pai senão por Jesus Cristo. Sei que estamos no mundo para seremos filhos de Deus, por meio de Jesus; para amar ao próximo; e que acima de tudo, Jesus quer de nós misericórdia e não sacrifício. Tive misericórdia de meu pai, meu irmão, de minhas ideias e de mim mesmo. Deus desde então vem me sustentando. Porque sempre digo "que seja feita a sua vontade". E aguardo.

Flavio Notaroberto

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Ir verbo

Ir é o verbo que nos traduz, a gente que nunca para. Ir reflete literalmente no corpo, que projeta os lábios apontando para o outro, àquela direção. Como faz a existênciq do tempo, ir é um jamais voltar. Ir é inefável, inexorável, indelével. Quando achamos que retornamos, é uma outra ida, e assim indefinidamente. As coisas do conhecimento e do espírito desafiam o tempo. As coisas do espírito desafiam as idas. Quando congelamos o tempo em uma foto, retratamos nosso pensamento em conhecimento. Vemos e não nos enganamos. Fotografamos todas as idas em nossas memórias, que revestem-se com emoções. Vamos para sentir e criar emoções, ou revisitar emoções, ou reviver emoções, ou renovar emoções. Ir é o maior fato de nossa passagem. Jamais aceito o que diminui a ação de ir, seja no tempo, seja no espaço, seja no conhecimento, seja nas emoções e memórias. Lamento que não tem a mesma inspiração, ou não a tem suficientemente para ir, e reaje à crítica destrutiva de quem vai. Não nos ocupemos. Vida interna ou externa é movimento.

Ouro Preto 3

Reflexão de Viagem 3 - Mariana

"Mariana não tem nada. Fique em Ouro Preto. Vai lá e volte no mesmo dia." Conselho à parte eu fui, com mala e tudo. Hospedei-me num hotel. Andei um pouco à noite. Tomei uma cerveja e comi um lanche maravilhoso. De fato, Mariana parece um bairro de SP, só que mais tranquilo. Existe um pequeno espaço de construções do século XVIII. Talvez haja mais coisas para fazer. Não explorei mais. Mas eu queria vir de qualquer jeito. Conheci uma pessoa bacana, que por si só valeu também. O meu maior prazer, além disso, é poder sentir as pessoas moradoras no seu dia a dia. Ainda que tudo fechado ontem e hoje, entrar em bares locais, conversar com as pessoas, comer o que todos comem, ouvir diálogos prosaicos me encantam e dizem bastante de minhas impressões. Uma amiga se impressionou comigo na quarta-feira, antes de eu viajar, "que memória, hein?", sobre algo que ela me falara em 2015. Não posso esquecer com facilidade. São minhas matérias literárias. O que as pessoas falam, como se comportam, como reagem, os diversos olhares e sorrisos e expressões. Quem escreve vive do outro. Não há muito sentido reconstruir na literatura e na arte uma expressão, um tom de voz, um olhar sem respaldo algum com alguma realidade. Um filósofo grego disse que se os homens fossem cavalos, seus deuses teríam a forma de cavalos. Assim para todas as sensações e apreensões humanas. Também dizem que os poetas eram úteis na Grécia antiga para orientar os jovens - opinião com a qual Platão discordava. Entre concordar e discordar, subimos e descemos. Se não houver tensão, não existe vida, já que a vida é uma luta em todos os sentidos. Esta viagem de volta de Mariana a Ouro Preto, dentro do ônibus comum vale pela linda jovem a dois acentos de mim, que vejo dorme um descanso gostoso, como meditação. Ela me lembra muito aquela minha amiga que citei no início, que me disse "que memória!". Sempre digo que somos o conjunto de nossas memórias e que memórias com vida são emoções arquivadas. Se não ancorarmos emoções a uma memória, nós perigosamente ficamos no limiar entre a depressão e a tristeza profunda. Depressão é ausência de emoção. Tristeza é uma emoção, assim como a alegria, euforia e a esperança. Espero que quem me leia compreenda. A vida passa...

Ouro Preto 4

Reflexão de Viagem 4 - Ouro Preto Final

Retorno

Lá atrás na foto abaixo vai ficando Ouro Preto. Eu poderia permanecer mais um dia, mas foram três, que se revelaram suficientes para novas memórias, que higienizaram minha rotina. Nesta viagem (a segunda que faço na vida!), aprendi o que é ser blogueiro. Foi uma jovem, que conheci, que me disse "tipo blogueiro" seu perfil. Vou me apropriar do conceito, porque soa menos exibicioniata. Se bem que compartilhar perspectivas culturais numa viagem não é bem um exibicionismo patético. Posso compartilhar momentos, como inspiração às pessoas, dentro do meu olhar, seja poético, seja reflexivo, seja curioso. Neste meu último dia conheci a Patrícia - uma jovem bem interessante, e conversamos sobre tudo. Ela é ricamente exótica, bibliotecária, de Manaus. Eu amei, e já falei do meu livro "Miguelito: Memórias" para ela, e li as partes que dizem respeito a Manaus, como o Morro da Liberdade, e ela me fez algumas fundamentais observações. Não sei se quero outra coisa para mim daqui para frente, senão viver minha liberdade conquistada, e mesmo assim assistida. Sou pai. Estou livre para o que eu quiser, e responsável para não abusar dela, nem de nada, nem de ninguém. Prefiro acolher lugares, coisas e pessoas. Disse à Patrícia que é impossível não levar meu olhar às impressões as minhas palavras, porque depois de uma certa intimidade (já falávamos de tudo), eu tive de descrever a primeira impressão que tive dela com a que criei em nossa despedida "reparando bem, seus contornos estão deixando você bem mais bonita." Como disse, se eu olho para algo, é impossível esquecer que posso usar as palavras para dar voz ao meu olhar. Sei que é muita pretensão e soa muito pobre. Viajar para escrever é pouco. É e não é. Viajei para agregar novas memórias e renovar emoções. Naqueles momentos quase mortos de uma viagem, eu aproveito e escrevo. Tive quatro momentos de Reflexão, e este é o último. Dois deles deitado na cama, um dentro do ônibus comum e este agora no ônibus de viagem, retornando. Tive o privilégio de estar na Praça Tiradentes no início de um evento de cervejas artesanais e vários shows. O privilégio de estar em uma cidade histórica do Período Colonial brasileiro (1532-1808) que faz muito sentido para mim nas artes, na arquitetura, na História e na Literatura. Minha filha, que estuda aqui, me disse "cuidado com os taxis". Em momento algum peguei taxi. Subi e desci morro, bem uns cinco quilômetros ida e volta, a pé. Com as pessoas, eu adorava os sotaques. Puxava assunto para ouvir com atenção. O gostoso foi em Mariana, jovens usando o "sô" como fosse o "né" paulistano. Quem é paulistano caricaturiza o "sô" mineiro, assim como os brasileiros fora de São Paulo caricaturizam o "orra meu!" paulistano. Quem é de SP capital sabe que não falamos hoje em dia este "orra meu!". Mas está valendo. É cultura, é retrato, é caricatura, é o olhar do outro sobre nós. A quem tem dúvida, eu aconselho a perder a vergonha e viajar sozinho. Uma pessoa até imaginou que eu estava em grupo. "Vim sozinho." Ela silenciou um pouco meio sem graça. Nem expliquei. Continuei tomando a minha IPA. Aliás, é muita cerveja artesanal. E se volto hoje também é porque mais um dia bebendo eu não aguentaria, nem fisicamente, nem financeiramente. Vale a pena. Sempre vale.

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Cada Pessoa

Cada pessoa que um dia amamos e que um dia deixamos de amar torna-se um luto, que para alguns quase não dura, e para outros não terá fim. Não que sejam inesquecíveis todos os amores. Ao contrário, porque amores se sobrepõem a amores. Uns vão; outros vêm. É apenas a sensação de quantos futuros amores ainda incomodarão nosso luto que machuca os sensíveis. Não bastam os do passado? Não é de todo péssimo escolher amar o tempo presente e os momentos reais ao lado da pessoa, e tão somente ao lado, sem idealizar nada, neste momento presente. Somos imperfeitos. Desejamos compreensão, sim. A compreensão nos encanta, que nos apaixona. Mas é uma idealização, que um dia irá se humanizar, e tudo que é humano morre.

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Empath

Excerpt from Dr. Judith Orloff’s book, The Empath’s Survival Guide: Life Strategies for Sensitive People 

Empath Self-Assessment

Have I’ve been labeled as “overly sensitive,” shy, or introverted?

Do I frequently get overwhelmed or anxious?

Do arguments or yelling make me ill?

Do I often feel like I don’t fit in?

Am I drained by crowds and need alone time to revive myself?

Am I over stimulated by noise, odors, or non-stop talkers?

Do I have chemical sensitivities or can’t tolerate scratchy clothes?

Do I prefer taking my own car places so I can leave early if I need to?

Do I overeat to cope with stress?

Am I afraid of becoming suffocated by intimate relationships?

Do I startle easily?

Do I react strongly to caffeine or medications?

Do I have a low pain threshold?

Do I tend to socially isolate?

Do I absorb other people’s stress, emotions, or symptoms?

Am I overwhelmed by multitasking and prefer doing one thing at a time?

Do I replenish myself in nature?

Do I need a long time to recuperate after being with difficult people or energy vampires?

Do I feel better in small cities or the country than large cities?

Do I prefer one-to-one interactions or small groups rather than large gatherings? 

Now calculate your results:

If you answered yes to one to five questions, you’re at least partially an empath.

Responding yes to six to ten questions means you have moderate empathic tendencies.

Responding yes to eleven to fifteen means you have strong empathic tendencies.

Answering yes to more than fifteen questions means that you are a full blown empath.

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

À Tatiane (poema)

À Tatiane

Seu rosto delicado,
Palavras tão macias
Dos lábios apaixonates,
Todo beijo apaixonado,
Que refaz o seu instante.
Beijar amando o mundo,
Seu mundo enamorado,
Que converte lágrimas
(Todas nossas!)
Em algo, esperança,
Da mulher que sonha,
Fascina, fascinante.
Um sonho acordado,
Bela é, luz divina.
É anjo, sim, da alvura,
Que a noite afugenta.
Sua pele, Tatiane,
Seu terno sorriso,
Arrebata o ardor,
Do amor, todo amor
Que aplaca a dor no toque,
Que amor algum supera
Seu carinho encantado,
Que faz amar corações.
Não só ame, Tatiane!
Ame e encante.
Nem o bruto se converte
Quando raia o dia,
Que alegra as horas andantes.
Ame a todos, Tatiane,
Que amor nos contagia.
Se não amar com alegria,
Ame os versos que inspiram
O ardor sempre vibrante.
Inspiração maior procuro,
E tento refazer o desfeito,
Olhando aqui em Ouro Preto,
Vêm-me à mente, eles,
Os inconfidentes, e suas musas.
Por instante, converto-me,
Num pobre poeta errante.
Marília, de Dirceu, bela e pura,
Tatiane, dos meus versos,
Linda e delicada amada.
Ainda mais outros tantos,
Versos surgem e surgirão,
Porque nada racional aguenta,
O repente, inspiração.
Se hoje sou pego por hora,
Logo serei acalentado,
E aquilo que crio agora,
Entregue será ao passado.
Tenha este esforço meu,
Um desejo de ir além.
Que vejo de amor em você,
Aos olhos de quem crê,
Mais do que um poema,
Quero ir na essência
A par do que lhe traduz,
Bela, linda, amor, minha luz.

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Existe a Filosofia

Existe o todo e existem as partes. Existe o particular e existe o universal. Existe a porção e existe o globalizante. Tenho lido sobre o universal. Na verdade, sobre a História Universal. De imediato, não creio em universalização, não creio em uma teoria que unifica, engloba e totaliza o conhecimento. Para mim, a filosofia parou em Kant, e depois dele aprendemos a pensar como Kant. Inclusive quem nunca leu Kant. Fui entender Kant apenas em 2016. Olha que eu já tentei inúmeras vezes compreendê-lo ao longo de vinte anos. Kant me ensinou didaticamente que duas coisinhas parecem ser realmente universais e ao mesmo tempo incompreensíveis para a mente humana, e para quem gosta de pensar - assim como eu - na mente humana: o Tempo e o Espaço. Kant escreveu que somos simultâneos no espaço. Eu, você, o mar que é minha paisagem agora, o sol que esquenta a areia da praia, e algo mais distante no universo que a imaginação humana não sabe onde é. No tempo, somos sucedâneos, consecutivos, somos constantes, porque o tempo é indelével. No tempo nossos eternos no passado e no futuro - existindo ou não existindo a mente humana. O tempo não existe senão em si e o espaço existe para nós, sol, planetas, buraco negro, partículas, que existimos, ou para o que virá a existir e para o tempo. Sem o espaço, o tempo interrompe seu percurso. Foi Einstein que disse. Nossa história é uma sucessão de acontecimentos que nos marcam a alma, assim como outro acontecimentos que são esquecidos. Chamamos de tempo de vida nossas experiências marcantes. Inclusive os traumas, que roubam malignamente nosso tempo. Tiramos de nossas experiências as dores e as alegrias, que também são relativas. Existem sentimentos inesquecíveis, porque habitam a memória de cada um de nós. Tenho os meus. Todos os temos. Por mais que exista algo de universal nos sentimentos humanos, eu observo o mar e reflito. Digo para mim mesmo que jamais uma onda no mundo será igual à outra - não importa quão eterno tem sido o movimento, não importa quão eterno será seu movimento. Ela vem, quebra, sonoriza algo, recua, semelhante a qualquer vida humana, que eu creio nunca haverá uma igual, ou semelhante à outra - ainda que compartilhemos o mesmo tempo, o mesmo espaço, os mesmos sentimentos. Jamais saberemos o que de fato o outro é. Quem me ensinou pensar assim foi Kant. Nossa razão possui um limite. Assim vejo também a História Universal da Humanidade. O Universal é o que tem de mais diversificado em qualquer teoria totalizadora. Sinto os estudos do cérebro humano - a atual neurociência - mais especificamente a parte dele chamada "neurônios-espelho" algo futuro do que explicará po rque pensamos, por que refletimos, por que somos introspectivos, por que olhamos para nós mesmos e por que conseguimos olhar para o outro dentro de nós mesmos. Sou mero curioso sem ter vontade de passar meu tempo em festas, ebriedade e frivolidade, porque gosta de aprender e quanto mais aprende, mais relativiza suas certezas e mais se entraga à poesia e à arte poética. Às vezes arrisco uma reflexão cujo modesto objetivo é tentar organizar as leituras sobre um tema tão específico como a História Universal da Humanidade, para qualificar-me no mestrado sobre o romance Esaú e Jacó, de Machado de Assis. Ironias à parte, um celular como esse em minhas mãos é a máquina de escrever na escrivaninha do passado, onde nossos intelectuais se intelectualizavam. Com o celular, podemos nos permitir arriscar reflexões e poesia em qualquer canto, inclusive na praia, uma praia tão linda como essa. Eu não enumero quantas ondas já se quebraram enquanto escrevo, mas as ondas não me deixam esquecer-lhes. Além de serem minha 9° Sinfonia de Beethoven, elas são a diversão de muita gente, e cada qual na sua fruição apaixonada, ou simples frivolidade.

sábado, 10 de novembro de 2018

Não Comece - poema

Não Comece

Não comece.
(Fosse para defini-la),
Não comece.
Ela quer que comece,
Sem fim.

For para começar,
For para brincar
Sem graça alguma,
Não comece.
Brincar de iludir,
Não comece.
For para jogar
Dados soltos,
Sem jogo,
Não comece.
For para ir sem nunca,
Nunca ficar,
Por que
Começar?
Não comece!
For para sonhar,
Que fere sem necessitar,
Por quê?

Não, comece
Agora a deixar p'ra lá.
Comece sem olhar,
Comece sem tocar,
Comece sem falar,
Comece sem envolver,
Comece sem encantar,
Comece sem começar.

Ela quer que comece
Um sorriso sincero
De sorrir acolhedor.
Acolher dor?
"Pode ser", ela pensa.
Mas não se fala em dor.
Ela dança,
E quem dança nunca,
Nunca para,
Porque a alma dança
Para sempre,
Anestesia dores,
Que começaram um dia.
Ela dança no olhar,
Nos lábios, sempre.
For para começar,
Vá com ela,
Somente, e quase apenas
Ir com ela no ritmo
Que não ilude, não confunde,
Nem aprisiona.

Não comece a tirar,
A tirar a liberdade,
Que nunca ama.
É forte começar.
Nem comece o que
Não vai durar.
Nem comece a amar.

quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Ao amor entregue sua alma

Ao amor entregue sua alma

Todos precisamos amar alguém.
Não é uma lei.
Mas como fosse.
Saber onde estamos e para onde vamos, sozinhos, sem amor, é um sonho a poucos.
Nem sei se possível a um coração que já amou algum vez.
Mas permiti.
Sem querer, vi-me estranho diante dela.
Desconfiei.
Seu jeito foi aparecendo tão calmamente, que fui permindo.
Permiti até ver-me no estado de quem sofre sem morbidez e melancolia.
Paixão apenas.
Nenhum sofrimento agrada.
Ainda mais amar, desejar, querer, sem ter.
A mente imagina e a imaginação real machuca.
O desejo de realizar não agrada, se há muitas dúvidas e incertezas.
A exclusiva certeza é não saber o que fazer, senão amar o mais belo possível.
São coisas do amor solitário, que constrange admitir, e mais ainda declarar ao mundo, sem que o mundo peça satisfação.
Sou meu mundo, ou melhor, sou neste exato momento dois mundos.
Aquele que ama e aquele que reflete quem ama.
Meu amor está nela e em minha cabeça.
Minha reflexão está em minha cabeça pensando nela.
Parece exagero demasiado, porque a poesia tem um quê hiperbólico.
Nenhum amor vale a indiferença psicopata.
Se escrevo, digo o que sinto.
Se exagero, afirmo que não minto.
Me vem à mente agora outro poeta: "para que mentir?"
Viajo em um lindo sentimento, cheio de sensações incríveis, e se ao menos desperta-me algo criativo, rendo-me a ele.
E se ela duvida de minha capacidade de amar, eu silencio.
Como um filho, na verdade, todo amor pertence a quem ama, e nele entrega sua alma.

Produto

    Produto

    - Estou com uma coceira nos dedos dos pés, Rogério. Horrível. Não para. E sempre tive.
    Rogério pediu para Débora tirar o sapato. Ela relutou.
    - Imagina. É feio de ver. Uma vergonha só.
    Ele insistiu. Colocou o pé direito descalço no chão. Ele pediu para ver mais de perto. Ela já não deu caso. Ele abaixou.
    - Já sei. Eu conheço uma pomada excelente. É cara, mas resolve.
    -  Cara quanto?
    - Não se preocupe. Eu vou comprar para você. Um presente.
    - Mas por que este presente?
    Ele se levantou. Pegou o paletó pendurado na cadeira. Era um escritório de advocacia. Ele era novo lá. Débora, um ano mais velha, quase senior, apesar dos 28 anos. Antes de sair pela porta, parou uns três segundos. Voltou os olhos para ela, que sorria pelo hilário dele.
    - Porque eu cuido de quem eu amo, disse visivelmente com os olhos marejados e a fala embargada.
    E saiu. Ela silenciou, séria e perdida. Parecia verdade. De fato. Quem ama cuida, em todos os momentos. Ela, a partir de então, permitiu ser cuidada, e, de sua parte, cuidou de Rogério.

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

À Sheila

À Sheila

Sentir nossa noite ao lado dela.
Contar as estrelas e seus segredos.
Sentir seu silêncio e o silêncio delas,
Meu peito ardente morrendo de medo
Da escuridão que a vida nos lega,
Do incerto segundo que vem e que passa,
Passar uma noite, eterna e sem pressa,
Amar as estrelas que se lembram dela.
Mãos apertadas, olhares perdidos,
Na areia do mar, calmo e espelhado,
Passar uma noite, fazer os pedidos -
Estrelas cadentes, no céu estrelado.
Não contar o giro infindo da noite,
Meu sonho real na imaginação,
Querer namorá-la, dizer boa-noite
Com beijo amado cheio de paixão.
Passar noite e dia ao lado dela,
Fazê-la sorrir, acolher sua dor,
Meu sonho que vive sonha com ela,
Do céu estrelado, da Estrela do Amor.








domingo, 4 de novembro de 2018

Fosse por mim


Deveria estar mais agradecido, e sou muito grato. Fosse apenas por mim, olharia com muito mais amor os pequenos detalhes que formam a minha existência. Fosse somente por mim, honraria muito mais toda doçura que encontro na humildade, pureza e inocência. Fosse por mim, curvaria minha alma e inclinaria meu corpo, tocando com meus lábios no solo sagrado que, afinal, tudo que existe abriga. (Engana-se quem acha que da água viemos: o solo sustenta a água!). Fosse como fosse, faço por quem eu amo. A gratidão, o amor, a existência, a doçura, a humildade,  a inocência, a alma, o corpo, os lábios, o sagrado, o solo. Gratidão é pouco fosse por mim.


Será?


- Será amor eterno?
- E as circunstâncias serão?





sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Faz sentido







Faz sentido, ao amar alguém, desejar lembrar-se da pessoa em pequenas memórias e lembranças. A última vez em que vivi este nefasto sentimento era adolescente. Hoje são as pontas da vida se reencontrando, e o eterno retorno da capacidade de continuar amando intacta.

quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Julia

- Sabe, Julia, às vezes precisamos de muita certeza para arriscar ir a diante.
- Verdade.
- E tem uma pessoa que está gostando demais de você. Está apaixonado. Queria que você soubesse para ter certeza.
Julia segurou o susto, atropelada pela emoção repentina. Não fosse o meio-dia, choraria. "Será que me ama também?" Apreensiva, seguia a atenção a Paulo.
- O Alexandre pediu para te falar...
Alexandre? Alexandre? O mundo desabou. Ela pediu desculpas. Volto para o escritório sem almoçar. Paulo nada entendeu. Somente à noite, refazendo a conversa, concluiu.
"- Júlia me ama!", e iria se declarar.
No dia seguinte, porém, Alexandre e Júlia foram almoçar juntos. Paulo pediu as contas do escritório, quando eles ficaram noivos, três meses depois.





terça-feira, 30 de outubro de 2018

Talvez para sempre

Talvez para Sempre

Uma dia talvez. Mas hoje não. Por você. Por mim. Um dia talvez. O que já existiu foi belo, lindo, intenso, maravilhoso. Quero tanto. Mas ao mesmo tempo preciso me amar mais do que tudo. Você possivelmente (possivelmente) seja a única exceção dos meus anos a quem eu dei espaço para planos e vida juntos. Meus anos presentes e futuros. Por hora fico dividido entre seus sentimentos, sua formação, sua felicidade e bem-estar. E minha vida pessoal? Quando estou próximo a você, minha vontade é a de ficar sempre. Já disse. Quando me aparto, ela enfraquece. Não porque não queira mais. Porque preciso me amar. Não teremos mais vidas juntas. Não dá mais. Daria. Mas me machuca o seu "nao te amo". Bem como o "não quero ficar com ninguém". Eu queria ficar com você. Mas acho que não quero mais. A solteirice e a ausência de seu amor por mim me colocaram os pés no chão. A vontade foi diariamente minguando. Sobra ao coração apenas aquela saudade dos meses que nos conhecemos naquele turbilhão de emoções. E o fato de você ter me "permitido" ficar com alguém demonstra que não posso ficar com você porque na verdade eu estaria traindo o alguém com quem eu ficaria. Ela não merece ser segunda opção. Maturidade seria não brigarmos. Mas entrar em nosso coração e escolher estas decisões. É isto aí. Não dá para terminar. Não existiu. Foram sentimentos. Não comprometimentos. Foram emoções. Não dedicação recíproca. Nao há o que terminar. Somente trabalhar os sentimentos e usar as emoções como memórias. Verdadeiramente. Me sinto hoje bem mais livre. Não se pode sofrer por um sentimento apenas sem comprometimento. Bem. É isto. Considero-a mais do que amiga, e menos alguém com quem eu quero uma vida comprometida agora. Você mesma me lembra que não sabemos o dia de amanhã. Mas sei o que quero hoje. E hoje não quero - mais do que nunca - deixar a liberdade de amar a mim mesmo no pouco que me sobra de minha individualidade.

O Amor e o Arco-Iris

Quis um dia que o Amor visitasse
As cores do arco-iris.
Soltas ao ar, luziam parcas
E tênues, pouco em si diziam.
"- Nada vejo. Onde andam seus tons?",
O Amor perguntou.
Silenciosas, sumiam as cores ao toque do olhar que o Amor sentia.
Era o mistério de onde vinha!
"- Tudo na vida se desfaz, meu Amor.
Se longe as cores viviam,
Se próximo, inexistiam,
Daqui se dissipam."
A imagem tem seus segredos,
Que amor algum controla.
Ao céu, quão belas são a cores!
No céu, o belo sublima em vazio.
O Amor se enganou da beleza alheia!
Do céu, retornou à dura pisada da Terra.
Sentiu galhos, folhas e algum secume.
Viu também o broto, que da raiz, viceja.
A beleza do céu, que se foi,
À verdade da terra que se sente.
O Amor chorou, que da ilusão nada se leva.
Agradeceu o solo firme e ancorou,
Ancorou o Amor à certeza presente,
Que mais vale amar a sensação daquilo que se sente,
Do que fantasia do belo lá longe.
Projetada falsa ilusão em cada mente.

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Texto Juliano

Finalmente Livre

Na favela do Morro da Formiga, no Rio de Janeiro, vivia a família de Leo, pai traficante, mãe reprimida, irmão viciado, e Leo, um garoto de 15 anos, obrigado a vender droga pelo pai.

Em mais um dia comum, como todos os outros, vendendo drogas, lucrando pelo pai. Chegou o dia do pagamento de Leu. 25% do que conseguiu lucrar. 250 reais no mês.

Na sua mente, estava preso nos braços do pai. Era clara a sua situação. Se não fizesse nada, continuaria nisso eternamente.

Decidiu comprar um microfone, algo totalmente diferente, já que sempre compra alguma roupa. Sua mente estava explodindo, não aguentou mais.

Num domingo ensolarado, folga de Leo, pegou o microfone, subiu em um quadrado de tijolos, no centro da comunidade; empunhou o microfone e soltou tudo que havia na sua cabeça. Coisas impressionantes, com um vocabulário acima da média, de um jeito que nunca havia falado.

Quando terminou o discurso, foi morto baleado ali mesmo por traficantes enfurecidos, e neste momento se viu finalmente livre

Juliano, 7°A

Poemas Kamilly

São dois textos de alunos. O primeiro da Kamilly, do 7°C, que me disse que está escrevendo versos como os abaixo, feitos por ela:

"Sem você sou como um barco
A vela, sem sua vela;
Um gramado sem sua grama;
Tristeza que entra disfarçada como distância
E contamina-me por dentro
Como uma bolha de desconfiança"

A reflexão que fiz para eles sobre este desejo de expressão por meio da arte é que, depois que se começa a escrever, por exemplo, é um caminho sem volta, porque produzir arte revela a nós mesmos. Não falo como quem busca efeito retórico. O espelho diz muito sobre nós. Se passa batom, gel, arruma a roupa, a gola, o pequeno amassado. O espelho somos nossos acessórios. Já a arte nos indica para onde olhar para nós mesmos. Seja ao consumo, e mais ainda ao criar. Depois vou compartilhar o preciosidade simples, mas marcante, escrita pelo Juliano do 7°A. E se de uma certa forma eu gosto de escrever, causo mais impacto falando, e vou tentando semear o solo para os alunos.

domingo, 28 de outubro de 2018

Silenciado poema

Silenciado

Eu sorri seu sorriso
E vi em seus olhos
Um amor reinventado.
Explosões de carinho,
- silenciosos.

Não foram tocados.
Fossem meus, os seus lábios
Núvens formosas,
Em formas vistosas
- silenciosas.

O abraço apertado,
Senti seu carinho,
O desejo pensado.
Pensei em falar
- silêncio.

Despertou-me o amor,
O tempo ao seu lado,
Foi bom o momento.
As palavras faladas
- silenciadas.

O tempo desfez.
Que saudade intensa,
Você ao meu lado,
Sonho acordado.
- silenciado.

Assim despertei,
Querendo gritar,
Para o mundo ouvir,
Não posso calar
O silêncio.

Faça Chegar a Ela


Faça chegar a ela que, apesar de todos os pesares, e das escolhas que a vida nos força, que eu a desejo, que eu preciso dela, que eu aprendi a amá-la, que vou esperá-la, que saber dela feliz a cada momento faz-me feliz. Faça chegar a ela que, como ela me ensinou, pouco sabemos do futuro que vem, porque ele vem. Faça chegar a ela que eu penso nela e que sei que eu sou feliz e a farei feliz, porque ela viu em mim o que a sua essência humana busca nessa existência tão reflexiva. Faça chegar a ela que, se houve amor, ainda há amor, porque o amor somente se desfaz quando se perde a admiração. Faça chegar a ela que eu a admiro e que eu sei que ela me admira também. Eu sei Ela também. Amamo-nos. Faça somente chegar a ela. Será ela, e sei que somente ela, porque foi, será, é ela.

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Poemas a Ela

Ao amor entregue sua alma

Todos precisamos amar alguém.
Não é uma lei.
Mas como fosse.
Saber onde estamos e para onde vamos, sozinhos, sem amor, é um sonho a poucos.
Nem sei se possível a um coração que já amou algum vez.
Mas permiti.
Sem querer, vi-me estranho diante dela.
Desconfiei.
Seu jeito foi aparecendo tão calmamente, que fui permitindo.
Permiti até ver-me no estado de quem sofre sem morbidez e melancolia.
Paixão apenas.
Nenhum sofrimento agrada.
Ainda mais amar, desejar, querer, sem ter.
A mente imagina e a imaginação real machuca.
O desejo de realizar não agrada, se há muitas dúvidas e incertezas.
A exclusiva certeza é não saber o que fazer, senão amar o mais belo possível.
São coisas do amor solitário, que constrange admitir, e mais ainda declarar ao mundo, sem que o mundo peça satisfação.
Sou meu mundo, ou melhor, sou neste exato momento dois mundos.
Aquele que ama e aquele que reflete quem ama.
Meu amor está nela e em minha cabeça.
Minha reflexão está em minha cabeça pensando nela.
Parece exagero demasiado, porque a poesia tem um quê hiperbólico.
Nenhum amor vale a indiferença psicopata.
Se escrevo, digo o que sinto.
Se exagero, afirmo que não minto.
Me vem à mente agora outro poeta: "para que mentir?"
Viajo em um lindo sentimento, cheio de sensações incríveis, e se ao menos desperta-me algo criativo, rendo-me a ele.
E se ela duvida de minha capacidade de amar, eu silencio.
Como um filho, na verdade, todo amor pertence a quem ama, e nele entrega sua alma.

Estrela do Amor

Passar uma noite ao lado dela.
Contar as estrelas, seus segredos.
Sentir seu silêncio e o silêncio delas,
Meu peito ardente sofrendo medo

É escuridão que a vida nos lega,
Do incerto segundo vem e passa,
Passar uma noite, eterna e sem pressa,
Amar as estrelas que me lembram dela.

Mãos apertadas, olhares perdidos,
Na areia do mar, calmo e espelhado,
Passar uma noite, fazer os pedidos -
Estrelas cadentes, no céu estrelado.

Não contar o giro infindo da noite,
Meu sonho real na imaginação,
Querer namorá-la, dizer boa-noite
Com beijo amado cheio de paixão.

Passar noite e dia ao lado dela,
Fazê-la sorrir, acolher sua dor,
Meu sonho que vive sonha com ela,
Do céu estrelado, da Estrela do Amor.

Pensar Nela

De tanto pensar nela,
Meus olhos reaprenderam a amar.
Internamente choro um estado melancólico de querer o momento dela, e dou liberdade à imaginação.
Reflito em versos e os escrevo, sem fé na poesia.
Se quero mergulhar de cabeça e reviver a paixão como a mais profunda expressão do indivíduo, reduzo o pensamento nela e distraio-me nas sensações.
Prefiro sentir a amar.
Prefiro sofrer a amar.
Prefiro pensar a amar.
O amor, e minha ideia, a mim não me escapa e fico preso ao que não preferiria, que é justamente amar.
Se um dia um artista amou, a coisa amada vira sua arte, que é a parte onde o mundo geralmente descansa.

Amar de Paixão Patológica

O fato de eu amar uma pessoa, e não ser correspondido, não significa que não sairei com outras.
Parece óbvio e até razoável.
E não digo amar apenas.
Amar de paixão, algo patológico, que distorce, inverte a realidade, dando outra dimensão às emoções.
Amo apenas uma, e cada boca que beijarei, sem ser a dela, doravante entrará na sensação do beijo amado ausente.
Viverei uma ficção no amor;
Um realidade paralela.
Atingirei o zênite no delírio e na esquizofrenia.
Poderei declarar amores a mulheres sem amar - delírio
Poderei materializar e confundir meu amor em outras mulheres - esquizofrenia.
Se não for para transcender, nada valeria o sofrimento que me incorpora hoje.
De um lado, ela, tão cara amada, que alumia minha escuridão própria, sem fim.
Do outro, elas, tão breves solidões, que opacam a minha luz, sem mim.
Que mais aterrorizantes venham os efeitos do amor sobre mim,
Que desejo infinitamente sem conquistar.
No vendaval de emoções,
Ela vive em meu pensamento.
Sem poder nada fazer,
Meu pensamento sorri,
Enquanto eu padeço.
Aos lábios profanos que beijarei, ao menos descubro meu amor eterno por ela.
Se deliro, discordo.
Se esquizofrenizo, creio.
Eu amo amar meu estado apaixonado.
É ela vivendo em mim.
A quem deseja muito,
O impossível basta.

Ode de Declaração ao Amor

Eu sorri para mim mesmo este novo amor.
Quantas mulheres que me amam para eu amar,
E fui dar-me conta de que, de repente, torno-me refém dela, que jamais terei, que não me ama.
Por ela, eu digo que jamais a terei.
Todas mulheres são conquistáveis,
Afinal, todas amam ser amadas,
Verdadeiramente.
Eu desejo amar, intensa e profundamente!
Bem pouco tempo atrás,
Eu julguei jamais voltar a saber o delicioso desejo de sofrer por amor na idade que tenho, que inicia os flertes com a sabedoria.
Ser sábio mata o amor.
Sábio continuarei, mas amando-a.
Não controlo mais e tenho que permitir.
Ela hoje me fez esquecer recentes ilusões de outrora.
Ela me faz hoje lembrar minha intensa paixão juvenil de outrora, que sem pretensão quase matou-me a vida.
Ela não tem a mínima ideia do que eu sinto por ela, e dos versos que surgem para ela.
Ela não tem ideia.
Não fosse a meia idade minha, que aplaca as insanas emoções, eu a buscaria não apenas em vontade de amar.
Eu a conquistaria.
Eu a buscaria na certeza de a amar sempre, e fazê-la feliz.
Sorrir para ela,
Sorrir com ela,
Sorrir por ela,
Fazê-la sorrir.
Não perco a esperança,
Mesmo assim apenas por milagre.
É fácil viver no "se for para ser, será."
Recolho-me sem ansiedade e vivo em mim o torpor natural de quem ama o amor romântico,
Solitariamente.
Aliás, ela não é da poesia.
Se fosse, talvez sonharia.
Eu sonharia.
Como ela não é,
Apenas um milagre,
Porque se for para ser...
Mesmo assim quero que seja para sempre com, ou sem ela,
E nenhuma outra mais amar tanto.

O Amor e o arco-íris

Quis um dia que o Amor visitasse
As cores do arco-iris.
Soltas ao ar, luziam parcas
E tênues, pouco em si diziam.
"- Nada vejo. Onde andam seus tons?",
O Amor perguntou.
Silenciosas, sumiam as cores ao toque do olhar que o Amor sentia.
Era o mistério de onde vinha!
"- Tudo na vida se desfaz, meu Amor.
Se longe as cores viviam,
Se próximo, inexistiam,
Daqui se dissipam."
A imagem tem seus segredos,
Que amor algum controla.
Ao céu, quão belas são a cores!
No céu, o belo sublima em vazio.
O Amor se enganou da beleza alheia!
Do céu, retornou à dura pisada da Terra.
Sentiu galhos, folhas e algum secume.
Viu também o broto, que da raiz, viceja.
A beleza do céu, que se foi,
À verdade da terra que se sente.
O Amor chorou, que da ilusão nada se leva.
Agradeceu o solo firme e ancorou,
Ancorou o Amor à certeza presente,
Que mais vale amar a sensação daquilo que se sente,
Do que fantasia do belo lá longe.
Projetada falsa ilusão em cada mente.

Silenciado

Eu sorri seu sorriso
E vi em seus olhos
Um amor reinventado.
Explosões de carinho,
- silenciosos.

Não foram tocados.
Fossem meus, os seus lábios
Núvens formosas,
Em formas vistosas
- silenciosas.

O abraço apertado,
Senti seu carinho,
O desejo pensado.
Pensei em falar
- silêncio.

Despertou-me o amor,
O tempo ao seu lado,
Foi bom o momento.
As palavras faladas
- silenciadas.

O tempo desfez.
Que saudade intensa,
Você ao meu lado,
Sonho acordado.
- silenciado.

Assim despertei,
Querendo gritar,
Para o mundo ouvir,
Não posso calar
O silêncio.

Vai longe

Vai longe o desespero.
Longe e frio como a morte
Que via pairar em minha solidão,
Num diálogo franco.
Por que falar dela hoje
Se os anos parecem sonhos,
E sonhos vivem sinistros
No amor não correspondido?
Falo de amor porque vai longe,
Sem volta à dor de existir.
Um dia sofri e envergonho-me.
Não vale tanto a dor que sente
O coração inocente.
Ser uma alma do meu tempo
Diz mais das ilusões passageiras,
Porque a vida é uma passagem.
Vai longe o desespero, e desprezo,
Desprezo para gerar a vingança,
Que mata e delira a si próprio.
Se nunca mais, não mais terei
Aquele tempo de desespero,
Que vai longe, muito longe,
Nas paragens de minha solta
E desperta ilusão de amar.
Nada é conclusivo aos passos
De tudo que somos nós mesmos.
Vai longe, para longe, para não mais.

Ela é minha linda

Ela é linda, mas é poética.
Fosse apenas poesia,
Seria apenas uma ideia.
Fosse apenas linda,
Nem seria por mim lida.
Ela é poética, o que a faz linda,
E por ser linda também
O amor se confunde,
Feito realidade e ilusão.
Ela é linda, me inspira versos,
Ela é poética, me inspira a vida.
Posso até uma hora
Escrever poesia para ela.
Ela é linda na poesia.

Reder-se ao amor

Foi amor, meu amor.
Quando, no descaminho da derrota dessa vida,
Entreguei-me a uma existência solitária,
Que era minha afortunada companheira
Nessas últimas semanas frias.
Seu coração aqueceu-me;
Resgatou-me com um beijo.
Envergonhei-me de sentir-me querido e você disse amado.
Você me disse "tolo!".
Eu sorri.
Seus lábios sorriam também
E me acolheram não apenas tocando-os nos meus.
Sairam da sua boca
Palavras que um homem cheio de certeza deseja ouvir.
Aos poucos a poesia retornará às minhas palavras.
Porque tem sido amor, meu amor.
Prometo ainda dissipar meu temor e permitir nossa completa felicidade comungada.
Eu disse que foi amor, meu amor.
Creia.
Fazer a voz do coração expor-se tem de ser sempre amor por render-se ao amor completamente.

O belo nela enaltece

Vontade, cheia de amor, pede
Minha triste alma p'ra alcançar;
Que o belo nela enaltece
E juro, para mim mesmo, olhar

Seus olhos, os dela, que amo,
Sem esconder de mim p'ra ela,
Sem saber a solidão como
Vivo, sem remos, um barco a vela,

Solto, infindo mar, em bonança.
Ela me vive solitário.
Ela me revive em criança.
Ela devolve o meu contrário,

Que do sofrer feliz me torna,
Que do morrer viver me faz,
Que do sonhar real demora,
E por fim em mim vive a paz.

Partilhar

Se me diz amor em mistério,
Sem mistério é seu coração.
Iludo-me, exausto, da vida?
Talvez, mas aceito, e acolho,
Porque o amor diz-me segredos.
Vivi tantos e quantos sonhos,
Que não sonho mais a ilusão.
Gosto segredo revelado,
Aquele dos olhos molhados,
Sem lágrimas, trêmulos os lábios,
Tremem mãos e peito apertado.
Suspeita de ser bela amada?
Quero-lhe linda poesia,
Que a beleza diz o infinito.
Respire, respire ofegante.
Quem bate à porta o amor?
Desejo de ser em verdade,
Porque viver é ser feliz.
Poesias e doces poemas
Por mim, mãos inquietas, escritas.
Você, suave inspiração,
Que o tempo é amigo da dor
P'ra quem ama, e sozinho acorda.
Se traz para mim seu mistério,
Decido ficar sem temor,
Aqui p'ra colher doces frutos,
E em resposta dou-lhe o prazer
De saber, com arte, amar.
Do amigo renasce a vontade,
Que do amigo o sonho aparece,
Que pode tocar lábios seus.
Quem sabe ser enamorados,
Porque felizes merecemos
Viver p'ra sentir um ao outro,
Deixar o carinho crescer.
Somos para o mundo pequenos,
O que é ser grande p'ro mundo?
É amar com desejo eterno
Descobrir grande felicidade,
Fazer da amizade a verdade?
Creio em alma feliz pela vida,
Na paz, duas almas amantes.
Creio no carinho, respeito,
Na entrega ao outro amante.
Um coloca sem o outro tirar,
O sorriso o amor se revela,
Espero poder partilhar,
Com belas e ricas palavras,
E gestos, verdades, carinhos.

Porque gosto dela

Por gostar dela?
Não pergunte a mim.
Pergunte a esta força,
Incontrolável,
Que habita as almas,
E busca caminhos
Que levem a sorrir
Para a vida eterna,
Tão bela e florida,
Feito a ponte que liga
A vontade de amar
O olhar inocente
De cada criança
Aberta ao mundo,
Que a terra anima
E faz da ilusão
Bela imaginação,
Que inveja o adulto.
Querer como elas
Viver os momentos
Cobertos, repletos
No que acreditam
Ser a razão de viver
A vida em paz.
Porque gosto dela.

Não Comece

Não comece.
(Fosse para defini-la),
Não comece.
Ela quer que comece,
Sem fim.
For para começar,
For para brincar
Sem graça alguma,
Não comece.
Brincar de iludir,
Não comece.
For para jogar
Dados soltos,
Sem jogo,
Não comece.
For para ir sem nunca,
Nunca ficar,
Por que
Começar?
Não comece!
For para sonhar,
Que fere sem necessitar,
Por quê?
Não, comece
Agora a deixar p'ra lá.
Comece sem olhar,
Comece sem tocar,
Comece sem falar,
Comece sem envolver,
Comece sem encantar,
Comece sem começar.
Ela quer que comece
Um sorriso sincero
De sorrir acolhedor.
Acolher dor?
"Pode ser", ela pensa.
Mas não se fala em dor.
Ela dança,
E quem dança nunca,
Nunca para,
Porque a alma dança
Para sempre,
Anestesia dores,
Que começaram um dia.
Ela dança no olhar,
Nos lábios, sempre.
For para começar,
Vá com ela,
Somente, e quase apenas
Ir com ela no ritmo
Que não ilude, não confunde,
Nem aprisiona.
Não comece a tirar,
A tirar a liberdade,
Que nunca ama.
É forte começar.
Nem comece o que
Não vai durar.
Nem comece a amar.

Sempre Nela Sonhando

Ela não é como as anteriores -
Um futuro não sonhado.
Não sei se sofri amores,
Não sei do meu próprio estado.

Estranho já não pensar nela,
Testemunho o alvorecer da emoção.
Há um infinito na janela
E grato fico de manter a razão.

Na janela de minha alma,
Que meu coração vem amando,
Se espero no amor a calma,
Espero sempre nela sonhando.

Podem ser que estes versos,
Um dia me justificam a dor
De hoje sofrer tanto inverso,
Prometido a quem sente amor.

Amar é Sofrer

Então o amor volta
Com a forçar de sofrer.
Desejamos a paz.
Ele nos presenteia a dor.
A dor que criamos por desejar.
Ela, a amada, em pensamentos
Que silenciam ações e desejos
Que não sejam com ela.
Eu a quero para mim,
E quero perder-me nela.
Quero-a para não perder-me.
Noite aflitas na solidão,
Que o fim de quem ama, poeta.
Se gosto de amar,
O sofrer me cai muito bem.
Não sei se o estado amante
Purifica-me a arrogância
Que me seguia os dias.
Sei que agora vou sofrer.
Uma alma boa que sente
Mais beleza do que escuridão.
Terei de aprender.
Aprender a olhar nublado.
Não sei se quero mesmo
A prisão em que já encontro.
Sei que estou amando.
Ao menos vivo outrora.
Reconstruo-me nas palavras
Porque quem ama, vive.
Quem ama, persiste.
Quem persiste, sofre.
Amar é sofrer.

Retorno ao amor

Às vezes quero ser velho,
Purificando a ideia de amar.
Então ouço aquelas canções
E me rejuvenesço para a eternidade.
Reaprendo a amar as imperfeições,
Procurando nos olhos e jeito dela
Algo que ancora
Meu desejo à coisa desejada.

Eu gosto tanto poema

Não comece.
Fosse para defini-la,
Não comece.
Ela quer que comece,
Sem fim.
For para começar,
For para brincar
Sem graça alguma,
Não comece.
Brincar de iludir,
Não comece.
For para jogar
Dados soltos,
Sem jogo,
Não comece.
For para ir sem nunca,
Nunca ficar,
Por que
Começar?
Não comece!
For para sonhar,
Que fere sem necessitar,
Por quê?
Não, comece
Agora a deixar p'ra lá.
Comece sem olhar,
Comece sem tocar,
Comece sem falar,
Comece sem envolver,
Comece sem encantar,
Comece sem começar.
Ela quer que comece
Um sorriso sincero
De sorrir acolhedor.
Acolher dor?
"Pode ser", ela pensa.
Mas não se fala em dor.
Ela dança,
E quem dança nunca,
Nunca para,
Porque a alma dança
Para sempre,
Anestesia dores,
Que começaram um dia.
Ela dança no olhar,
Nos lábios, sempre.
For para começar,
Vá com ela,
Somente, e quase apenas
Ir com ela no ritmo
Que não ilude, não confunde,
Nem aprisiona.
Não comece a tirar,
A tirar a liberdade,
Que nunca ama.
É forte começar.
Nem comece o que
Não vai durar.
Nem comece a amar.

terça-feira, 23 de outubro de 2018

Dialogo amo voce






- Eu amo você.
- Desculpe-me. Eu também amo você.
- E?
- E quando duas pessoas se amam não há outra coisa, senão serem felizes. Aceita?
- O quê?
- Ser feliz comigo?
- Sim.

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Casal briga

Estava indo treinar e vi uma daquelas cenas de conflito romântico, que parte meu coração. Um casal no ponto de ônibus. Ambos boa aparência, nem jovens, nem velhos, que formavam um belo casal. Um stress qualquer os acompanhava e ele parecia querer partir para SP. Ele de pé com, mochila nas costas. Ela sentada numa madeira atravessada, quase em silêncio, pernas cruzadas, dedos noa dentes. Ele abria as mãos, argumentava, andava em curtos passos. Ela tentava responder algo, e se via para mim o olhar dela refém do amor romântico, e o jeito dele, que também parecia amar, mas não queria ceder. Dizia que ia embora, e a mochila era a verdade de sua intenção. A espera dele pelo ônibus soava a ela palavras devastadoras para a sua alma. Eu creio que toda separação é uma incognita cheia de dores e angústia. Eu andava de bicicleta pela rodovia e testemunhei a cena por alguns segundos. Doeu meu coração, como quem vé um filme triste. O amor nunca deve ser em hipótese alguma chantagista, porque é optar pela crueldade. Eu o achei cruel demais. Falo porque já vivi estas coisas na pele, e só observo a sensação. Uns 40 metros adiante, porém, eu olhei para trás e eles atravessavam a rodovia. Juntos. Encheu-me a esperança a mente. Eu imaginava-a sentada naquela surrada madeira do ponto de ônibus, vendo-o entrar no ônibus e partir. Ela amando-o, sem poder sobre o desejo dele. Ele escolhendo deixar alguém que se importava por ele, mais por uma birra e casmurrice do que porque seu coração sabia ser o fim. Saber o fim é igualmente sofrido, mas justo e necessário. Sei que em qualquer perda se aprende. Sei, mas podemos aprender sem a perda. Podemos ver e aprender. Dizem que sábio é quem aprende com as experiências dos mais velhos. Por outro lado, viver suas próprias é o sal da terra neste mundo. Imagino-os agora à noite juntos, sem briga, em harmonia, um ao lado do outro, como ressaca emocional do que eles não desejavam. Eu desejo a eles esta paz. Hoje li um conto para os alunos cujo eixo era "a parte mais forte de uma relação sempre tem que aprender a ceder": pai e filho, professor e aluno, adulto e criança. Não importa. O lado mais forte de uma relação tem que ser mais equilibrado. Num relacionamento romântico o difícil é o equilíbrio. Ceder demais é suicídio emocional e possivelmente ser escravo do outro. Não ceder nunca é egoísmo e a vida pode ser eterno conflito. Onde está o ponto de equilíbrio? Tenho a resposta para mim. E para aquele casal? E para todas as demais pessoas? São reflexões. Mesmo assim, a cena daquele casal vai permanecer comigo quase que para sempre, porque ao que tudo indica ser refém do amor é perder-se como ambos estavam aparentemente perdidos. Ao menos são as minhas impressões. De repente são apenas irmãos, ou amigos etc. Erradas ou não, fiquei feliz de vê-los atravessando a rua em busca da reconciliação. Atravessar a rua é uma ação. Se eu estiver correto era tudo o que ambos queriam.

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Mentira em arte





Toc. Toc.

- Quem é?

- É a mentira em forma de arte.

- O que você quer?

- Distorcer a realidade.

- Por quê?

- As pessoas distraídas não enchem.

Analise do Discurso

A análise do discurso é a essência da Linguística contemporânea. Ela surgiu há 100 anos e hoje se destaca em toda ação humana na comunição. Nada contribui tanto para entender a comunicação verbal humana, essencialmente humana, do que a análise do discurso. Resumindo, todos temos uma fala (que é discurso) dependendo de onde estamos, com quem estamos, para quem falamos e qual nosso objetivo. Mistura tudo e criamos um discurso orientado. A maioria nem percebe. Aliás, apenas linguistas percebem a técnica da análise do discurso, ainda que usam pouco. Advogados usam muito e também sabem, os bons advogados. Políticos, como o Dória, publicitário, também são experts. Todo bom publicitária é perito em análise do discurso. E claro escritores romancistas. Se me permitem uma sugestão para entender nosso clima emocional no Brasil, estamos vivendo uma disputa singulas de discurso, e tão somente. Um discurso que leva os impulsivos à barbárie como testemunha-se. O discurso aqu no Brasil hoje é até do que aquele que existia pré Segunda Guerra, duranre a Segunda Guerra, e ao longo da Guerra Fria. Naquela época o perígo era real, haja vista a Crise dos Mísseis, que por pouco não transformou o Planeta em geleia. Atualmente as pessoas então reproduzindo um discurso que colou igual chiclete e que foi construído de modo sem lastro com a realidade e com a própria vida deles. Um discurso do nada que para quem fala é tudo - igual fé religiosa. A mentira não é mais a desinformação, como antes, que servia para confundir. Podemos dizer que a mentira é simplesmente mentira, porque o discurso não tem lastro com o real. Pense bem: beltrano que apoia fulano sem apoiar. Kit tal criado por pessoa tal qual para educar ou depravar. Para não alongar os exemplos, a única forma de combater o discurso é a pessoa olhar para ele próprio e enxergar contradição no que fala. Mas sabe quando isso ocorre? Nunca. Tarefa quase impossível, porque as pessoas não negam seus pensamentos. Aliás, nosso cérebro tem pânico de contrariedade. A melhor pedagogia que existe é a da afirmação. Ao invés de "não converse", melhor dizer "mantenha o silêncio"; ao invés de "você não faz nada",  melhor "você precisa fazer". O não é interpratado como sim na mente. Bem, incrivelmente todos os nossos sonhos são afirmativos. Para nossos sonhos não existe o negativo, observou Freud. Tal o poder de nossa mente sobre nossas afirmações. O discurso que está na boca das pessoas aqui no Brasil é o da afirmação do incorrupto, do honesto, do íntegro, do que vai colocar ordem e decência na desordem e indecência. Até aí tudo bem. Quem acha que Bolsonaro será a solução, claro está que não adianta contraria o discurso dele. A forma eficaz seria fazê-lo enxergar que está negando o que fala e não afirmando. Porém, a campanha de mentiras não permite a pessoa analisar sua fala. Ela crê no discurso dentro dela, construído nela, e não no que vem de fora para negá-lo - ainda mais quando se afirma que ela pensa corretamente. Lá atrás o Lula deveria ter percebido, ou ser orientado a perceber, quando Haddad perdeu a reeleição no primeiro turno por um discurso. Dória é um discurso. Os discursos podem ser justos e honestos, quando correspondem à realidade. Já os que não têm lastro com a realidade criam-se as figura políticas que estamos testeminhando. Vejo tantas pessoas boas, simples, humanas crendo no que falam sobre Bolsonaro que rasga a alma, por uma razão simples: Bolsonaro e seu discurso hoje é mentira. E a verdade é que ele colocará a sua verdade em prática, e a prática que nos preocupa.

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Amizade

As relações humanas estão muito difíceis. Pelo tempo em que vivemos e pela configuração de nossa sociedade. Acho que em uma tribo indígena ainda imaculada da influência do Ocidente seja outra relação o ser amigo. Não falo com estilo e busca de impacto. Praticamente a amizade se estreitou e raros contatos, que se faz, formam amizade. Eu falo para meus alunos que não sou amigo, para não esperarem de mim amizade fora da sala de aula. Aliás, nem dentro da sala de aula. Eles não precisam de um amigo - por mais que se estabeleça amizade. Precisam de um professor, que se preocupe com eles. Com meus filhos a mesma situação. Sou pai. Eles não precisam de mim como amigo. A referência tem de ser o pai, e minha intimidade é total para ser pai, desde que nos limites de ser pai. Talvez quando eu envelhecer, eles possam encontrar o amigo, ou eles se tormarem pai de um idoso. A propósito, um relacionamento amoroso não precisa estabelecer a relação "amigos". Companheiros, parceiros e até cúmplices. Mas suspeito que é um mal a amizade em um relacionamento amoroso, que antecede a angústia de perder a referência da pessoa com quem se convive e se compartilha praticamente tudo. Sei que soa radical tira a amizade disso tudo. Por outro lado, pensando em amizade em si, em ser amigo, podemos lançar luz ao ser de fato amigo. Não chamamos um amigo de filho, aluno, amor. É amigo! Amigo implica um grau de cumplicidade que muitas vezes não há entre professores e alunos, pai e filho, marido e mulher. Para alguns poucos amigos confiamos praticamente tudo e teremos a certeza de que a pessoa nunca, jamais nos julgará, nem nos condenará, não irá mentir jamais, não será nada a não ser sincera, autêntica e verdadeira. É amiga. Neste sentido estamos em uma época, dentro do dinamismo social atual, em que vivo, em que estabelecer relações fortes de amizade é algo muito raro. Vejo que o conceito básico de transferência emocional, de que falou Freud, se aplica maravilhosa e reciprocamente entre amigos, cuja empatia é a máxima. Sei que as exceções existem. Há pais amigos dos filhos. Há professores amigos dos alunos. Há maridos muito amigos de suas esposas. Tento ser tudo isso na prática, mas sei que filho, alunos e espsa (marido) precisam de amizades genuínas para extravazar e não ser julgado. Claro que se há amizade pura e genuina entre eles, no conceito em que suponho, jamais há nenhuma espécie de julgamento, crítica destrutiva, condenação, mentira. Há o ideal de acolher a fraqueza do outro sempre e, nos erros, perdoar. Um amigo perdoa o outro amigo. Foi isso que o Burro disse ao Shrek. Literalmente. "É isso que fazem os amigos. Eles perdoam uns aos outros." Foi no final do Shrek 1. Creio que a História das amizades varia ao longo dos séculos. Mas supeito que prevalece o acolhimento, a aceitação, o não julgamento e até o eventual perdão na falha. O professor, daqui uns anos, se torna estranho. O casal pode se tornar estranho um ao outro, mesmo juntos, depois de conviver por anos. Os pais amarão os filhos incondicionalmente, mas criam-se os filhos para o mundo, para eles viverem suas vidas, às vezes distantes e ausentes por anos. Já aquele amigo, distante no tempo e no espaço, jamais se torma estranho. No reencontro, abraços fraternos são dados e logo se confessa a vida. Praticamente tudo. Não é questão de pessimismo sobre os relacionamentos humanos. É uma impressão dos tempos. Tenho meus amigos, que são meus irmãos, que há anos não os vejo por circunstâncias da vida. Mas sei que um carrega o outro no coração. Se vê no olhar, porque os olhos sorriem. A amizade vem destes olhos, que sorriem. Ganhamos as pessoas ao sorrir com o olhar. O olhar é nosso melhor amigo.

Ramachandran filosofia

Todas as questões que eu lia em filosofia, desde os gregos até o início do século XX, vêm sendo categorizadamente respondidas pela neurociência, e mais precisamente pelos insights do neurocientista cognitivo indiano V. S. Ramachandran. Nossa sensibilidade é o início de nosso mundo. Estamos aqui presentes, que nos dá experiências, e juntamos tudo o que sentimos em quase um todo coerente para seguirmos em frente na vida. Temos o lado prático, de nossa existência pessoal e da existência daquilo que pertence direta ou indiferamente a nós. Superando o lado prático, entramos na especulação com perguntas, principalmente "por quê". Temos a necessidade de explicação. Vamos retornando o pensamento até descobrir algumas razões. É basicamente a profissão do terapeuta em nossas crises. A partir dos sintomas de agora, regredir no passado da pessoa e desatar nós emocionais e desembraraçar algumas linhas cruzadas. Então o desbloqueio emocional liberta novas percepções e a realidade do hoje se reconfigura. Do ponto de vista da cachola, o mecanismo

sábado, 13 de outubro de 2018

Mentira

Não vale a pena lutar contra uma batalha perdida. Vale a pena lutar sempre. Vale mais a pena vencer. Sei que batalhas amadurecem, porque experiência é amadurecimento. Quem não aprende com as experiências é como se não as tivesse tido. Passamos no Brasil por um momento rico. Vivemos uma era virtual baseada na mentira e desinformação. Em todos os cantos do mundo. Para os que querem vencer, crie o hábito da suspeita. Mais do que nunca a dúvida será a arma mais podesora nesta guerra. A dúvida, a ironia e uma pitada de cinismo: voltamos às raízes da filosofia Grega. Todo cínico finge crer na mentida. Um filósofo. É uma lindo paradoxo. Crer na mentira. Ambos lados mentem e falam a verdade. Ao mesmo tempo. A luta perdida vem de crer nestas mentiras por verdade. Desconfie, sorria e acene, como os Pinguins de Madagascar. Vamos à luta.




sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Ela não é - poema

Ela não é como as anteriores -
Um futuro não sonhado.
Não sei se sofri amores,
Não sei do meu próprio estado.
Estranho já não pensar nela,
Testemunho o alvorecer da emoção.
Há um infinito na janela
E grato fico de manter a razão.
Na janela de minha alma,
Que meu coração vem amando,
Se espero no amor a calma,
Espero sempre nela sonhando.
Podem ser que estes versos,
Um dia me justificam a dor
De hoje sofrer tanto inverso,
Prometido a quem sente amor.


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domingo, 7 de outubro de 2018

Estar apaixonada

- Estou apaixonada.
- Apaixonada?
- Sim.
- Estado de liberdade total! E prisão também.
- Pois é.
- Eu adoro sentir-me apaixonado.
- Tenho medo da cegueira da paixão.
- Ela cega mesmo. Ela faz o coração e a respiraçao acelerarem. Ela cria sonhos e temores. Ela é um espetáculo.
- Exatamente.


Prazer da cultura

Nunca troquei e nunca trocarei o prazer da inteligência e da cultura, que me trazem paz, tranquilidade, harmonia, por algo que me afaste do destino que sempre escolhi para mim. Não me dou bem com o vazio das coisas, nem com a superficialidade das pessoas. Nunca gostei de agitação, e não seria hoje que a agitação me atrairia. Gosto da calma, que testemunha o mundo. Gosto de momentos de paz. Me causa desconforto pensar em não ser sensível à arte, e a toda manifestação artística. Se tenho a meu favor a palavra, porque escrevo, se tenho a meu favor o gosto estético, porque a arte é Espírito humano, se tenho a meu favor a filosofia, que corrige pensamento, se sinto forte empatia pelo sofrimento das pessoas, e tantas respostas que preenchem lacunas que sempre quis preenchidas, tudo o que intoxica e polui minha mente deve ser insignificante. Pessoas tóxicas para meus valores (e elas não são menos, nem mais), eu me distancio, para nunca mais, senão o ato humano de misericódia comigo mesmo e com elas. Escrevo para organizar minhas sensações. Se posso fazê-lo, por que não? E se posso evitar pessoas e momentos tóxicos, por que não? E se elas buscarem paz por estarem perdidas em suas sensação, eu sempre serei solícito. Sempre fui. E por isso sempre fui confundido, o que nunca me desviou. Creio na felicidade. Tenho meu galardão de felicidade.

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Depoimento

"As aulas de português com o professor Flávio

Sou Ana Heloisa, tenho 13 anos e atualmente estudo na escola Edileusa, que se localiza em Maresias - São Sebastião. Como sou nova, não tive tanto tempo tendo aulas com ele, mesmo assim, pude perceber o quanto suas aulas são especiais. Eu vim da capital. O ensino de lá é bem diferente. É um ensino maravilhoso, complexo também, só que em certo ponto, ele fica sufocante. Estou querendo dizer que estava cansada mentalmente de estudar. Muitos trabalhos, muitas coisas para decorar, muitos assuntos. Quando cheguei nessa escola, fiquei espantada de como os alunos falavam bem sobre o professor Flávio; fiquei um tanto apreensiva, achando que não seria boa suficiente para suas aulas. Tendo a primeira aula com ele, pude ver logo de cara que ele era diferente dos professores de São Paulo. Ele sabe ensinar sem desgastar as nossas mentes, (...). Além de inteligente, sabe respeitar a opinião de todos, também é compreensível e sabe que os alunos odeiam ter de copiar textos enormes (...). Ele sabe ensinar de uma forma que realmente aprendemos. Eu realmente desejo muito sucesso na vida dele, e que possa expressar suas emoções com livros que vendam em todo Brasil."

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Educacao sentimental

Educação Sentimental 1 - Sentir

Sentir é o início. A emoção existe no momento em que se sente. Nenhuma emoção é imaginada. A ausência de emoção pode ser jma doença 'psicopatia', ou pode ser depressão. Claro que podemos controlar nossas emoções, e daí que vem a importância da Educação Sentimental. Nossos desejos despertam em nós emoções primitivas, como fome, sede, medo, coragem. Emoções superiores vêm de outro nível de desejo mais sofisticado, como amor, vergonha, timidez, introspecção, ódio e vingança. A Educação Sentimental é possível. Podemos aprender vivendo diretamente as emoções, que é o meio inevitável, porque temos relações humanas. Sentir luto ou amor é diferente de saber que as pessoas sentem luto e amor. Mas também podemos ser educados emocionalmente em segunda ordem, por meio de exemplos que vemos ou apreendemos nas relações com as pessoas e na arte. Sofrer por viver o sofrimento ou o amor é sem dúvida mais intenso. Sofrer em segunda ordem, ao assistir a um filme, ler um livro etc., tem impacto menor. Por outro lado, falo sobre Educação Sentimental. Aprender a enxergar nossas emoções e olhar para elas sem o desespero que algumas requerem de nossas reações é possível. Se fosse simples, não seria desafiador. O primeiro passo para olhar para nosso sentimento é admitir que ele existe em nós. Tanto para nós, quanto silenciosamente para o mundo. Sei que nossa fragilidade vem de nossas emoções. Por outro lado, ninguém tem nada a ver com nossos medos e temores, bem como nossas felicidades e amores. Admitir que sentimos  emoções é autodisciplinar-se, autoconscientizar-se, auto-olhar-se. Educação Sentimental exige desafios e encontrar-se com nossa fragilidade e nosso lado sombra. Falarei sobre o medo no próximo texto. Assimile bem este texto e pergunte toda sugestão para ficar mais rica a abordagem.

Prof. Flavio Notaroberto

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Porque gosto dela - poema

Porque gosto dela

Por gostar dela?
Não pergunte a mim.
Pergunte a esta força,
Incontrolável,
Que habita as almas,
E busca caminhos
Que levem a sorrir
Para a vida eterna,
Tão bela e florida,
Feito a ponte que liga
A vontade de amar
O olhar inocente
De cada criança
Aberta ao mundo,
Que a terra anima
E faz da ilusão
Bela imaginação,
Que inveja o adulto.
Querer como elas
Viver os momentos
Cobertos, repletos
No que acreditam
Ser a razão de viver
A vida em paz.
Porque gosto dela.

sábado, 29 de setembro de 2018

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Se me diz amor em mistério,
Sem mistério é seu coração.
Iludo-me, exausto, da vida?
Talvez, mas aceito, e acolho,
Porque o amor diz-me segredos.
Vivi tantos e quantos sonhos,
Que não sonho mais a ilusão.
Gosto segredo revelado,
Aquele dos olhos molhados,
Sem lágrimas, trêmulos os lábios,
Tremem mãos e peito apertado.
Suspeita de ser bela amada?
Quero-lhe linda poesia,
Que a beleza diz o infinito.
Respire, respire ofegante.
Quem bate à porta o amor?
Desejo de ser em verdade,
Porque viver é ser feliz.
Poesias e doces poemas
Por mim, mãos inquietas, escritas.
Você, suave inspiração,
Que o tempo é amigo da dor
P'ra quem ama, e sozinho acorda.
Se traz para mim seu mistério,
Decido ficar sem temor,
Aqui p'ra colher doces frutos,
E em resposta dou-lhe o prazer
De saber, com arte, amar.
Do amigo renasce a vontade,
Que do amigo o sonho aparece,
Que pode tocar lábios seus.
Quem sabe ser enamorados,
Porque felizes merecemos
Viver p'ra sentir um ao outro,
Deixar o carinho crescer.
Somos para o mundo pequenos,
O que é ser grande p'ro mundo?
É amar com desejo eterno
Descobrir grande felicidade,
Fazer da amizade a verdade?
Creio em alma feliz pela vida,
Na paz, duas almas amantes.
Creio no carinho, respeito,
Na entrega ao outro amante.
Um coloca sem o outro tirar,
O sorriso o amor se revela,
Espero poder partilhar,
Com belas e ricas palavras,
E gestos, verdades, carinhos.

(Flavio Notaroberto)

terça-feira, 25 de setembro de 2018

Escola Feliz, todos felizes

O que é consciência? Podemos dizer que há dois tipo de consciência. A primeira é a consciência experimentada, do tipo o corpo sentir diretamente na mente a experiência de uma vivência. Dá-se o nome de qualia (plural de quale). A segunda consciência é a mente saber tudo sobre a experiência, mas não sentir diretamente na mente. Sobre este último, um bom exemplo é um médico cardiologista, que nunca teve problemas no seu próprio coração e, portanto, não experienciou na própria mente a consciência de um infarto. Ela sabe intelectualmente tudo sobre o funcionamento do coração e os sintomas dos infartados, mesmo que não tenha passado por isso. Em outras palavras, ele tem consciência, sem quale, sem experiência. Já as qualia é o self experienciando diretamente na mente. Viagens é o exemplo mais interessante. Hoje se aprende muito sobre tantas partes e cultura do planeta virtualmente, sem viajar. Podemos aprender praticamente tudo a respeito do mundo. Eu mesmo descrevi Rio Branco, no meu livro Miguelito, sem ter jamais conversado com um riobranquence e ido lá. Pesquisei Google Maps para ver detalhes das ruas etc. Parece que eu conheço bem o lugar. Mas sem qualia. Viajar para sentir com o próprio olhar a Torre Eiffel, e todo vislumbramento de Paris, saborar na Grécia a culinária mediterrânia, um pit em pub in loco em Londres, a aurora boreal nos países nórdicos etc. Esta experiência direta é o self experienciando na mente. Mais do que adquirir conhecimento, ele criou redes neurais que envolvem emoções, sensações e memórias. Estou  citando a Europa para um breve tour mental, mas o mundo pode ser a experiência. Eu, que nunca viajei para o exterior, posso usar todas as palavras para descrever o que é o exterior, mas nunca darei a minha verdade de ter sentido na mente meu olhar pessoal admirando as Pirâmides do Egito. Se o consolo basta, Machado de Assis nunca saiu da cidade carioca (com duas ou três exceções), e seus textos nos enganam muito. Então, consciência é, primeiro, ter a experiência direta do ardido da pimenta, e/ou, em segundo, conhecer tudo biológica e quimicamente do processo de ardência da pimenta sem jamais ter experienciado a pimenta. Há médicos que talvez nunca tomaram heroína e conhecem tudo a respeito desta droga e seus efeitos no corpo humano. Ele tem consciência de heroína, sem qualia. Escrevo pensando em nosso sistema educacional básico no Brasil, que é moldado em adquirir conhecimento, sem qualia. Eu me lembro de uma escola particular em que eu dei aula. Eu falava sobre mitologia grega, sobre a Grécia, e um aluno foi me falando que conheceu Parthenon etc. Ele tinha as qualia. Eu somente a palavra e a cara de paisagem. A grande exceção na educação básica é a Língua Portuguesa, porque alunos e alunas falam a língua portuguesa, que se estuda na sala de aula. A maior dificuldade em especial nesta matéria é fazê-los perceber que eles já possuem dentro de si a expiência do idioma. Não se ensina língua portuguesa para nativos em português. Aprimora-se a norma-padrão e pode-se experienciar a arte da literatura, que aí sim é um nível maior de ensino. Laborarório para Ciência, Biologia, Física, Química, Matemática é uma boa forma de os alunos terem consciência do que se aprende, de primeira ordem, ou seja, com qualia, diretamente na mente. Estudos in loco de Geografia e História também, ainda que História é o estudo essencialmente memorial, porque é a reconstrução do que somos culturalmente com o olhar no que éramos. Está aí uma boa reflexão para mim, em termos de deixar uma escola bem mais agradável, envolvente, feliz e interessante. Tentar mais experiências diretamente, que é o que o professor Lucas, por exemplo, busca fazer. Eu tenho admirado todos estes projetos porque sei que sou um professor conteudista. Mas tenho revisado esta minha verdade, e toda revisão é uma busca de adaptação para melhor. Neste sentido que aperta o coração a situação da condição da escola. Tantos modos de ensinar tão ricos, cheios de vontade e competência, porém com obstáculos estruturais, que inibem vontades. Como é obrigatório os alunos passarem pela escola, teríamos muito menos stress emocional se a prática fosse a regra e os conceitos sem qualia as exceções. Estou sendo bem específico entre os 6° e 9° anos, que é uma fase que dá para agregar demais. Alunos e alunas estão em formação. Todas as experiências são quase que aceitas. Alunos felizes e escola feliz, professores igualmente felizes. Ao menos em termos pedagógicos.

Prof. Flavio